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12 abril 2025

Aprendizado piedoso 210

O Que É Consistência?
Paulo F. Ribeiro

Viver uma vida consistente é uma das aspirações centrais de qualquer pessoa séria e reflexiva. As inconsistências levam à instabilidade, à desarmonia e, eventualmente, ao caos interior e exterior.

Consistência pode ser definida como a qualidade de agir ou desempenhar de maneira confiável, estável e uniforme ao longo do tempo. Alternativamente, pode ser entendida como um modo de ser que não apresenta contradições internas, onde pensamento, palavra e ação estão alinhados.

Mas a vida é complexa. Ela nos lança incontáveis desafios, tornando incrivelmente difícil manter um curso constante. Nosso humor oscila, o estresse se acumula, e nossos estados emocionais variam. Com isso, vêm mudanças na motivação, no foco e na disciplina. Soma-se a isso as pressões externas, as exigências do trabalho, as responsabilidades familiares, o ruído das redes sociais e as interrupções inesperadas do cotidiano — e nos vemos puxados em muitas direções, frequentemente sem um centro estável.

No entanto, há um lugar onde a consistência precisa começar — mesmo que o restante da vida resista à ordem: devemos nos esforçar para sermos consistentes em nossos pensamentos. Quando o pensamento é unificado, fundamentado em clareza e integridade, torna-se a raiz da qual podem brotar ações e palavras coerentes.

Owen Barfield, em um volume de ensaios sobre seu amigo C.S. Lewis, fez um comentário marcante que sempre ficou comigo:
Havia algo na qualidade e na estrutura do pensamento dele, algo para o qual o melhor rótulo que consigo encontrar é ‘presença de espírito’. E, se me pedissem para expandir essa ideia, eu diria que, de algum modo, aquilo que ele pensava sobre tudo estava secretamente presente no que ele dizia sobre qualquer coisa.

É como se Lewis carregasse, em cada frase, a ressonância de toda a sua visão de mundo — uma coerência de pensamento que tornava suas palavras estáveis, confiáveis e cheias de uma força silenciosa.

É como dizer: consistência não é repetir mecanicamente as mesmas ações, mas viver a partir de um centro tão integrado, tão alinhado, que tudo o que dizemos e fazemos carrega a marca de tudo em que acreditamos.

Esse tipo de consistência interior pode ser a chave para evitar todo tipo de contradição — não apenas em nossas vidas pessoais, mas também na forma como lidamos com questões sociais, políticas, ambientais e éticas. Ela nos chama a nos tornarmos inteiros, a viver de dentro para fora, e a garantir que o que dizemos sobre qualquer coisa reflita, ainda que sutilmente, o que realmente pensamos sobre tudo.

Atingir esse nível de consistência é, para mim, uma tarefa muito difícil — mas continuarei buscando, até que eu possa reconhecer minhas próprias inconsistências no momento em que surgem, e tenha a coragem de assumi-las. Na minha idade, não há mais espaço para fingimentos, posturas ou encenações. A vida é curta demais — e a verdade, preciosa demais — para que vivamos de qualquer outra forma que não seja com autenticidade.

Finalmente, o conselho de Tiago 1:22: “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos.

Abraço
Paulo
[Texto publicado aqui, com a permissão do autor. Em inglês: "What Is Consistency?"]