Fé particulada
Grande demonstração de conquista e avanço científicos através da
competência, trabalho duro e espírito de equipe, foi o anúncio recente (04 de
julho de 2012) da possível descoberta do “bóson de Higgs”, conhecido pelo
grande público como a “partícula de Deus”.
Os pesquisadores estão cautelosos em confirmar a descoberta do bóson de
Higgs, pois precisa haver ainda pesquisa adicional para confirmação dos resultados.
Por isto, afirmam apenas a descoberta de uma partícula “consistente com o bóson
de Higgs”.
Apesar disto, o nível de excitação e êxtase é compreensivelmente alto
por parte das equipes que encabeçam as buscas no Grande Colisor de Hádrons (LHC
– “Large Hadron Collider”) do CERN (“Organização Européia para Pesquisas
Nucleares”). O diretor geral da organização disse, no anúncio da descoberta: "Atingimos
um marco na nossa compreensão da natureza ... A descoberta de uma partícula consistente
com o bóson de Higgs abre o caminho para estudos mais detalhados, exigindo
estatísticas maiores, que vão identificar as propriedades da nova partícula, e
é provável que lance luz sobre outros mistérios do nosso universo."
Vamos aos fatos:
Esta partícula, que recebeu o nome de um dos principais pesquisadores que
a propuseram, em 1964, representa uma importante peça faltante do
“quebra-cabeça” montado na teoria do “Modelo Padrão” para a física de
partículas, o modelo mais amplamente aceito atualmente. O nome “partícula de
Deus” foi popularizado através da publicação de um livro com este chamativo
título (em língua inglesa), em 1993, por um famoso e laureado físico de
partículas. O bóson de Higgs está relacionado diretamente à explicação da massa
inercial das partículas e, portanto, da matéria. O nome chamativo pode ter sido
proposto por causa da centralidade do bóson de Higgs na compreensão da
estrutura e do comportamento da matéria presente no universo.
Para se avaliar o grau de
dificuldade desta pesquisa, e como ela foi importante do ponto de vista de um
grande trabalho científico coordenado e colaborativo, o porta-voz de uma das
equipes explica numericamente que se cada evento de colisão do LHC, nos últimos
dois anos, fosse considerado como um grão de areia, eles seriam em número suficiente
para preencher uma piscina olímpica. Neste contexto, as colisões que levaram à
identificação de uma “partícula consistente com o bóson de Higgs”
representariam apenas algumas dezenas ou dúzias destes grãos de areia ocupando
o volume da piscina. Isto demonstra o grande esforço conjunto, reconhecível nos
inúmeros pesquisadores de todo o mundo (inclusive do Brasil), envolvidos nesta
descoberta extraordinária.
Apesar desta façanha científica tão importante, muitas questões
relacionadas ao “Modelo Padrão” para a física de partículas ainda necessitam de
mais iluminação, como por exemplo, a assimetria entre matéria e anti-matéria,
ou seja, por que o universo é constituído principalmente de matéria, se o
modelo prevê que houve a criação tanto de uma, quanto da outra, em quantidades praticamente
iguais. Outra questão também ainda pendente envolve o detalhamento da “matéria
escura” e da “energia escura”, que segundo medidas cosmológicas, juntas constituem
cerca de 96% do universo observado.
O grande desafio, neste campo científico, parece ser aprimorar o conhecimento
sobre todos os fenômenos físicos de tal forma que seja possível explicá-los e
até mesmo prevê-los na chamada “Teoria de tudo” ou “Teoria da Grande
Unificação” (TGU).
Vamos aos credos:
Mesmo antes deste anúncio recente da descoberta de uma partícula
“consistente com o bóson de Higgs”, algumas outras observações de fenômenos físicos
foram tão bem explicadas pelo modelo de Higgs, que a fé na existência desta
partícula era e ainda é muito presente na comunidade científica,
particularmente por parte dos especialistas nesta área de pesquisa. Este ato de
fé (ou de crer) na existência desta partícula, e no fato de que os avanços
tecnológicos permitiriam o projeto de experimentos que culminassem no seu
encontro ou identificação experimental, parece ter sido concretizado neste
recente anúncio da descoberta. Para resumir: um ato de fé, que propulsionou uma
busca, que desembocou em uma monumental descoberta.
A fé dos cientistas envolvidos também está revelada na crença de que a
descoberta e o aprofundamento do conhecimento das características e propriedades
do bóson de Higgs lançará “luz sobre outros mistérios do nosso universo”, como já
citado.
Sob a ótica da cosmovisão cristã, partindo-se da fé em que Deus criou o
universo e tudo o que há nele, pode-se afirmar que a descoberta de uma partícula
“consistente com o bóson de Higgs” é a descoberta de uma “partícula de Deus”, o
Deus bíblico, que Se revela também através da natureza criada, desde o ínfimo
minúsculo das partículas elementares, até o limiar máximo inimaginável dos
corpos celestes no cosmos.
“Partícula de Deus” ? Alguma partícula não é de Deus, sendo ele o
Criador ?