Ensinando a aprender
É típico
o ser humano se especializar tanto em ensinar, que por vezes, acaba se esquecendo
de continuar aprendendo.
O
apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, chama a atenção para a importância de se
dedicar ao dom do ensino (“didaskalia”, do grego): “Se é ministério, seja em
ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm 12:7). O mesmo apóstolo,
na mesma carta, também desperta a atenção para a importância do aprendizado: “Porque
tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela
paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4).
O
ato de ensinar pode ser, algumas vezes, obrigação. Pode ser, muitas vezes,
recompensador. Mas pode ser sempre edificante, pois o ato de ensinar pode vir
acompanhado sempre de um ato de aprender.
Porém,
para o processo de aprendizado do professor funcionar simultaneamente ao ato de
ensinar para os seus alunos, precisa haver um esvaziamento de egos e um
preenchimento de humildade honesta.
A
resistência a este esvaziamento, por parte de quem está na posição de professor,
é tamanha por causa do medo do julgamento ou de parecer enfraquecido diante dos
alunos. Na verdade, o ato de abrir o canal bilateral do aprendizado, tanto no
sentido professor-aluno, quanto no sentido aluno-professor, é um ato
libertador, desde que seja feito com profundo respeito de ambos os lados. Este
respeito significa, muitas vezes, entender algumas limitações do outro lado e
aceitá-las, pois elas podem ser compensadas por outras qualidades do saber.
Como
todo processo de aprendizado é um processo de construção, quando o professor (e
também o aluno) precisa reavaliar os seus conceitos, muitas vezes tão
fortemente arraigados, diante de fatos novos ou de uma nova cosmovisão, precisa
haver primeiramente um processo de desconstrução, antes de haver a reconstrução.
Como
uma reforma em uma casa, muitas paredes precisam ser derrubadas, para dar
espaço a novos ambientes mais úteis e confortáveis que serão construídos,
depois de alguma sujeira e bagunça intermediárias no processo.
Algumas
dessas paredes podem ser derrubadas com um simples martelo, mas outras precisam
de um poderoso guindaste de demolição, por causa da sua resistência.