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10 agosto 2025

Livro: "Perdido no meio" (Paul D. Tripp)

Trechos do prefácio do livro "Perdido no meio: a crise da meia-idade e a graça de Deus", de Paul David Tripp:

'Eu não acredito que as pessoas envelheçam. Eu acho que o que acontece cedo na vida é que, em uma certa idade, as pessoas param e ficam estagnadas.'
 T.S. Eliot
 
'Ainda não há cura para o aniversário.'
— John Glenn

'Eu gosto de estar ocupado. Não gosto de analisar tudo, pois isso atrapalha o fazer. Para mim, um dia de atividade frenética empilha sobre o outro, dia após dia, até que os dias tenham se tornado em semanas, as semanas em meses e os meses em anos. Eu tento gastar a maior parte da minha vida olhando para a frente, vivendo na expectativa de algo. Recentemente, no entanto, em um momento poderoso, a vida trovejou sobre mim com um poder para o qual eu não estava preparado. Não foi um momento dramático. Ninguém na sala nem percebeu. Foi no Natal, uma época do ano que eu amo. Nós havíamos decorado a casa, embrulhado muitos presentes, e preparado mais comida do que qualquer família pudesse comer (embora tenhamos tentado). Nós tínhamos acabado de terminar a nossa festa deliciosa do dia de Natal e estávamos assentados em volta da mesa batendo papo, entremeando conversas, quando, sem razão, eu fiquei quieto e olhei ao redor da mesa. Para a minha surpresa eu vi dois homens sentados à minha frente, discutindo suas carreiras, um no mercado de ações e o outro em design. Meu pensamento imediato foi, de onde vieram esses homens? Que direito eles pensam que têm de invadir a nossa celebração familiar de Natal? Enquanto eu continuava ouvindo, entendi que esses homens não eram intrusos; eles eram os meus filhos! Homens, não meninos! Porque é que eles não estavam discutindo sobre skate ou brigando para decidir quem lavaria seu prato primeiro? Não parecia possível que eles pudessem ser meus filhos. Eu não sou tão velho! Não se passaram anos o suficiente. Há coisas que eu gostaria de ter feito com eles. Essa coisa toda não é possível, disse a mim mesmo. Eu estava sozinho em minha cabeça e ninguém à minha volta fazia ideia que, de repente, meus olhos tinham sido abertos. As coisas nunca mais seriam as mesmas. Agora, eu tenho de olhar para cima para falar com meu filho menor que está na faculdade. O antigo ninho proverbial está, de fato, vazio. Eu não sou mais um jovem casado recentemente, não sou mais um pastor jovem, não mais o pai de quatro crianças, nem mesmo de um monte de adolescentes. Eu não estou prestes a celebrar meu décimo aniversário de casamento nem de comprar a minha primeira casa. Eu não estou diante da ansiedade e temor de um novo ministério. Eu não estou embarcando nas primeiras grandes férias familiares. Eu não estou no meio dos meus estudos para um grau avançado. A maioria das primeiras coisas da minha família já ficou para trás de mim. Todos os nossos filhos já falaram as suas primeiras palavras, deram os seus primeiros passos, tiveram o seu primeiro dia de escola, tiveram a sua primeira aula de música e sobreviveram ao primeiro romance. Já houveram muitos boletins, incontáveis reuniões de pais e mestres, eventos atléticos, acampamentos e formaturas. Houve mais excursões, finais de semana fora de casa e férias do que eu consigo me lembrar. Houve incontáveis momentos de disciplina, correção e instrução. Compramos montanhas de roupas, caminhões de comida e papel suficiente para reflorestar a Amazônia! Luella [Luella Jackson, esposa de Paul Tripp] e eu conversamos e oramos, discutimos e choramos. Saímos para um número incontável de restaurantes só para ficarmos juntos. Saímos para diversas viagens de final de semana para tomar fôlego e renovar o nosso amor. Deixamos para trás um estacionamento cheio de veículos usados, um depósito de roupas que não servem mais, montes de cacos de copos, pratos e decorações quebradas – artefatos de uma civilização familiar que passou. Ainda assim, tudo isso passou diante de mim com uma velocidade de cegar, e passou bastante despercebido – até aquele dia de Natal divisor de águas. Foi um momento de profunda conscientização pessoal. Eu finalmente vi: eu não sou mais um jovem! Eu tenho um pedaço enorme da minha vida atrás de mim. Eu tenho mais vida atrás de mim do que para frente. [...] No dia seguinte, as coisas estavam diferentes. Quando eu saí da cama estava mais consciente das dores do que antes. O rosto que eu barbeei parecia mais velho e eu tinha mais cabelos grisalhos do que havia percebido anteriormente. Eu me encontrei, nos momentos quietos, pensando a respeito do passado mais do que nunca antes. Meus olhos foram abertos e eu não podia mais fechá-los. É difícil se conscientizar de sua própria história até que você esteja vivendo o meio dela. Mas Deus não nos deixou para vagar pelos corredores dos nossos próprios dramas. Ele nos deu uma história maior, a história da redenção que preenche as páginas da Escritura. Essa grande história nos habilita não somente a fazer sentido das realidades interna e externa de nossas histórias pessoais, mas, mais importante, a conhecê-lo de maneiras novas e gloriosas. [...] Você não precisa ficar perdido no meio de sua própria história. Você não precisa ficar paralisado pelo remorso, derrotado pela idade e desencorajado por ver seus sonhos ficarem para trás. Você não precisa tornar em um problema ainda maior a situação que já está experimentando. Esse momento da vida, que pode parecer o final de muitas coisas, pode, na verdade, dar as boas-vindas a você para uma forma nova de vida. Como frequentemente é o caso em sua caminhada com o Senhor, esse momento de dor também é um momento de graça [...]'

19 julho 2025

Livro: "Cristo é Tudo" (C.H. Spurgeon)

Alguns trechos do livro "Cristo é Tudo", de C.H. Spurgeon:

no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Cl 3:11)

1. Por Quem Essa Verdade é Reconhecida?

'[...] sonhar que Ele é uma parte do Salvador e dividirá o mundo e a honra da salvação com o pecador. Aqueles que unem o pecador e o Salvador, cada um fazendo sua parte, roubam de Cristo toda a sua glória; e isso é realmente roubar do sangrento Cordeiro de Deus a devida recompensa de suas agonias. “O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo” (Is 63:3). Na obra da salvação, Jesus está sozinho; a salvação é do Senhor; se Cristo não é tudo para você, Ele não é nada para você; Ele nunca entrará em parceria como um Salvador parcial dos homens. Se Ele é alguma coisa, Ele deve ser tudo, e se Ele não é tudo, Ele não é nada para você.'

'[...] Talvez seja um dos trabalhos mais difíceis do mundo, tão difícil que é impossível, exceto para o próprio Espírito Santo, afastar um homem da ideia de que ele deve fazer algo, ou ser algo. Pecador, você é o vazio e Cristo a plenitude! Você é a imundície e Ele a purificação! Você não é nada, e Ele é tudo, e quanto antes você consentir com isso, melhor! Pare de dizer: “Eu viria ao Salvador se isso ou se aquilo”, pois essa sutileza irá iludir, atrasar e destruir você! Venha como você está agora, pois Cristo não é quase tudo; Ele é TUDO EM TODOS!'

'[...] “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1:30). Cristo é TUDO, não apenas na minha justificação, mas também na minha santificação. Ele é TUDO, não apenas nos primeiros passos da minha fé, mas nos últimos. Ele é o “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22:13). Não há um ponto entre os portões do inferno e os portões do céu onde um crente tenha que dizer: Cristo não me ajuda aqui, e por isso devo confiar em meus próprios esforços. Da podridão de nossa corrupção até o trono de nossa perfeição, não há ponto deixado ao acaso ou reservado para nós suprirmos; nossa salvação tem Cristo para começar, Cristo para continuar e Cristo para terminar, e isso em todos os pontos, em todos os momentos, para todo homem que será salvo. Não há um ponto em que a criatura venha reivindicar mérito, ou trazer força, ou compensar o que faltou. “Cristo é tudo e em todos”. Os santos são “perfeitos em Cristo Jesus”. Ele disse: “Está consumado”, e está consumado! Ele não é apenas o autor de nossa fé, mas também o consumador dela; Ele é tudo em tudo e em todos, e o homem não é nada!'

2. O Que Essa Verdade Inclui?

'[...] Foi o conselho de um tutor idoso a um jovem aluno para não pregar sobre uma passagem que seja magnífica demais. Eu soei esse aviso em meus próprios ouvidos esta manhã. Este pequeno texto que escolhi ["Cristo é tudo em todos" (Cl 3:11b)], é um dos maiores de toda a Bíblia, e me sinto perdido em sua extensão ilimitada; é como uma daquelas joias raras que são pequenas de se ver, mas quem as carrega, carrega o preço de impérios em suas mãos! Não estaria dentro do alcance da aritmética estabelecer o valor desse teste de safira. Não posso navegar em um mar tão grande, pois meu barquinho é muito pequeno, só posso navegar ao longo da costa. Quem pode resumir “tudo em todos” em um sermão? Garanto a você que esse livreto será mais notável por suas omissões do que pelo que contém, pois é impossível abordar tal assunto em tão poucas páginas. Se eu tentasse lhe contar todo o significado deste texto sem limites, precisaria de todo o tempo e eternidade, e mesmo assim todas as línguas, humanas e angelicais, não poderiam me ajudar a abranger o todo! Nadaremos neste mar, embora não possamos entendê-lo, e nos banquetearemos nesta mesa, embora não possamos calcular seu preço!'
 
'[...] Cristo está em seu coração, amado? Então, tudo o que existe para causar-lhe tristeza pode também ser para ti um tema de alegria! O santo fica triste ao pensar que tem pecado para confessar, mas fica feliz em pensar que é capaz de confessar o pecado; o santo fica aborrecido por ter tanta enfermidade, mas ele se gloria na enfermidade porque o poder de Cristo repousa sobre ele! Ele se entristece dia a dia ao observar suas andanças, mas também se alegra ao ver como o Bom Pastor o segue e restaura sua alma! Todos os males e deficiências em mim que me fazem chorar, também me alegram quando Jesus é visto, pois tudo que vejo em mim que seja faltoso ou pecaminoso, vejo um remédio suficiente em Cristo que é tudo em todos.' 

'[...] Por acaso, você tem mais alguma coisa em que possa confiar? Você tem um bom trabalho em que possa confiar? Existe uma oração que você já ofereceu, uma emoção que você já sentiu que ousaria usar como um apoio ou, em algum grau, um suporte para sua esperança de salvação? Sei que você responderá: “Não tenho nada, nada, nada, nada! Cristo, meu Salvador, é toda a minha salvação e todo o meu desejo, e abomino a própria ideia de colocar qualquer coisa lado a lado com Ele como fundamento de minha dependência diante de Deus”. Oh, então, certamente você tem a marca das ovelhas de Cristo, pois para todas elas Cristo é tudo.'

'[...] Cristo é tudo de que precisamos, tudo o que desejamos e tudo de bom que podemos conceber. Ele é tudo que eu preciso. Jesus é a Água Viva para saciar minha sede, o pão celestial para saciar minha fome, o manto branco como a neve para me cobrir, o refúgio seguro, o lar feliz de minha alma, minha comida e meu remédio, meu consolo e minha canção, minha luz e meu deleite. Ele é tudo que eu desejo, e eu apenas cobiço mais de sua presença; minha ambição é ser como Ele; meu desejo é apenas estar com Ele onde Ele está. Ele é tudo que posso conceber de bom. Quando minha imaginação estende todas as suas asas para voar para reinos além de onde a asa da águia [Is 40:31] esteve, ainda assim ela não alcança a altura da glória que Cristo Jesus lhe prometeu; ela [minha imaginação] não pode conceber, com seus poderes mais expandidos, nada mais rico e precioso do que Cristo, seu Cristo, ela mesma de Cristo e Cristo, tudo dela! Ah, se você quer saber o que é o céu, saiba o que é Cristo, pois a forma de se soletrar o céu é com essas cinco letras que formam a palavra JESUS. Quando você o obtiver, Ele será tudo para você de que seu corpo glorificado precisará, e todo o seu espírito glorificado pode conceber. Ó precioso Cristo, Tu és tudo em todos!'

3. O Que Envolve Essa Verdade?

'[...] Temos um velho provérbio sobre a loucura de levar carvão para Newcastle***, mas que loucura deve ser essa que faz um homem pensar que pode levar algo para Cristo, quando Cristo é tudo? Venha, venha, venha, venha a Ele, pobre pecador, e deixe que Ele seja tudo para você! Simplesmente confie n’Ele e fique em paz. Tal verdade, novamente repreende a frieza dos santos. Se Cristo é tudo em todos, então como o amamos tão pouco? Se Ele é tão precioso, como o valorizamos tão pouco? Oh, meu coração estúpido, morto e frio, o que você está fazendo? Você é mais duro do que inflexível e mais vil do que bruto, por não ser movido por ardor e afeição fervorosa por um Senhor como esse! Cristo é tudo, meu amado, mas veja quão pouco oferecemos a Ele de nossa substância; quão escassa é a porção de nosso tempo; quão pouco é a que dedicamos de nossos talentos! Deus nos desperte para o santo fervor, para que, se Cristo é tudo por nós, possamos ser todos por Cristo! Que possamos nos estender sem reservas ao máximo de nossa capacidade, pedindo a Ele novas forças para que possamos fazer tudo o que pode ser feito!'
***Nota: "levar carvão para Newcastle é uma expressão idiomática de origem inglesa que descreve uma ação sem sentido. Refere-se ao fato de que, historicamente, a economia de Newcastle, no nordeste da Inglaterra, era um grande centro de embarques de carvão de minas próximas e, portanto, qualquer tentativa de vender carvão para Newcastle seria imprudente, pois a oferta seria maior lá do que em qualquer outro lugar da Grã-Bretanha."

4. O Que Essa Verdade Requer de Nós?

'[...] Cristo é tudo em todos! Portanto, “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3:12). A exibição da vida de Cristo nos santos é a inferência legítima do fato de que Cristo é tudo para eles. Se Cristo é tudo, e ainda assim eu, sendo um cristão, não sou como Cristo, meu cristianismo é uma farsa transparente; não passo de um pretendente vil, e minha religiosidade externa é uma pomposa ostentação para que minha alma seja levada para o inferno; nada mais! É um caixão dourado para um espírito sem vida. Pereceria com uma dupla destruição se profanasse o nome de Cristo, tomando-o sobre mim se eu não tivesse a essência da religião cristã dentro de mim! A ortodoxia, embora seja do tipo mais seguro, é a vaidade das vaidades, a menos que haja com ela a ortodoxia da vida. E a experiência, o que quer que o homem diga sobre isso, é apenas um sonho, uma ficção de sua própria imaginação, se não se manifestar sacudindo os pecados da carne e vestindo os adornos da santidade.'

'[...] Eu exorto você, se você tem algum respeito por Cristo, firme-se n’Ele! Se você não se esforçar para honrá-lo, você estará perdido! Seus gananciosos, seus avarentos que vivem apenas para este mundo, vocês estarão perdidos! Você não precisa duvidar disso, com certeza estará perdido, mas por que precisa garantir sua condenação duplamente com a impostura básica de se chamarem cristãos? Enquanto isso, se o leopardo quiser declarar que não tem manchas, pouco importa; mas as mentiras de um homem que vive sem Cristo, enquanto se diz cristão, traz uma desonra muito grande para Aquele que foi pregado no madeiro, e cuja religião é a da santidade. Eu imploro a você, pelo Deus vivo, desista de sua profissão de fé se você não se esforça para torná-la realidade! Se você não está vivendo como deveria, não finja ser o que não é! Busque Deus, para que a vida de Cristo esteja em você. Sem Cristo vocês não são nada, embora sejam batizados, embora sejam membros de igrejas, embora sejam altamente estimados como diáconos, presbíteros, pastores. Oh, então, tenha Cristo em todos os lugares em todas as coisas. Que os homens digam sobre você: “Para aquele homem, Cristo é tudo em todos; ele está com Jesus, aprende d’Ele, pois ele age como Jesus agiu!”. Que Deus conceda uma bênção sobre estas palavras, pelo amor de Cristo.'

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*Quem foi C.H. Spurgeon? [trechos da biografia resumida no final do livro]

'Charles Haddon Spurgeon nasceu em 19 de junho de 1834, em Kelvedon, Essex, Inglaterra. Ele tinha dezesseis irmãos (nove dos quais morreram na infância). Seu pai e seu avô eram Ministros inconformistas na Inglaterra. Por dificuldades econômicas, Charles, quando criança, foi enviado para morar com o avô, que ensinou Charles a andar nos caminhos do Senhor. Charles não teve muita educação formal e nunca foi para a faculdade. Ele leu muito ao longo de sua vida [...] Ele foi convertido quando tinha quinze anos. Ele estava a caminho de sua igreja habitual, mas quando uma nevasca o impediu de chegar lá, ele entrou em uma capela metodista. Embora houvesse apenas cerca de quinze pessoas presentes, o pregador estava citando Isaías 45:22: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra”. Os olhos de Charles Spurgeon foram abertos e o Senhor converteu sua alma. Posterior a isso, ele começou a frequentar uma igreja batista e a ensinar na escola dominical. Ele logo pregou seu primeiro sermão, e então quando ele tinha dezesseis anos, tornou-se pastor de uma pequena igreja batista em Cambridge. A igreja logo cresceu para mais de quatrocentas pessoas, e Charles Spurgeon, com a idade de dezenove anos, mudou-se para se tornar o pastor da New Park Street Church em Londres. A igreja cresceu de algumas centenas de frequentadores para alguns milhares [...] O Metropolitan Tabernacle foi construído em Londres em 1861, com capacidade de acomodação para mais de 5.000 pessoas. Spurgeon pregou a mensagem simples da cruz, e assim atraiu muitas pessoas que queriam ouvir a voz de Deus por meio da Sua Palavra pregada no poder do Espírito Santo. Em 9 de janeiro de 1856, Charles se casou com Susannah Thompson. Eles tiveram gêmeos, Charles e Thomas. Charles e Susannah se amavam profundamente, mesmo em meio as dificuldades que enfrentaram na vida, incluindo problemas de saúde. Ajudavam-se espiritualmente e muitas vezes juntos liam os escritos de Jonathan Edwards, Richard Baxter, e outros [...] Charles Spurgeon era amigo de todos os cristãos, mas manteve-se firme nas Escrituras, e não agradou a todos os que o ouviram. Spurgeon creu e pregou sobre a soberania de Deus, céu e inferno, arrependimento, reavivamento, santidade, salvação, somente por meio de Jesus Cristo, e sobre infalibilidade e a necessidade da Palavra de Deus. Ele falou contra mundanismo e hipocrisia entre os cristãos, e contra o Catolicismo, ritualismo e modernismo [...] Apesar de algumas dificuldades, Spurgeon ficou conhecido como “o Príncipe dos Pregadores”. Ele se opôs à escravidão, fundou um colégio de pastores, abriu um orfanato, focado em ajudar a alimentar e vestir os pobres, tinha um fundo de livros para pastores pobres e muito mais. Charles Spurgeon continua sendo um dos pregadores mais publicados na história. Seus sermões eram impressos toda semana (até nos jornais), e então os sermões para o ano foram reeditados como um livro no final de cada ano. Os primeiros seis volumes, de 1855-1860, são conhecidos como “The Park Street Pulpit”, enquanto os próximos cinquenta e sete volumes, de 1861-1917 (seus sermões continuaram a ser publicados muito depois de sua morte), são conhecidos como “The Metropolitan Tabernacle Pulpit”. Ele também supervisionou uma revista mensal chamada “The Sword and the Trowel”, e escreveu muitos livros, incluindo “Lições aos meus alunos”, “Tudo pela graça”, “Conselhos para obreiros”, “O ganhador de almas”, “Manhã e Noite”, sua autobiografia e muito mais, incluindo alguns comentários, como seu estudo de vinte anos sobre os Salmos – “O Tesouro de Davi”. Charles Spurgeon frequentemente pregava dez vezes por semana, pregando para um estimado dez milhões de pessoas durante sua vida. Ele geralmente pregava com apenas uma página de anotação, e muitas vezes apenas com um esboço. Ele lia cerca de seis livros por semana. Durante sua vida, ele havia lido “O Peregrino[de John Bunyan] mais de cem vezes. Quando ele morreu, sua biblioteca pessoal consistia em mais de 12.000 livros. No entanto, a Bíblia sempre foi o livro mais importante para ele. Spurgeon foi capaz de fazer o que fez, no poder do Espírito Santo de Deus. Ele se encontrava com Deus a cada manhã antes de se encontrar com os outros, e ele continuava em comunhão com Deus durante todo o dia. Charles Spurgeon sofria de gota, reumatismo e alguma depressão, entre outros problemas de saúde. Frequentemente ia a Menton, França, para se recuperar e descansar. Ele pregou seu sermão final no Metropolitan Tabernacle em 7 de junho de 1891, e morreu na França em 31 de janeiro de 1892, aos cinquenta e sete anos. Ele foi enterrado no Cemitério Norwood, em Londres. Charles Haddon Spurgeon viveu uma vida dedicada a Deus. Seus sermões e os escritos continuam a influenciar os cristãos em todo o mundo.'

17 julho 2025

Livro: "Julho com J.C.Ryle"

Trecho do devocional diário "Julho com J.C. Ryle" em 17 de Julho: 
 
"Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado." (Lc 10:21)
 
O ÚNICO CASO REGISTRADO DE REGOZIJO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

'Lemos que, naquela hora, “*exultou* Jesus no Espírito Santo”. Os Evangelhos nos dizem três vezes que nosso Senhor Jesus Cristo chorou. Somente uma vez nos é dito que Ele se alegrou. E qual foi a causa da alegria de nosso Senhor? Era a conversão de almas. Foi a recepção do evangelho pelos fracos e humildes entre os judeus, quando os “sábios e instruídos” de todos os lados o estavam rejeitando. Nosso abençoado Senhor, sem dúvida, viu muitas coisas neste mundo que O entristeceu. Ele viu a cegueira obstinada e a incredulidade da grande maioria daqueles entre os quais ministrava, mas quando Ele viu alguns homens e mulheres pobres recebendo as boas novas de salvação, até mesmo Seu coração foi renovado. Ele viu e ficou feliz. Que todos os cristãos observem a conduta de nosso Senhor nessa questão e sigam Seu exemplo. Eles encontram pouco no mundo para animá-los, pois veem ao seu redor uma vasta multidão andando no caminho largo que leva à destruição; descuidados, endurecidos e descrentes. Eles veem alguns poucos aqui e ali, e apenas alguns, que acreditam na salvação de suas almas. Mas que essa visão lhes dê gratidão. Que eles bendigam a Deus por aqueles que se convertem e que creem. Não percebemos suficientemente a pecaminosidade do homem. Não refletimos que a conversão de qualquer alma é um milagre; um milagre tão grande quanto a ressurreição de Lázaro dos mortos. Aprendamos com nosso abençoado Senhor a sermos mais gratos, pois sempre há céu azul entre as nuvens negras; basta apenas olharmos para as brechas. Embora apenas alguns sejam salvos, ainda assim somos chamados a nos alegrar com essas conversões. É somente por meio da graça livre e da misericórdia imerecida que alguém é salvo!'

*Nota*: no original (grego), a palavra traduzida por exultou é agalliao, que tem os seguinte significados: "exultar, regozijar-se extremamente, estar cheio de alegria, ter alegria excessiva". A palavra agalliao é proveniente da combinação de agan ["muito (bastante)"] + hallomai ["saltar, pular; brotar, jorrar (da água)"].

08 julho 2025

Livro: "Um Guia para Oração" (Isaac Watts)

Tradução de alguns trechos do livro "A Guide to Prayer" ("Um Guia para Oração"), de Isaac Watts:

INTRODUÇÃO
'ORAÇÃO é uma palavra de sentido amplo nas Escrituras, e inclui não apenas um pedido ou petição por misericórdia, mas também [a oração] é entendida como o discurso de uma criatura na terra, a Deus no Céu, sobre tudo o que diz respeito a seu Deus, seu próximo ou a si mesma [criatura], neste mundo, ou no mundo vindouro. É aquela conversa que Deus nos permitiu manter consigo mesmo lá em cima, enquanto estamos aqui embaixo. É aquela linguagem pela qual uma criatura mantém correspondência com seu Criador; e pela qual a alma de um santo frequentemente se aproxima de Deus, é animada com grande deleite e, por assim dizer, habita com seu Pai celestial por um curto período [de tempo] antes de chegar ao Céu. [Oração] É um privilégio glorioso que nosso Criador nos concedeu, e uma parte necessária daquela obediência que Ele exigiu de nós, em todos os momentos e épocas, e em todas as circunstâncias da vida. De acordo com as Escrituras, 1 Tessalonicenses 5:17: “Orai sem cessar”. Filipenses 4:6: “Em tudo, pela oração e súplicas, com ações de graças, sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus”. Efésios 6:18: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica”. A oração é uma parte do culto a Deus, exigida para todos os homens, e deve ser realizada com a voz, ou apenas no coração, sendo chamada de oração vocal, ou [oração] mental. É ordenada individualmente às pessoas, em seus retiros privados, de uma maneira mais solene e contínua; e, em meio aos afazeres da vida, por elevações secretas e repentinas da alma a Deus. Pertence também às comunidades humanas, sejam elas naturais, como famílias; ou civis, como corporações, parlamentos, tribunais ou sociedades para comércio e negócios; e às comunidades religiosas [igrejas], quando as pessoas se reúnem para qualquer propósito piedoso, devem buscar a Deus; [oração] é requerida das igrejas cristãs, de maneira especial; pois a casa de Deus é a casa de oração. Sendo, portanto, um dever de absoluta necessidade para todos os homens [seres humanos], e de uso universal, convém que todos saibamos como cumprir [este dever] corretamente, para que se obtenha a aceitação do grande Deus, e se torne um exercício prazeroso e proveitoso para nossas almas, e para aqueles que se unem a nós. Para tanto, apresentarei [Isaac Watts] meus pensamentos sobre o assunto [oração] na seguinte ordem: Primeiro, falarei da natureza da oração como um dever de adoração. Segundo, como deve ser realizada pelos dons ou habilidades que Deus nos concedeu. Terceiro, como deve ser acompanhada pelo exercício de nossas graças. Quarto, como somos auxiliados nela pelo Espírito de Deus; e, Quinto, concluirei tudo com um sincero discurso aos cristãos, para que busquem esta sagrada habilidade de conversar com Deus.'

AS PARTES DA ORAÇÃO (Cap.1)
'No discurso da oração, considerado como um dever de adoração exigido de nós, para que possamos entender melhor toda a sua natureza, que ela [oração] seja dividida em suas várias partes; e penso que todas elas podem ser incluídas nas seguintes, a saber: Invocação, Adoração, Confissão, Petição, Súplica, Profissão ou Autodedicação, Ação de Graças e Bênção: – de cada uma das quais falarei particularmente.”'

Seção I – da Invocação (Cap.1)
'A primeira parte da oração é a Invocação, ou chamado a Deus; e pode incluir estas três coisas: 
1. Uma menção de um ou mais nomes ou títulos de Deus; e assim, por assim dizer, falamos com a pessoa a quem oramos: como você tem abundantes exemplos nas orações que nos são transmitidas na Sagrada Escritura: “Ó Senhor, meu Deus, altíssimo e santíssimo Deus e Pai. Ó Deus de Israel, que habitas entre os querubins. Deus Todo-Poderoso e Rei eterno. Pai nosso que estás nos céus. Ó Deus, que guardas a aliança”; e vários outros. 
2. Uma declaração do nosso desejo e desígnio de adorá-lo: “A ti elevamos as nossas almas; aproximamo-nos de ti, como nosso Deus. Viemos à tua presença. Nós, que somos apenas pó e cinzas, assumimos a responsabilidade de falar à tua Majestade. Nós nos curvamos diante de ti em humildes discursos”, ou algo parecido. – E aqui, talvez não seja impróprio mencionar brevemente uma ou duas expressões gerais de nossa própria indignidade. 
3. Um desejo de Sua assistência e aceitação, sob o senso de nossa própria insuficiência e indignidade, em uma linguagem como esta: “Senhor, vivifica-nos para invocar o teu nome. Auxilia-nos, pelo teu Espírito, em nosso acesso ao teu propiciatório. Eleva nossos corações a ti. Ensina-nos a nos aproximar de ti, como convém a criaturas, e aproxima-te de nós, como um Deus de graça. Ouve a voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei”; no Salmo 5:2, em cujas palavras você tem todas essas três partes da invocação expressas.'

Seção II – da Adoração (Cap.1)
'A segunda parte da oração é a Adoração, ou honra prestada a Deus pela criatura; e contém estas quatro coisas: 
1. Uma menção à Sua natureza, como Deus, com a mais alta admiração e reverência: e isso inclui Seus atributos e perfeições mais originais – Sua existência autossuficiente; que Ele é Deus, de si mesmo, e a partir de si mesmo. Sua unidade de essência; que não há outro Deus além de si mesmo. Sua substância inconcebível em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; que o mistério da Trindade é um objeto muito próprio de nossa adoração e admiração, visto que ultrapassa em muito nossa compreensão. Sua incompreensível distância de todas as criaturas e Sua infinita superioridade de natureza sobre elas, parecem também reivindicar um lugar aqui. A linguagem desta parte da oração é assim: “Tu és Deus, e não há outro; só o teu nome é Jeová, o Altíssimo. Quem, nos céus, se pode comparar ao Senhor? Ou quem, entre os filhos dos poderosos, se pode assemelhar ao nosso Deus? Todas as nações são como nada diante de ti, e são reputadas aos teus olhos como menos do que nada, e como vaidade. Tu és o primeiro e o último, o único Deus verdadeiro e vivo; o teu Nome glorioso é exaltado acima de toda bênção e louvor.” 
2. A menção de Seus vários atributos, com as devidas expressões de louvor e com o exercício da graça e afeição adequadas: como Seu poder, Sua justiça, Sua sabedoria, Sua soberania, Sua santidade, Sua bondade e misericórdia. Uma abundância desse tipo de expressões pode ser encontrada nas Escrituras, naqueles discursos que os santos fizeram a Deus em todas as épocas. – “Tu és mui grandioso, ó Senhor, e estás revestido de honra e majestade. Tu és o bendito e único potentado, Rei dos reis e Senhor dos senhores. Todas as coisas estão desnudas e patentes diante dos teus olhos. Tu sondas o coração do homem, mas quão insondável é o teu entendimento, e o teu poder é desconhecido. Tu és tão puro de olhos, que não podes contemplar a iniquidade. A tua misericórdia dura para sempre. Tu és tardio em irar-te, abundante em bondade, e a tua verdade alcança todas as gerações”. Estas meditações são de grande utilidade no início das nossas orações, para nos humilhar perante o trono de Deus, para despertar a nossa reverência, a nossa dependência, a nossa fé e esperança, a nossa humildade e a nossa alegria.
3. A menção de suas diversas obras: da criação, da providência e da graça, com os devidos louvores. Pois, assim como Deus é glorioso em si mesmo, em sua natureza e atributos, assim também, pelas obras de Suas mãos, Ele nos manifestou essa glória, e nos convém atribuir a mesma glória a Ele — dizer-lhe humildemente o senso que temos das diversas perfeições que Ele revelou em Suas obras, em linguagem como esta: “Tu, Senhor, fizeste os céus e a terra. Toda a criação é obra de tuas mãos. Tu reinas entre os exércitos celestiais; e entre os habitantes da terra fazes o que te agrada. Tu revelaste tua bondade para com a humanidade, e magnificaste tua misericórdia acima de tudo, com o teu nome. Tuas obras da natureza e da graça são repletas de maravilhas e almejadas por todos aqueles que nelas se comprazem”. 
4. A menção de Sua relação conosco, como Criador, como Pai, como Redentor, como Rei, como amigo Todo-Poderoso e nossa porção eterna. E, aqui, não será impróprio mencionar o nome de Cristo, em, e por meio de quem somente somos aproximados de Deus, e feitos Seus filhos. Por cuja encarnação e expiação, Ele se torna Deus e Pai para os homens pecadores, e aparece como seu Amigo reconciliado. E, por este meio, nos aproximamos ainda mais de Deus em cada parte desta obra de adoração. Quando consideramos Sua natureza, nos distanciamos dEle, como criaturas [se distanciam] de um Deus [Criador]; pois Ele é infinitamente superior a nós. Quando falamos de Seus atributos, parece crescer uma familiaridade [intimidade/relacionamento] maior entre Deus e nós, enquanto lhe dizemos que aprendemos algo sobre Seu poder, Sua sabedoria, Sua justiça e Sua misericórdia. Mas, quando passamos a mencionar as diversas obras de Suas mãos, nas quais Ele se revelou sensivelmente ao nosso entendimento, parecemos nos aproximar ainda mais de Deus; e, quando finalmente podemos aflorar para chamá-lo de nosso Deus, a partir de um senso de Sua relação especial conosco, em Cristo, então ganhamos o acesso mais próximo, e estamos melhor preparados para as partes seguintes desta adoração [oração].'

29 junho 2025

Livro: "A Cruz" (J.C. Ryle)

Alguns trechos do livro "A Cruz", de J.C. Ryle:

Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6:14).
'[...] O que é que Paulo quis dizer com isto? Ele pretendia declarar fortemente que não confiava em mais nada, senão em Jesus Cristo crucificado, para o perdão dos seus pecados e para a salvação da sua alma. Que outros, se quisessem, procurassem a salvação noutro lugar; que outros, se quisessem, confiassem em outras coisas para o perdão e a paz. Mas ele, o apóstolo, estava determinado a descansar sobre nada, apoiar-se em nada, construir a sua esperança sobre nada e colocar a sua confiança e a sua glória em nada, exceto na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.'

1. EM QUE PAULO NÃO SE GLORIOU?
'[...] Quem, entre os leitores deste livro que confia na sua filiação em uma igreja para a salvação de sua alma? Quem se valoriza no seu batismo, ou na Ceia do Senhor, ou na sua presença na igreja aos domingos, ou os seus cultos diários durante a semana e diz a si próprio, "O que é que me falta?". Aprenda hoje que tu não és como Paulo. O vosso cristianismo não é o cristianismo do Novo Testamento. Paulo não se gloriou em nada a não ser na cruz de Cristo. Nem você deveria. Oh, cuidado com a justiça própria. A justiça própria mata dezenas de milhares. Vai e estuda a humildade com o grande apóstolo dos gentios. Vá e sente-se com Paulo ao pé da cruz. Abandone o seu orgulho secreto. Lance fora as suas ideias vãs de sua própria bondade. Agradece se tiveres graça, mas nunca te glories nela por um momento. Trabalhe para Cristo com coração, alma, mente e força, mas nunca sonhe por um segundo em colocar confiança em qualquer obra sua.'

'[...] Não descanseis até o seu coração bater em sintonia com o de Paulo. Não descanseis até poderdes dizer, com ele, “mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.'

2. EM QUE PAULO SE GLORIOU?
'[...] Querido leitor, Jesus Cristo crucificado foi a alegria, o deleite, o conforto, a paz, a esperança, a confiança, o fundamento, o lugar de descanso, a arca, o refúgio, a comida e o remédio da alma de Paulo. Ele não pensou no que ele próprio havia feito ou sofrido como mérito. Ele não meditou na sua própria bondade ou na sua própria retidão. Ele gostava de pensar no que Cristo havia feito e no que Ele tinha sofrido - na morte de Cristo, na justiça de Cristo, na expiação de Cristo, no sangue de Cristo e na obra terminada de Cristo, e nisto ele se gloriava. Este era o sol da sua alma.'

'[...] Paulo, um blasfemo e perseguidor fariseu, tinha sido lavado no sangue de Cristo. Ele não conseguiu manter a sua calma em relação a isso. Ele nunca se cansou de contar a história da cruz. Este é o assunto em que ele gostava de se deter quando escrevia aos crentes. É maravilhoso observar como as suas epístolas estão geralmente cheias dos sofrimentos e da morte de Cristo, e como atropelam com pensamentos que respiram e palavras que ardem sobre o amor e o poder de Cristo. O seu coração parecia estar cheio deste assunto. Ele expandia este assunto constantemente; voltava a ele continuamente. É o fio dourado que percorre todos os seus ensinamentos doutrinários e exortações práticas. Ele parecia pensar que o cristão mais "santo” nunca poderia ouvir demais sobre a cruz.'
[Nota*]: "Cristo crucificado é a soma do evangelho e contém todas as riquezas d'Ele. Paulo foi tão levado a Cristo que nada mais doce do que Jesus podia cair da sua caneta e dos seus lábios. Observa-se que ele escreveu a palavra Jesus quinhentas vezes nas suas epístolas." ("The Works of the Late Rev. Stephen Charnock", 1684)

'[...] Depender da cruz de Cristo para fazer expiação pelos pecadores é a verdade central em toda a Bíblia. Essa é a verdade com que vemos, quando abrimos em Gênesis; a semente da mulher que feriu a cabeça da serpente e foi ferida em seu calcanhar não é mais que uma profecia de Cristo crucificado. Esta é a verdade que brilha, tudo através da lei de Moisés e da história dos judeus. O sacrifício diário, o cordeiro da Páscoa e o derramamento contínuo de sangue no tabernáculo e no templo - todos eram emblemas de Cristo crucificado. Esta é a verdade que vemos na visão do céu antes de encerrarmos o livro de Apocalipse. No meio do trono e dos quatro animais, e no meio dos anciãos, é nos dito que, "estava um Cordeiro como tendo sido morto" (Apocalipse 5:6). Mesmo no meio da glória celestial, temos uma visão de Cristo crucificado. Tire a cruz de Cristo, e a Bíblia é um livro sombrio. É como os hieróglifos egípcios sem a chave que interpreta o seu significado - curioso e maravilhoso, mas sem utilidade real.'

'[...] Você pode conhecer vários preceitos da Bíblia e admirá-los, tal como um homem admira Platão, Aristóteles ou Séneca. Mas se ainda não descobriu que Cristo crucificado é o fundamento de todo o volume, você tem lido sua Bíblia com muito pouco proveito. A sua religião é um céu sem sol, um arco sem brilho, uma bússola sem agulha, um relógio sem mola, ou uma lâmpada sem óleo. Não o confortará e não irá libertar a sua alma do inferno.'

3. POR QUE TODO CRISTÃO DEVE SE GLORIAR NA CRUZ?
'[...] Creio ser uma coisa excelente o fato de estarmos continuamente vivendo sobre a cruz de Cristo. É bom ser recordado frequentemente de como Jesus foi traído nas mãos de homens maus, como eles conspiraram com o julgamento mais injusto, como cuspiram n'Ele, açoitaram-no, espancaram-no e o coroaram com espinhos; como o levaram como um cordeiro para o matadouro sem o seu murmúrio ou resistência, como espetaram os pregos nas Suas mãos e pés e o colocaram no Calvário entre dois ladrões, como o trespassaram com uma lança, como zombaram d'Ele no Seu sofrimento, e o deixaram pendurado nu e a sangrar até morrer. Sim, é bom ser lembrado de todas estas coisas. Não foi por acaso que a crucificação é descrita quatro vezes no Novo Testamento. Há poucas coisas que os quatro escritores dos Evangelhos descrevem. Em geral, se Mateus, Marcos e Lucas dizem alguma coisa na história do nosso Senhor, João não o diz. Mas há uma coisa que os quatro descrevem de forma detalhada; a história da cruz. Isto é um fato revelador e não deve ser negligenciado.'

'[...] "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2Co 5:21). Teria havido um grande abismo entre nós e Deus, que nenhum homem jamais poderia ter passado **. As pessoas parecem esquecer que todos os sofrimentos de Cristo foram suportados de acordo com Sua própria vontade. Ele não se encontrava sob coação. De sua própria escolha Ele deu a sua vida; da sua própria escolha Ele foi até à cruz para terminar o trabalho que veio fazer. Ele poderia ter facilmente convocado legiões de anjos com uma palavra e espalhado Pilatos, Herodes e todos os seus exércitos como palha diante do vento. Mas Ele estava disposto a sofrer. O seu coração estava determinado a salvar os pecadores. Ele estava decidido a abrir uma fonte para todo o pecado e impureza, derramando o seu próprio sangue.'
[Nota**]: "Na humilhação de Cristo, permanece a nossa exaltação; na Sua fraqueza, permanece a nossa força; na Sua humilhação, a nossa glória; na Sua morte, a nossa vida." (Ralph Cudworth, 1618)

'[...] Como posso conhecer o comprimento e a amplitude do amor de Deus Pai por um mundo pecaminoso? Onde o veria mais exposto? Devo olhar para o Seu glorioso sol, brilhando diariamente sobre os ingratos e malvados? Devo olhar para o tempo de colheita, regressando em sucessão anual regular? Sim! Mas posso encontrar uma prova de amor mais forte do que qualquer outra coisa deste tipo! Esse amor está explícito na cruz de Cristo. Vejo nela, não a causa do amor do Pai, mas o efeito. Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8).'

'[...] Será que posso saber quão excessivamente pecaminoso e abominável é o pecado aos olhos de Deus? Onde verei isso mais completamente ilustrado? Devo voltar-me para a história do dilúvio e ler como o pecado afogou o mundo? Devo ir à costa do Mar Morto, e observar o que o pecado fez a Sodoma e Gomorra? Devo voltar-me para os judeus errantes e observar como o pecado os espalhou pela face da terra? Não! Pois consigo encontrar maior prova, e essa prova é: olhando para a cruz de Cristo. Ali vejo que o pecado é tão negro e condenável que só o sangue do próprio Filho de Deus o pode lavar. Ali vejo que o pecado me separou tanto do meu Santo Criador que todos os anjos no céu nunca poderiam ter feito a paz entre nós. Nada nos poderia reconciliar, a não ser a morte de Cristo. Se ouvisse a conversa miserável dos homens orgulhosos, poderia por vezes imaginar que o meu pecado não era tão “pecaminoso”. Mas não posso pensar pouco sobre o pecado, quando olho para a cruz de Cristo.'

'[...] "Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor." (Rm 8:38-39). Ele pagou caro por isso. Ele não perderá. Ele morreu por mim, quando eu ainda era um pecador imundo. Ele nunca me abandonará, após ter colocado minha esperança n’Ele. Ah, quando Satanás tentar o povo de Cristo, devemos dizer a Satanás para olhar para a cruz.'
[Nota***]: "O crente está tão liberto da ira eterna, que se Satanás e a consciência dizem 'Tu és um pecador, e está sob a maldição da lei', ele pode dizer, 'É verdade, eu sou um pecador; mas Cristo estava na cruz e morreu, e foi feito maldição, e o seu pagamento e sofrimento é o meu pagamento e sofrimento'." (Samuel Rutherford, "Christ Dying and Drawing Sinners to Him", 1647)

'[...] Declaro não conhecer maior prova da depravação do homem do que quando o homem não vê nada na cruz. Os nossos corações podem ser chamados de duros, os olhos da nossa mente podem ser chamados de cegos, toda a nossa natureza pode ser chamada de doente, todos podemos ser chamados de mortos quando a cruz de Cristo é ouvida, porém, negligenciada. Certamente, podemos retomar as palavras do profeta e dizer: "Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra… Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra" (Is 1:2; Jr 5:30). Cristo foi crucificado pelos pecadores, no entanto, muitos cristãos vivem como se Ele nunca tivesse sido crucificado.'

'[...] A cruz é a grande peculiaridade da religião cristã. Outras religiões têm leis e preceitos morais, formas e cerimônias, recompensas e punições. Essas religiões não nos falam de um Salvador sofredor. Elas não nos podem mostrar a cruz. Esta é a coroa e a glória do evangelho. Miserável é, de fato, aquele ensinamento religioso que se autodenomina cristão, mas que não contém nada da cruz. Um homem que ensina desta forma seria como um bom professor que explica o sistema solar, mas não diz nada aos seus ouvintes sobre o sol.'

'[...] Um homem pode começar a pregar com um conhecimento perfeito do latim, grego e hebraico, mas fará pouco ou nenhum bem aos seus ouvintes, a menos que conheça a cruz. Nunca houve um ministro que tivesse feito muito pela conversão de almas que não se debruçasse sobre Cristo crucificado. [MartinhoLutero[Samuel] Rutherford, [George] Whitefield e [Robert Murray] M'Cheyne foram todos excelentes pregadores da cruz. O Espírito Santo tem o prazer de abençoar esta pregação. Ele adora honrar aqueles que honram a cruz.'

'[...] A cruz é o segredo do sucesso missionário. Nada, mais do que isto, move o coração dos pagãos. À medida que a cruz é erguida, as missões prosperam. Esta é a arma que tem conquistado vitórias sobre corações de todos os tipos, em todos os cantos do globo: africanos, hindus, chineses e outros; todos sentiram o poder da cruz. "Irmãos", disse um índio norte-americano após a sua conversão: “Sou um pagão. Sei como pensam os pagãos. Uma vez chegou um pregador e começou a explicar-nos que havia um Deus, mas dissemos para regressar ao lugar de onde veio. Outro pregador veio e disse-nos para não mentir, nem roubar, nem beber, mas nós não lhe demos ouvidos. Finalmente, outro veio um dia à minha cabana e disse: vim ter convosco em nome do Senhor do céu e da terra, para vos fazer saber que Ele vos fará felizes e vos libertará da miséria. Para este fim, Ele tornou-se um homem, deu a sua vida em resgate, e derramou o seu sangue pelos pecadores. Não pude esquecer essas palavras. Falei aos outros índios, e assim começou a despertar uma esperança entre nós”. Digo, portanto, pregue os sofrimentos e a morte de Cristo, nosso Salvador, se desejais que as vossas palavras ganhem entrada entre os pagãos.'

'[...] A cruz é o fundamento da prosperidade de uma igreja. Nenhuma igreja será alguma vez honrada, na qual Cristo crucificado não seja continuamente levantado; nada pode compensar a falta da cruz. Sem isso, as coisas podem ser feitas decentemente e em ordem; sem isso, pode haver cerimônias esplêndidas, música bonita, igrejas deslumbrantes, ministros eruditos, mesas de comunhão lotadas; mas sem a cruz nenhum bem será feito. Corações imundos não serão iluminados; corações orgulhosos não serão humilhados; corações de luto não serão confortados; corações desmaiados não serão defendidos.'

'[...] Sempre que uma igreja evita Cristo crucificado, ou coloca qualquer coisa naquele lugar principal que Cristo crucificado deveria estar, a partir deste momento uma igreja deixa de ser útil. Sem Cristo crucificado nos seus púlpitos, uma igreja é pouco melhor que um embaraço, uma carcaça morta, um poço sem água, uma figueira estéril, um vigia adormecido, uma trombeta silenciosa, uma testemunha muda, um embaixador sem termos de paz, um mensageiro sem notícias, um farol sem luz, um tropeço para os crentes fracos, um conforto para os infiéis, um foco de formalismo, uma alegria para o diabo e uma ofensa para Deus.'

APLICAÇÕES:

'[...] É um crente angustiado? O seu coração é pressionado pela doença, tentado com desilusões e sobrecarregado de cuidados? A vós digo: "Eis a cruz de Cristo". Pense na mão do que o castiga; pense na mão que mede o copo de amargura que está prestes a beber. É a mão d'Aquele que foi crucificado. Essa mesma mão foi pregada ao madeiro e amaldiçoada, por amor à sua alma. Certamente, esse pensamento deve confortar-vos e encorajar-vos. Certamente, deves dizer a ti mesmo: "Um Salvador crucificado nunca me colocará sobre nada que não seja bom para mim. Portanto, é preciso passar pelo que estou passando".'

'[...] Continue, todos os dias, a olhar constantemente para a cruz de Cristo, e em breve dirá ao mundo, como o poeta fez: "Como o sol que é contemplado faz com que tudo pareça escuro, assim a cruz escurece o falso esplendor deste mundo. Os seus prazeres agora já não me agradam, já não me contentam; longe do meu coração sejam alegrias como estas, agora vi o Senhor. Como pela luz do dia, as estrelas estão todas escondidas; assim também os prazeres terrenos se desvanecem, quando Jesus é revelado".'

'[...] Você é um moribundo, prestes a morrer? Já foi para aquela cama, onde algo dentro de ti lhe diz que nunca se levantará dela vivo? Estais a aproximar-se daquela hora solene, em que a alma e o corpo devem separar-se por uma estação, e devem lançar-se para um mundo desconhecido? Oh, olhai firmemente para a cruz de Cristo, e serás mantido em paz! Fixai firmemente os olhos da vossa mente em Jesus crucificado, e Ele vos libertará de todos os vossos medos. Embora caminhe por lugares escuros, Ele estará convosco. Ele nunca vos deixará, nunca vos abandonará. Sente-se debaixo da sombra da cruz até o fim, e o seu fruto será doce ao seu paladar. "Ah", disse um missionário moribundo, "só há uma coisa necessária numa cama de morte, é sentir os braços em volta da cruz!".'

25 junho 2025

Livro: "Cartas de George Whitefield (1734-1742)"

Trecho introdutório do livro "Cartas de George Whitefield, para o período 1734-1742" (título trad.):

"[...] juntamente com uma valiosa coleção de cartas, selecionadas e preparadas por ele mesmo [George Whitefield] para publicação; nas quais se manifestam aquele espírito e simplicidade inatos, tão eminentemente evidentes em sua vida e conduta. Seus amigos, e até mesmo seus inimigos (caso existam), contemplarão abertamente sua incansável diligência, inabalável firmeza, nobre desinteresse e extraordinária utilidade na obra do ministério, bem como sua notável fidelidade na amizade, exemplar piedade, e fervoroso zelo pela prosperidade da religião [fé cristã] pura e imaculada."

23 junho 2025

Livro: "Vivo ou Morto?" (J.C. Ryle)

Alguns trechos do livro "Vivo ou Morto?", de J.C. Ryle:

1. ESTAMOS ESPIRITUALMENTE MORTOS POR NATUREZA!
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2:1)

'A questão que dá título a este livro merece mil reflexões. Convido todos os leitores deste volume a examiná-la cuidadosamente e ponderá-la bem. Sonde seu próprio coração e não abandone este livro sem uma solene auto-indagação. Você está entre os vivos ou entre os mortos? Ouça-me enquanto eu tento ajudá-lo na resposta. Dê-me sua atenção, enquanto eu desdobro este assunto, e mostro a você o que Deus disse sobre isso nas Escrituras. Se digo coisas duras, não é porque não te amo. Escrevo como faço, porque desejo sua salvação. O seu melhor amigo lhe diz a maior verdade.'

Esta é a razão pela qual não somos melhores, porque nossa doença não é perfeitamente conhecida, esta é a razão pela qual não somos melhores, porque não sabemos o quanto somos ruins.” (Sermões de James Usher, pregados em Oxford, 1650)

'[...] Veja, também, os outros motivos que nós, ministros, temos para ficar ansiosos com nossas congregações.  Sentimos que o tempo é curto e a vida incerta.  Sabemos que a morte espiritual é a estrada que conduz à morte eterna. Tememos que algum de nossos ouvintes morra em seus pecados, despreparados, não renovados, impenitentes e imutáveis. Oh, por isso, não se maravilhe se muitas vezes falamos fortemente e imploramos calorosamente a você! Não ousamos dar-lhe títulos lisonjeiros, diverti-lo com ninharias, dizer coisas suaves e gritar “Paz, paz”, quando a vida e a morte estão em jogo. A praga está entre vocês. Sentimos que estamos entre os vivos e os mortos. Devemos e usaremos “muita ousadia no falar”. “Se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?” (2Co 3:12; 1Co 14:8).'

2. DEVEMOS SER VIVIFICADOS ESPIRITUALMENTE

Não é uma pequena reforma que salvará o homem, nem toda a moralidade do mundo, nem todas as graças comuns do espírito de Deus, nem a mudança exterior da vida. Tais coisas não funcionarão a menos que sejamos vivificados, e tenhamos uma nova vida forjada em nós.” (James Usher)

'[...] Eu sei bem que essa é uma palavra difícil. Eu sei que as “crianças” deste mundo não gostam de ouvir que devem nascer de novo. Isso pica suas consciências, faz com que eles sintam que estão mais longe do céu do que eles estão dispostos a permitir. Parece uma porta estreita na qual eles ainda não se curvaram para entrar, e eles ficariam felizes em alargar a porta. Mas não me atrevo a ceder por sujeição a este assunto. Eu não vou alimentar uma ilusão, e dizer às pessoas que elas só precisam se arrepender um pouco, e estimular um dom que elas têm dentro delas, a fim de se tornarem verdadeiros cristãos. Não ouso usar outra linguagem que não seja a da Bíblia; e eu digo, nas palavras que foram escritas para nosso aprendizado: “Todos nós precisamos nascer de novo, todos nós estamos naturalmente mortos e devemos ser vivificados”.'

'[...] Seja qual for a parte do globo em que vivemos, nossos olhos precisam ser abertos, pois naturalmente, nunca vemos nossa pecaminosidade, culpa e perigo. Qualquer que seja a nação a que pertençamos, nossos entendimentos precisam ser iluminados, pois naturalmente sabemos pouco ou nada sobre o plano de salvação. Como os construtores de Babel, pensamos em chegar ao céu do nosso jeito. Qualquer que seja a igreja a que pertençamos, nossa vontade precisa ser colocada na direção certa, pois naturalmente, nunca escolheríamos as coisas que são para nossa paz; nunca iríamos a Cristo. Qualquer que seja nossa posição na vida, nossas afeições precisam ser voltadas para as coisas de cima, pois naturalmente, só as colocamos nas coisas de baixo, terrenas, sensuais, efêmeras e vãs. O orgulho deve dar lugar à humildade; a justiça própria ao auto-rebaixamento; o descuido à seriedade; o mundanismo à santidade e a incredulidade à fé. O domínio de Satanás deve ser derrubado dentro de nós, e o reino de Deus estabelecido. O eu, deve ser crucificado, e Cristo deve reinar. Até que essas coisas aconteçam, estamos mortos como pedras. Quando essas coisas começarem a acontecer, e não até então, estaremos espiritualmente vivos. “O entendimento do homem está tão obscurecido que ele não pode ver nada de Deus em Deus, nada de santidade na santidade, nada de bem no bem, nada de mal no mal, nem nada de pecaminosidade no pecado. Não, está tão escuro que ele vê o bem no mal e o mal no bem, a felicidade no pecado e a miséria na santidade” (John Berridge).'

'[...] Atrevo-me a dizer que isso soa como tolice para alguns. Mas muitos homens vivos poderiam se levantar hoje e testemunhar que tal conversão é possível e verdadeira. Muitos podem nos dizer que sabem tudo por experiência e que realmente se sentem um novo homem. Ele ama as coisas que antes odiava e odeia as coisas que antes amava. Ele tem novos hábitos, novos companheiros, novos caminhos, novos gostos, novos sentimentos, novas opiniões, novas tristezas, novas alegrias, novas ansiedades, novos prazeres, novas esperanças e novos medos. Em suma, toda a tendência de seu ser é alterada. Pergunte a seus parentes e amigos mais próximos, e eles darão testemunho disso. Gostando ou não, seriam obrigados a confessar que ele não é mais o mesmo. “Quão maravilhosamente a alma recém-nascida difere de seu antigo eu. Ele vive uma nova vida, caminha de uma nova maneira, orienta seu curso por uma nova bússola e em direção a uma nova costa. Seu princípio é novo, seu padrão é novo, suas práticas são novas, seus projetos são novos, tudo é novo. Ele larga tudo o que teceu antes e se dedica inteiramente a outro trabalho” (George Swinnock, 1660).'

Quando oro, peco, quando ouço ou prego um sermão, peco, quando dou uma esmola ou recebo um sacramento, peco. Não, não posso nem confessar meus pecados, pois minhas confissões ainda me fazem pecar. Meu arrependimento precisa ser arrependido, minhas lágrimas precisam ser lavadas, e a própria lavagem de minhas lágrimas ainda precisa ser lavada novamente com o sangue do meu Redentor.” (William Beveridge)

'[...] Ele não achava que era uma questão muito difícil chegar ao céu. Ele pensava que tinha apenas que se arrepender, fazer algumas orações e fazer o que pudesse, e Cristo compensaria o que estava faltando. Agora ele acredita que o caminho é estreito, e poucos o encontram. Ele está convencido de que nunca poderia ter feito as pazes com Deus. Ele está convencido de que nada além do sangue de Cristo pode lavar seus pecados.  Sua única esperança é ser “justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm 3:28). Antes ele não podia ver beleza e excelência no Senhor Jesus Cristo. Ele não conseguia entender porque alguns ministros falavam tanto sobre Ele. Agora ele lhe diria que Ele é uma pérola de valor inestimável, o principal entre dez mil, seu Redentor, seu Advogado, seu Sacerdote, seu Rei, seu Médico, seu Pastor, seu Amigo, seu Tudo.'

'[...] Antes ele pensava levianamente sobre o pecado. Ele não podia ver a necessidade de ser tão específico sobre isso. Ele não podia pensar que as palavras, pensamentos e ações de um homem fossem de tal importância e exigissem tal vigilância. Agora ele lhe diria que o pecado é uma coisa abominável que ele odeia, a tristeza e o fardo de sua vida. Ele deseja ser mais santo. Ele pode entender completamente o desejo de George Whitefield: “Eu quero ir para onde eu mesmo não pecarei, nem verei outros pecarem mais”.'

Estou farto de tudo o que faço, e fico espantado com o fato de o Redentor continuar a me servir e me abençoar. Certamente sou mais tolo do que qualquer homem; ninguém recebe tanto, e faz tão pouco.” (George Whitefield's Letters [Cartas])

'[...] Antes, ele não gostava de cristãos sinceros. Ele os evitava como pessoas melancólicas, desanimadas e fracas. Agora, ele nunca está tão feliz quanto na companhia deles. Ele sente que se todos os homens e mulheres fossem santos, seria o céu na terra. Antigamente ele se importava apenas com este mundo, seus prazeres, seus negócios, suas ocupações, suas recompensas. Agora ele o vê como um lugar vazio e insatisfatório; uma estalagem, um alojamento, uma escola de treinamento para a vida futura. Seu tesouro está no céu. Sua casa está além do túmulo.'

'[...] Leve-o para casa, todo homem ou mulher que ler este livro, leve-o para sua própria consciência e olhe bem para ele. Uma hora ou outra, entre o berço e a sepultura, todos os que querem ser salvos devem ser vivificados. As palavras que o bom e velho John Berridge gravou em sua lápide são fiéis e verdadeiras: “Leitor, você nasceu de novo? Lembre-se! Não há salvação sem um novo nascimento”.'

'[...] Veja agora que abismo incrível existe entre o cristão somente em nome e formalidade, e o cristão em ação e verdade. Não é a diferença de um ser um pouco melhor e o outro um pouco pior; é a diferença entre um estado de vida e um estado de morte. A menor folha de grama que cresce em uma montanha é um objeto mais nobre do que a mais bela flor de cera que já foi formada; pois tem aquilo que nenhuma ciência humana pode transmitir; tal flor tem vida. A mais esplêndida estátua de mármore da Grécia ou da Itália não é nada ao lado da pobre criança doente que rasteja pelo chão da cabana; pois a estátua com toda a sua beleza não tem vida. E o membro mais fraco da família de Cristo é muito mais alto e mais precioso aos olhos de Deus do que o homem mais talentoso do mundo. Um vive para Deus e viverá para sempre, o outro, com todo o seu intelecto, ainda está morto em seus pecados.'

3. POR QUAIS MEIOS UMA ALMA MORTA PODE SER VIVIFICADA ESPIRITUALMENTE?

Não há um dever bom que o homem natural possa fazer. Se lhe fosse dito: Pense apenas em um bom pensamento, e por meio disso você irá para o céu. Até com essas condições ele não poderá controlar seus pensamentos. Até que Deus o levante do túmulo do pecado, como fez com Lázaro da sepultura, ele não pode fazer nada que seja agradável a Deus. Ele pode fazer as obras de um homem moral, mas fazer as obras de um homem vivificado e iluminado está além de seu poder.” (James Usher)

Criar ou trazer algo do nada está além do poder da criatura mais forte.  Está acima da força de todas as pessoas e anjos criar a menor folha de grama; Deus nos deixa claro que essa é Sua prerrogativa real (Is 40:26).  Agostinho [de Hipona] disse verdadeiramente: ‘Converter o homem é mais do que criar um grande mundo’.” (George Swinnock, 1660)

'[...] O glorioso Evangelho contém provisão para nossa vida espiritual, bem como para nossa vida eterna. O Senhor Jesus é um Salvador completo. O poderoso Chefe vivo não tem membros mortos. Seu povo não é apenas justificado e perdoado, mas vivificado junto com Ele, e feito participante de Sua ressurreição. A Ele o Espírito une o pecador, e o ressuscita por essa união da morte para a vida. N’Ele o pecador vive depois de ter crido. A fonte de toda a sua vitalidade é a união entre Cristo e sua alma, que o Espírito inicia e mantém. Cristo é a fonte designada de toda vida espiritual, e o Espírito Santo o agente designado que transmite essa vida às nossas almas. “Então começaremos a viver, quando começarmos a ter união com Cristo, a Fonte da Vida, por Seu Espírito comunicado a nós” (John Flavel). “Cristo é o princípio universal de toda a vida” (Richard Sibbes, 1635).'

'[...] Venha ao Senhor Jesus Cristo, se você quiser ter vida. Ele não vai te expulsar. Ele tem dons, mesmo para os rebeldes. No momento em que o morto tocou o corpo de Eliseu, ele reviveu e ficou de pé (2Rs 13:21). No momento em que você toca o Senhor Jesus com a mão da fé, você está vivo para Deus, bem como perdoado de todas as ofensas. Venha, e sua alma viverá.'

'[...] Tudo isso o Espírito fez, e muito mais, do qual não posso falar extensivamente. E o braço do Espírito não foi encurtado. Ele é como o Senhor Jesus, o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13:8). Ele ainda está fazendo maravilhas, e fará até o fim.'

'[...] Mais uma vez, digo, nunca me espanto pelo fato de que a alma de qualquer homem possa ser vivificada. Eu me desesperaria, se dependesse do próprio homem. Alguns parecem tão endurecidos que eu não teria esperança. Eu me desesperaria se dependesse do trabalho dos ministros. Infelizmente, os melhores de nós são criaturas pobres e fracas! Mas não posso me desesperar quando me lembro de que Deus, o Espírito, é o agente que transmite vida à alma, pois sei e estou convencido de que com Ele nada é impossível. Eu não ficaria surpreso ao ouvir, mesmo nesta vida, que o homem mais duro da lista de meus conhecidos se abrandou, e o mais orgulhoso tomou seu lugar aos pés de Jesus como uma criança desmamada. Não ficarei surpreso ao encontrar muitos à direita, no dia do julgamento, a quem deixarei, quando morrer, viajando no caminho largo para a destruição. Devo apenas lembrá-los quando os encontrar no céu: “Nada é impossível para Aquele que vivifica os mortos”.'

4. VOCÊ ESTÁ MORTO OU VIVO?

“Acredite-me, o que quer que você seja, você nunca será salvo por ser um lorde ou um cavaleiro, um gladiador ou um homem rico, um homem instruído ou um homem eloquente; nem ainda por ser um calvinista ou luterano, um arminiano, um anabatista, um presbiteriano, um independente ou somente um protestante; muito menos por ser um papista, ou de qualquer seita grosseiramente iludida. Mas você será salvo por ser um cristão regenerado.” (Richard Baxter, 1659).

'[...] Você não sabe? No entanto, tudo ao seu redor é incerto. Você é um pobre verme frágil. A próxima vez que as margaridas florescerem, pode ser sobre o seu túmulo! Tudo diante de você é escuro. Você não sabe o que um dia pode trazer, muito menos um ano. Oh! Por que não levar os negócios de sua alma a sério, sem demora?'

'[...] Nas coisas espirituais, como em tudo o mais, é sábio fazer o trabalho quando se pode. Não tome nada como garantido. Não meça sua condição pela dos outros. Compare tudo com a Palavra de Deus. Um erro sobre sua alma é um erro para a eternidade! “Certamente”, diz Robert Leighton, “aqueles que não nasceram de novo, um dia desejarão nunca ter nascido”.'

5. PARA AQUELES QUE ESTÃO MORTOS

'[...] Sim! Lamento por todas essas coisas. Eu não posso ajudá-lo. Outros podem pensar que é suficiente chorar por cadáveres. As crianças deste mundo criticam-nos às vezes por sermos tão sérios. Na verdade, quando olho para o mundo, fico maravilhado com o fato de podermos sorrir.'

'[...] Acredite em mim, acredite em mim, o verdadeiro arrependimento é aquele passo do qual nenhum homem jamais se arrependeu. Milhares disseram, no final de suas vidas, que eles serviram a Deus muito pouco. Mas ninguém jamais disse, ao deixar este mundo, que havia se importado demais com sua alma. O caminho da vida é um caminho estreito, mas os passos nele são todos em uma direção. Nenhum filho de Adão jamais voltou e disse que era uma ilusão. O caminho do mundo é amplo, mas milhões e milhões o abandonaram, e deram seu testemunho de que era um caminho de tristeza e decepção.'

6. AOS QUE VIVEM

'[...] Seja uma epístola de Cristo tão claramente escrita, escrita em caracteres tão grandes e em negrito, que qualquer um possa lê-la. Deixe seu cristianismo ser tão inconfundível, seu coração tão inteiro e sua caminhada tão direta que todos os que o virem não tenham dúvidas de quem você é, e a quem você serve. Se somos vivificados pelo Espírito, ninguém deve duvidar disso. Nossa conversa deve declarar claramente que procuramos uma nova pátria (Hb 11:14). Não deveria ser necessário dizer às pessoas, como no caso de um quadro mal pintado: “Este é um cristão”. Não devemos ser tão lentos e parados, que as pessoas sejam obrigadas a se aproximar e olhar com atenção e dizer: “Ele está vivo ou morto?”. Você está vivo? Então prove isso por meio de seu crescimento. Deixe a grande mudança interior tornar-se cada vez mais evidente. Deixe sua luz ser uma luz crescente, não como o sol de Josué no vale de Aijalom, parado [Js 10:12-15], nem como o sol de Ezequias, voltando [2Rs 20:8-11; Is 38:4-8]; mas sempre brilhando mais e mais até o fim de seus dias. Deixe que a imagem do seu Senhor, na qual você é renovado, fique cada vez mais clara e nítida. Que não seja como a imagem e a inscrição de uma moeda, mais indistinta e desfigurada quanto mais tempo for usada. Deixe que se torne mais clara quanto mais velho for, e deixe a semelhança de seu Rei se destacar mais completa e nitidamente.'

'[...] Acorde para conhecer seus privilégios, acorde e não durma mais. Não me fale de fome espiritual, sede e pobreza, enquanto o trono da graça estiver diante de você. Diga antes que você é orgulhoso e não quer ir a fonte como pobres pecadores. Diga antes que você é preguiçoso. Deixe de lado as vestes tumulares do orgulho, que ainda estão penduradas ao seu redor. Jogue fora essa vestimenta egípcia de indolência, que foram trazidos pelo Mar Vermelho. Fora com essa incredulidade, que amarra e paralisa sua língua. Você não está limitado em Deus, mas em você mesmo.Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça” (Hb 4:16), onde o Pai está sempre esperando para dar, e Jesus sempre se senta ao lado dele para interceder. Venha com ousadia, pois todo pecador pode ter acesso ao trono por meio e por causa do Grande Sumo Sacerdote. Venha com ousadia e peça amplamente, e você terá misericórdia como um rio, graça e força como um poderoso riacho. Venha com ousadia, e você terá suprimentos que excedem tudo o que você pode pedir ou pensar. “Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16:24).'

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*Quem foi J.C. Ryle? [trechos da biografia resumida no final do livro]

'[...] Ryle aceitou uma posição em Helmington, Suffolk, onde teve muito tempo para ler teólogos como Wesley, Bunyan, Knox, Calvino e Lutero. Ele era um contemporâneo de Charles Spurgeon, Dwight Moody, George Müller e Hudson Taylor. Viveu na época de Dickens, Darwin e da Guerra Civil Americana. Tudo isto influenciou a compreensão e a teologia de Ryle.'

'[...] Enquanto pregava e escrevia, Ryle tinha 5 diretrizes em mente
(1) Ter uma visão clara do assunto; 
(2) Usar palavras simples;
(3) Usar um estilo simples de composição; 
(4) Ser direto;
(5) Usar muitas anedotas e ilustrações.'

'[...] Apesar de todas as provações que Ryle sofreu — ruína financeira, perda de três esposas e sua própria saúde precária, ele aprendeu várias lições de vida. Em primeiro lugar: cuidar da sua própria família. Segundo: nadar contra a maré quando for necessário. Era evangélico antes de ser popular e apegou-se aos princípios da Escritura, justificação apenas pela fé, expiação substitutiva, a Trindade e a pregação. Terceiro: atitudes cristãs exemplares em relação aos seus oponentes. Quarto: aprender e compreender a história da igreja, pois os benefícios importantes vêm de gerações passadas. Quinto: servir na velhice. Sexto: perseverar nas suas provações. Estes foram princípios de vida que Ryle aprendeu enquanto vivia a sua vida, enquanto pregava, enquanto escrevia e enquanto espalhava o evangelho.'

'[...] J.C. Ryle foi recomendado pelo Primeiro-Ministro Benjamin Disraeli para ser Bispo de Liverpool em 1880, onde trabalhou na construção de igrejas e missões para chegar a toda a cidade. Aposentou em 1900, aos 83 anos, e morreu mais tarde nesse mesmo ano. O seu sucessor descreveu-o [J.C. Ryle] como “um homem de granito com um coração de criança”. G. C. B. Davies disse [sobre J.C. Ryle] “uma presença imponente e uma defesa destemida dos seus princípios foram combinadas com uma atitude amável e compreensiva nas suas relações pessoais”.'

18 junho 2025

Livro: "Orgulho e Humildade" (C.H. Spurgeon)

Alguns trechos do livro "Orgulho e Humildade", de C.H. Spurgeon:

'[...] Quanto mais você tem, mais você está em dívida com Deus; e você não deve se orgulhar daquilo que te torna um devedor. Considere a tua origem; olhe para trás, para o buraco do poço de onde foste tirado. Considere o que você teria sido, mesmo agora, se não fosse pela graça Divina. E, considere, que você ainda estaria perdido no inferno se a graça não te sustentasse. Considere que entre os condenados, não há ninguém que teria sido mais condenado do que você mesmo, se a graça não tivesse te salvado da destruição. Que essa consideração te humilhe, para que não tenhas nada para fundamentar o teu orgulho.'

'[...] O pobre orgulho se enfeita às vezes; veste suas roupas mais espalhafatosas e diz aos outros: "quão brilhante eu pareço!" Mas tu, orgulho, como um farsante, vestido com tuas cores alegres, tu és ainda mais tolo por isso; tu és apenas um tolo ao olhar de outros tolos menos tolos do que tu mesmo. Tu não tens coroa, como pensas que tens, nada sólido e real, tudo é vazio e vaidoso. Se tu, ó, homem, desejares vergonha, tenha orgulho.'

'[...] O orgulho lhe dirá que ele não precisa da graça diária, que a experiência passada servirá para amanhã - que ele sabe o suficiente, trabalha o suficiente, ora o suficiente. O orgulho o fará esquecer que ainda não alcançou o fim; não permitirá que você avance para as coisas que estão adiante, esquecendo as coisas que estão para trás. Ele entra em seu coração e o tenta a estabelecer um negócio independente para si mesmo; e até que o Senhor traga uma falência espiritual, o orgulho o impedirá de ir a Deus. O orgulho tem dez mil formas; nem sempre é aquele cavalheiro rígido e engomado que você o imagina; é uma coisa vil, rastejante e insinuante, que se torcerá como uma serpente em nossos corações. Ele falará de humildade e falará sobre ser pó e cinzas. Sei que alguns homens falam sobre sua corrupção de maneira eloquente, fingindo serem humildes, enquanto, ao mesmo tempo eles são os miseráveis mais orgulhosos que poderiam ser encontrados deste lado do abismo da separação. Ah, meus amigos, não podeis dizer quantas formas o orgulho assumirá; olhem atentamente para vocês, ou serão enganados por isso, e quando pensarem que estão entretendo anjos, descobrirão que estão recebendo demônios.'

'[...] Vê um anjo brilhante cantando o alto hino de louvor diante do trono de seu Criador? Alguma coisa pode manchar a glória daquele anjo, roubá-lo de sua harpa, despojá-lo de sua coroa? Sim, veja que entra um destruidor cujo nome é orgulho. Ele ataca o anjo, e suas cordas da harpa são quebradas em duas. Sua coroa é tirada de sua testa, sua glória se foi, e seu espírito caindo, descendo ao inferno, é aquele que já foi Lúcifer, "filho da manhã". Ele agora se tornou o Pai das noites, até mesmo o Senhor das Trevas, Satanás, "o Caído".'

'[...] Sabe aquele casal feliz andando no meio de frutas deliciosas e passeios floridos no Paraíso? Será que alguma coisa pode estragar o Éden e arruinar esses seres felizes? Sim; o orgulho vem na forma de uma serpente que os propõe a serem como deuses. Eles comem do fruto proibido, e o orgulho murcha seu paraíso e explode seu Éden. Agora, eles vão cultivar o solo, de onde foram criados, e gerar os filhos em labuta e tristeza. Você vê aquele homem segundo o coração de Deus, cantando continuamente o louvor de seu Criador? Algo pode deixá-lo triste? Você pode supor que ele será colocado prostrado na terra, gemendo e chorando. Sim; o orgulho pode fazer isso. O orgulho colocou em seu coração que ele deveria contar o seu povo, que ele deveria contar as tribos de Israel, para mostrar quão grande e poderoso o seu império era. E uma terrível pestilência varre sua terra por causa de seu orgulho. Que o coração dolorido de Davi mostre como a destruição chega a um homem quando ele começa a fazer dele o seu próprio deus. Veja aquele outro homem bom e santo que, como Davi, era agraciado por Deus. Ele era rico e tinha muitos bens. Quando os embaixadores babilônios chegaram, ele, prontamente, mostra tudo o que tem. Você não ouve essa ameaça, “teus tesouros serão levados embora, e teus filhos e tuas filhas serão servos do rei da Babilônia?”. A destruição da riqueza de Ezequias veio, porque ele se orgulhou disso. Mas o exemplo mais notável de todos; deixe-me mostrar-lhe um palácio, talvez o mais magnífico que já foi construído. Nele caminha um que, levantando a cabeça, como se fosse mais do que um homem mortal, exclama: “Vejam vós esta grande Babilônia que eu edifiquei” (Dn 4:30). Ah! Orgulho, o que você fez? Tu tens mais poder do que a varinha de um feiticeiro! Veja, o poderoso construtor da Babilônia rastejando na terra. Como bois ele está devorando grama; suas unhas cresceram como garras de pássaros, seu cabelo como penas de águia, e seu coração se esvaiu. O orgulho fez tudo isso, para que se cumprisse o que Deus escreveu: “Antes da ruína, gaba-se o coração do homem”.'

'[...] Oh, cristão! Seu coração está arrogante esta manhã? Você veio aqui glorificando nas suas próprias “graças”? Estás orgulhoso de ti mesmo, de ter tido experiências tão doces? Veja, irmão, há uma destruição chegando a ti também. Algumas de tuas coisas que te causam orgulho serão arrancadas pelas raízes, algumas de tuas graças serão destruídas, tuas boas obras, talvez, se tornarão repugnantes para ti, e tu ficará em pó e cinzas. Tão verdadeiramente como sempre tu te exaltaste, haverá uma destruição que virá a ti, ó, santo - a destruição de tuas alegrias e de teus confortos, embora não possa haver destruição de tua alma.'

'[...] Só o Senhor pode trancar a porta do coração contra o orgulho. O orgulho é como as moscas do Egito; todos os soldados do Faraó não podiam mantê-las fora; e tenho certeza de que todas as resoluções fortes e aspirações devotas que podemos ter não podem manter o orgulho fora, a menos que o Senhor Deus Todo-Poderoso envie um forte vento de seu Espírito Santo para varrer isso.'

'[...] Então, você vê que nosso Pai celestial não diz que não devemos ter honra. Ele não a proibiu; ele apenas nos proibiu de nos orgulharmos disso. Um bom homem pode ter honra nesta vida. Daniel teve honra diante do povo; José cavalgou na segunda carruagem, e as pessoas se ajoelharam diante dele. Deus muitas vezes veste seus filhos com honra diante de seus adversários e faz com que os iníquos confessem que o Senhor está com eles em ações e em verdade. Mas Deus proíbe que façamos dessa honra um manto para o orgulho, e nos pede que busquemos a humildade que sempre acompanha e precede a verdadeira honra.'

'[...] Se Deus dá a um homem um talento, você acha que o homem não sabe disso? Se um homem tem dez talentos, ele não tem o direito de ser desonesto com seu Criador, e dizer:Senhor, tu só me deste cinco”. Não é humildade subestimar a si mesmo, humildade é pensar em si mesmo, se puder, como Deus pensa sobre você. É sentir que, se temos talentos, Deus os deu a nós, e se atente que, como carga em uma embarcação, eles tendem a nos afundar. Quanto mais tivermos, mais submissos devemos nos manter. Humildade não é dizer:Eu não tenho esse dom”, mas é dizer:Eu tenho o dom e devo usá-lo para a glória do meu Mestre”. Nunca devo buscar nenhuma honra para mim mesmo, “pois o que eu tenho que não tenha recebido?” [1Co 4:7]'

'[...] John Knox era um homem verdadeiramente humilde, mas se você o tivesse visto marchar diante da Rainha Maria com a Bíblia na mão, para reprová-la, você teria dito precipitadamente: “Que homem orgulhoso!”.'

'[...] “Ó, tu que se deitou diante do meu trono, tu disseste isso, mas tu não o sentes; pois segues o teu caminho e tomas teu irmão pela garganta, exaltando-se acima de todos os teus semelhantes, sendo um Diótrefes [3Jo 9] na igreja, e um Herodes no mundo.”'

'[...] mas homens humildes são aqueles que pensam tão pouco sobre si. Sadraque, Mesaque e Abednego eram homens humildes, pois não achavam que suas vidas valiam o suficiente para salvá-las por meio de um pecado. Daniel era um homem humilde; ele não achava que seu lugar, sua posição, todo o seu eu, valia o suficiente para salvá-lo. Por isso nunca deixou de orar.'

'[...] A humildade é uma coisa que deve ser genuína; a imitação dela é a coisa mais próxima do mundo do orgulho. Busquem a Deus, queridos amigos, o dom da verdadeira humildade. Procure ser quebrado em pedaços pelo Espírito Santo, aquela quebra na argamassa com o pilão que o próprio Deus dá aos seus filhos. Procure que cada galho de sua vara possa expulsar o orgulho de você, para que, pela sua ferida, sua alma possa ser melhorada. Busque-o, e Ele lhe mostrará as imundícies dentro de seu próprio coração, para que Ele possa levá-lo ao Calvário, e possa lhe mostrar seu brilho e sua glória. Dessa maneira, você será humilde diante d’Ele. Nunca peça para ser uma coisa má, falsa e bajuladora: peça a Deus para fazer de você um homemisso é uma coisa escassa hoje em dia - um homem que só teme a Deus e que não conhece nenhum medo de nenhum outro tipo.'

'[...] Alguns acham que o ministro se orgulha quando se ressente de qualquer interferência em seu ministério. Eu considero que eles seriam orgulhosos se permitissem tal interferência em prol da paz, o que é apenas outra palavra para sua própria busca egoísta. É uma grande misericórdia quando Deus dá um homem para ser livre de todos; quando ele pode subir em seu púlpito despreocupado com o que os outros possam pensar dele. Um ministro do evangelho deve ser como um faroleiro; ele está no mar, e ninguém pode sugerir que ele acenda as velas um pouco mais tarde, ou qualquer coisa do tipo. Ele conhece seu dever e mantém suas lâmpadas acesas; se ele seguisse as opiniões das pessoas em terra, sua luz poderia se extinguir completamente. É uma providência misericordiosa que os homens que estão na terra não podem chegar até o homem que está no farol; então ele continua obedecendo aos seus regulamentos enquanto os lê, e pouco se importa com a interpretação de outras pessoas. Assim, um ministro não deve ser aquele que é governado por outros, mas aquele que sabe como permanecer firme e seguro, e manter sua luz acesa, confiando sempre em Deus; crendo que Deus não o abandonará, mas irá ensiná-lo por meio do Espírito Santo.'

'[...] “Diante da honra vai a humildade” [Pv 18:12]. A humildade é o arauto que inaugura o grande rei; caminha diante da honra; e aquele que tem humildade, terá honra depois. Você foi levado hoje a sentir que em si mesmo você é menos do que nada e ainda sim tem orgulho? Estás humilhado perante os olhos de Deus, para conhecer tua própria indignidade, teu estado caído em Adão, e a ruína que trouxeste sobre ti mesmo por teus próprios pecados? Tu foste levado a sentir-se incapaz de realizar a tua própria salvação, a menos que Deus opere em ti, para querer e fazer por seu próprio prazer? Foste levado a dizer: “Senhor, tem piedade de mim, um pecador?”. Então devo lhe dizer que você terá honra de vez em quando. A honra atinge todos os santos. Terás honra ao ser lavado de toda a tua culpa; logo terás honra ao ser vestido com as vestes de Jesus, com as vestes reais do Rei; terás honra ao ser adotado em sua família para ser recebido entre os lavados de sangue que foram justificados pela fé. Terás honra ao ser suportado, como nas asas das águias, para ser carregado através do rio, e finalmente cantar seu louvor. Terás a honra ao usar a coroa, pois tens agora aquela humildade que vem de Deus.'

'[...] Você pode temer que, porque agora está sendo humilhado por Deus, você deve perecer. Eu imploro que você não pense assim; tão verdadeiramente, assim como sempre o Senhor te humilhou, Ele vai exaltá-lo. E quanto mais você é reduzido, e menos esperança você tem de misericórdia, mais você deve esperar em Deus. Se fores levado ao lugar mais baixo ao qual até Jonas desceu, estás muito mais perto de ser aceito.'

'[...] Curve-se, ó, homem, curve-se; “Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (Sl 2:12).'

'[...] Acredito no livre arbítrio [se referindo à responsabilidade humana] do homem tanto quanto qualquer pessoa que vive; mas também acredito no propósito eterno de Deus. Se você perguntar: “Como você reconcilia essas crenças?” Eu respondo: — Eles nunca estiveram em desacordo, então não há necessidade de tentar reconciliá-las. São como duas linhas paralelas, que correrão lado a lado para sempre; — o homem é responsável porque faz o que quer, e Deus infinitamente glorioso, alcançando seus próprios propósitos, não apenas no mundo da matéria morta e inerte, mas também através daqueles que são agentes livres; sem alterá-los no mínimo grau, deixando-os tão livres como sempre foram. Ele, em cada i e til [Mt 5:18], realiza o propósito eterno de sua vontade.'

'[...] Quem se opõe a Deus deve saber que não está lidando com um homem. Se você ouvir um pregador fazer uma declaração e sentir: “Essa não é a Palavra do Senhor”, ore a Deus para perdoá-lo por seu pecado; mas se ele fala com o som dos pés de seu Mestre atrás dele, e o que ele diz é a Palavra de Deus, então não brinque com isso. Se for claramente uma verdade revelada, pode irritar seus sentimentos e deixar seus dentes no limite; mas é melhor você arrumar seus dentes e seus sentimentos, pois a verdade de Deus não pode ser alterada para agradá-lo.'

'[...] Outra verdade também é ilustrada pelo procedimento de Paulo, a saber, que o orgulho é sempre inconsistente com a verdadeira doutrina do evangelho. Você pode usar este teste a respeito de qualquer pregação ou ensino com o qual se deparar: se legitimamente e logicamente esse ensino leva o homem a se gabar de si mesmo, não é um ensino verdadeiro. Os químicos usam tornassol para descobrir a presença de ácido em qualquer líquido, pois o papel, quando em contato com tal líquido, toma uma tonalidade avermelhada; e você pode usar isso como seu teste, quando uma doutrina o deixar vermelho de orgulho, ela contém o ácido da falsidade.'

'[...] Nosso julgamento é muito parecido com uma balança: se Cristo sobe, eu desço; e se nos elevamos, Jesus cai em nossa estima.'

'[...] Além disso, se você e eu nos gloriamos no que possuímos, subestimamos nossos companheiros cristãos, e isso é um grande pecado. Eles são muito queridos por Jesus, e Ele conta até mesmo suas mortes como preciosas. “Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos”; mas se superestimarmos a nós mesmos, a consequência natural é que subestimamos os outros. Já pensei: “Sou um homem rico; e essas pessoas pobres, embora boas cristãs, não são nada comparadas a mim: Eu tenho muito mais importância para a igreja”. Já concebi, por ter certo talento, que aqueles homens santos que não podem falar por Cristo não têm grande importância. Ou eu, por ser um cristão velho e experiente, acabei com os jovens e disse: “Eles são apenas um bando de meninos e meninas”. É assim que se fala daqueles que foram comprados com o sangue de Cristo e são membros do corpo de Cristo? Não é certo para nós desprezarmos o santo mais ‘malvado’. Acredito que há muitos que agora são empurrados para segundo plano, e empurrados para qualquer buraco e canto, que Cristo olha com prazer especial, e serão colocados em primeiro lugar quando Ele vier. Em verdade vos digo: “Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.'

'[...] Há uma tendência em alguns de se exaltarem porque Deus os colocou em cargos importantes. Eles são ministros, diáconos, presbíteros, ou algum outro líder. Que ares poderosos eles dão a si mesmos! Honra a quem a honra é devida — eles parecem ter aprendido o texto de cor, e ter visto uma referência pessoal neles.'

'[...] Eu estava em um belo jardim outro dia, sobre as rochas, onde as flores e plantas tropicais mais belas estavam crescendo, enquanto todas as rochas estavam nuas, com escasso vestígio de vida vegetal no momento. Suponhamos que o jardim fosse orgulhoso e se gabasse de sua fecundidade. A resposta nossa a tal jardim seria: “Cada cesto cheio de terra tinha que ser carregado até você, e você não daria frutos agora se não fosse pelo fluxo de água ao qual está ligado, e rastreado através de muitos pequenos labirintos, e trazido à raiz de cada planta que você carrega; você seria uma rocha novamente em alguns meses se você fosse deixado por si mesmo; portanto jardim, alegra-se com o seu trabalho, mas não se glorie”. Isto é o que o crente mais frutífero seria se Deus o deixasse de lado — uma rocha estéril, um deserto.'

'[...] Nada no mundo deve ser uma causa de exaltação própria; nada que nosso Deus nos dê deve nos fazer pensar bem de nós mesmos. Mais baixo irmão, mais baixo, e assim você vai subir. O caminho para o céu é ladeira abaixo, não subindo. Assim como Cristo desceu ao túmulo para que Ele pudesse subir novamente e preencher todas as coisas, assim você deve ir à cruz, e descer ao túmulo de si mesmo e ser sepultado com Cristo; aprender o significado de seu batismo, e tornar verdade o fato de que você está enterrado com Ele, para todo o mundo e para si mesmo, pois só assim você pode subir para a plenitude da nova vida.'

'[...] Não devemos ser como um lago estagnado, um Mar Morto, que recebe [água] dos rios durante todo o ano, mas não dá nenhum riacho em troca, e assim se torna um lago estagnado e podre. Sejamos como os grandes lagos da América, que recebem os poderosos rios, e os despejam novamente [em rios e riachos] e, consequentemente, mantêm-se frescos e limpos.'