Trechos do prefácio do livro "Perdido no meio: a crise da meia-idade e a graça de Deus", de Paul David Tripp:
'Eu não acredito que as pessoas envelheçam. Eu acho que o que acontece cedo na vida é que, em uma certa idade, as pessoas param e ficam estagnadas.'
— T.S. Eliot
'Ainda não há cura para o aniversário.'
— John Glenn
'Eu gosto de estar ocupado. Não gosto de analisar tudo, pois isso atrapalha o fazer. Para mim, um dia de atividade frenética empilha sobre o outro, dia após dia, até que os dias tenham se tornado em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Eu tento gastar a maior parte da minha vida olhando para a frente, vivendo na expectativa de algo. Recentemente, no entanto, em um momento poderoso, a vida trovejou sobre mim com um poder para o qual eu não estava preparado. Não foi um momento dramático. Ninguém na sala nem percebeu. Foi no Natal, uma época do ano que eu amo. Nós havíamos decorado a casa, embrulhado muitos presentes, e preparado mais comida do que qualquer família pudesse comer (embora tenhamos tentado). Nós tínhamos acabado de terminar a nossa festa deliciosa do dia de Natal e estávamos assentados em volta da mesa batendo papo, entremeando conversas, quando, sem razão, eu fiquei quieto e olhei ao redor da mesa. Para a minha surpresa eu vi dois homens sentados à minha frente, discutindo suas carreiras, um no mercado de ações e o outro em design. Meu pensamento imediato foi, de onde vieram esses homens? Que direito eles pensam que têm de invadir a nossa celebração familiar de Natal? Enquanto eu continuava ouvindo, entendi que esses homens não eram intrusos; eles eram os meus filhos! Homens, não meninos! Porque é que eles não estavam discutindo sobre skate ou brigando para decidir quem lavaria seu prato primeiro? Não parecia possível que eles pudessem ser meus filhos. Eu não sou tão velho! Não se passaram anos o suficiente. Há coisas que eu gostaria de ter feito com eles. Essa coisa toda não é possível, disse a mim mesmo. Eu estava sozinho em minha cabeça e ninguém à minha volta fazia ideia que, de repente, meus olhos tinham sido abertos. As coisas nunca mais seriam as mesmas. Agora, eu tenho de olhar para cima para falar com meu filho menor que está na faculdade. O antigo ninho proverbial está, de fato, vazio. Eu não sou mais um jovem casado recentemente, não sou mais um pastor jovem, não mais o pai de quatro crianças, nem mesmo de um monte de adolescentes. Eu não estou prestes a celebrar meu décimo aniversário de casamento nem de comprar a minha primeira casa. Eu não estou diante da ansiedade e temor de um novo ministério. Eu não estou embarcando nas primeiras grandes férias familiares. Eu não estou no meio dos meus estudos para um grau avançado. A maioria das primeiras coisas da minha família já ficou para trás de mim. Todos os nossos filhos já falaram as suas primeiras palavras, deram os seus primeiros passos, tiveram o seu primeiro dia de escola, tiveram a sua primeira aula de música e sobreviveram ao primeiro romance. Já houveram muitos boletins, incontáveis reuniões de pais e mestres, eventos atléticos, acampamentos e formaturas. Houve mais excursões, finais de semana fora de casa e férias do que eu consigo me lembrar. Houve incontáveis momentos de disciplina, correção e instrução. Compramos montanhas de roupas, caminhões de comida e papel suficiente para reflorestar a Amazônia! Luella [Luella Jackson, esposa de Paul Tripp] e eu conversamos e oramos, discutimos e choramos. Saímos para um número incontável de restaurantes só para ficarmos juntos. Saímos para diversas viagens de final de semana para tomar fôlego e renovar o nosso amor. Deixamos para trás um estacionamento cheio de veículos usados, um depósito de roupas que não servem mais, montes de cacos de copos, pratos e decorações quebradas – artefatos de uma civilização familiar que passou. Ainda assim, tudo isso passou diante de mim com uma velocidade de cegar, e passou bastante despercebido – até aquele dia de Natal divisor de águas. Foi um momento de profunda conscientização pessoal. Eu finalmente vi: eu não sou mais um jovem! Eu tenho um pedaço enorme da minha vida atrás de mim. Eu tenho mais vida atrás de mim do que para frente. [...] No dia seguinte, as coisas estavam diferentes. Quando eu saí da cama estava mais consciente das dores do que antes. O rosto que eu barbeei parecia mais velho e eu tinha mais cabelos grisalhos do que havia percebido anteriormente. Eu me encontrei, nos momentos quietos, pensando a respeito do passado mais do que nunca antes. Meus olhos foram abertos e eu não podia mais fechá-los. É difícil se conscientizar de sua própria história até que você esteja vivendo o meio dela. Mas Deus não nos deixou para vagar pelos corredores dos nossos próprios dramas. Ele nos deu uma história maior, a história da redenção que preenche as páginas da Escritura. Essa grande história nos habilita não somente a fazer sentido das realidades interna e externa de nossas histórias pessoais, mas, mais importante, a conhecê-lo de maneiras novas e gloriosas. [...] Você não precisa ficar perdido no meio de sua própria história. Você não precisa ficar paralisado pelo remorso, derrotado pela idade e desencorajado por ver seus sonhos ficarem para trás. Você não precisa tornar em um problema ainda maior a situação que já está experimentando. Esse momento da vida, que pode parecer o final de muitas coisas, pode, na verdade, dar as boas-vindas a você para uma forma nova de vida. Como frequentemente é o caso em sua caminhada com o Senhor, esse momento de dor também é um momento de graça [...]'