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31 janeiro 2014

Institutas 20

“... Resumindo: o Espírito Santo é o vínculo com que Cristo nos ata a Ele firmemente.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo I, parágrafo 1)

“... Mais adiante, porque Deus Pai, por causa de seu Filho, nos concede o Espírito, e mesmo depositou nele toda a plenitude, para que fosse ministro e dispensador de sua liberalidade, ora é chamado Espírito do Pai, ora Espírito do Filho.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo I, parágrafo 2)

“...  já foi explicado que há somente um caminho de libertação que nos resgata de tão infeliz calamidade: a aparição de Cristo Redentor, por cuja mão o Pai celestial, apiedado de nós conforme sua imensa bondade e clemência, quis nos socorrer, desde que abracemos essa sua misericórdia com fé sólida, e nela descansemos com esperança constante.”
“... Agostinho, que, discorrendo sobre a finalidade da fé, trata desse tema com elegância, afirma que nos é necessário saber aonde e por onde se deve ir; e conclui, em seguida, que o caminho mais seguro contra todos os erros é aquele que é Deus e é homem. Porque Deus é aquele para onde vamos, e o homem, aquele por onde vamos. E somente em Cristo se encontra um e outro [Cidade de Deus, livro 11, c.2].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 1)

“... A cada dia, encontramos, lendo a Escritura, muitos passos obscuros, que nos convencem da nossa ignorância. Com um tal freio, Deus nos mantém na modéstia, distribuindo a cada um uma porção de fé, a fim de que até mesmo o melhor e mais douto esteja sempre pronto a aprender.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 4)

“... A princípio, somos advertidos de haver uma relação perpétua da fé com a Palavra; e de aquela não ser separada desta, tanto quanto os raios não podem ser separados do sol de que se originam.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 6)

“... Assim, uma vez que não se há de ter muito conhecimento da ação da bondade divina, a menos que nos faça descansar nela, deve ser excluída a inteligência mesclada com a dúvida, a inteligência que não se mantém sólida, mas que está como que em luta permanente consigo. Agora, falta muito para que a mente do homem, como é cega e envolta em trevas, penetre e eleve-se até a compreensão da vontade de Deus. Tampouco se assenta tranquilo nessa convicção o coração, uma vez que flutua em hesitação perpétua. E, assim, convém a mente ser iluminada e o coração confirmado de outra maneira, para que a Palavra de Deus produza em nós a fé plena. Portanto, chegaremos a uma definição precisa de fé se dissermos que é o conhecimento firme e certo da benevolência divina para conosco, fundado sobre a verdade da promessa gratuita feita em Cristo pelo Espírito Santo, revelada a nossa mente e selada em nosso coração.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 7)

“... Se alguém objetar que não resta aos fiéis coisa alguma com que ter certeza de sua adoção, respondo: ainda que exista grande semelhança e afinidade entre os eleitos de Deus e aqueles aos quais se concedeu uma fé passageira, apenas nos eleitos, no entanto, é vigorosa aquela confiança que Paulo celebra, de clamar de boca cheia ‘Abba, Pai!’ [Gl 4:6].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 11)

“... Tampouco nada impede que a notícia de seu Evangelho toque levemente a uns, e a outros penetre-os profundamente. Isto, entretanto, deve-se ter em conta: que, porque o Espírito de Deus é para os eleitos penhor infalível e marca de sua adoção, por mais que a fé seja neles exígua e débil, jamais se poderá apagar de seus corações sua imagem gravada; mas que os réprobos são apenas salpicados por tal luz, que logo se extingue. Nem por isso é o Espírito falaz, pois a semente que lança em seus corações, para que permaneça sempre incorruptível, não vivifica como nos eleitos.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 12)

“... e Ele mesmo proclama que não havia encontrado em Israel uma fé tão grande quanto a que o centurião demonstrara [Mt 8:10]. Ora, é provável que o centurião estivesse completamente voltado para a curar de seu filho, cuidado que ocupara toda a sua atenção. Mas, porque satisfeito só com o sinal e a resposta de Cristo, não insiste em pedir sua presença corporal, e, por causa dessa circunstância, sua fé é de tal modo louvada.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 13)

“... Razão pela qual o apóstolo deduz da fé a confiança, e desta, a ousadia. Assim, então, diz que ‘por Cristo e na fé, temos a ousadia’ [Ef 3:12], que existe pela fé nele. Com essas palavras, prova cabalmente que não há fé correta a não ser quando ousamos, de espírito tranquilo, comparecer perante o olhar de Deus. Tal ousadia não pode nascer senão de uma firme confiança em nossa salvação pela benevolência divina. Tanto isso é verdade que muitas vezes o nome de fé é usurpado como sinônimo de ‘confiança’.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 15)

“... Claro que nós, quando ensinamos que a fé deve ser certa e segura, não imaginamos uma certeza tal que não seja tocada por  nenhuma dúvida, nem uma segurança que não seja acometida por nenhuma preocupação; mas dizemos que há de haver para os fiéis um combate eterno contra a desconfiança de si mesmos. Tão longe estamos de colocar suas consciências numa plácida quietude, nunca interrompida por perturbações de nenhum tipo! De novo, no entanto, negamos que, como quer que sejam afligidos, possam decair ou descer daquela confiança firme que conceberam acerca da misericórdia do Senhor.”
“... Em verdade, aquele que, lutando contra a própria falta de firmeza, esforça-se por entre suas ansiedades para chegar à fé, está já em grande parte vitorioso.”
“... Em contrapartida, no entanto, os fiéis, aos quais o peso das tentações encurva e quase oprime, frequentemente recobram-se, embora não sem incômodo e dificuldade. E, uma vez que são cônscios da própria fraqueza, oram como o profeta: ‘Não tires de minha boca em tempo algum a palavra da verdade’ [Sl 119:43].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 17)

“... Para que isso seja bem entendido, é necessário voltar àquela distinção entre a carne e o espírito, que já recordamos em outro lugar [Livro 2, cap. II, paragr. 27; Livro 3, cap. I], e de modo muito claro se comprova nesta parte. Com efeito, tal divisão, sente-a em si o peito do homem pio, o qual está em parte inundado pela suavidade do conhecimento da bondade divina, e em parte apertado pela amargura da sensação da própria calamidade; em parte recosta-se na promessa do Evangelho, em parte treme com o testemunho de sua iniquidade; em parte exulta com a posse da vida, em parte se aterroriza com a morte. Essa oscilação provém da imperfeição da fé, pois, no curso da vida presente, ela jamais se porta conosco tão bem que fiquemos curados da doença da desconfiança, sejamos todos preenchidos e possuídos pela fé. Daí os conflitos, quando a desconfiança que habita no restante da carne se insurge contra a fé que foi recebida lá dentro para combatê-la.”
“... Se somos distraídos por pensamentos variados, nem por isso somos separados da fé; se somos atormentados de cima a baixo pela agitação da desconfiança, nem por isso soçobramos em seu abismo. Se somos empurrados, nem por isso perdemos o passo.
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 18)

“Em resumo: quando a menor gota de fé se instala primeiro em nossa mente, já começamos a contemplar a face de Deus, plácida e serena e propícia para conosco.”
“... Assim como um homem fechado em um cárcere, privado de realmente olhar o sol, percebe seus raios brilhantes apenas de forma indireta, através de uma janela estreita e como que pela metade, ele, embora não receba com os olhos o claro esplendor do sol, dele tira proveito; do mesmo modo nós, atados pelos vínculos deste corpo terreno, de todas as formas e por todos os lados rodeados de grande escuridão, somos, no entanto, iluminados um pouquinho pela luz irradiante de Deus para nos revelar sua misericórdia o bastante para uma segurança sólida.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 19)

“... Logo, reafirmamos o que foi dito acima: que a raiz da fé não pode jamais ser arrancada de um peito piedoso sem que permaneça fincada no mais profundo do coração, por mais que pareça que, ao ser puxada, será de fato arrancada; que sua luz jamais é apagada ou obstruída de tal maneira que não reste ao menos algo oculto entre as cinzas; e que se desvenda por tais provas que a Palavra, que é semente incorruptível, produz fruto semelhante a si, cujo gérmen jamais seca nem se perde de todo.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 21)