Trechos do livro "Um Cristão no Monte: Um Tratado Sobre a Meditação" (Thomas Watson) [e-book/kindle]:
'A proposição que resulta do texto é a seguinte: um cristão piedoso é um cristão que medita, como nos é dito no Salmo 119:15: “Meditarei nos teus preceitos” e em 1 Timóteo 4:15: “Medita estas coisas e nelas sê diligente”. A meditação é mastigar as verdades que ouvimos. Os animais da antiga lei que não mastigavam o alimento eram imundos; o cristão que, por meditação, não mastiga as verdades, deve ser considerado imundo. A meditação é como regar a semente, faz com que os frutos da graça floresçam.'
'Se for perguntado o que é meditação, eu respondo: a meditação é a retirada de si mesmo da alma, para que, por meio de um pensamento sério e solene sobre Deus, o coração possa ser elevado às afeições celestiais. Essa descrição tem três <[3]> ramificações.'
<[1.]> 'A meditação é a retirada da alma de si mesmo. Um cristão, quando vai meditar, deve se isolar do mundo. O mundo estraga a meditação; Cristo foi sozinho à encosta da montanha para orar (Mt 14:23); então, vá para um lugar solitário quando quiser meditar. “Saíra Isaque a meditar no campo” (Gn 24:63); ele se isolou e se retirou para poder passear com Deus por meio da meditação. Zaqueu tinha a intenção de ver Cristo e saiu da multidão: “Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo” (Lc 19:4). Então, quando quisermos ver Deus, devemos sair da multidão de negócios mundanos; devemos subir na árvore e meditar, e lá teremos a melhor perspectiva do céu. A música do mundo nos fará dormir ou nos distrairá em nossas meditações. Quando uma mancha entra no olho, isso dificulta a visão. Assim, quando pensamentos mundanos, entram na mente, que é o olho da alma, ela não consegue olhar tão firmemente para o céu. Portanto, como quando Abraão foi oferecer o sacrifício, ele deixou seu servo e o burro no pé do monte (Gn 22:5). Desse modo, quando um cristão está subindo a colina da meditação, ele deve deixar todos os cuidados seculares no pé da colina, para que ele possa ficar sozinho, para dar uma volta no céu. Se as asas do pássaro estiverem cheias de lodo, ele não poderá voar. A meditação é a asa da alma; quando um cristão está cercado pelas coisas da terra, ele não pode voar até Deus. Bernard, quando chegava à porta da igreja, costumava dizer: “Fique aqui, do lado de fora, todos os meus pensamentos mundanos, para que eu possa conversar com Deus no templo”. Então diga a si mesmo: “Agora vou meditar, ó todos os pensamentos mundanos, fiquem de fora, não cheguem nem perto!”. Quando você estiver subindo o monte da meditação, tenha cuidado para que o mundo não o siga e jogue-o do topo deste pináculo. Essa é a primeira coisa; a alma está se retirando de si mesma. Por isso, tranque a porta contra o mundo.'
<[2.]> 'A segunda coisa na meditação é um pensamento sério e solene sobre Deus. A palavra hebraica para meditar significa “com intensidade lembrar e reunir os pensamentos”. A meditação não é um trabalho superficial, não é apenas buscar ter alguns pensamentos religiosos transitórios. A meditação é uma fixação do coração no objeto, uma imersão dos pensamentos. Os "cristãos carnais" têm seus pensamentos vagando para cima e para baixo e não se fixam em Deus; como o pássaro que pula de um galho para outro e não fica em nenhum lugar. Davi era um homem apto a meditar, pois nos é dito no Salmo 108:1: “Firme está o meu coração, ó Deus!”. Na meditação, deve haver uma permanência dos pensamentos sobre o objeto; um homem que viaja rapidamente por uma cidade ou vila não está interessado em nada. Mas devemos ser como um artista que está olhando para uma peça, que vê todas as dimensões, observa a simetria e proporções, e se preocupa com cada sombra e cor. Um “cristão carnal” é como o viajante, seus pensamentos andam às pressas — ele não se importa com Deus. Um cristão sábio é como o artista, ele vê com seriedade e pondera as coisas da fé; “Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração” (Lc 2:19).'
<[3.]> 'A terceira coisa na meditação é elevar o coração às afeições sagradas. Um cristão entra em meditação, assim como um homem entra no hospital — para que ele possa ser curado. A meditação cura a alma de sua morte e mundanidade.'
'A meditação é um dever de todo cristão, e não há como contestar isso. A meditação é um dever imposto {(1)} e oposto {(2)}. A meditação é um dever imposto {(1)} — não arbitrário. O mesmo Deus que nos fez crer, nos pediu que meditássemos. “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite” (Josué 1:8). Essas palavras, embora ditas à pessoa de Josué, elas dizem respeito a todos; como a promessa feita a Josué dizia respeito a todos os crentes (compare Js 1:5 com Hb 13:5). Portanto, o preceito dito à pessoa de Josué, “você deve meditar neste livro da lei”, abrange todos os cristãos. Como a Palavra de Deus direciona, sua vontade em agradar a Deus deve resultar em obediência. A meditação é um dever oposto {(2)}. Podemos concluir que é um bom dever, porque é contra a corrente da natureza corrupta. Como alguém disse, “você pode saber que a religião é certa — pois Nero a persegue”; então você pode saber que esse é um bom dever — pois o coração corrupto se opõe. Naturalmente, encontraremos uma estranha aversão à meditação. Somos rápidos em ouvir, mas demoramos a meditar. Pensar no mundo o dia todo é delicioso. Mas quanto à meditação sagrada, como o coração discute e combate esse dever? É como fazer penitência. Agora, na verdade, não precisamos de outra razão para provar que o dever é bom, a não ser a relutância de um coração carnal. Por exemplo, no dever de negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir Jesus (cf. Mt 16:24), a abnegação é tão necessária quanto o céu — mas quão grande relutância é levantada no coração contra tal dever? O que! Negar minha razão e me tornar um tolo, para que eu possa ser sábio; não! Não apenas negar minha razão, mas [também] minha autojustiça? O que? Lançá-la ao mar e nadar até o céu sobre os méritos de Cristo? Esse é um dever que o coração carnal naturalmente se opõe, e entra em guerra. Esse é um argumento para provar que o dever da abnegação é bom; assim é com esse dever da meditação; a antipatia secreta que o coração tem contra tal dever mostra que ele é bom; e essa já é uma razão suficiente para meditarmos.'
[Meditação vs. Memória]
'A memória (uma faculdade gloriosa) que Aristóteles chama de “escriba da alma”, senta e escreve todas as coisas que são feitas. Tudo o que lemos ou ouvimos, a memória registra. Deus faz todas as suas obras para que elas possam ser lembradas. Parece haver alguma analogia e semelhança entre meditação e memória. Mas eu imagino que haja uma dupla diferença. A meditação tem mais doçura do que a simples lembrança. A memória é o baú, ou o armário, para esconder uma verdade, a meditação é o paladar para se alimentar dela. A memória é como a arca na qual o maná foi depositado, a meditação é comer do maná. Quando Davi começou a meditar sobre Deus, foi assim descrito: “Como de banha e de gordura farta-se a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva, no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite” (Salmo 63:5,6). Há muita diferença entre uma verdade lembrada e uma verdade meditada. A lembrança de uma verdade, sem a meditação séria sobre ela, apenas criará uma questão de tristeza no outro dia. Que conforto pode haver para um homem quando ele está prestes a morrer, lembrar de muitas coisas excelentes sobre Cristo, mas sem nunca ter tido a graça de meditar sobre elas? Um sermão lembrado, mas não ruminado, só servirá para aumentar nossa condenação.'
[Meditação vs. Estudo]
'A vida do estudante parece meditação, mas não é. A meditação e o estudo diferem de três maneiras. Eles diferem em sua natureza. O estudo é um trabalho do cérebro, a meditação, do coração; o estudo coloca a mente para trabalhar, a meditação coloca o coração para trabalhar. Eles diferem em seu propósito. O propósito do estudo é o conhecimento, o da meditação é a piedade. O plano de estudo é descobrir uma verdade; o plano da meditação é o apropriar espiritual de uma verdade. Eles diferem no resultado. O estudo não torna o homem melhor; é como um sol de inverno que tem pouco calor. A meditação deixa a pessoa em um estado sagrado, pois ela derrete o coração quando está congelado, e a faz cair em lágrimas de amor.'
"Mostrando os Assuntos Relacionados à Meditação":
'[...] Há quinze coisas <#15 Seções> na Palavra de Deus, sobre as quais devemos meditar...'
<#01> 'Os Atributos de Deus': Onisciência; Santidade; Sabedoria; Poder; Misericórdia; Verdade.
<#02> 'As Promessas de Deus': Remissão; Santificação; Remuneração.
<#03> 'O Amor de Cristo': Transcendente; Soberano; Invencível; Imutável.
<#04> 'O Pecado': Culpa; Imundície; Maldição.
<#05> 'A Vaidade da Criatura': "cavar raízes de uma árvore"; "procurar confortos mais sólidos".
<#06> 'A Excelência da Graça': "beleza"; "sinceridade na busca"; "seriedade na transmissão aos outros".
<#07> 'O Nosso Estado Espiritual': Auto-culpa; Presunção.
<#08> 'O Pequeno Número dos que Serão Salvos': "nos impedirá de marcharmos com a multidão"; "nos fará andar trêmulos"; "como uma pedra de amolar".
<#09> 'A Apostasia Final': "nos tornaria sinceros em oração"; "oração por perseverança".
<#10> 'A Morte': Certeza; Proximidade; Incerteza do Tempo; Permanência em um Estado Eterno.
<#11> 'O Dia do Julgamento [Final]': "avaliar nossas ações"; "trabalhar para a aprovação de Deus".
<#12> 'O Inferno': "lugar do inferno"; "companhia no inferno".
<#13> 'O Céu': "estimularia a obediência"; "luta pela pureza do coração"; "pilar de apoio para nossos sofrimentos".
<#14> 'A Eternidade': "punição eterna"; "vida eterna"; "promover seriedade no que fazemos"; "ignorar as coisas mundanas presentes"; "um meio para impedir a inveja da prosperidade dos iníquos".
<#15> 'As Suas [Nossas] Experiências': "Quais perigos temporais Deus evitou?"; "Quais perigos espirituais Deus evitou?"; "Deus não poupou você por muito tempo?"; "Deus não vem com frequência com sua graça auxiliadora?"; "Deus não derrotou Satanás por você?"; "Você não teve muitos livramentos?"; "Meditar sobre nossas experiências nos conduzem à Gratidão"; "Meditar sobre nossas experiências envolverá nosso coração com Deus em Obediência"; "Meditar sobre nossas experiências servirá para nos convencer de que Deus não é um mestre duro"; "Meditar sobre nossas experiências nos tornaria comunicativos com os outros".
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*** Trechos abaixo sobre alguns Assuntos [Seções] Relacionados à Meditação ***
<Seção #01> 'Os Atributos de Deus' (O Poder de Deus):
'Seu poder é visível na criação, Ele “faz pairar a terra sobre o nada” (Jó 26:7). O que Deus não pode fazer, quem pode criar? Nada pode resistir ao seu poder criador! Ele não precisa de nenhum material preexistente para trabalhar; Ele não precisa de instrumentos com os quais trabalhar, Ele pode trabalhar sem ferramentas; é diante d’Ele que os anjos ocultam seus rostos e os reis da terra lançam suas coroas. Ele é “quem move a terra para fora do seu lugar” (Jó 9:6). Um terremoto faz a terra tremer seus pilares, mas somente Deus pode tirá-la de seu lugar. Deus pode, com uma palavra, soltar as rodas e quebrar o eixo da criação. Ele pode suspender agentes naturais, parar a boca do leão, fazer com que o sol não se mexa, fazer com que o fogo não queime! Xerxes, o monarca persa, jogou grilhões no mar, achando que seria possível acorrentar as águas indisciplinadas; mas quando Deus ordena, “os ventos e o mar lhe obedecem” (Mt 8:27). Se Ele falar a palavra, um exército de estrelas aparece (Jz 5:20). Se Ele bater com o pé, uma multidão de anjos estará pronta para guerrear (Is 5:56). Quem provocará esse Deus! “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:31). Como um leão, Ele despedaça seus adversários (Sl 50:22). Oh, medite sobre esse poder de Deus.'
<Seção #01> 'Os Atributos de Deus' (A Misericórdia de Deus):
'A misericórdia é uma disposição inata em Deus para fazer o bem; assim como o sol tem uma propriedade inata de brilhar. Nos é dito no Salmo 86:5: “Tu, Senhor, és bom e compassivo; abundante em benignidade para com todos os que te invocam”. A misericórdia de Deus é tão doce que torna todos os seus outros atributos doces. Santidade sem misericórdia e justiça sem misericórdia seriam terríveis. Geógrafos escrevem que a cidade de Siracusa, na Sicília, está curiosamente situada onde o sol nunca está fora de vista. Dessa mesma forma, embora os filhos de Deus estejam sob algumas nuvens de aflição, o sol da misericórdia nunca está completamente fora de vista. A justiça de Deus alcança as nuvens; sua misericórdia chega acima das nuvens. Quão lento é Deus para se irritar. Ele demorou mais a destruir Jericó do que a fazer o mundo. Ele fez o mundo em seis dias — mas demorou sete dias a demolir os muros de Jericó. Quantas flechas de advertência Deus atirou contra Jerusalém, antes de disparar sua flecha destruidora? A justiça vai a pé (Gn 18:21), mas a misericórdia tem asas. A espada da justiça geralmente fica por muito tempo na bainha e enferruja, até que o pecado a retire e a afie contra uma nação. A justiça de Deus é como o óleo da viúva, que escorreu um tempo e cessou (1 Rs 4:6). A misericórdia de Deus é como o óleo na barba de Aarão, que não repousou sobre sua cabeça, mas escorria até as saias de sua roupa (Sl 133:2). Por isso, medite muitas vezes sobre a misericórdia de Deus.'
<Seção #02> 'As Promessas de Deus':
'As promessas de Deus são flores que crescem no paraíso das escrituras; a meditação, como a abelha, suga a doçura delas. As promessas são inúteis para nós, até que sejam meditadas. As rosas penduradas no jardim podem gerar um ambiente perfumado, mas sua água doce é destilada apenas pelo fogo. As promessas são doces na leitura, mas a água dessas rosas, o espírito e a quintessência das promessas, são destiladas na alma somente pela meditação. O incenso, quando é batido, tem o cheiro mais doce. Meditar sobre uma promessa, é como bater no incenso; a torna mais perfumada e agradável. As promessas podem ser comparadas a uma mina de ouro, que só enriquece quando o ouro é escavado. Por meio da meditação sagrada, extraímos o ouro espiritual que está escondido no meio da promessa e, assim, somos enriquecidos! Cardan diz que toda pedra preciosa tem alguma virtude oculta. Dessa maneira, quando as promessas são aplicadas pela meditação, então sua virtude aparece e elas se tornam realmente preciosas (2 Pe 1:4).'
<Seção #02> 'As Promessas de Deus' (Remissão [de pecados]):
'O pobre pecador pode dizer: “Infelizmente, estou profundamente endividado com Deus, posso não ter enchido sua garrafa com minhas lágrimas — mas enchi seu livro com minhas dívidas!” Mas medite em Sua promessa: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro” (Is 43:25). A palavra no original para apagar é uma metáfora em alusão a um comerciante, que quando seu devedor lhe paga, ele apaga a dívida e lhe dá completa absolvição. Assim diz Deus: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões!” É como se Ele dissesse: “Eu pego minha caneta e estou pagando sua dívida!” Oh, mas que o pecador diz: “Não há razão para Deus fazer isso por mim”. Certamente, mas os atos de graça não acontecem com a razão: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim”. Oh, mas diz o pecador: “O Senhor não relembrará meus pecados novamente?” Não! Ele promete mandá-los ao esquecimento; “apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro”. Aqui está uma doce promessa sobre a qual meditar; é uma colmeia cheia do mel do evangelho.'
<Seção #02> 'As Promessas de Deus' (Santificação):
'“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve” (Is 1:18). O escarlate é um corante tão profundo que qualquer tentativa feita pelo homem, não pode eliminá-lo.'
<Seção #03> 'O Amor de Cristo':
'[...] O amor de Cristo é proclamado quando Ele deixa os anjos, aqueles espíritos mais nobres, o ouro e a pérola — e se reveste de humanidade. O amor foi a asa na qual Ele voou para o ventre da virgem!'
'Jesus Cristo demonstrou amor a seus inimigos. Lemos sobre “e ainda lambeu [secou] a água que estava no rego” (1 Rs 18:38). É comum que a água apague o fogo, mas que o fogo seque e consuma a água, que não era capaz de queimar, isso foi milagroso! Cristo demonstrou esse milagre; seu amor arde onde não há matéria adequada para trabalhar — nada além de pecado e inimizade. Ele amou seus inimigos e o fogo de seu amor consumiu a água de seus pecados! Ele orou por seus inimigos: “Pai, perdoa-lhes” [Lc 23:34]. Ele derramou suas lágrimas, por aqueles que derramaram seu sangue! Aqueles que lhe deram bálsamo e vinagre para beber — a eles, Ele deu seu sangue que perdoa os pecados. A meditação sobre Seu amor deve derreter nossos corações em amor aos nossos inimigos. Agostinho diz: “Cristo fez da cruz um púlpito, e a grande lição que Ele ensinou aos cristãos foi amar seus inimigos”.'
<Seção #06> 'A Excelência da Graça':
'A graça é preciosa em si mesma (2 Pe 1:1). A graça é preciosa, pois ela vem do alto (Tg 3:17). Ela é preciosa, em sua natureza; pois é a semente de Deus (1 Jo 3:9). A graça é o bordado espiritual da alma; é a própria assinatura e gravura do Espírito Santo. A graça não perde sua cor: é uma mercadoria que, quanto mais tempo a guardamos, melhor ela é — ela se transforma em glória! Assim como a graça é preciosa em si mesma, ela nos torna preciosos para Deus; assim como um diamante rico adorna quem o usa. “Visto que foste precioso aos meus olhos” (Is 43:4). Os santos que estão cheios de graça são as joias de Deus (Ml 3:17), embora manchados de reprovação, embora manchados de sangue — ainda assim, joias! Essas são as joias — e o céu é o armário dourado onde elas serão trancadas em segurança! Um homem gracioso é a glória da época em que vive. Tão ilustre aos olhos de Deus é uma alma cheia de graça, que o mundo não é digno de recebê-la, como nos é dito em Hebreus 11:38: “Homens dos quais o mundo não era digno”. Por isso, Deus os chama para casa tão rápido, porque eles são bons demais para viver no mundo. A graça é a melhor bênção; ela tem uma transcendência acima de todas as outras coisas.'
'Cavamos ouro na mina, suamos por ele na fornalha. Se meditássemos sobre o valor da graça, cavaríamos na mina da meditação, para buscá-la. Que transpiração e luta em oração teríamos!'
<Seção #08> 'O Pequeno Número dos que Serão Salvos':
'Poucos encontram o caminho; e quando o encontram, poucos entram no caminho. Pensar nisso gerará um temor sagrado (Hb 4:1), não um medo desesperado, mas um medo cauteloso. Todos os santos eminentes de Deus tiveram esse medo reverencial. Agostinho diz de si mesmo, que ele bateria no portão do céu com uma mão trêmula. Esse medo está unido à esperança, pois “Agrada-se o Senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia” (Sl 147:11). Um filho de Deus teme, porque o portão é estreito; mas confia, porque o portão está aberto.'
<Seção #10> 'A Morte':
'A meditação sobre a morte derrubaria as penas do orgulho, pois você não passa de um pó vivo! Por acaso, pode o pó e as cinzas se orgulharem? Seu corpo será transformado em grama — e em breve será cortado! A meditação sobre a morte seria um meio de causar uma ferida mortal ao pecado. Não há antídoto mais forte contra o pecado, diz Agostinho, do que a meditação frequente sobre a morte. Agora estou pecando — e amanhã posso estar morrendo.'
<Seção #11> 'O Dia do Julgamento [Final]':
'As penas flutuam na água, mas o ouro afunda nela. Assim, cristãos levianos e cheios de penas flutuam na vaidade e não se importam com o dia do julgamento. Mas espíritos sérios mergulham profundamente na meditação sobre tal coisa. Nos é relatado que os italianos, quando ouviam um grande trovão, costumavam tocar os sinos, para que o som de seus sinos pudesse abafar o barulho do trovão. Assim, o diabo encanta os homens com a música do mundo, para que tal música abafe o barulho do dia do julgamento e os faça esquecer o som da última trombeta. Os homens são culpados e por isso, não gostam de ouvir falar do dia do julgamento. Quando Paulo pregou sobre o julgamento, Felix tremeu, pois ele estava com a consciência pesada. Oh, eu imploro que você medite sobre este último e solene dia; enquanto outros estão pensando em como podem obter riquezas, pensemos em nós mesmos como podemos escapar do dia do julgamento.'
<Seção #12> 'O Inferno':
'Um crente pode ter medo de pensar no lugar do tormento, mas se alegra ao pensar que nunca entrará nesse lugar. Quando um homem se depara sobre uma rocha alta, ele treme ao olhar para o mar, mas se alegra por não estar lá lutando contra as ondas.'
<Seção #13> 'O Céu':
'Do monte da meditação, como do monte Nebo, podemos ter uma visão e uma perspectiva da terra prometida. Cristo tomou posse do céu em nome de todos os crentes. “Jesus, como precursor, entrou por nós” (Hb 6:20). O céu é uma cidade gloriosa, que tem Deus tanto como seu construtor quanto como habitante. O céu é o extrato e a quintessência de toda bem-aventurança. Lá, os santos terão tudo o que seus corações santos possam desejar. Agostinho desejava ter visto três coisas antes de morrer: Roma em sua glória, Paulo no púlpito e Cristo em carne. Mas os santos terão uma visão melhor; eles verão, não Roma — mas o céu em sua glória; eles verão Paulo, não no púlpito — mas no trono, e se sentarão com ele; eles verão a carne de Cristo, não velada com enfermidades e desgraças — mas em seu bordado espiritual; não crucificado — mas em um corpo glorificado. “Os teus olhos verão o rei na sua formosura” (Is 33:17). Que lugar glorioso será esse! No céu, “para que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15:28). Ele será beleza nos olhos, música nos ouvidos, alegria no coração; e isso Ele será para o santo mais pobre, bem como para o mais rico. Ó cristão, que agora está trabalhando duro, talvez [segurando no] arado, você se sentará no trono da glória (Ap 3:21). Quintus Curtius escreve sobre alguém que estava cavando em seu jardim, e de repente foi feito rei, e uma roupa roxa ricamente bordada com ouro foi colocada sobre ele. Assim será feito ao crente mais pobre — ele será retirado de sua labuta, e será colocado à direita de Deus, com a coroa da justiça na cabeça! Por isso, medite com frequência na Jerusalém celestial.'
'[...] Uma hora no céu nos fará esquecer todas as nossas tristezas! O sol seca a água; e desse modo, um raio da face gloriosa de Deus secará todas as nossas lágrimas.'
<Seção #14> 'A Eternidade':
'Milhões de anos representam apenas cifras na eternidade. Que palavra incrível é a palavra eternidade! Eternidade, para os piedosos, é um dia sem pôr do sol! Eternidade, para os ímpios, é uma noite sem nascer do sol! A eternidade é um abismo que pode engolir todos os nossos pensamentos: Medite nessa porção das escrituras: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25:46).'
<Seção #15> 'As Suas [Nossas] Experiências':
'Deus não poupou você por muito tempo? Por que outras pessoas são mortas no ato do pecado — como Ananias e Safira — e você é preservado como um monumento da paciência de Deus? Deus fez mais por você do que pelos anjos caídos. Ele nunca lhes concedeu arrependimento, mas Ele tem esperado por você ano após ano (Is 30:18). Portanto, o Senhor é gracioso para contigo. Ele não só bateu em seu coração por meio da pregação da palavra, mas também esperou na porta. Por quanto tempo seu Espírito luta com você; como um pretendente [Noivo] importuno, que depois de muitas negações, ainda não desistirá. Acho que vejo a JUSTIÇA com uma espada na mão pronta para atacar! Mas MISERICÓRDIA intervém para o pecador: “Senhor, tenha paciência com ele por mais um tempo!”. Acho que ouço os anjos dizerem a Deus, como o rei de Israel disse certa vez ao profeta Eliseu: “Devo feri-los? Devo feri-los?” (2 Rs 6:22). Acho que ouço os anjos dizerem: “Devemos tirar a cabeça desse bêbado, caluniador e blasfemador?”. Mas a MISERICÓRDIA parece responder, como o vinicultor: “Deixe-o em paz este ano, para ver se ele se arrependerá” (Lc 13:8). A misericórdia transforma a justiça em um arco-íris; o arco-íris é, de fato, um arco, mas não tem flecha nele! Outra coisa maravilhosa para meditar é o fato de que a justiça tem sido como o arco-íris sem uma flecha — que não irá te matar.'
'[...] Deus não derrotou Satanás por você? Quando o diabo te tenta à infidelidade, quando ele tenta te fazer acreditar que as graças de Deus são apenas uma ficção, ou que as promessas de Deus são um vínculo falso; você resistiu. Você não foi frustrado pelo tentador, porque é Deus quem manteve a guarnição de seu coração. Caso contrário, os dardos ardentes de Satanás teriam entrado! Aqui está uma experiência para meditar.'
'[...] A meditação sobre nossas experiências nos levará à GRATIDÃO. Considerando que Deus colocou uma cerca de providência sobre nós — Ele espalhou em nossos caminhos, rosas. Isso deveria nos fazer pegar a harpa e o violino e louvar ao Senhor (1 Cr 16:4). Não apenas glorifique-O, mas registre todas essas bênçãos. O cristão que medita mantém um registro das misericórdias de Deus, para que sua memória não se deteriore. Deus deseja que o maná seja mantido na arca por centenas de anos, para que a lembrança desse milagre seja preservada; uma alma que medita cuida para que o maná espiritual de uma experiência seja mantido seguro.'
'[...] A meditação sobre nossas experiências nos tornaria comunicativos com os outros. Estaríamos dispostos a contar a nossos filhos e conhecidos o que Deus fez por nossa alma? "Nessa época, fomos humilhados e Deus nos ressuscitou; em um momento de deserção, Deus trouxe uma promessa à nossa mente que nos confortou". A meditação sobre o trato gracioso de Deus para conosco nos faria transmitir e propagar nossa experiência aos outros, para que as misericórdias de Deus, demonstradas a nós, pudessem render uma abundante safra de louvores, quando estivermos mortos e partirmos!'
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* Continuação de alguns trechos do livro *
'Um cristão sem meditação é como um soldado sem armas ou um trabalhador sem ferramentas. Sem meditação, as verdades de Deus não permanecerão conosco. O coração está duro e a memória escorregadia — e sem meditação, tudo está perdido! A meditação imprime e fixa uma verdade na mente. A meditação séria é como a gravação de letras em ouro ou mármore que perdura. Sem meditação, toda a nossa pregação é como escrever na areia ou como despejar água em uma peneira. Ler e ouvir sem meditação é como um remédio fraco que não funciona. A falta de meditação é o motivo de tantos sermões infrutíferos...'
'“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração” (Dt 6:6). Como a Palavra pode estar no coração, a menos que seja introduzida pela meditação? Assim como um martelo enfia um prego na cabeça, a meditação leva uma verdade ao coração. Não é a ingestão de comida, mas o estômago que faz com que ela se transforme em sustento. Da mesma maneira, não é a captação de uma verdade ao ouvido, mas a meditação sobre ela, que é a digestão da mente, que nos nutri. Sem meditação, a Palavra pregada pode aumentar a conhecimento, mas não a afeição. Há tanta diferença entre o conhecimento de uma verdade e a meditação sobre essa verdade, quanto há entre a luz de uma tocha e a luz do sol. Coloque uma lâmpada ou tocha no jardim e ela não terá influência. Mas o sol tem uma influência doce, faz com que as plantas cresçam e as ervas floresçam. Assim, o conhecimento é como uma tocha acesa no entendimento, que tem pouca ou nenhuma influência — não faz com que o homem se torne melhor. Mas a meditação é como o brilho do sol — ela opera com base nas afeições, aquece o coração e o torna mais santo. A meditação busca a vida nas verdades. Há muitas verdades que estão mortas, por assim dizer, no coração — sobre as quais, quando meditamos, elas começam a ter vida e calor nelas. É a meditação, que faz um cristão!'
'Isso nos dá um relato verdadeiro do porquê existem tão poucos cristãos piedosos no mundo. A razão é porque há poucos cristãos que meditam. Muitos que têm ouvidos da Bíblia, são rápidos em ouvir, mas demorados em meditar. Esse dever está quase fora de moda; as pessoas estão tanto na loja que raramente estão no Monte com Deus. Onde está o cristão que medita? Onde está aquele que medita sobre o pecado, o inferno, a eternidade, que tem uma perspectiva do céu todos os dias? Onde está o cristão que medita? É de lamentar, em nossos tempos, que tantos que se professam cristãos tenham banido o discurso piedoso de suas mesas e a meditação de seus quartos. O diabo é inimigo da meditação; ele não se importa com o quanto as pessoas leem ou ouvem; ele sabe que a meditação é um meio de graça para o coração. Satanás ficará feliz se você apenas ouvir a palavra e orar, contanto que você não esteja meditando. Ele é tolerante com sua leitura e oração, desde que você não se arme com a meditação.'
'Os cristãos devem ser exortados a esse dever tão necessário de meditação. Se alguma vez houvesse um dever que eu pressionaria você com mais seriedade e zelo, seria esse, porque grande parte dos sinais vitais e do espírito da religião está na meditação. A planta não pode dar frutos sem regar, a comida não pode nutrir sem digerir, assim como nós não podemos frutificar em santidade sem meditação. Deus fornece a comida; os ministros só podem cozinhá-la e prepará-la para você, mas ela deve ser digerida internamente pela meditação. Por falta disso, você pode clamar com o profeta, “definho, definho, ai de mim” (Is 24:16). Deixe-me convencê-los, com temor a Deus, a seriamente assumirem esse dever. Se você o negligenciou anteriormente, lamente sua negligência e comece agora a tomar consciência disso! Tranque-se com Deus (pelo menos uma vez por dia) para uma santa edificação. Suba esta colina e, quando chegar ao topo dela, verá Cristo e o céu à sua frente. Deixe-me lembrá-lo daquela frase de Bernard: “Ó santo, não sabes que seu marido Cristo é tímido e não será afetuoso quando estiver com outras pessoas? Por isso se retire para meditar em seu quarto ou no campo, e lá você terá os abraços de Cristo”. “Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias” (Ct 7:11). Ó, eu te convido cristãos, para esse raro dever. Por que você não medita na lei de Deus? Deixe-me entender o seu caso; qual é o motivo? Acho que ouço alguns dizerem: “Estamos realmente convencidos da necessidade do dever, mas, infelizmente, há muitas coisas que impedem!”. Há duas {[(2)]} grandes objeções que estão no caminho, eu as removerei e espero que te convença a cumprir esse dever.'
Objeção {[(#1)]}: “Tenho tantos negócios no mundo que não tenho tempo para meditar”
Resposta: 'O mundo realmente é um grande inimigo da meditação. É fácil perder a bolsa na multidão; e em uma multidão de assuntos mundanos, é fácil perder todos os pensamentos de Deus. Enquanto o coração estiver distraído com seus negócios, não espere que seja um templo de Deus. Mas, para responder à objeção: você tem tantos negócios que não tem tempo para meditar — como se a piedade fosse uma questão menor, algo adequado apenas para horas ociosas? O que!? Não há tempo para meditar!? Qual é o negócio da sua vida, exceto meditação? Deus nunca nos enviou ao mundo para obter riquezas (não falo contra o trabalho), mas digo que esse não é o fim de nossa existência. A missão que Deus nos enviou ao mundo é a salvação; e para que possamos alcançar esse fim, devemos usar os meios, a saber, a meditação sagrada. Agora, você não tem tempo para meditar? Como se um agricultor dissesse que tem tantos negócios, que não tem tempo para arar ou semear; por que, qual é a sua ocupação senão arar e semear!? Que loucura é ouvir os cristãos dizerem que não têm tempo para meditar! Qual é o negócio de suas vidas além da meditação? Preste atenção para que, ficando rico, você cresça sem valor algum. Tenha cuidado para que Deus não processe o estatuto de falência contra você, e você seja desonrado diante de homens e anjos. Você não tem tempo para meditação? Você deve observar que outras pessoas em épocas anteriores tiveram tantos negócios quanto você para cuidar, mas foram consistentes na meditação. “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite” (Js 1:8). Josué podia ter dado uma desculpa. Ele era um soldado, um comandante, e o cuidado de organizar seu exército recaiu principalmente sobre ele, mas isso não o afastou da piedade; Josué meditava na lei de Deus. Deus nunca pretendeu que o grande negócio da piedade fosse comprometido pelos cuidados de uma loja ou fazenda; ou que uma vocação específica impedisse o dever geral de santidade.'
Objeção {[(#2)]}: “Mas esse dever de meditação é difícil. Separar um tempo todos os dias para colocar o coração em um ambiente de meditação é muito difícil. Gerson relata, de si mesmo, que às vezes demorava três ou quatro horas antes que seu coração estivesse em um estado espiritual”
Resposta: 'Quando entramos pela primeira vez na meditação, pode parecer difícil, mas depois de entrar, é doce e agradável. Ao vestir o jugo de Cristo pela primeira vez, pode parecer pesado, mas quando é colocado, torna-se fácil; não é um jugo, mas uma coroa. “Senhor”, diz Austin, “quanto mais eu medito em Ti, mais doce Tu te tornas para mim!” Que as palavras de Davi, sejam nossas: “Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me alegrarei no SENHOR” (Sl 104:34). Os poetas dizem que o topo do Olimpo sempre foi quieto e sereno. Por isso, é difícil subir a colina rochosa da meditação, mas quando chegamos ao topo, há uma perspectiva agradável e, às vezes, pensamos que estamos no céu. Por meio da meditação sagrada, a alma toma café da manhã com Deus todas as manhãs. Quando um cristão está no monte da meditação, ele clama como Pedro no monte, quando Cristo foi transfigurado: “Senhor, bom é estarmos aqui” (Mt 17:4). O homem, no monte, se torna relutante em descer. Que maná oculto a alma prova, quando está no monte! Quão doces são as visitas do Espírito de Deus! Quando Cristo estava sozinho no deserto, o anjo veio confortá-lo. Quando a alma está sozinha na sagrada meditação e oração, então não um anjo, mas o próprio Espírito de Deus vem para consolá-la. Um cristão que se encontra com Deus no monte não trocaria suas horas de meditação pelas pérolas mais preciosas ou belezas cintilantes que o mundo pode oferecer. Não é de admirar que Davi tenha passado o dia inteiro em meditação (Sl 119:97). Como se o dia tivesse sido muito pouco, ele também toma emprestada uma parte da noite; “no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite” (Sl 63:6) Quando outras pessoas estavam dormindo, Davi estava meditando. Aquele que recebe muito da meditação, encontrará um favo de mel neste dever. Portanto, não deixe a dificuldade te desencorajar. Os prazeres compensarão infinitamente as dores.'
["Sobre as Meditações Ocasionais"]
'Diz-se que Agostinho era muito envolvido nessas meditações circunstâncias. Um coração gracioso, como a pedra mágica do filósofo, transforma tudo em ouro — ele tinha meditações celestiais a partir de ocorrências terrenas. O químico habilidoso, quando vários metais são misturados, pode, com sua habilidade, extrair o ouro e a prata dos metais mais básicos. Só assim, um cristão, por meio de uma química divina, pode extrair meditações dos vários objetos terrenos que ele vê! Na verdade, coração espiritual transforma tudo em um uso espiritual. Temos o próprio exemplo de Cristo para essas meditações ocasionais (Jo 4:7-14). Enquanto Ele estava sentado no poço de Jacó, Ele meditou sobre isso e começou a fazer um discurso muito excelente sobre a água da vida. Ó, que testemunhemos mais dessas meditações ocasionais.'
'[...] Irmão, eu te exorto também às meditações DELIBERADAS, que são as principais. Reserve algum tempo todos os dias, para que você possa, de maneira séria e solene, conversar com Deus no monte: Um homem piedoso é um homem separado (Sl 4:3). Assim como Deus o diferencia por eleição, então Ele [Deus] é diferenciado pela meditação.' ["Sabei, porém, que o SENHOR distingue para si o piedoso; o SENHOR me ouve quando eu clamo por ele" (Sl 4:3)]
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* Mais alguns trechos do livro *
'O que é conhecer Cristo pela especulação e não pelo afeto? É o trabalho adequado da meditação o estimular e explodir afeições sagradas. Que brilho de amor existe em uma alma assim! Quando Davi meditou sobre a lei de Deus, ele a amou. “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia” (Sl 119:97). Galeatius Caraccialus, o famoso Marquês de Vico, que gastava muito tempo meditando sobre Cristo, irrompeu contra Pathos: “Que seu dinheiro pereça com eles, que estimam todo o ouro do mundo, mas que vale apenas uma hora de comunhão com Jesus Cristo!”'
["A Excelência da Meditação"]
'Aristóteles diz que a felicidade está na contemplação da mente. A meditação é altamente elogiada por Agostinho, Crisóstomo e Cipriano, como o berçário da piedade. Hierom chama-a de Paraíso. Que palavras devo usar para a meditação? Outros deveres celestiais são excelentes, mas [a meditação] “supera todas eles”. A meditação é amiga de todas as graças, e ajuda a regar a plantação. Posso chamá-la, na expressão de Basílio, o tesouro onde todas as graças estão trancadas; e como Teofilato, o próprio portão e portal pelo qual entramos na glória. Pela meditação, os espíritos são elevados a uma espécie de estado angelical. A meditação nos coloca docemente no céu, antes de chegarmos lá. A meditação une Deus e a alma. A meditação é o espelho dos santos, pelo qual eles veem as coisas invisíveis. A meditação é a escada dourada pela qual eles sobem ao paraíso. A meditação é como o espião, enviado ao exterior para procurar a terra prometida, e traz consigo um cacho de uvas doces da terra prometida. A meditação é a pomba que, [quando] lançada, traz um ramo de oliveira de paz em sua boca. Mas quem sabe o quanto o mel é doce, exceto aqueles que o provam? Deixo a excelência da meditação aos cristãos experientes, que dirão que o conforto dela pode ser melhor sentido do que explicado. Para estimulá-los a esse dever tão útil e excelente (e quase angelical), deixe-me estabelecer alguns motivos divinos para a meditação; e quão feliz eu ficaria se pudesse reviver esse dever entre os cristãos.'
["Motivos Divinos para a Meditação"]
'A meditação manifesta o que um homem realmente é. Com isso, ele pode medir seu coração, seja ele bom ou ruim. “Porque, como imagina em sua alma, assim ele é” (Pv 23:7). Assim como a meditação é, assim é o homem. A meditação é a pedra de toque de um cristão, mostra de que metal ele é feito. A meditação é um índice espiritual. O índice mostra o que está no livro — então a meditação mostra o que está no coração. Por meio da meditação, o homem pode obter poder contra o pecado, pode crescer em graça, e pode ter mais comunhão com Deus. A meditação mostra o que está em seu coração. Ao checar desse pulso, é medido a saúde de sua alma. Na meditação, o caráter de um homem piedoso é moldado — ele teme a Deus e pensa em seu nome (Ml 3:17). Assim como são os pensamentos, assim é o coração. Mas os pensamentos dos ímpios estão cheios de orgulho e luxúria. “Seus pés correm para o mal” (Is 59:7). Quando surgem pensamentos pecaminosos vãos, os homens ímpios fazem muito deles, abrem espaço para eles, comem e se hospedam com eles. Mas, se um bom pensamento vier à sua mente, ele logo se torna como um convidado indesejado. Ó, que isso provoque em você uma meditação sagrada.'
'Os pensamentos de Deus, quando trazem prazer, trazem junto paz para o coração. Essas são as melhores horas passadas com Deus. A consciência, como a abelha, dá mel. Não nos entristecerá quando morrermos, o fato de termos passado nosso tempo em solitude e meditações sagradas. Mas que honra o pecador terá, quando fizer a pergunta à consciência, como fez Jorão a Jeú: “Há paz, Jeú?” (2 Rs 9:22). E a consciência dirá como Jeú: “Que paz, enquanto perduram as prostituições de tua mãe Jezabel e as suas muitas feitiçarias?”. Ó, quão triste será o homem que encontrar a morte nesse estado! Cristãos, ao desejarem paz, “meditem na lei de Deus dia e noite”. Sendo esse dever de meditação negligenciado, o coração não será um vinhedo, mas um deserto.'
'A meditação mantém o coração em boa saúde espiritual. Ela arranca as ervas daninhas do pecado, poda os galhos inúteis, rega as flores da graça, varre todas os caminhos no coração, para que Cristo caminhe, livre, com prazer. Por falta de meditação sagrada, o coração está como o campo do preguiçoso (Pv 24:31), todo coberto de espinhos e sarças — com pensamentos impuros e terrenos. É mais como um chiqueiro do diabo, do que o jardim de Cristo. É como uma casa que caiu em ruínas, digna apenas para os espíritos imundos habitarem.'
'A inutilidade de todas as meditações mundanas. Um homem expõe seus pensamentos sobre como ganhar dinheiro; suas meditações são como de se criar no mundo e, quando ele chega a uma propriedade, muitas vezes Deus a invade (Ag 1:9). Seu cuidado é com seu filho, e talvez Deus o tire ou, se ele viver, prove ser uma cruz. Outro medita sobre como satisfazer sua ambição, e em como ser honrado. “Honra-me, porém, agora, diante dos anciãos do meu povo” (1Sm 15:30). Infelizmente, o que é honra, senão um meteoro no ar; uma tocha acesa pela respiração das pessoas, e com o mínimo sopro logo se apagará! Quantos vivem para ver seus nomes enterrados diante deles? Quando esse sol está em seu esplendor meridiano, ele logo se põe em uma nuvem. Portanto, infrutíferas são aquelas meditações que não se concentram em Deus. É apenas para carregar poeira contra o vento. Mas, especialmente na morte; então um homem vê todos aqueles pensamentos que não foram gastos com Deus, como infrutíferos. “Nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios” (Sl 146:4). Posso aludir a isso nesse sentido — todos os pensamentos mundanos e vãos, no dia da morte, perecem e não dão em nada! O que o mundo inteiro fará de bom em um momento como esse? Um capitão cita que, por causa de uma corrente de água, ouvi um clamor na cidade: “Eu perdi tudo!” Assim será com aquele homem quando ele morrer, que passou toda sua vida meditando sobre as coisas do mundo; ele dirá: “Ó, perdi tudo! Eu perdi o céu, eu traí minha alma!” E a consideração disso não deveria fixar nossa mente nos pensamentos de Deus e na glória? Todas as outras meditações são infrutíferas; como algumas terras que são custosas, mas não produzem colheitas.'
'A meditação sagrada nunca é perdida. Deus tem uma caneta para escrever todos os nossos bons pensamentos. Havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor, e para os que se lembram do seu nome (Ml 3:16). Deus tem todas as nossas meditações escritas em seu livro. Deus escreve tudo sobre nossa devoção íntima.'
'Veja a bem-aventurança atribuída ao cristão que medita. “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1:1,2). Não diga que é difícil meditar. Isso traz muita bem-aventurança. Se homens ímpios podem meditar com prazer sobre o que os fará amaldiçoados, não devemos meditar naquilo que nos tornará abençoados? Ó, em hebraico está no plural, bem-aventurados. Atente-se para o fato de que teremos várias bem-aventuranças quando meditarmos.'
'A meditação deliciosa na lei de Deus é a melhor maneira de um homem prosperar em seus afazeres mundanos. “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito, então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Js 1:8).'