O texto abaixo é um trecho do capítulo 2 do livro "A Vida de Robert Murray M'Cheyne: o jovem que viveu na presença de Deus", de Andrew A. Bonar:
"Neste momento, um jovem da igreja, por cuja alma ele sentia muita ansiedade, deixou a casa de seu pai. Sempre atento às almas, ele [Robert Murray M'Cheyne] aproveitou esta oportunidade para expor mais plenamente as coisas pertencentes à sua paz.
Larbert, 8 de agosto de 1836.
Meu Caro G. _____.
Você ficará surpreso a ouvir de mim. Muitas vezes desejei conhece-lo melhor; mas nestas tristes paróquias não conseguimos conhecer e ter intimidade com todos os que desejamos. E agora você deixou o telhado de seu pai, e nossa responsabilidade; ainda assim, meus cuidados vão atrás de você, assim como os pensamentos bondosos de muitos outros; e como agora não posso falar com você, aproveito esta maneira de expressar meus pensamentos. Não sei sob que luz você me vê, se como um ministro grave e taciturno, ou como alguém que pode ser companheiro e amigo; Mas, na verdade, faz tão pouco tempo desde que eu era como você, quando gostava dos jogos que agora gosta, e lia os livros que agora lê, que nunca consigo pensar em mim como nada além de um menino. Esta é uma razão pela qual eu escrevo. O mesmo sangue juvenil que corre em minhas veias, corre nas suas, as mesmas fantasias e paixões alegres dançam em meu peito como no seu; portanto, quando o persuadir a vir comigo ao mesmo Salvador, e andar o resto de sua vida 'guiado pelo Espírito de Deus', não estou persuadindo você a nada além de sua idade. Não sou como um avô grisalho - então pode responder a tudo o que digo dizendo que você é um menino. Não; sou quase tão menino quanto você; tão apaixonado pela felicidade e pela vida quanto você; gosto de correr pelas colinas e ver tudo o que há para ser visto, quanto você.
Outra coisa que me convence a escrever-lhe, meu caro rapaz, é que senti em minha própria experiência a necessidade de ter um amigo para me orientar e aconselhar. Tive um irmão gentil, como você tem, que me ensinou muitas coisas. Ele me deu uma Bíblia, e me persuadiu a lê-la; tentou me treinar como um jardineiro treina a macieira na parede; mas tudo em vão. Achava-me muito mais sábio do que ele e sempre seguia meu próprio caminho; e muitas vezes, bem me lembro, o vi lendo sua Bíblia, ou fechando a porta de seu quarto para orar, enquanto eu estava me vestindo para ir a alguma brincadeira, ou alguma dança tola. Bem, este querido amigo e irmão morreu; e embora sua morte tenha me causado uma impressão maior do que sua vida jamais havia causado, ainda assim encontrei a miséria de não ter amigos. Não quero dizer que não tivesse parentes e amigos mundanos, pois eu tinha muitos; mas não tinha nenhum amigo que cuidasse da minha alma. Não tinha ninguém para me dirigir ao Salvador - ninguém para despertar minha consciência adormecida - ningúem para me falar sobre o sangue de Jesus lavando todo pecado - ninguém para me falar sobre o Espírito que está tão disposto a mudar o coração, e dar a vitória sobre as paixões. Não tinha nenhum ministro para me pegar pela mão e dizer: 'venha comigo, e nós lhe faremos bem'. Sim, tinha um amigo e ministro, mas este era o próprio Jesus, e Ele me conduziu de uma maneira que me faz dar a Ele, e somente a Ele, todo o louvor. Agora, embora Jesus possa fazer isto novamente, a maneira mais comum com Ele é por meio de guias terrenos. Agora, seu eu pudesse fazer o papel de tal guia para você, ficaria feliz. Um sinalizador é tudo o que quero ser - apontar o caminho. É disso que tanto senti falta; é disso que você não precisa sentir falta, a menos que o queira.
Diga-me, querido G., você trabalharia de forma menos agradável durante o dia - andaria pelas ruas com um passo mais triste - você comeria sua carne com menos alegria no coraração - dormiria menos tranquilo à noite - se tivesse o perdão dos pecados, isto é, se todos os seus pensamentos e atos perversos - mentiras, roubos e transgressões do domingo - fossem todos apagados do livro de memória de Deus? Acha que isto te faria menos feliz? Você não ousa dizer que seria. Mas o perdão dos pecados não o faria mais feliz do que está? Talvez você me diga que é muito feliz como está. Acredito bastante em você. Eu sei que era bem feliz quando não estava perdoado. Sei que tive grande prazer em muitos pecados - na quebra do domingo, por exemplo. Muitas caminhadas prazerosas eu tive - falando minhas próprias palavras, pensando meus próprios pensamentos e buscando meu próprio prazer no dia santo de Deus. Imagine que poucos garotos foram mais felizes no estado não-convertido do que eu. Nenhuma tristeza nublava minha testa - nenhuma lágria enchia meus olhos, a não ser por causa de um bom livro de histórias; portanto, sei que você diz uma verdade, quando diz que é feliz como está. Mas Ah! não é essa a coisa mais triste de todas, que você seja feliz enquanto é filho da ira, que você sorria, coma, beba, seja feliz e durma bem, quando esta noite você pode estar no inferno? Feliz enquanto não perdoado! - uma felicidade terrível. É como a viúva hindu que se senta na pira funerária com o marido morto e canta canções de alegria quando eles estão incendiando a lenha com a qual ela deve ser queimada. Sim, você pode ser muito feliz assim até morrer, meu rapaz; mas quando olhar para traz do inferno, você dirá que foi um tipo miserável de felicidade. Agora, você acha que não lhe daria mais felicidade ser perdoado, ser capaz de se revestir de Jesus e dizer: 'a ira de Deus foi afastada?'. Você não seria mais feliz no trabalho e mais feliz em casa, e mais feliz em sua cama? Posso assegurar-lhe, de tudo o que já senti, os prazeres de ser perdoado são tão superiores aos prazeres de um homem não-perdoado, quanto o céu é mais alto que o inferno. A paz de ser perdoado me lembra o céu calmo e azul, que nenhum clamor terrero pode perturbar. Alivia todo o trabalho, adoça cada pedaço de pão, e torna um leito de doença todo macio e agradável; sim, tira a carranca da morte. O perdão pode ser seu agora. Não é dado a quem é bom. Não é dado a ninguém porque são menos perversos do que os outros. É dado apenas àqueles que, sentindo que seus pecados trouxeram sobre eles uma maldição que não podem retirar, 'olham para Jesus', levando tudo embora.
Agora, meu querido menino, não desejo cansá-lo. Se for parecido com o que eu era, já terá bocejado muitas vezes com esta carta. No entanto, se o Senhor te tratar com bondade e tocar seu jovem coração, como oro para que Ele o faça, com o desejo de ser perdoado e ser feito um filho de Deus, talvez você não leve a mal o que escrevi para você com muita pressa. Como esta é a primeira vez que você sai de casa, talvez ainda não tenha aprendido a escrever cartas; mas se tiver, gostaria de ouvir de você, como está - quais convicções sente, se sente alguma - quais dificuldades, quais partes da Bíblia o confunde, e então daria o meu melhor para desvendá-las. Você lê sua Bíblia regularmente, é claro; mas tente entendê-la e, mais ainda, senti-la. Leia mais partes do que uma de cada vez. Por exemplo, se você estiver lendo Gênesis, leia também um Salmo; ou, se estiver vendo Mateus, leia também uma pequena epístola. Transforme a Bíblia em oração. Assim, se você estiver lendo o Salmo 1, abra a Bíblia na cadeira diante de você, ajoelhe-se e ore: 'Ó Senhor, dê-me a bem-aventurança do homem' etc. 'Não me deixe ficar no conselho dos ímpios' etc. Esta é a melhor maneira de conhecer o significado da Bíblia e de aprender a orar. Em oração, confesse seus pecados pelo nome - repassando os do dia anterior, um por um. Ore por seus amigos pelo nome - pai, mãe, etc. Se você os ama, certamente orará por suas almas. Bem sei que há orações, constantemente subindo em seu favor, de sua própria casa; e você não vai orar por eles? Faça isso regularmente. Se você orar sinceramente pelos outros, isso o fará orar por si mesmo.
Mas, tenho que terminar. Adeus, querido G. Lembre-se gentilmente de mim para com seu irmão, e acredite em mim, seu amigo sincero,
R.M.M.
[Robert Murray M'Cheyne]"