“Ao explicar a suma daquilo que é requerido quanto ao conhecimento verdadeiro de Deus, ensinamos que Ele não pode ser concebido por nós em sua magnitude sem que sua majestade imediatamente nos obrigue a seu culto. Quanto ao conhecimento de nós mesmos, colocamos precipuamente isto: que, esvaziados da sua opinião da própria virtude, despojados da confiança da própria justiça, aprendamos, pelo contrário, alquebrados e contundidos pela consciência da miséria, a sólida humildade e a expropriação de nós mesmos.”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 1)
“Do mesmo modo e com muita verdade, Agostinho às vezes chama a obediência que é prestada a Deus de 'mãe e guarda de todas as virtudes' e noutras vezes a chama de 'origem' [A cidade de Deus, IV, 12...].”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 5)
“Por isso, pela primeira tábua ensina-nos a piedade e os ofícios próprios da religião, pelos quais sua majestade é louvada; pela segunda, prescreve de que modo devemos gerir a sociedade dos homens em razão do temor do seu nome. Razão pela qual nosso Senhor (como os evangelistas o chamam) uniu toda a suma da Lei em dois artigos: que amemos a Deus de todo o coração, de toda a alma, com todas as forças e que amemos o próximo como a nós mesmos [Mt 22:37; Lc 10:27].”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 11)
“Ainda que toda a Lei esteja contida em dois artigos, nosso Deus no entanto, pelo que tiraria todo o pretexto de desculpa, quis comentar em dez preceitos, mais ampla e pormenorizadamente, tanto o que diz respeito à sua honra, temor e amor, como o que diz respeito à caridade, a qual nos manda ter para com o shomens por causa d'Ele mesmo.”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 12)
“Pela outra parte, é oferecida a promessa de que a misericórdia de Deus é propagada por mil gerações, a qual também aparece com frequência na Escritura, e é inserida na aliança da Igreja: 'Serei o teu Deus e o de tua semente depois de ti' [Gn 17:7]. Visando a isso, Salomão escreveu que os filhos dos justos haveriam de ser bem-aventurados após a morte deles [Pv 20:7], em virtude não apenas de uma santa educação (que não tomava como de pouca importância) mas da bênção prometida na aliança: que a graça de Deus resida eternamente na família dos pios.”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 21)
“O fim deste preceito é: Deus deseja sacrossanta para nós a majestade de seu nome. A suma será que não a profanemos por tomá-la com menosprezo ou de modo irreverente. Interdito que segue da ordem do preceito que a veneração religiosa dela seja tomada por nós com zero e cuidado. Assim, ensina-nos a ser ponderados de alma e língua, para não falarmos do póprio Deus e de seus mistérios senão de modo reverente e muito sóbrio, parar que, ao avaliar suas obras, não concebamos senão o que é digno de honra diante d'Ele.”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 22)
“Quanto ao mais, não há dúvida de que, com o advento do Cristo Senhor, tenha-se abolido o que aqui era cerimonial. Ele mesmo é a verdade, em cuja presença todas as figurações esvaecem; o corpo, em cuja visão as sombras dispersam; é Ele, digo, o verdadeiro complemento do sábado: pelo batismo fomos sepultados com Ele, estamos unidos à sua morte, para que, partícipes da ressurreição, andemos na novidade da vida [Rm 6:4].”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 31)
“Por que, pode-se dizer, não nos reunimos antes todos os dias, para que assim se suprima a distinção dos dias? Quisera isso se desse! Com certeza a sabedoria espiritual seria digna de dedicação diária de uma partícula de tempo. Mas, se não é possível obter da debilidade de muitos que se reúnam diariamente, e a regra da caridade não permite exigir mais deles, por que não nos submetermos à regra que vemos ser imposta para nós pela vontade de Deus?”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 32)
“Sustentemos aqui, então, que a nossa vida há de ser de todo conforme à vontade de Deus e ao prescrito pela Lei quando for o mais frutuosa aos irmãos em todas as formas possíveis. De fato, não se lê em toda a Lei uma sílaba que estabeleça para o homem uma regra sobre aquilo que há de ser feito ou omitido para a comodidade de sua carne.”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 54)
“Tudo, até o menor ponto da Lei, com certeza é árduo e difícil para a nossa fraqueza. O Senhor é a nossa força, que Ele dê o que ordena e ordene o que quiser! [Agostinho, Confess., X, 29, 40; 31, 45, PL32, 796-8].”
(João Calvino, Livro 2, Capítulo VIII, parágrafo 57)