“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” (1Coríntios 1:18–25)
Neste maravilhoso texto do apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, há um contraste claro entre “loucura” e “sabedoria”. Curiosamente, parece haver uma certa ironia no texto, fazendo uma associação da “aparente sabedoria” deste mundo com o que poderíamos chamar de “desCOLAdos” (usando uma gíria ou expressão popular), enquanto a “aparente loucura” dos crentes, que proclamam o evangelho da graça neste mundo, está associada ao que poderíamos chamar de “desLOCAdos” (note que LOCA é quase a grafia da palavra LOUCA).
O salmista nos ensina que os ímpios (“desCOLAdos”) se “reúnem”, unidos como “COLA” para “espreitar a alma” daqueles que temem ao Senhor: “Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares. Pois falam contra mim os meus inimigos; e os que me espreitam a alma consultam reunidos, dizendo: Deus o desamparou; persegui-o e prendei-o, pois não há quem o livre” (Sl 71:9-11). Em outro Salmo, também podemos aprender que os ímpios se “levantam” e “conspiram” – unidos como “COLA” – contra o Senhor, e contra o seu Ungido (Cristo Jesus): “Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (Sl 2:2-3).
Enquanto isso, segundo o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, os “desLOCAdos” crentes no Senhor Jesus são “transportados” – sofrem um “desLOCAmento” – do “império das trevas” para o “reino do Filho do seu amor” (Cl 1:13).
Outro texto paulino (Rm 12:1-2) também nos exorta para não “tomarmos a forma” deste mundo (“não vos conformeis com este século”). Portanto, de alguma maneira o cristão não deve temer se sentir “desLOCAdo” deste mundo, como “um peixe fora d’água”, como diz o conhecido ditado popular. Aliás, diga-se de passagem, esta verdade já foi declarada por C.S. Lewis no texto “Reflections on the Psalms”: “Por que estamos tão pouco reconciliados com o tempo é que ainda estamos surpresos com isso. 'Como ele cresceu!', exclamamos 'Como o tempo voa!', como se a forma universal de nossa experiência fosse novamente e novamente uma novidade. É estranho, como se um peixe ficasse repetidamente surpreendido com a umidade da água. E isso seria realmente estranho, a não ser, é claro, que o peixe estivesse destinado a tornar-se, um dia, um animal terrestre” [1].
Curiosamente, um dos primeiros símbolos usados por cristãos primitivos – que viveram nos primeiros séculos depois de Cristo – foi o de um peixe (no grego: ichthys ou ichthus) [2]. Os cristãos usavam este símbolo para marcar catacumbas cristãs, em uma época que experimentaram intensa perseguição. Que o Senhor Jesus nos conceda graça, coragem, ousadia e sabedoria, para podermos proclamar o Evangelho da Sua Cruz em qualquer ambiente ou circunstância em que a Sua soberana e sábia providência nos colocar, para que, desta forma, também possamos ser “pescadores de homens” (Mt 4:19 ou Mc 1:17), para a Sua própria honra, louvor e glória!
Glória somente a Deus, o “Pescador” que pesca “pescadores de homens”...
*Notas:
[1] Neste contexto, Lewis não está defendendo a evolução darwiniana, mas está se referindo ao fato de estarmos aguardando pelo retorno do Senhor Jesus Cristo, quando todas as coisas serão renovadas no “novo céu e nova terra” (Apocalipse 21 e 22).
[2] ἰχθύς (ou ΙΧΘΥΣ em letras maiúsculas), que é um acrônimo de “Iēsous Christos Theou 'Yios Sōtēr”, ou seja, “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.