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31 janeiro 2025

Livro: "Amado Timóteo" (PREGUE A PALAVRA)

Trechos do capítulo 15 - "Pregue a Palavra" (Roger Ellsworth) - do livro "Amado Timóteo: uma coletânea de cartas ao pastor", editado por Thomas K. Ascol (versão e-book/kindle):

'Para pregar bem, você precisa ser um homem de muita fé. Você precisa ser um bom crente. O seu povo precisa ser capaz de enxergar em suas pregações que o ensino das Escrituras é um deleite para a sua alma. Charles Spurgeon costumava dizer: "Irmãos, sejam grandes crentes. Pouca fé lhes trará a alma ao céu, mas muita fé trará o céu às suas almas" [citado por Ernest W. Bacon]. Aprenda a deleitar-se na Palavra de Deus, de tal forma que seja visível a todos que você possui o céu em sua alma. Você logo descobrirá que muitos de seus ouvinte desejarão o mesmo para si.'

'Recomendo para a sua cuidadosa consideração as palavras de Michael Horton: "Defendo o método histórico-remissor de pregação, o qual trata a Bíblia como a revelação dos acontecimentos da redenção, ao invés de guia de princípios eternos... Ao invés de tentar tornar a Bíblia relevante para o ocupado cristão contemporâneo, sugiro que deixemos que a Bíblia nos cative, condene, justifique e liberte. Precisamos de pregações mais focalizadas em Deus e naquilo que Ele fez, está fazendo e irá fazer na História, e menos em nós mesmos e em como nós podemos ser felizes com a ajuda de Deus" [An Interview with Michael Horton, n.8, The Discerning Reader, Baker Book House, 1995, 4].'

'Aconselho também que você considere cuidadosamente estas palavras de J.I. Packer: "A chave que abre o panorama bíblico é a percepção de que o verdadeiro assunto das Sagradas Escrituras não é o homem e sua religião, mas sim Deus e sua glória; e disto infere-se que Deus é o verdadeiro assunto de todos os textos, e precisa, portanto, ser o verdadeiro assunto de todo sermão expositivo" [J.I. Packer, Short Writing, 3:274-5].'

'Não é o bastante manter o tema da redenção sempre em vista. Precisamos falar sobre ela de tal forma que transmitamos ao nosso povo a glória e a grandeza da redenção. jamais devemos falar da redenção como se estivéssemos lendo nossa lista de compras. [J.I.] Packer escreveu sobre Martyn Lloyd-Jones: "[...] seu senso de realidade espiritual lhe informava que grandes coisas precisavam ser ditas de uma maneira que projetasse a grandeza delas" [J.I. Packer, Short Writing, 3:282].'

'Quando o seu sermão é produto de seu próprio e diligente estudo, ele traz consigo um selo de autenticidade, ou seja, a satisfação a você e a seus ouvintes, algo que os sermões de "atalho" nunca poderão trazer.'

'Um sermão não é apenas um comentário fluente em uma passagem das Escrituras. É, na verdade, a descoberta do tema principal de uma determinada passagem, e a demonstração de como aquela passagem desenvolve o tema. Eu sempre tento me fazer duas perguntas sobre a passagem das Escrituras com a qual eu estou lidando: "Sobre o que a passagem está falando?" e "O que ela diz sobre o assunto?". Minha resposta para a primeira pergunta é o meu tema, e minhas respostas para a segunda pergunta são os meus pontos e sub-pontos. J.I. Packer chegou ao âmago desta questão com as seguintes palavras: "Um sermão é uma declaração única; portanto ele deve ter um único tema, suas divisões (devem ser claramente marcadas, para ajudar o ouvinte a segui-las e lembrar-se delas) precisam trabalhar como as partes de um telescópio - cada divisão sucessiva... deve ser uma lente adicional para trazer o assunto de seu texto mais próximo, e torná-lo mais distinto." [J.I. Packer, Short Writing, 3:271].'

'[...] para pregar bem a Palavra de Deus você precisa utilizar uma linguagem que o seu povo seja capaz de compreender [...] Geoffrey Thomas observou: "A Palavra de Deus não é uma espada nas mãos de um artista de circo, para ser jogada para cima e depois pega, vez após vez, numa esplendorosa demonstração de habilidade, de forma que após vinte minutos o espetáculo acaba e a plateia vai para casa elogiando a qualidade do show. Esta espada se assemelha mais ao bisturi do cirurgião, e os médicos da Palavra precisam cortas profundamente." [Samuel T. Logan Jr., The Preacher and Preaching, Presbyterian and Reformed Publishing]. Só poderemos atingir profundamente o coração do ouvinte, se formos compreendidos. Ser compreendido é melhor do que ser impressionante.'

'Os maiores pregadores na história eram verdadeiros persuasores e litigantes. eles não tratavam de simplesmente jogar a verdade diante de seus ouvintes e dizer: "Aí está". Mas eles mostravam o quão vital ela [a verdade] era e instavam-lhes a aceitá-la. Eu sugiro uma leitura dos sermões de Charles Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones para aprender a arte da persuasão. Em sua biografia de Martyn Lloyd-Jones, Iain Murray compartilha estas úteis palavras: "Expor não é simplesmente mostrar o sentido gramaticalmente correto de um versículo ou passagem, e sim demonstrar os princípios ou doutrinas que as palavras pretendem transmitir. A verdadeira pregação expositiva é, portanto, pregação doutrinária; é uma pregação que transmite verdades específicas de Deus para o homem. O pregador expositivo não é alguém que compartilha os seus estudos com os outros, e sim um embaixador e um mensageiro, transmitindo com autoridade a Palavra de Deus aos homens. Este tipo de pregação apresenta um texto, e então, utilizando aquele texto durante todo o discurso, há dedução, argumentação e persuasão, constituindo a mensagem que carrega a autoridade da própria Escritura." [Iain Murray, D. M. Lloyd-Jones, vol.2, Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1990, 261].'

'Deus prometeu que a sua Palavra não retornará vazia, mas fará aquilo que Lhe apraz (Is 55:10-11). Ele nos diz que a sua Palavra é "a espada do Espírito" (Ef 6:17). Ela é, na verdade, "viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas" (Hb 4:12). Além disso, ela é "apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração" (Hb 4:12). Que ensinamentos maravilhosos são estes! Como seria penoso pregar sem eles! Mas com eles, podemos pregar com confiança. Pode até parecer que muitas vezes nossas pregações não estão atingindo qualquer objetivo - isto é, estão caindo em ouvidos surdos - mas estes versos [acima] nos asseguram de que este não é nosso caso. Deus realiza a sua vontade através da pregação bíblica. Ele a utiliza para colocar uma canção nos corações aflitos, coragem nos corações inconstantes, fé nos corações incrédulos e renovar a fé nos corações perdidos. Não podemos ver tudo isso acontecendo, mas acontece mesmo assim, e quando, finalmente, chegarmos à Sua presença, o Senhor se agradará em nos mostrar tudo o quanto Lhe aprouve fazer através de nossa pregação.'

'[...] Podemos pregar estes sermões sem nos dar conta da grandeza daquilo que estamos fazendo. O pregador precisa, portanto, estar constantemente se lembrando de que ele está, nas famosas palavras de Richard Baxter, "pregando como um moribundo para outros moribundos, sem a certeza de pregar novamente." [citado em Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores].'

'[Roger Ellsworth] Quando preparo meus sermões, tento manter em mente um momento em particular, o qual ocorre todas as vezes que me coloco diante de minha congregação. Toda vez que assumo o meu lugar no púlpito, percebo aquele momento maravilhoso e ao mesmo tempo terrível (que costumo chamar "momento do rosto erguido"), quando o povo olha para cima em minha direção, com expectativa. É maravilhoso, porque eles estão me dizendo que estão prontos para ouvir a mensagem de Deus durante a próxima hora. Mas também é terrível, porque me faz perceber minha imensa responsabilidade. Lá no fundo, vejo o rosto daquele que geralmente frequenta os cultos, mas que ainda não conhece a Cristo e, imediatamente à sua frente, o rosto daquele que está sofrendo terrivelmente a perda de um ente amado. Lá adiante, vejo o rosto daquele adolescente que está tentando definir o que realmente importa em sua vida. À minha direita, no meio, vejo o rosto daquela pessoa que nunca esteve numa igreja antes, mas que decidiu vir para ver do que se tratam os cultos. E, bem na frente, vejo aquele membro fiel que tenta encontrar forças para prosseguir. Durante toda a semana estas pessoas ouvem o que as milhares de vozes da sociedade têm a dizer. Porém, agora, elas vieram à igreja para descobrir o que Deus tem a dizer. Eu fico lá, de pé, com seus olhos fitos em mim, e tremo ao me dar conta de que estou posicionado entre o céu e a terra. Sussurro uma oração para que Deus me ajude e, então, começo. Com a ajuda de Deus, o sermão toma vida e aqueles rostos continuam erguidos. Alguns concordam com a cabeça, e alguns olhos começam a brilhar. Quando deixo o púlpito, tenho certeza de que aquela era a mensagem de Deus e o momento dEle. Eu sei que aquelas pessoas ouviram do céu, e agradeço a Deus por Ele me ter feito um pregador.'