Tradução e transcrição de um trecho do sermão "The Age of Reason" ("A Era da Razão"), ministrado pelo Dr. Martyn Lloyd-Jones, e disponível em:
(https://mlj-sermons-mp3-tagged.s3.amazonaws.com/1+and+2+Timothy/5642D.mp3)
Texto base para a pregação: 2Timóteo 1:12
“e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.”
“e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia.”
(a partir de 30:50, ou seja, 30 minutos e 50 segundos do áudio)
“A grande
questão do homem e da civilização humana desde o começo tem sido a busca por
sabedoria. Jó já fez a antiga pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ (Jó
28:12)... Nós vivemos em uma época que não dá suficiente atenção para isto. Nós
estamos interessados em esperteza. Mas pensadores verdadeiros não estão
interessados em esperteza, mas em sabedoria... O que é a sabedoria? O que é o
homem?... Antes de perguntar o que pode ser feito em favor do homem, é preciso
perguntar ‘o que é o homem?’. O homem é um animal? Então trate-o como tal. Mas se
um homem não é apenas um animal, mas algo a mais, então ele precisa de algo a
mais... A sabedoria tem tentado responder estas perguntas ao longo dos séculos:
‘o que é o homem?’, ‘o que é a vida?’. Como um homem pode viver, de tal forma
que ele possa ir para a cama toda a noite, olhar para si mesmo no espelho sem
sentir vergonha de si mesmo, e colocar a cabeça no travesseiro e dormir como
uma pequena criança? Como o salmista (ver Salmos 3:5 e 4:8) já dizia. Estas são as coisas pelas quais a sabedoria
sempre tem buscado: a quietude de mente e de coração, o lugar de descanso e de
paz... A filosofia, desde a antiguidade, tem tentado compreender a
sabedoria e tem falhado... E a razão pela qual tem falhado é que o homem não é
constituído puramente de razão. Se o homem fosse apenas um intelecto, suponho
que ele resolveria todos os seus problemas apenas com a razão. Mas ele não é
apenas razão. Nós sabemos que não é só isso. Existe um elemento irracional em
todos nós, e ele é até mesmo mais forte do que a nossa razão. Ao invés do homem
fazer o que é certo, ele faz o errado. Isto é irracionalidade. Isto é contradição.
Então, ele diz para si mesmo, ‘eu nunca mais farei isto novamente’, pois ele
está cheio de remorso e de vergonha e pode ser honesto quando promete ‘nunca
mais farei isto novamente’. Mas ele faz novamente, e continua fazendo
novamente. Irracionalidade, é a essência do problema do homem... (ver Romanos
7:14-25). O homem é uma contradição. O elemento irracional está sempre presente...
A razão (racionalidade) é uma coisa maravilhosa. Eu não intentando falar uma
palavra sequer contra a razão. Eu venho aqui todo domingo para fazer o melhor
que eu posso para raciocinar (racionalizar) com vocês... Estou racionalizando
(arrazoando) com vocês... Que Deus não permita que eu fale qualquer coisa
contra a razão (racionalidade). Eu acredito que a razão é um presente de Deus
para o homem. Razão é aquilo que o diferencia de um animal. Mas, sabem, a razão
não nos ajuda nos pontos mais importantes da vida. Ah! As mais gloriosas e
maravilhosas experiências na vida não dependem da razão. A razão não sabe nada
sobre o amor. O coração do homem... Blaise Pascal, um dos maiores pensadores
racionais que este mundo já conheceu, brilhante matemático do séc. XVII, disse
certa vez: ‘O coração tem suas razões que a própria razão desconhece’. E, quão verdadeiro
isto é! Alguns dos relacionamentos humanos mais delicados, as experiências mais
gloriosas na vida, a razão (racionalidade) não entende... Isto foi apresentado tão
eficazmente por Robert Browning no poema ‘Bishop Blougram's Apology’.
(http://www.poemhunter.com/best-poems/robert-browning/bishop-blougram-s-apology).
No poema, um jovem homem, cheio de sua filosofia e suas ideias, tenta argumentar com o velho bispo, com tudo tabulado e organizado por sua razão. O velho bispo responde ao jovem homem, dizendo que já fora assim uma vez, e que achava que entendia tudo, mas ‘sabe de uma coisa?’, diz ele. No momento em que você pensa que tem tudo compreendido e tabulado, diz o poema:
(http://www.poemhunter.com/best-poems/robert-browning/bishop-blougram-s-apology).
No poema, um jovem homem, cheio de sua filosofia e suas ideias, tenta argumentar com o velho bispo, com tudo tabulado e organizado por sua razão. O velho bispo responde ao jovem homem, dizendo que já fora assim uma vez, e que achava que entendia tudo, mas ‘sabe de uma coisa?’, diz ele. No momento em que você pensa que tem tudo compreendido e tabulado, diz o poema:
‘Exatamente
quando estamos mais seguros, há um pôr do sol tocante,
A
extravagância de uma flor de campânula (sino), a morte de alguém,
Um
coro final de Eurípides,
E
isso é o suficiente para cinquenta esperanças e medos
Como
o velho e o novo, simultaneamente, como a própria natureza’
O ‘grande
talvez’... Do que ele está falando? O que ele está falando é que justo quando
você pensa que já entendeu tudo, e tem o seu perfeito sistema intelectual. Em
terminologia recente, se você é um ‘positivista lógico’, e tudo está bem, até
você ver um “pôr do sol”, e algo acontece em você que não é possível compreender
racionalmente... Mas isto são coisas que torna a vida viva, e que torna o homem
humano. A extravagância de um ‘flor de campânula’... A beleza de uma peça da
literatura... é suficiente para te mover de tal maneira que a razão não é capaz
de explicar... Há este senso do ‘invisível’ que está em cada um de nós. O senso
de poderes existentes ao nosso redor, maiores do que nós mesmos... Isto foi o
que o apóstolo Paulo encontrou em Atenas, a grande cidade dos filósofos. Contudo,
a coisa que mais impressionou o apóstolo nesta grande cidade intelectual do
mundo, foi o fato dela estar repleta de templos. Por quê? Só existe uma
explicação: sua filosofia não pôde conduzi-los longe o suficiente. A filosofia estava
indo bem até aonde ela conseguiu chegar, mas eles começaram a perceber que
existiam alguns elementos intangíveis, os quais eles não podiam entender...
Eles criaram, então, vários deuses (da guerra, do amor, da paz, etc.), e suas
respectivas estátuas e templos. Contudo, eles criam também em um “deus
desconhecido” (ver Atos dos Apóstolos, 17:23), que eles não puderam
compreender, mas que acreditavam estar por trás dos seus deuses conhecidos,
como um grande ser, controlando a todos os outros deuses... A sua razão, sozinha,
não foi suficiente para conhecer o “deus desconhecido”...
... Se a
salvação dependesse apenas da razão (racionalidade) e do entendimento humanos,
não haveria esperança...
... ‘Visto
como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria,
aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação’ (1Coríntios 1:21)...
... A
autoridade da Bíblia é baseada na revelação. Não há sequer um escritor dos
livros da Bíblia que tenha dito que estudou o assunto em questão, por muitos
anos, e que considerou as teorias vigentes, e chegou a uma certa conclusão, que
recomenda ao escrever para o leitor da Bíblia. No lugar disso, o que os
escritores da Bíblia dizem, frequentemente, é: ‘o Senhor veio a mim’...
... Então, as
grandes questões permanecem: homem, vida, como viver, morte. O que nos espera
depois da morte?...
... Por fim, onde
chegamos com isso? Nós podemos continuar atrapalhados com a nossa incerteza,
falhando a cada ponto e encarando o desconhecido, com nada para nos guiar. Ou,
então, podemos nos submeter a isto... Você e eu não estamos na posição de
escolher... Você tem que aceitar tudo ou rejeitar tudo [falando sobre o
Evangelho]... Há apenas uma coisa a se fazer, e isto significa admitir a nossa
absoluta ignorância, confessando que todas as nossas ideias são pura
especulação, e que nos contradizemos uns aos outros e, inclusive, a nós
mesmos...
... O Senhor
disse a Nicodemos que ele precisava ‘nascer de novo’ (ver João 3:1-3)...
... Esta é a
mensagem: ‘Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito [‘...até à morte e morte de cruz’ (ver Filipenses 2:8)], para que
todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (ver João 3:16)...
... Nossa maior
necessidade é conhecer a Deus, ser reconciliado com Deus e poder ser abençoado
por Ele... Como posso conhecer a Deus? Eu preciso ser perdoado. Sou um pecador.
Somos todos pecadores. Eu preciso ser perdoado, mas não consigo fazer nada a
respeito. Mas o próprio Deus cuidou disso (ver João 3:16)... Foi por suas pisaduras
que fomos sarados (ver Isaías 53)... Seu sangue foi derramado. O calvário é um
fato e a ressurreição é um fato...
... Juntemo-nos
a Isaac Watts para dizer o
seguinte:
(http://www.hymntime.com/tch/htm/w/g/i/wgiprais.htm)
(http://www.hymntime.com/tch/htm/w/g/i/wgiprais.htm)
‘Almighty God, to Thee
Be endless honors done,
The undivided Three,
And the mysterious One:
Where reason fails, with all her powers,
There faith prevails, and love adores.’
(traduzindo:
‘Deus
Todo-Poderoso, a Ti
Sejam
infinitas honras prestadas,
O
indivisível Três,
E
misterioso Um:
Onde
a racionalidade falha, com todos os seus poderes,
Prevalece
a fé, e o amor adora.’)
... Citando
novamente Blaise Pascal: ‘A suprema conquista da razão é nos revelar que há um
limite para a razão’.
... ‘Onde a racionalidade falha’, neste
ponto, apesar de ‘todos os seus poderes’,
‘Prevalece a fé’, e o ‘amor’ (que a razão não consegue
compreender), ‘adora’...
... Acredite na
mensagem do Evangelho, concernente ao Senhor Jesus Cristo, e então, você
começará a compartilhar esta ‘nova vida’... Amém.”
Biografia
do Dr. Martyn Lloyd-Jones (ver http://www.mljtrust.org/meet-mlj):
Ele foi um estudante de medicina (“St Bartholomew's Hospital”)
e, em 1921, começou a trabalhar como assistente do médico da família Real, Sir
Thomas Horder. Obteve um MD (“Doutor em Medicina”, do latim “Medicinae Doctor”) da Universidade de
Londres, e tornou-se membro do “Royal College of Physicians”, que correspondente
a um diploma de pós-graduação médica no Reino Unido. Depois de lutar durante
dois anos sobre o que ele sentia, se era um chamado para pregar, em 1927, o Dr.
Lloyd-Jones voltou ao País de Gales, casou-se com Bethan Phillips (com quem
teve 2 filhas), e aceitou um convite para ministrar em uma igreja em Aberavon
(Port Talbot). Depois de uma década ministrando em Aberavon, em 1939, ele
voltou para Londres, onde foi nomeado como pastor da capela de Westminster,
onde ficou até 1968.