Alguns trechos do livro X de "Confissões", de Agostinho de Hipona:
'1. Senhor, tu que me conheces, permite-me conhecer-te; permite-me que te conheça “plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido” (1Co 13.12). Poder de minha alma, entra nela e prepara-a para ti, a fim de que tu possas possuí-la e preservá-la “sem mancha nem ruga” (Ef 5.27). Essa é a minha esperança. “Por isso, eu falo” (Sl 116.10), e essa esperança me anima quando me alegro com razão. Em relação a outras coisas desta vida, quanto mais choramos por elas, tanto menos elas merecem nosso pranto, e quanto mais elas merecem nosso pranto, tanto menos choramos por elas. Pois eis que “tu desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria” (Sl 51.6). Isso eu gostaria de fazer em meu coração confessando-me diante de ti; e nos meus escritos, diante de muitas testemunhas.
2. E o que há em mim, ó Senhor, que eu poderia esconder de ti, mesmo se não o confessasse? O abismo da consciência humana está “exposto diante dos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Hb 4.13). Eu poderia te esconder de mim, mas não me esconder de ti. Agora, porém, uma vez que meus gemidos atestam que estou insatisfeito comigo mesmo, tu brilhas e és amável, amado e desejado, para que eu me envergonhe de mim mesmo, renuncie a mim mesmo e escolha a ti, pois não posso agradar nem a ti nem a mim se em ti não estiver. Diante de ti, portanto, ó Senhor, eu me exponho tal como sou, e já disse com que proveito me confesso diante de ti. Não o faço com palavras e sons da carne, mas com as palavras expressas por minha alma e com o grito do meu pensamento que teus ouvidos conhecem. Pois quando sou perverso, então confessar-me a ti nada mais é do que sentir-me insatisfeito comigo mesmo. Mas quando sou realmente santo, isso significa simplesmente que não estou atribuindo minha virtude a mim mesmo, porque tu, ó Senhor, que abençoas o pio, primeiro o justificas quando ele ainda é ímpio. Minha confissão, portanto, ó meu Deus, é feita aos teus olhos em silêncio, mas não realmente em silêncio. Quanto ao som das palavras, é uma confissão silenciosa; mas em relação ao que sinto, ela clama em altos brados. Pois, aos ouvidos dos homens, eu não digo nada certo que tu já não tenhas ouvido de mim; tampouco tu ouves coisa alguma de mim que já não me tenhas dito.
3. Por que me interessa que os homens leiam minhas confissões, como se eles pudessem “curar todas as minhas doenças” (Sl 103.3)? As pessoas têm curiosidade em relação à vida alheia, mas não se preocupam com a correção de suas falhas. Por que querem me ouvir dizer o que sou, aqueles que não querem ouvir de ti o que eles são?' [Confissões X.1-3]
'5. Mas que lucro visam os que desejam ouvir minhas confissões? Querem alegrar-se comigo quando ficam sabendo como, por tua graça, eu me aproximo de ti? Querem orar por mim quando ficam sabendo como ando distante por minha própria culpa? A essas pessoas vou me revelar. Pois não é um fruto desprezível, ó Senhor meu Deus, que muitos por mim te rendam graças e outros tantos orem por mim. Que a mentalidade fraternal ame em mim o que, segundo teus ensinamentos, deve ser amado, e lamente o que, segundo eles, deve ser lamentado. Que me acolha uma mentalidade fraternal, não a “dos estrangeiros, que têm lábios mentirosos e que, com a mão direita erguida, juram falsamente” (Sl 144.11), mas uma mentalidade fraternal que, quando me aprova, se alegra comigo e, quando me desaprova, se entristece por mim; porque, aprovando ou desaprovando, ela me ama. A essas pessoas eu me revelarei: elas encontrarão conforto em minhas boas obras e lamentarão meus erros. Minhas boas obras provêm de ti, são dádivas tuas. Meus erros são falhas minhas e teu julgamento. Que essas pessoas respirem fundo diante daquelas e lamentem estas. Que hinos e lamentos, brotando do coração de meus irmãos, os “incensários” (Ap 8.3), subam à tua presença. E tu, ó Senhor, recebe com agrado o incenso de teu santo templo. “Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor, por tua grande compaixão” (Sl 51.1). Não me abandones de modo algum; antes, aperfeiçoa minhas imperfeições.
6. Esse é o fruto das confissões do que sou, não do que fui: confessar isso não apenas diante de ti, em segredo “exultando com tremor” (Sl 2.11), provando uma dor secreta imbuída de esperança; mas confessar também aos ouvidos dos filhos dos homens que acreditam, que compartilham minha alegria e são meus parceiros na imortalidade, meus concidadãos e colegas peregrinos, que partiram antes de mim ou que seguirão mais tarde, meus companheiros de viagem. Esses são teus servos, meus irmãos, que tu quiseste que fossem teus filhos; meus senhores, que me mandaste servir se eu quiser viver contigo e em ti. Mas essa tua Palavra teria pouco valor para mim se tivesse sido uma ordem proferida apenas com palavras, sem ser antecipada por tua intervenção. Isso portanto eu o faço por palavras e ações, sob as tuas asas. Em grande risco incorreria, se minha alma não se abrigasse sob tuas asas e se minha fraqueza não te fosse conhecida. Eu não me basto, mas meu Pai sempre vive, e meu Defensor me basta. Pois aquele por quem fui gerado e por quem sou defendido é o mesmo: e tu mesmo és todo o meu bem; tu, Onipotente, que estás comigo. Sim, desde antes de eu estar contigo. A essas pessoas, portanto, que tu me mandaste servir eu revelarei não o que fui, mas o que sou agora, o que continuarei sendo. Mas “nem eu julgo a mim mesmo” (1Co 4.3). Assim é que eu gostaria de ser ouvido.' [Confissões X.5-6]
'[...] Mas o que eu amo quando te amo? Não é a beleza dos corpos, nem a bela harmonia do tempo, nem o brilho da luz, tão agradável aos olhos, nem as suaves melodias de vários tipos de canções, nem a fragrância das flores e perfumes e especiarias, nem o maná e o mel, nem os membros tão bem-vindos num amoroso abraço. Não amo nada disso quando amo meu Deus. No entanto, gosto de uma espécie de luz, melodia, fragrância, alimento e abraço, quando amo meu Deus: a luz, a melodia, a fragrância, o alimento, o abraço do homem interior. Ali brilha aquela luz sobre minha alma, que o espaço não pode conter; ali soa o que o tempo não nos rouba; ali rescende o que a brisa não dispersa; ali se saboreia o alimento que, consumido, não diminui sua porção; ali está o abraço que nenhuma saciedade separa. Isso é o que eu amo quando amo meu Deus.' [Confissões X.8]
'[...] Perguntei ao mar e às profundezas e aos seres rastejantes, e eles responderam: “Nós não somos o teu Deus. Procure acima de nós”. Perguntei ao ar fugaz, e todo o ar com seus habitantes me respondeu: “Anaxímenes se enganou; eu não sou Deus”. Perguntei aos céus, ao sol, à lua e às estrelas. “Nós não somos o Deus que tu procuras”. E eu repliquei a todas as coisas que cercam a porta de minha carne: “Vocês me falaram do meu Deus afirmando que não são ele. Digam-me alguma coisa a respeito dele”. E elas todas em uníssono clamaram: “Ele nos criou”.[...] Mas o melhor é o ser interior, pois é a ele, que preside e julga, que são levadas todas as mensagens físicas, da terra e do céu e de tudo o que neles existe. E todas as coisas responderam: “Nós não somos Deus, mas ele nos criou”. Disso meu homem interior tinha conhecimento graças ao ministério do homem exterior. Eu, o homem interior, sabia disso. Eu, o intelecto, por meio dos sentidos do corpo, perguntei a toda a estrutura do mundo acerca de meu Deus. E ela me respondeu: “Eu não sou ele, mas ele me criou”.' [Confissões X.9]
'15. Grande é o poder da memória, extremamente grande, ó meu Deus; um espaço vasto e sem limites! Quem jamais sondou suas profundezas! No entanto, esse é o poder de minha mente e ele pertence à minha natureza. Nem eu mesmo compreendo tudo o que sou. Por isso, a mente é limitada demais para conter a si mesma. E onde deveria estar o que ela não consegue conter? Está fora dela, não dentro dela? Como então ela não compreende a si mesma? Uma estupenda admiração me surpreende. Sou tomado de assombro. Os homens saem por aí para admirar as alturas das montanhas, a vastidão do oceano e as órbitas das estrelas, e passam ao largo de si mesmos. Eles não se admiram de que, quando falei de todas essas coisas, eu não as via com meus olhos; contudo, eu não poderia ter falado delas se de fato não visse as montanhas, os vagalhões, os rios, as estrelas que tinha visto, e aquele oceano que acredito existir, dentro de minha memória, e todas essas coisas entremeadas pelos mesmos vastos espaços como se eu as visse fora de mim. Todavia, ao vê-las eu não as arrastei para dentro de mim, quando com meus olhos as contemplei. Elas em si mesmas não estão comigo; estão apenas suas imagens. No entanto, eu sei por meio de qual sentido do corpo cada uma delas ficou gravada em mim.' [Confissões X.15]
'26. Grande é o poder da memória! É uma coisa tremenda, ó meu Deus, uma multiplicidade profunda e sem limites. E essa coisa é a mente, e isso sou eu mesmo. O que sou eu, ó meu Deus? Qual é minha natureza? Uma vida multiforme, multifacetada e extremamente imensa. Contemplem-se as planícies, as grutas e as cavernas da memória, inumeráveis e inumeravelmente repletas de inúmeras espécies de coisas, seja por meio de imagens, como no caso de todos os corpos, seja por meio da presença real, como no caso das artes, ou seja, por meio de certas noções ou impressões, como no caso dos sentimentos da mente, que, até mesmo enquanto a mente não os experimenta, a memória retém, enquanto qualquer coisa que está na memória também está na mente — sobre tudo isso eu passo correndo, voando; mergulho aqui e ali, atingindo o nível máximo possível, e a coisa não tem fim. Tão grande é o poder da memória, tão grande é o poder da vida, mesmo na vida mortal do homem. Que devo então fazer, ó tu, minha verdadeira vida, meu Deus? Irei além desse meu poder que se chama memória: sim, irei além dele, para poder me aproximar de ti, ó doce Luz. Que me dizes tu? Tu, que resides acima de mim, bem vês que, com minha mente, estou subindo em direção a ti, que resides acima de mim. Sim, agora irei além desse meu poder que se chama memória, levado pelo desejo de alcançar a ti, lá onde tu podes ser alcançado; e agarrar-me a ti, lá onde isso é possível. Pois até os animais e as aves têm memória; caso contrário, eles não conseguiriam voltar para suas tocas e ninhos, tampouco fazer muitas outras coisas que costumam fazer.' [Confissões X.26]
'34. Mas por que “a verdade gera o ódio” e aquele teu servidor, que prega a verdade, torna-se inimigo dos homens, se prezar uma vida feliz nada mais é do que alegrar-se com a verdade? Será que o amor à verdade leva os que amam alguma outra coisa diferente dela a desejar que essa outra coisa seja a verdade que eles amam? Pelo fato de não estarem dispostos a ser enganados, eles não estão dispostos a se convencer de que foram enganados. Por isso, odeiam a verdade, por causa dessa outra coisa que eles amaram em vez da verdade. Eles gostam da verdade quando ela traz luz; mas a odeiam quando ela os censura. Pois, uma vez que não querem ser enganados e, no entanto, estão dispostos a enganar, eles a amam quando ela se revela a eles e a odeiam quando ela os mostra às claras. Por isso ela os castigará, de modo que eles, que não gostariam de ser mostrados por ela, sejam mostrados à revelia, ao mesmo tempo que ela a eles não se mostra. É assim, é assim, é exatamente assim mesmo que a mente humana atua: tão cega e doente, tão vil e grosseira, ela quer permanecer escondida, mas não quer que coisa alguma dela se esconda. Mas, como castigo, o contrário lhe acontece: ela não pode esconder-se da verdade, mas dela a verdade se esconde. Todavia, mesmo nesse estado miserável, a alma humana prefere alegrar-se com verdades a alegrar-se com mentiras. Feliz será então quando, livre de qualquer obstáculo, ela se alegrar naquela única Verdade, pela qual todas as coisas são verdadeiras.' [Confissões X.34]
'38. Tarde demais eu te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! E eis que tu estavas dentro de mim, enquanto eu estava fora; era lá fora que te procurava. Criatura deformada, mergulhei de cabeça nesses objetos de beleza que tu criaste. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Elas me detiveram longe de ti, essas coisas belas que, se não estivessem em ti, simplesmente não existiriam. Tu me chamaste, gritaste e rompeste minha surdez. Tu reluziste, brilhaste e aniquilaste minha cegueira. Tu espalhaste doces perfumes, e eu os inalei e suspirei por ti. Degustei, e senti fome e sede. Tu me tocaste, e eu senti um desejo ardente de tua paz.
39. Quando com todo o meu ser eu me agarrar a ti, não haverá mais nem tristeza nem labuta. Minha vida será plena, repleta de ti. Mas agora, uma vez que aquele que tu enches também elevas, por não estar repleto de ti, eu sou um peso para mim mesmo. Alegrias lamentáveis lutam contra tristezas alegres; de que lado está a vitória eu não sei. Ai de mim! “Ouve, SENHOR, e tem misericórdia de mim” (Sl 30.10). Ai de mim! Vê que não escondo minhas feridas. Tu és o médico, eu o paciente. Tu és misericordioso, eu miserável. “Não é pesado o labor do homem na terra?” (Jó 7.1). Quem deseja problemas e dificuldades? Tu ordenaste que os homens suportassem essas situações, não que as amassem. Ninguém ama o que suporta, embora goste do fato de suportar. Pois embora alguém se alegre com o fato de saber suportar, todo mundo preferiria não ter de suportar nada. Na adversidade, eu anseio pela prosperidade; na prosperidade, temo a adversidade. Não existe um lugar intermediário entre essas duas situações, onde a vida do homem não seja um “pesado labor”? Muitas vezes a prosperidade neste mundo traz infelicidade por causa do medo da adversidade e da corrupção da alegria. Há também infelicidade causada pelo desejo ardente de prosperidade porque a adversidade em si é uma coisa cruel e ameaça destruir a resignação. “Não é pesado o labor do homem na terra”, sem trégua alguma?
40. E toda a minha esperança está depositada exclusivamente em ti, minha imensa misericórdia. Concede-me o que me ordenas e ordena-me o que quiseres.' [Confissões X.38-40]
'[...] Também ouvi alguém [Apóstolo Paulo] dizer: “Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.11-13). Ali está um soldado do exército celeste, não o pó que somos nós. Mas lembra-te, Senhor, “que somos pó” e que tu criaste o homem do pó (Sl 103.14; cf. Gn 3.19) e que ele “estava perdido e foi achado” (Lc 15.32). Ele não poderia, por si só, fazer isso. Pois mesmo aquele [Apóstolo Paulo] que eu tanto amei ao ouvi-lo dizer, isso graças ao sopro de tua inspiração, era feito do mesmo pó. “Tudo posso”, diz ele, “naquele que me fortalece”. Fortalece-me para que eu também possa. Concede-me o que me ordenas e ordena-me o que quiseres.' [Confissões X.45]
'[...] Naquele imenso armazém de minha memória, investiguei algumas coisas, depositei outras e outras retirei. Ainda não era eu mesmo que fazia aquilo, nem eras tu, pois tu és a luz permanente, que eu consultava sobre todas essas coisas, querendo saber se elas existiam, o que eram e como deviam ser avaliadas. E eu te ouvia dirigindo-me e governando-me. Faço isso com frequência — o que me dá prazer — e, na medida em que minhas obrigações me permitem, esse tipo de prazer é meu refúgio. Em nenhuma dessas coisas que recapitulo consultando a ti consigo encontrar algum lugar seguro para minha alma, exceto em ti. Em ti meus dispersos anseios podem se reunir, e nada, de mim, de ti se afasta. Às vezes tu me deixas entrar no ponto mais profundo do ser, e eu provo um sentimento raro, extraordinário, que me eleva para uma estranha doçura que se em mim fosse perfeita eu não saberia dizer o que nela não pertence à vida futura. Mas sob a carga de minhas pobres obrigações, volto a afundar-me em atividades inferiores e sou empurrado de volta para o hábito anterior. Sinto-me então preso. Choro muito; contudo, permaneço firmemente preso. Tal é o peso de um mau hábito que nos prende ao chão. Aqui posso permanecer, mas não é o que eu quero; lá eu queria permanecer, mas não consigo. De um e de outro jeito sinto-me infeliz.' [Confissões X.65]
'68. Mas o verdadeiro Mediador, que tu em tua secreta misericórdia mostraste aos humildes e enviaste àqueles que, seguindo o exemplo dele, também puderam aprender a mesma humildade, aquele “mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1Tm 2.5), apareceu entre os pecadores mortais e o Justo Imortal [Deus]; mortal com os homens, justo com Deus; para que, com o salário da justiça que é a vida e a paz, ele pudesse por meio de uma justiça vinculada a Deus esvaziar a morte dos pecadores, agora justificados, morte que ele quis compartilhar com eles. Por isso ele foi mostrado aos santos de outrora; para que assim eles pudessem ser salvos por meio da fé em sua futura Paixão, como nós fomos salvos por meio da fé na sua Paixão já passada. Pois, como homem, ele foi um mediador; mas, como a Palavra, não ocupou nenhuma posição entre Deus e o homem, porque era igual a Deus, e Deus igual a ele, e juntos eram um único Deus.
69. Como tu nos amaste, bom Pai, tu que não poupaste teu “próprio Filho, mas o entregaste por todos nós” (Rm 8.32). Como nos amaste tu, que, em nosso benefício, não consideraste que “o ser igual a Deus era algo a que devias apegar-te”, mas te humilhaste e foste “obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2.6,8). Esse Deus, que é único, está isento da morte entre os mortos e pode dar sua vida, pois tem “autoridade para dá-la e para retomá-la” (Jo 10.18), em nosso benefício, sendo ao mesmo tempo o Vencedor e a Vítima e, portanto, Vencedor por ser Vítima; em nosso benefício, sendo o Sacerdote e o Sacrifício e, portanto, o Sacerdote por ser o Sacrifício; tornando-nos teus filhos mais que teus servos, por ter ele nascido de ti e por nos servir. Com razão, portanto, nele deposito minha firme esperança de que tu “curarás todas as minhas doenças” (Sl 103.3), por Aquele que “está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8.34). Se não fosse assim, eu deveria cair no desespero. Pois muitas e grandes são as fraquezas, muitas e grandes; mas teu remédio é mais poderoso. Poderíamos pensar que tua Palavra distanciou-se de qualquer contato com os homens e perder a esperança de nos salvar, mas “a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1.14).' [Confissões X.68-69]
'70. Atemorizado por meus pecados e pelo peso de minha miséria, eu sentia o coração deprimido e tinha planejado retirar-me para o deserto, mas tu me proibiste e me fortaleceste, dizendo: “Cristo morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5.15). Vê, Senhor, eu “entrego a ti as minhas preocupações”, para que possa viver (Sl 55.22), e pondero coisas maravilhosas baseando-me em tua lei. Tu conheces minha carência de sabedoria e minhas enfermidades. Ensina-me e cura-me. Teu Filho unigênito, no qual “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3), me redimiu com seu sangue. Que os orgulhosos não me critiquem, porque estou meditando sobre a minha salvação, que como, e bebo, e compartilho. Pois eu, sendo pobre, desejo satisfazer-me dele, em comunhão com os que comem e se sentem satisfeitos; “aqueles que buscam o SENHOR o louvarão!” (Sl 22.26).' [Confissões X.70]