"Mas, primeiro, deve-se observar que ter sido feito da terra e de barro põe um freio à sua soberba, porque nada é mais absurdo que se gloriarem de sua excelência aqueles que não só habitam em tugúrios de barro, mas são eles próprios provenientes da terra e das cinzas. Contudo, por Deus ter considerado digno animar um vaso de barro, e também por tê-lo feito morada de um espírito imortal, Adão pôde gloriar-se, justamente por tanta generosidade do seu Criador."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XV, parágrafo 1)
"Portanto, para a conveniência do presente tratado, sustentemos que a alma humana consista em duas partes, sendo elas o intelecto e a vontade. O ofício do intelecto é discernir as coisas propostas de modo que reconheça o que deve ser aprovado e o que deve ser desaprovado; o ofício da vontade, por sua vez, é eleger e seguir o que o entendimento ditou como bom e rejeitar e evitar o que ele desaprovou.... o intelecto é como um condutor e governador da alma, que a vontade sempre considera seu gesto e espera pelo seu juízo em relação aos desejos."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XV, parágrafo 7)
"Não há entre as criaturas força mais admirável e ilustre do que o sol, pois além de iluminar todo o orbe com seu fulgor, o quanto não dá do vigor e favorece todos os animais com seu calor? E com seus raios insufla fecundidade na terra? E, tendo aquecido as sementes nela colocadas, daí ergue as ervas verdejantes, as quais, supridas de novos alimentos, firma e aumenta, até que cresçam em hastes? E as alimenta com perpétuo alento, até que floresçam, e, da flor ao fruto, o qual sazona até amadurecer? E igualmente as árvores e vinhas por ele aquecidas, primeiro despontam e produzem folhas, e daí a flor, e da flor o fruto?"
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XVI, parágrafo 2)
"Afirmamos que o céu e a terra e as criaturas inanimadas, e também os desígnios e as vontades dos homens são governados pela providência e diretamente dirigidos peara seu escopo. Então, se me perguntam, nada é fortuito, nada acontece por contingência? Respondo como Basílio, o Grande [Basílio. Homilia in Psalmum], para quem 'fortuna' e 'acaso' são termos dos povos, de cuja significação não se deve ocupar a mente dos homens piedosos.... Também disse Agostinho que aquilo que, porventura, vulgarmente se designa Fortuna é regido por uma ordem oculta, e se há as coisas que chamamos de casuais é porque desconhecemos sua razão e causa."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XVI, parágrafo 8)
"É a mesma razão quanto aos futuros contingentes. Todas as coisas futuras são tão incertas para nós que permanecemos em suspenso quanto a se penderão para um lado ou para outro. Mas permanece fixo em nosso coração que nada acontecerá sem que o Senhor tenha previsto."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XVI, parágrafo 9)