"O leitor precisa imaginar-me sozinho naquele quarto em Magdalen, noite após noite, sentindo - sempre que minha mente se desviava um instante que fosse do trabalho - a aproximação firme e implacável d'Ele, aquele que com tanta determinação eu não desejava encontrar. Aquilo que eu temia tanto pairava afinal sobre mim. Cedi enfim no período letivo subsequente à Páscoa de 1929, admitindo que Deus era Deus, e ajoelhei-me e orei: talvez, naquela noite, o mais deprimido e relutante convertido de toda a Inglaterra. Não percebi então o que se revela hoje a coisa mais ofuscante e óbvia: a humildade divina que aceita um convertido mesmo em tais circunstâncias.
O Filho Pródigo, pelo menos, caminhava para casa com as próprias pernas. Mas quem é que pode devidamente adorar aquele Amor que abre os altos portões para um filho pródigo que é arrastado para dentro esperneando, lutando, ressentido e girando os olhos em todas as direções à procura de uma chance de fuga? As palavras compelle intrare, força-los a entrar, foram tão violentadas por homens impiedosos que chegamos a estremecer diante delas; mas, entendidas de forma correta, determinam a profundidade da misericórdia divina. A dureza de Deus é mais suave do que a suavidade dos homens, e Sua compulsão é a nossa libertação."
(C.S. Lewis, no livro "Surpreendido pela Alegria", dando um relato da sua conversão).
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