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04 junho 2014

Aposta racional

Tentando racionalizar as consequências da "aposta de Pascal"...

Aposta racional

Ao se usar o significado mais amplamente empregado para o termo "aposta", pode-se imaginar que o ser humano precisa fazer várias apostas ao longo da sua vida.
Na infância, por exemplo, ele pode apostar na corrida de bicicleta, ou então em quem sobe mais alto em uma árvore, ou qualquer outra brincadeira de criança. Para o jovem, no limiar da fase adulta, a aposta pode ser na escolha da carreira que vai seguir, por exemplo, ao fazer a opção por ingressar em um determinado curso superior, que, muitas vezes, vai definir a sua atividade profissional durante toda a vida. Ou então, a aposta pode ser na capacidade empreendedora para iniciar algum negócio ou empresa próprios. O adulto precisa fazer apostas cada vez mais importantes, tipicamente relacionadas ao casamento, à família, à atividade profissional, às convicções em valores e em verdades com as quais nos deparamos no curso da existência humana.
Portanto, empregando-se o termo "aposta" neste sentido mais amplo, pode-se perceber que o ato de apostar é recorrente nas oportunidades de escolha do ser humano, que obviamente não tem a antevisão para conhecer plenamente o resultado ao qual ele vai ser conduzido através destas escolhas ou "apostas", principalmente as de mais longo prazo, ou seja, aquelas que são mais estruturadoras e duradouras ao longo da vida.
O matemático, físico e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), conhecido por suas importantes contribuições nestes campos da ciência, também é conhecido pela racionalização do conceito apologético que ficou conhecido como a "aposta de Pascal". Em uma de suas obras mais conhecidas, a coletânea de seus pensamentos ou idéias, conhecido como Pensées, particularmente no fragmento de número 233, Pascal apresenta um argumento apologético, a favor da fé cristã, que poderia ser resumido da seguinte forma: o ser humano não tem nada a perder ao apostar na existência de Deus e na fé em Jesus Cristo, pois se Deus não existir de fato, ao morrer, esta pessoa não terá perdido nada, pois terá vivido uma vida com mais significado, sentido e esperança do que um descrente. Contudo, se, ao morrer, tal pessoa se deparar com a existência inequívoca do Deus bíblico e, portanto, com a realidade inescapável do céu e do inferno, então este cristão estará seguro, pois terá apostado na realidade de Deus através da fé em Jesus.
É importante deixar bem claro que este conceito da "aposta de Pascal" é uma questão puramente racional, através da análise das consequências lógicas que este raciocínio desencadeia, e não necessariamente uma questão de julgamento de valores.
Obviamente, as pessoas que têm uma cosmovisão materialista, ao invés da cosmovisão cristã de Pascal, também têm proposto uma versão deste tipo de aposta a respeito da existência de Deus. Tempos atrás (2009), circulou uma campanha de propaganda em ônibus britânico, com a seguinte frase: "Deus provavelmente não existe, portanto pare de se preocupar e aproveite a sua vida" (tradução do original para o português). Outra campanha parecida foi feita também na Alemanha.
O matemático e apologeta cristão John Lennox, eu seu livro Gunning for God, relembra, no quinto capítulo, que esta mensagem ateísta "Deus provavelmente não existe, então pare de se preocupar..." é um elemento muito antigo, e pode ser observado, por exemplo, na filosofia de Epícuro, claramente expressa em latim, no famoso poema de Lucrécio, denominado De Rerum Natura. Neste poema, o autor utiliza as ideias de Leucipo e Demócrito, dois expoentes do atomismo grego, e argumenta que, porque os átomos do corpo se dispersam irremediavelmente na morte, não pode haver vida após a morte. Este argumento é usado, neste contexto, com o caráter ou o propósito de trazer liberdade. No entanto, ressalta John Lennox: "liberdade em relação à ameaça de um julgamento final".
No primeiro capítulo do livro Gunning for God, John Lennox adiciona mais informações a respeito deste embate, da seguinte forma: "Para os Novos Ateus, então, Deus é a realização de um desejo, a figura de um pai fictício projetada no céu da nossa imaginação e criada pelo nosso desejo de conforto e segurança. Nesta visão, o céu é uma invenção para lidar com o medo humano da extinção pela morte, e a religião é simplesmente um mecanismo de fuga psicológica para que não tenhamos de enfrentar a vida como ela é. Em seu livro best-seller 'God: A Brief History of the Greatest One', o psiquiatra alemão Manfred Lütz aponta que a explicação Freudiana para a crença em Deus funciona muito bem - apenas se Deus não existir. No entanto, ele continua, pela mesma prova, se Deus existe, então exatamente o mesmo argumento Freudiano irá mostrar-lhe que é o ateísmo que é uma ilusão reconfortante, a fuga do enfrentamento da realidade, a projeção de um desejo de não ter que encontrar a Deus um dia e prestar-lhe contas da sua vida."
Desta forma, a "aposta de Pascal" talvez possa ser analisada de um ponto de vista mais desafiador, porém ainda observando-se as leis da lógica aplicadas ao raciocínio.
Partindo-se do princípio de que os ateus, que muito frequentemente apresentam uma cosmovisão materialista, acreditam que não existe nada depois da morte do corpo físico, isto deve incluir a consciência (alguns leitores talvez usassem o termo “alma”), que também não poderia existir depois da morte, pois não é algo material ou físico. Neste caso, não poderia haver lembranças post-mortem nem para o cristão, nem para o ateu, pois lembranças não são objetos materiais ou físicos.
Assim sendo, a proposta do ateu é baseada no conceito carpe diem (frase de um poema de Horácio, que significa "aproveite o momento"), pois é tudo o que existe, a exemplo da campanha de ônibus supracitada. Enquanto isto, o cristão comprometido, verdadeiro discípulo de Cristo, não focaliza uma recompensa nesta vida, mas sim uma realidade futura, na eternidade com Deus. Portanto, depois de ter vivido e defendido uma cosmovisão que ensina o amor sacrificial e o serviço ao Reino de Deus, o cristão, caso esteja certo, se deparará inequivocamente com o seu Criador, depois da morte.
No entanto, se Deus não existe, o cristão terá vivido uma vida de sacrifícios, provações e privações (segundo a visão dos ateus), mas não se lembrará disso, pois afinal de contas, nem o ateu se lembrará de ter vivido tentando aproveitar ao máximo cada dia de sua vida (carpe diem). Neste caso, não haveria surpresa nenhuma para ambos (cristão e ateu), pois para ser coerente com a crença materialista, não poderia haver consciência nem memória, e nem surpresa (como alguém poderia ser surpreendido, se não existir consciência?) depois da morte do corpo físico.
Contudo, se Deus realmente existe, então o verdadeiro cristão estará com ele no céu, segundo as Sagradas Escrituras, por toda a eternidade, e o ateu será surpreendido.
Tentando resumir um pouco, com o intuito de enfatizar a questão racional deste conceito da “aposta de Pascal”, e não necessariamente os aspectos morais ou éticos envolvidos: se a morte do ser humano significar o fim de tudo, incluindo a aniquilação da consciência, como  normalmente é apregoado pelos ateus, se forem coerentes com a sua cosmovisão tipicamente materialista, então os prazeres imediatos potencialmente alcançados durante uma vida devotada ao lema carpe diem ("viver o momento presente"), sem a preocupação com uma vida post-mortem, não serão sequer lembrados depois da morte, pois a consciência e a memória (que são imateriais) terão sido aniquiladas, segundo esta sequência lógica de raciocínio. Por outro lado, se a morte do ser humano não significar a aniquilação da consciência, mas apenas a passagem para uma outra realidade, ainda mais ampla do que esta que presenciamos no mundo físico atual, então a cosmovisão cristã terá sido uma "aposta" vantajosa, pois após levar uma vida como discípulo de Cristo, tentando viver conforme os ensinamentos claramente expostos em Seu Evangelho, o cristão verdadeiro se deparará com a realidade última e definitiva, o Criador do universo e da vida, como está revelado na Bíblia, a palavra de Deus. 
Que lado desta “aposta” é mais racional e verdadeiro?
“... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
No entanto, a vida cristã, apesar das dificuldades e desafios, é uma vida preenchida com significado, propósito e esperança, que estão centrados em nada menos do que a Palavra (Logos) viva ou o Verbo da vida, o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Vale a pena ressaltar que os verdadeiros cristãos não são guiados por esta "aposta", mas sim pela esperança nas promessas de Deus para os seus filhos e filhas de adoção, segundo a fé de cada um em Cristo Jesus como Senhor e como Salvador eficaz e suficiente.
Neste texto, não há a menor pretensão de esgotar este assunto tão vasto e intensamente discutido ao longo da história da humanidade, mas apenas a intenção de dar uma contribuição honesta e racional para a discussão: Deus existe ou não? Quais as consequências lógicas não somente da sua existência, mas do seu caráter relacional com o ser humano, através de Jesus Cristo, conforme a revelação encontrada na Bíblia?
A pena afiada do jornalista G. K. Chesterton, em sua famosa obra "Ortodoxia", produziu o seguinte: "As doutrinas espirituais na verdade não limitam a mente como fazem as negações materialistas. Mesmo acreditando na imortalidade, eu não preciso pensar nela. Mas se a desacredito, nela não devo pensar. No primeiro caso, a estrada está aberta e posso ir adiante até onde quiser; no segundo caso, a estrada está fechada".
Eu rogo ao Senhor, que os leitores deste texto compreendam o seu propósito primordial de motivar o ser humano, independentemente do seu nível de erudição ou do seu estado moral ou ético, a pensar racionalmente sobre estas questões tão profundas e impactantes para a vida e a existência humanas, pois as consequências desta "aposta" ou escolha se estenderão por toda a eternidade. Que a Paz de Cristo esteja contigo, leitor(a)!

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” 
(João 3:16-17)


Obs: As fontes de pesquisa para este texto podem ser encontradas abaixo:
- Em língua portuguesa, neste link.
- Em língua inglesa, neste link.