Print Friendly and PDF

11 outubro 2025

Desensimesmando-se de si mesmo...

 

Segundo os dicionários de etimologia, a origem da palavra "ensimesmado" vem do espanhol "ensimismado", que, por sua vez, é proveniente da expressão "en sí mismo". O termo é uma combinação do prefixo "en-" (indicando movimento para dentro), "si" (pronome reflexivo), "mesmo" (enfatizando a reflexividade) e do sufixo "-ado" (indicando estado ou condição), e mantém seu significado original, de "alguém voltado para seus próprios pensamentos ou sentimentos". Apesar deste termo ser usado, por exemplo, no contexto literário, como "alguém que está em estado de auto-reflexão", é razoável considerarmos que este termo carrega um componente de egoísmo, pois há uma insistência enfática "em si mesmo". 

Ningúem pode negar que vivemos dias maus, e que a humanidade transforma-se, cada vez mais, adquirindo – ou simplesmente apenas revelando – as características que as Escrituras já haviam previsto a muito tempo atrás:

"Sabe, porém, isto nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes." (2Timóteo 3:1-5)

De alguma forma, esta lista de adjetivos – que começa com "egoístas" – com a qual o apóstolo Paulo alerta o jovem pastor, amigo e irmão Timóteo, também aparece, de forma muito semelhante, no final do primeiro capítulo da carta aos Romanos:

"E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem." (Romanos 1:28-32)

Também podemos encontrar a exortação pastoral do apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, no didático texto do capítulo 4 da carta aos Efésios, que traz o princípio bíblico do "despir-se/revestir-se" ("put off/put on", na Bíblia em inglês):

"Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade." (Efésios 4:20-24)

O maior ensinamento, contudo, sobre combater o pecado do egoísmo, esvaziando-se – ou desensimesmando-se – de si mesmo, vem do Mestre maior, o próprio Senhor Jesus Cristo, resumindo a lei moral em dois grandes mandamentos, ensinando-nos a amar a Deus, e depois, a amar o próximo:

"Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus:
  Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é:
  Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
" (Mateus 22:36-39)

E essa parece ser a receita bíblica para combater eficazmente a velha criatura (2Coríntios 5:17) em nós...

Graças a Deus por Jesus Cristo, hoje e sempre!

 

07 outubro 2025

Cristão tranquilex (v.a.)

Será que o nosso testemunho de vida cristã, como discípulos do Senhor Jesus Cristo, tem sido comprometido e engajado, ou tem sido tranquilex?
Um cristão tranquilex é tipicamente aquele que leva uma vida cristã sem muito engajamento com as coisas do Reino de Deus, demonstrando um testemunho pouco relevante, ou mesmo, um inexistente testemunho público de fé. Além disso, parece frequente o cristão tranquilex também ter a tendência de concordar com a postura prafrentex, e gostar das ideias do liberalismo teológico e do pós-modernismo, que não crê em verdades nem em valores absolutos.
Segundo as Escrituras, o testemunho de um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo não é tranquilex neste mundo, pois foi o próprio Senhor quem disse: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). No evangelho segundo João, também estão registradas algumas declarações do Senhor para seus discípulos, a respeito desta mesma verdade, como por exemplo: 
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.” (João 15:18-19)
Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33)
O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, também nos ensina: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Romanos 5:3-4). E ele podia falar, com muita propriedade, sobre tribulação (2 Coríntios 11:23-33).
Ninguém, em sã consciência, faz opção pelo sofrimento ou pela tribulação. A opção que fazemos é por seguir a Jesus Cristo, procurando dar um testemunho vivo durante a jornada de peregrinação cristã, sendo “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5:13-14).
Samuel Rutherford, certa vez, escreveu em uma de suas cartas: 'Tome a Cristo, todavia, uma tempestade poderá segui-Lo' (Carta 264). Em outra carta, ele também declarou: 'Nossos sofrimentos são lavados no sangue de Cristo, bem como nossas almas, pois os méritos de Cristo trouxeram uma bênção às cruzes [tribulações] dos filhos de Deus' (Carta 265).
Apesar das tribulações e dificuldades enfrentadas pelos cristãos comprometidos e engajados, ainda nesta vida, com o Reino de Deus, na revelação recebida por João, registrada no livro de Apocalipse, podemos encontrar a verdade gloriosa e alvissareira do porvir, que precisa estar incrustada na mente e no coração de todo cristão convicto: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21:4). Esta verdade deve ecoar no fundo da alma dos verdadeiros discípulos de Cristo, principalmente durante a jornada de peregrinação cristã neste mundo febril e hostil para o crente. 
Rogamos a Ti, Senhor, que nos conceda coragem para testemunhar o teu Evangelho, força para encarar os desafios, e bom ânimo para perseverar seguindo para o alvo (Filipenses 3:14). 
Deus compassivo, graças Te damos por tua entranhável misericordia, incompreensível paciência, e abundante graça (Salmos 86:15).
Glória somente a Ti! Amém.
 
------------------------------
[versão atualizada (v.a.) do texto original, publicado em 17/04/2013]

05 outubro 2025

Aprendizado piedoso 226

“Lembre-se de quão rapidamente o tempo de Deus desaparece e que a sua manhã já está gasta. Sua tarde chegará, e então a noite, e tendo o tempo passado, você não poderá mais trabalhar. Que o seu coração seja colocado no término de sua jornada, calculando e reconhecendo as contas que você prestará ao seu Senhor. Oh, quão abençoados sereis se tiverdes uma alegre vinda do seu Senhor à noite!"
(Samuel Rutherford, Carta 280)