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28 abril 2025

A empatia e compaixão cristãs

Estes são temas que percorrem toda a Escritura, e os comentaristas bíblicos nos ensinam que, por exemplo, a palavra compaixão é usada para traduzir pelo menos cinco palavras no hebraico (AT), e oito palavras no grego (NT), sendo inevitável a sobreposição e riqueza de significados. No uso bíblico, a compaixão é sempre tanto um sentimento, quanto a ação apropriada, baseada nesse sentimento. Podemos observar um exemplo no AT, no contexto das leis civis e religiosas, “Não afligirás o forasteiro, nem o oprimirás; pois forasteiros fostes na terra do Egito” (Êx 22.21), e outro exemplo no NT, no contexto da vida exemplar cristã, “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes” (1Pe 3.8).
No primeiro exemplo (Êx 22.21), o próprio Senhor nos ensina, por meio de Moisés, despertando a responsabilidade para o povo de Israel não afligir ou maltratar o forasteiro entre eles, e lembrando que eles mesmos tinham sido forasteiros na terra do Egito, como escravos por 400 anos, antes da libertação. Como se diz no ditado popular, Deus os fez “calçar as chinelas” do sofrimento alheio, para despertar neles empatia e compaixão!
No segundo exemplo (1Pe 3.8), o Senhor nos exorta, por meio do apóstolo Pedro, a sermos compadecidos e misericordiosos, usando palavras interessantes na língua original. A palavra “compadecidos” aparece no grego com o significado de ter um “sofrimento semelhante a outrem”, onde o próprio fragmento do termo usado para sofrimento (pascho) é peculiar, pois se assemelha muito à palavra usada para páscoa (pascha), no contexto onde o Senhor Jesus celebra a última páscoa (Lc 22.15) com seus discípulos, no cenáculo (v.12). A outra palavra interessante que aparece no texto de 1Pe 3.8 é “misericordiosos”, que no grego tem o significado de ter “boas entranhas”, inclusive usando o mesmo fragmento da palavra “entranhas” que, em inglês, significa baço (spleen). Na cultura de povos antigos, era muito frequente considerar que os sentimentos humanos eram provenientes das “entranhas”.
A empatia e compaixão cristãs também estão arraigadas na quinta petição da oração dominical, “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mt 6.12), como é abordado, inclusive em nossos Símbolos de Fé de Westminster, a exemplo das perguntas 105 e 194 dos Catecismos Breve e Maior, respectivamente. Talvez pudéssemos ler a quinta petição da oração dominical, ensinada no Sermão do Monte pelo próprio Senhor e Mestre Jesus Cristo, como uma oração modelo, da seguinte forma: ‘Senhor, tem compaixão de nós, assim como nós temos tido compaixão dos outros’.
O Senhor Jesus, compassivo e misericordioso como é, também nos ensinou empatia e compaixão por meio de parábolas, como por exemplo a “parábola do credor incompassivo” (Mt 18.23-35), onde um servo foi perdoado - pelo rei compassivo - de uma dívida literalmente impagável de dez mil talentos, que são equivalentes a 60 milhões de denários ou o salário de quase 165 mil anos de trabalho diário. Contudo, este mesmo servo, ao sair da presença do rei, encontrou-se com um de seus conservos, mas não teve a mesma compaixão de oferecer a ele o mesmo perdão que havia recebido, por uma dívida muito menor, de apenas 100 denários, que correspondiam ao salário de apenas 100 dias (pouco mais de 3 meses) de trabalho diário.
Caro irmão ou cara irmã por quem Cristo morreu, você tem recebido compaixão da parte do Senhor? Você tem recebido a “clemência do Rei”? Você tem recebido, com fé, esta verdadeira compaixão, e tem vivido o Evangelho, sabendo que o Senhor Jesus pagou pelos seus/meus/nossos pecados, quando Ele se colocou no lugar - isso é empatia! - que deveria ser destinado a você/mim/nós na Cruz do Calvário?
Caro irmão, cara irmã, em Cristo, você também tem se colocado no lugar de outro irmão ou de outra irmã que está sofrendo com provações e tribulações? Caro crente, você tem demonstrado compaixão em relação ao próximo, seja esta pessoa crente ou descrente? Aqui podemos nos lembrar de outro trecho das Escrituras, a “parábola do bom samaritano” (Lc 10.25-37).
Um dos comentaristas bíblicos, descrevendo compaixão, diz o seguinte: “Este aspecto maravilhoso do caráter de Deus é claramente exibido na Bíblia. Está encarnado em Jesus Cristo, o Deus-Homem compassivo, amoroso e supremo. Quando Ele viu as multidões, Ele sentiu compaixão (Mt 9.36) por elas. Assim, Ele curou os enfermos (Mt 14.14; Mc 8.2). Ele também foi o compassivo do Êxodo (Rm 9.15). Em Cristo, habita o Pai de misericórdias e o Deus de toda consolação (2Co 1.3). Não há conforto maior do que saber que o Senhor continua a mostrar Sua compaixão por nós, operando milagres de bondade e misericórdia em todas as situações de nossas vidas (Tg 5.11)”.
Caro irmão ou irmã, por quem Cristo também derramou seu sangue carmesim, você tem oferecido compaixão e empatia?
Ao Deus de toda consolação seja a honra, o louvor e a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.