22 abril 2025

Livro: "O peso da glória" (C.S. Lewis)

Alguns trechos do livro "O peso da glória", de C.S. Lewis:

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INTRODUÇÃO (por Walter Hooper, em 7 de março de 1980):

'[...] Falávamos sobre um de nossos livros favoritos, Le Morte d’Arthur [A morte de Artur], de Malory, e mencionei o quanto me sentia por vezes decepcionado quando, por exemplo, Sir Lancelot saía para livrar uma dama de algum perigo ou outro. Então, exatamente quando é impossível admirá-lo o bastante por seu altruísmo, ele explica a alguém, como se fosse a coisa mais natural do mundo, que ele fazia aquilo a fim de “receber adoração” — isto é, para aumentar sua reputação. Reconhecemos esse tipo de coisa como uma herança do paganismo. Sem qualquer intuito de embaraçá-lo, perguntei a Lewis se ele alguma vez se deu conta do fato que, independentemente de suas intenções, estava “recebendo adoração” por seus livros. Ele disse numa voz grave e suave, e com a mais profunda e completa humildade que jamais observei em uma pessoa: “Não se pode ser cauteloso o suficiente para não se pensar sobre isso”. A casa, o jardim, o universo todo pareceu estar paralisado por um momento, e então começamos a conversar de novo.'

'[...] Às vezes, quando me perguntam, faço questão de deixar claro que convivi com ele [C.S. Lewis] por “apenas” três meses. Creio, porém, que com a palavra “apenas”, presto um desserviço tanto à memória dele quanto à sua bondade. Não é comum sentirmos um vínculo duradouro com alguém que conhecemos há apenas alguns minutos e mesmo assim fracassarmos — pois essa é a natureza das coisas — em adquirir alguma intimidade com aqueles com os quais passamos por volta de meia hora ao longo dos anos? Cada um tem uma opinião a respeito disso. Tenho vergonha de admitir, mas cheguei a pensar, em razão de os planos que Lewis e eu traçamos juntos não terem se materializado nos anos seguintes, que em certa medida fui enganado. Recentemente, a avó de um de meus amigos estava morrendo, e fui com ele pelo condado de Derbyshire, no meio daquelas charmosas montanhas, onde as pessoas vivem mais livres de estereótipos e exageros do que em outras partes. Era só o início da primavera, e meu amigo não conseguiu encontrar nada para sua avó a não ser uns poucos brotos de flores de salgueiros. Quando, minutos antes de ela falecer, aquelas flores lhe foram dadas, ela as comprimiu ao rosto e sussurrou: “São lindas, querido, e são o suficiente”. Mas, para os editores de Lewis, parecia nunca haver o suficiente de seus livros. Entretanto, por mais que gostasse de escrever, nunca havia para Lewis, como é o caso de muitos outros, “zelo sem base no conhecimento”. Ele precisava ter algo a dizer antes de começar a escrever. Ainda assim, embora mantivesse os prazos colocados por ele mesmo em relação a seus livros, foi pressionado pela iniciativa de seus editores ingleses e americanos que ele preparou seleções de suas obras menores. Não foi o caso de Lewis não ter empregado todo seu esforço nas preleções [ensaios] que estão neste livro, mas ele precisava de algum estímulo antes de essas seleções serem feitas.'

'[...] Lewis provavelmente alcançou tanto êxito quanto qualquer outro escritor moderno, tanto na ficção quanto em seus sermões, em tornar o Céu crível.'

'[...] Registro meus agradecimentos à Collins Publishers por permitir a reimpressão de “Teologia é poesia?”, “Sobre o perdão” e “Ato falho”, e ao Sr. Sayer por me fornecer uma cópia de “Por que não sou um pacifista”. Quero agradecer também a Owen Barfield por me permitir editar este livro, e por todas as outras coisas que me fazem considerá-lo um daqueles amigos que, por qualquer critério, é um dos mais óbvios orgulhos de nossa raça decaída.' 

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PREFÁCIO (pelo próprio autor, C.S. Lewis):

'Este livro contém uma seleção de muitas das preleções que fui persuadido a proferir no período final da guerra e nos anos que se seguiram a ela. Todas foram proferidas na intenção de responder a solicitações pessoais e para públicos específicos, sem nenhuma intenção de publicação subsequentemente. Como resultado, em alguns lugares elas parecem repetir, embora realmente antecipem, frases que escrevi e que já apareceram em forma impressa. Quando fui convidado a fazer esta coleção, supus que pudesse remover tais sobreposições, mas estava errado. Chega um momento (e não precisa ser sempre um longo período) em que uma composição pertence tão categoricamente ao passado que o próprio autor não pode alterá-la muito sem o sentimento de que esteja produzindo uma espécie de falsificação. O período no qual esses ensaios foram produzidos era uma época excepcional para todos nós. E, embora creia não ter alterado nenhuma convicção que eles expressam, não posso mais capturar o tom e a atmosfera nos quais foram escritos. Nem mesmo aqueles que desejavam tê-los em formato permanente ficariam contentes com uma colcha de retalhos. Portanto, parece mais apropriado deixá-los em seu estado original com somente algumas poucas correções verbais. Preciso agradecer à S.P.C.K., à S.C.M. e aos proprietários da Sobornost por sua generosa permissão para reimprimir “O peso da glória”, “Aprendizado em tempos de guerra” e “Membresia”, respectivamente. “O círculo íntimo” aparece aqui pela primeira vez em forma impressa. Uma versão diferente de “Transposição”, escrita com um propósito específico e então traduzido para o italiano, apareceu na Rivista de Milão.'