A diferença entre o perdão e a justificativa, em trechos do ensaio "Sobre o perdão", de C.S. Lewis:
“[...] Há, porém, toda a diferença do mundo entre perdoar e dar uma justificativa. O perdão diz: “Sim, você fez isso, mas eu aceito suas desculpas; eu nunca usarei isso contra você, e tudo entre nós dois será exatamente como era antes”. Mas a justificativa diz: “Vejo que você não conseguiu evitar ou que não tinha a intenção; você não é o culpado”. Se a pessoa não era culpada, então não há nada para ser perdoado. Nesse sentido, o perdão e a justificativa são quase opostos. [...] O que nos leva a cometer esse erro é o fato de que normalmente existe certa parcela de desculpa, algumas 'circunstâncias atenuantes'. Estamos tão ansiosos em apontar essas coisas a Deus (e a nós mesmos) que seremos capazes de esquecer a coisa realmente importante; isto é, aquilo que restou, a parte que as desculpas não podem cobrir, a parte que é indesculpável, mas, graças a Deus, não é imperdoável. Se esquecermos isso, poderemos sair imaginando que nos arrependemos e fomos perdoados, quando o que na realidade aconteceu é que satisfizemos a nós mesmos com nossas próprias desculpas. Podem ser desculpas muito ruins; ficamos muito facilmente satisfeitos conosco mesmos [...] O verdadeiro perdão significa olhar firmemente para o pecado, para o pecado que ficou sobrando sem nenhuma desculpa, depois que todas as concessões foram feitas, e vendo isso em toda sua repulsa, sujeira, maldade e malícia, ainda assim ser completamente reconciliado com a pessoa que o tiver praticado. Isso, e somente isso, é perdão, e podemos sempre ter da parte de Deus, se o pedirmos.”
{No difícil exercício de oferecer o perdão ao próximo, seguem os conselhos de C.S. Lewis:}
“[...] É preciso começar, portanto, por dar atenção a tudo que possa mostrar que o outro homem {outro ser humano} não era tão culpável assim como pensávamos, mas mesmo que ele for absolutamente cheio de culpa, ainda temos de perdoá-lo; e mesmo se noventa e nove por cento de sua culpa aparente puder ser justificada com realmente boas desculpas, o problema do perdão começa com o um por cento de culpa que restou. Ser um cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você. Isso é difícil. Talvez não seja difícil perdoar uma única e grande ofensa, mas como perdoar — e continuar perdoando, a sogra mandona, o marido intimidador, a esposa irritante, a filha egoísta, o filho enganador — as provocações incessantes da vida diária? A única possibilidade, em minha opinião, é lembrar a nossa posição, ao manter o significado das palavras que pronunciamos quando dizemos em nossas orações todas as noites: 'Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores' {Mt 6:12}. Não há outros termos em que Deus nos oferece o perdão. Recusá-lo seria o mesmo que recusar a misericórdia de Deus para nós mesmos. Não há nenhuma indicação de exceções e Deus mantém sua palavra.”