A casa do meu Pai
Quem passou pela experiência de ter saído muito jovem de casa, normalmente para estudar ou trabalhar, talvez compreenda melhor o que é ter saudade da casa do pai.
O conforto e a segurança da casa do pai fica normalmente registrada na memória de quem precisou, por alguma contingência da vida, deixar este ambiente e enveredar pelos desafiadores caminhos da jornada individual de cada ser humano.
Em cada ocasião de retorno à casa do pai, de tempos em tempos, o coração é tipicamente preenchido de alegria e segurança. Cada canto da casa pode guardar uma lembrança, como um banco que servia de estacionamento para os carrinhos de brinquedo, uma árvore que acompanhou o seu crescimento ou uma cama que foi testemunha da sua presença e do seu descanso neste local. Até mesmo os cheiros e odores da casa normalmente ativam lembranças, como as flores de uma planta próxima a janela, o cheiro da comida no fogão, e a típica fragrância no lençol e na toalha.
A bate-papo com os antigos vizinhos também pode trazer inúmeras lembranças. A visão da rua e, quem sabe, até mesmo alguma marca visual que ficou registrada no asfalto ou na terra, em algum momento de brincadeira e diversão, que a ação do tempo e das intempéries não foram aptos em apagar.
A lembrança viva de tudo isso, que os grãos de areia da ampulheta do tempo não foram capazes de soterrar, é catalisada pela oportunidade presencial na casa do pai. Tudo parece tão familiar na casa do pai, independente do tempo que tenha se passado desde a última visita.
Em um dos poucos registros detalhados sobre a infância do nosso Senhor Jesus Cristo, pode ser encontrado o relato de que o Senhor, com apenas 12 anos, foi encontrado no templo de Jerusalém, respondendo aos seus pais, que o procuravam: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2:40-49). Neste sentido, parece que o Senhor está associando a “casa do meu Pai” ao próprio templo, ou seja, a casa de Deus.
Noutro episódio, registrado no evangelho segundo João, o Senhor parece usar a “casa do meu Pai” para se referir aos Céus, enquanto enche de esperança o coração dos seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14:1-3).
Pode ser que muitos cristãos e cristãs possam se perguntar como será a experiência de ingressar à casa do Pai, nas regiões Celestiais? Será familiar para os seus filhos e filhas?
Nas palavras de João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã: “Disso vem o que disse o Cristo: 'Daqui em diante, vereis os céus abertos, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem' [João 1:51]. Com efeito, ainda que se veja uma alusão à escada mostrada em visão ao patriarca Jacó [Gênesis 28:10-19], essa marca indica a excelência de seu advento, que abrirá uma porta dos céus para nós, para que o ingresso seja patentemente familiar” (João Calvino, Livro 2, Capítulo IX, parágrafo 2).
É preciso haver humildade na expectativa de compreensão de verdades tão sublimes a respeito da realidade dos Céus, contudo este texto tenta apenas trazer uma reflexão sobre este assunto, não tendo condição nenhuma de esgotá-lo ou de concluí-lo, na plenitude.
Graças Te damos, Senhor, por teu advento e por tua obra de redenção, podendo quiçá, até mesmo tornar o ingresso pela porta dos Céus uma experiência “patentemente familiar” para os filhos e filhas de Deus.
Louvado seja o teu Santo Nome. Glória somente a Ti, pelos séculos dos séculos.
Amém.
O texto completo (PDF) também está disponível neste link.
Quem passou pela experiência de ter saído muito jovem de casa, normalmente para estudar ou trabalhar, talvez compreenda melhor o que é ter saudade da casa do pai.
O conforto e a segurança da casa do pai fica normalmente registrada na memória de quem precisou, por alguma contingência da vida, deixar este ambiente e enveredar pelos desafiadores caminhos da jornada individual de cada ser humano.
Em cada ocasião de retorno à casa do pai, de tempos em tempos, o coração é tipicamente preenchido de alegria e segurança. Cada canto da casa pode guardar uma lembrança, como um banco que servia de estacionamento para os carrinhos de brinquedo, uma árvore que acompanhou o seu crescimento ou uma cama que foi testemunha da sua presença e do seu descanso neste local. Até mesmo os cheiros e odores da casa normalmente ativam lembranças, como as flores de uma planta próxima a janela, o cheiro da comida no fogão, e a típica fragrância no lençol e na toalha.
A bate-papo com os antigos vizinhos também pode trazer inúmeras lembranças. A visão da rua e, quem sabe, até mesmo alguma marca visual que ficou registrada no asfalto ou na terra, em algum momento de brincadeira e diversão, que a ação do tempo e das intempéries não foram aptos em apagar.
A lembrança viva de tudo isso, que os grãos de areia da ampulheta do tempo não foram capazes de soterrar, é catalisada pela oportunidade presencial na casa do pai. Tudo parece tão familiar na casa do pai, independente do tempo que tenha se passado desde a última visita.
Em um dos poucos registros detalhados sobre a infância do nosso Senhor Jesus Cristo, pode ser encontrado o relato de que o Senhor, com apenas 12 anos, foi encontrado no templo de Jerusalém, respondendo aos seus pais, que o procuravam: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2:40-49). Neste sentido, parece que o Senhor está associando a “casa do meu Pai” ao próprio templo, ou seja, a casa de Deus.
Noutro episódio, registrado no evangelho segundo João, o Senhor parece usar a “casa do meu Pai” para se referir aos Céus, enquanto enche de esperança o coração dos seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (João 14:1-3).
Pode ser que muitos cristãos e cristãs possam se perguntar como será a experiência de ingressar à casa do Pai, nas regiões Celestiais? Será familiar para os seus filhos e filhas?
Nas palavras de João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã: “Disso vem o que disse o Cristo: 'Daqui em diante, vereis os céus abertos, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem' [João 1:51]. Com efeito, ainda que se veja uma alusão à escada mostrada em visão ao patriarca Jacó [Gênesis 28:10-19], essa marca indica a excelência de seu advento, que abrirá uma porta dos céus para nós, para que o ingresso seja patentemente familiar” (João Calvino, Livro 2, Capítulo IX, parágrafo 2).
É preciso haver humildade na expectativa de compreensão de verdades tão sublimes a respeito da realidade dos Céus, contudo este texto tenta apenas trazer uma reflexão sobre este assunto, não tendo condição nenhuma de esgotá-lo ou de concluí-lo, na plenitude.
Graças Te damos, Senhor, por teu advento e por tua obra de redenção, podendo quiçá, até mesmo tornar o ingresso pela porta dos Céus uma experiência “patentemente familiar” para os filhos e filhas de Deus.
Louvado seja o teu Santo Nome. Glória somente a Ti, pelos séculos dos séculos.
Amém.
O texto completo (PDF) também está disponível neste link.