"... Então, na verdade, nossos corações mais solidamente se fortificam quando consideramos que a admiração se eleva em nós mais pela dignidade das coisas que pela graça das palavras. Também não foi feito sem a exímia providência de Deus que os mistérios sublimes do reino celeste fossem transmitidos, em boa medida, por palavras de desprezível humildade, porque, se fossem ilustrados pela mais brilhante eloquência, os ímpios cavilariam que somente a força dela reina ali. Mas, se essa simplicidade, inculta e quase rude, suscita maior reverência que qualquer eloquência retórica, o que podemos pensar a não ser que é tal a força da verdade da sagrada Escritura que dispensa qualquer artifício de palavras?"
"... Em suma, aqueles para os quais a doutrina é insípida devem ser considerados carentes de paladar."
"... Além disso, João, trovejando sublime, derruba, mais forte que o raio, a obstinação daqueles que não são compelidos à fé. Que esses censores espertos exponham-se aos olhos de todos, pois sua maior vontade é abater a reverência à Escritura, em seu coração e no de outros; que leiam o Evangelho de João, ali descobrirão, queiram ou não, mil sentenças que ao menos lhes perturbarão a apatia, que lhes queimarão na consciência como horrível cautério, para coibir-lhes o riso."
"... Então, realmente, a Escritura será satisfatória para o conhecimento da salvação de Deus quando a certeza a respeito dela tiver sido fundada na persuasão interior do Espírito Santo."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo VIII, parágrafo 1)
"Como em um nó mútuo, o Senhor uniu entre si a certeza da sua palavra com a do Espírito, para que uma sólida religião incida em nossa alma quando resplandecer o Espírito que nos faz contemplar a face de Deus, de modo que abracemos o Espírito sem nenhum medo de nos equivocarmos quando o reconhecermos em sua imagem, isto é, no Verbo."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo IX, parágrafo 3)
"O conhecimento de Deus que nos é proposto na Escritura não se destina a outro fim que não o de brilhar impresso nas criaturas: com efeito, primeiro nos convida ao temor, depois à confiança, para que aprendamos a louvá-lo com uma inocência perfeita de vida e com uma obediência não simulada, para, assim, dependermos totalmente de sua bondade."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo X, parágrafo 2)