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18 setembro 2014

Aprendizado piedoso 94

Tradução e transcrição de um trecho do sermão "The Age of Reason" ("A Era da Razão"), ministrado pelo Dr. Martyn Lloyd-Jones, e disponível em:

(https://mlj-sermons-mp3-tagged.s3.amazonaws.com/1+and+2+Timothy/5642D.mp3)

Texto base para a pregação: 2Timóteo 1:12
“e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.”

(a partir de 30:50, ou seja, 30 minutos e 50 segundos do áudio)
“A grande questão do homem e da civilização humana desde o começo tem sido a busca por sabedoria. Jó já fez a antiga pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ (Jó 28:12)... Nós vivemos em uma época que não dá suficiente atenção para isto. Nós estamos interessados em esperteza. Mas pensadores verdadeiros não estão interessados em esperteza, mas em sabedoria... O que é a sabedoria? O que é o homem?... Antes de perguntar o que pode ser feito em favor do homem, é preciso perguntar ‘o que é o homem?’. O homem é um animal? Então trate-o como tal. Mas se um homem não é apenas um animal, mas algo a mais, então ele precisa de algo a mais... A sabedoria tem tentado responder estas perguntas ao longo dos séculos: ‘o que é o homem?’, ‘o que é a vida?’. Como um homem pode viver, de tal forma que ele possa ir para a cama toda a noite, olhar para si mesmo no espelho sem sentir vergonha de si mesmo, e colocar a cabeça no travesseiro e dormir como uma pequena criança? Como o salmista (ver Salmos 3:5 e 4:8) já dizia. Estas são as coisas pelas quais a sabedoria sempre tem buscado: a quietude de mente e de coração, o lugar de descanso e de paz... A filosofia, desde a antiguidade, tem tentado compreender a sabedoria e tem falhado... E a razão pela qual tem falhado é que o homem não é constituído puramente de razão. Se o homem fosse apenas um intelecto, suponho que ele resolveria todos os seus problemas apenas com a razão. Mas ele não é apenas razão. Nós sabemos que não é só isso. Existe um elemento irracional em todos nós, e ele é até mesmo mais forte do que a nossa razão. Ao invés do homem fazer o que é certo, ele faz o errado. Isto é irracionalidade. Isto é contradição. Então, ele diz para si mesmo, ‘eu nunca mais farei isto novamente’, pois ele está cheio de remorso e de vergonha e pode ser honesto quando promete ‘nunca mais farei isto novamente’. Mas ele faz novamente, e continua fazendo novamente. Irracionalidade, é a essência do problema do homem... (ver Romanos 7:14-25). O homem é uma contradição. O elemento irracional está sempre presente... A razão (racionalidade) é uma coisa maravilhosa. Eu não intentando falar uma palavra sequer contra a razão. Eu venho aqui todo domingo para fazer o melhor que eu posso para raciocinar (racionalizar) com vocês... Estou racionalizando (arrazoando) com vocês... Que Deus não permita que eu fale qualquer coisa contra a razão (racionalidade). Eu acredito que a razão é um presente de Deus para o homem. Razão é aquilo que o diferencia de um animal. Mas, sabem, a razão não nos ajuda nos pontos mais importantes da vida. Ah! As mais gloriosas e maravilhosas experiências na vida não dependem da razão. A razão não sabe nada sobre o amor. O coração do homem... Blaise Pascal, um dos maiores pensadores racionais que este mundo já conheceu, brilhante matemático do séc. XVII, disse certa vez: ‘O coração tem suas razões que a própria razão desconhece’. E, quão verdadeiro isto é! Alguns dos relacionamentos humanos mais delicados, as experiências mais gloriosas na vida, a razão (racionalidade) não entende... Isto foi apresentado tão eficazmente por Robert Browning no poema ‘Bishop Blougram's Apology’. 
(http://www.poemhunter.com/best-poems/robert-browning/bishop-blougram-s-apology).
No poema, um jovem homem, cheio de sua filosofia e suas ideias, tenta argumentar com o velho bispo, com tudo tabulado e organizado por sua razão. O velho bispo responde ao jovem homem, dizendo que já fora assim uma vez, e que achava que entendia tudo, mas ‘sabe de uma coisa?’, diz ele. No momento em que você pensa que tem tudo compreendido e tabulado, diz o poema:
‘Exatamente quando estamos mais seguros, há um pôr do sol tocante,
A extravagância de uma flor de campânula (sino), a morte de alguém,
Um coro final de Eurípides,
E isso é o suficiente para cinquenta esperanças e medos
Como o velho e o novo, simultaneamente, como a própria natureza’
O ‘grande talvez’... Do que ele está falando? O que ele está falando é que justo quando você pensa que já entendeu tudo, e tem o seu perfeito sistema intelectual. Em terminologia recente, se você é um ‘positivista lógico’, e tudo está bem, até você ver um “pôr do sol”, e algo acontece em você que não é possível compreender racionalmente... Mas isto são coisas que torna a vida viva, e que torna o homem humano. A extravagância de um ‘flor de campânula’... A beleza de uma peça da literatura... é suficiente para te mover de tal maneira que a razão não é capaz de explicar... Há este senso do ‘invisível’ que está em cada um de nós. O senso de poderes existentes ao nosso redor, maiores do que nós mesmos... Isto foi o que o apóstolo Paulo encontrou em Atenas, a grande cidade dos filósofos. Contudo, a coisa que mais impressionou o apóstolo nesta grande cidade intelectual do mundo, foi o fato dela estar repleta de templos. Por quê? Só existe uma explicação: sua filosofia não pôde conduzi-los longe o suficiente. A filosofia estava indo bem até aonde ela conseguiu chegar, mas eles começaram a perceber que existiam alguns elementos intangíveis, os quais eles não podiam entender... Eles criaram, então, vários deuses (da guerra, do amor, da paz, etc.), e suas respectivas estátuas e templos. Contudo, eles criam também em um “deus desconhecido” (ver Atos dos Apóstolos, 17:23), que eles não puderam compreender, mas que acreditavam estar por trás dos seus deuses conhecidos, como um grande ser, controlando a todos os outros deuses... A sua razão, sozinha, não foi suficiente para conhecer o “deus desconhecido”...
... Se a salvação dependesse apenas da razão (racionalidade) e do entendimento humanos, não haveria esperança...
... ‘Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação’ (1Coríntios 1:21)...
... A autoridade da Bíblia é baseada na revelação. Não há sequer um escritor dos livros da Bíblia que tenha dito que estudou o assunto em questão, por muitos anos, e que considerou as teorias vigentes, e chegou a uma certa conclusão, que recomenda ao escrever para o leitor da Bíblia. No lugar disso, o que os escritores da Bíblia dizem, frequentemente, é: ‘o Senhor veio a mim’...
... Então, as grandes questões permanecem: homem, vida, como viver, morte. O que nos espera depois da morte?...
... Por fim, onde chegamos com isso? Nós podemos continuar atrapalhados com a nossa incerteza, falhando a cada ponto e encarando o desconhecido, com nada para nos guiar. Ou, então, podemos nos submeter a isto... Você e eu não estamos na posição de escolher... Você tem que aceitar tudo ou rejeitar tudo [falando sobre o Evangelho]... Há apenas uma coisa a se fazer, e isto significa admitir a nossa absoluta ignorância, confessando que todas as nossas ideias são pura especulação, e que nos contradizemos uns aos outros e, inclusive, a nós mesmos...
... O Senhor disse a Nicodemos que ele precisava ‘nascer de novo’ (ver João 3:1-3)...
... Esta é a mensagem: ‘Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito [‘...até à morte e morte de cruz’ (ver Filipenses 2:8)], para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (ver João 3:16)...
... Nossa maior necessidade é conhecer a Deus, ser reconciliado com Deus e poder ser abençoado por Ele... Como posso conhecer a Deus? Eu preciso ser perdoado. Sou um pecador. Somos todos pecadores. Eu preciso ser perdoado, mas não consigo fazer nada a respeito. Mas o próprio Deus cuidou disso (ver João 3:16)... Foi por suas pisaduras que fomos sarados (ver Isaías 53)... Seu sangue foi derramado. O calvário é um fato e a ressurreição é um fato...
... Juntemo-nos a Isaac Watts para dizer o seguinte:
(http://www.hymntime.com/tch/htm/w/g/i/wgiprais.htm)
‘Almighty God, to Thee
Be endless honors done,
The undivided Three,
And the mysterious One:
Where reason fails, with all her powers,
There faith prevails, and love adores.’
(traduzindo:
‘Deus Todo-Poderoso, a Ti
Sejam infinitas honras prestadas,
O indivisível Três,
E misterioso Um:
Onde a racionalidade falha, com todos os seus poderes,
Prevalece a fé, e o amor adora.’)
... Citando novamente Blaise Pascal: ‘A suprema conquista da razão é nos revelar que há um limite para a razão’.
... ‘Onde a racionalidade falha’, neste ponto, apesar de ‘todos os seus poderes’, ‘Prevalece a fé’, e o ‘amor’ (que a razão não consegue compreender), ‘adora’...
... Acredite na mensagem do Evangelho, concernente ao Senhor Jesus Cristo, e então, você começará a compartilhar esta ‘nova vida’... Amém.”

Biografia do Dr. Martyn Lloyd-Jones (ver http://www.mljtrust.org/meet-mlj):
Ele foi um estudante de medicina (“St Bartholomew's Hospital”) e, em 1921, começou a trabalhar como assistente do médico da família Real, Sir Thomas Horder. Obteve um MD (“Doutor em Medicina”, do latim “Medicinae Doctor”) da Universidade de Londres, e tornou-se membro do “Royal College of Physicians”, que correspondente a um diploma de pós-graduação médica no Reino Unido. Depois de lutar durante dois anos sobre o que ele sentia, se era um chamado para pregar, em 1927, o Dr. Lloyd-Jones voltou ao País de Gales, casou-se com Bethan Phillips (com quem teve 2 filhas), e aceitou um convite para ministrar em uma igreja em Aberavon (Port Talbot). Depois de uma década ministrando em Aberavon, em 1939, ele voltou para Londres, onde foi nomeado como pastor da capela de Westminster, onde ficou até 1968.