Mais alguns poucos trechos e citações traduzidos do livro "Gunning for God: why the new atheists are missing the target", de John C. Lennox. Continuo recomendando a leitura completa do livro.
Capítulo 2: “A religião é tóxica?”
“... o cristianismo que os meus pais me ensinaram à partir da Bíblia. A sua casa (e também a casa dos pais da minha esposa) esteve repleta de discussão. Aqui estavam pessoas que me encorajaram a ser intelectualmente questionador, pois eles mesmos também o eram – não apesar de sua fé cristã, mas por causa dela. Para eles, a Bíblia era uma fonte inexaurível de coisas fascinantes para se pensar; de questões para serem discutidas, bem como de princípios pelos quais se deve viver. Eu tenho um imenso débito com meus pais por seu real amor cristão, um amor que me deu espaço para pensar. E, dito isso, o cristianismo me deu e continua me dando muito sobre o que pensar, mais do que o ateísmo.”
Capítulo 3: “O ateísmo é tóxico?”
“Seria maravilhoso não apenas imaginar o mundo de John Lennon sem todo o mau que tem sido atribuído a religião, como Richard Dawkins proclama, mas também viver neste tal mundo. Todas as pessoas sensatas certamente concordariam com os Novos Ateístas nisso. Contudo, se você me perdoar por declarar o óbvio, Eu não sou John Lennon. Acontece que eu sou John Lennox, e eu gostaria de convidar-lhe a imaginar um mundo sem ateísmo. Sem Stalin, sem Mao, sem Pol Pot, apenas para nomear os líderes de três estados oficialmente ateus que foram responsáveis por alguns dos piores crimes em massa do século 20. Imaginem um mundo sem Gulag, sem Revolução Cultural, sem ‘Killing Fields’, sem remoção de crianças dos seus pais por causa do ensino de suas crenças, sem recusa de educação superior para crentes em Deus, sem descriminação contra crentes em seu local de trabalho, sem pilhagem, destruição e incêndio de lugares de culto. Não seria um mundo que valeria a pena imaginar também?”
“Pois ele e os outros Novos Ateístas não são meros ateístas, mas são anti-teístas. Não acreditar em Deus não os deixa em um passivo, negativo, vácuo inócuo. Seus livros estão repletos com todas as crenças positivas que fluem à partir do anti-teísmo. Essas crenças formam seu credo, sua fé – tanto quanto eles procuram negar que eles tem um. Na verdade, a sua própria definição de um ‘Iluminado’ (‘Bright’) é ‘alguém que tem uma cosmovisão naturalista’.”
“John Gray, alguém que não é um óbvio simpatizante do teísmo, escreveu: ‘Os regimes totalitários do último século carregaram alguns dos sonhos mais ousados do Iluminismo. Alguns dos seus piores crimes foram cometidos a serviço de ideais progressistas, que até mesmo os regimes que se viam como inimigos dos valores do Iluminismo tentaram um projeto de transformação da humanidade pelo uso do poder da ciência, cujas origens estão no pensamento Iluminista. O papel do Iluminismo no terror do século 20 permanece como um ponto cego na percepção ocidental’ [Gray, Black Mass, p.198].”
Capítulo 4: “Podemos ser bons sem Deus?”
“... Albert Einstein, em uma discussão sobre ciência e religião realizada em Berlin, em 1930, falou que nosso senso de beleza e nosso instinto religioso são: ‘formas tributárias que ajudam a faculdade da razão na direção de suas maiores conquistas. Você está certo em falar dos fundamentos morais da ciência, mas você não pode inverter e falar dos fundamentos científicos da moralidade’. De acordo com Einstein, portanto, a ciência não pode formar uma base para a moralidade: ‘Qualquer tentativa de reduzir a ética à formulas científicas deve falhar’ [Max Jammer, ‘Einstein and Religion’, Princeton University Press, 1999, p.69]. Richard Feynman, também ganhador de prêmio Nobel em física, compartilha a visão de Einstein: ‘Até mesmo as maiores forças e habilidades não parecem conter quaisquer instruções claras em como devem ser usadas. Como um exemplo, o grande acúmulo de conhecimento sobre como o mundo físico se comporta apenas nos convenceu de que este comportamento tem um tipo de falta de significado sobre ele. As ciências não ensinam diretamente o bem ou o mal’ [Richard P. Feynman, ‘The Meaning of it All’, London, Penguin, 2007, p.32]. Em outro lugar, ele declarou: ‘Os valores éticos estão fora do âmbito científico’ [Ibid. p.43].”
“... Seu ponto de vista [Jacques Monod] é baseado na percepção da relação entre o problema ‘é/deve ser’ e a teoria da evolução: ‘Um dos maiores problemas da filosofia é a relação entre o domínio do conhecimento e o domínio dos valores. Conhecimento é o “é” e valores são o que “deve ser”. Eu diria que todas as filosofias tradicionais, incluindo o comunismo, têm tentado derivar o “deve ser” a partir do “é”. Isto é impossível. Se é verdade que não há propósito no universo, o homem é um puro acidente, você não pode derivar nenhum “deve ser” a partir do “é”.’ [Jacques Monod and A. Wainhouse, ‘Chance and Necessity’, London, Collins, 1971, PP.110, 167]. Note o suposição, ‘se não há propósito no universo’. É evidente que se não há nenhum Criador pessoal responsável pelo universo, então o universo e a vida humana são produtos acidentais de processos naturais impessoais, não racionais e, portanto, sem propósito – qual outra possibilidade há? Gray é incisivo: ‘Nas fés monoteístas, Deus é a garantia final de significado na vida humana. Para Gaia, a vida humana não tem mais significado do que a vida de um fungo’ [Gray, ‘Straw Dogs’, p.33].”
Capítulo 5: “O Deus da Bíblia é um déspota?”
“A longa lista do mau não mitigado em nosso mundo parece nunca ter fim. Dia após dia, milhares de pessoas inocentes morrem, dentre elas muitos bebês e crianças. A objeção é esta, se há um Deus, ele deve ser responsabilizado por suas mortes. A questão é: como alguém pode acreditar em um Deus como este? Minha resposta é: Eu não posso, se eu acreditar que a morte é o fim e que não há justiça final. No entanto, eu acredito que a morte não é o fim, e que Deus é um Deus de compensação. A ressurreição de Jesus Cristo demonstrou que haverá uma avaliação final aonde Deus não será apenas justo, mas será visto que ele é justo. Isto também valida a declaração bíblica de que há um reino eterno aonde não há dor, nem morte, nem fome: um mundo que é repleto da alegria da presença imediata de Deus e de Cristo, seu Rei. Sim, eu estou falando sobre o céu – e eu não me esqueci que eu sou um cientista. C.S. Lewis escreveu certa vez algumas palavras que são tão pertinentes hoje quanto foram em sua época: ‘Um livro sobre sofrimento que não fala uma palavra sobre o céu está deixando de lado a quase totalidade de um dos lados do assunto. A Escritura e a tradição habitualmente colocam as alegrias do céu na escala contra os sofrimentos da Terra, e nenhuma solução do problema da dor que não faz o mesmo pode ser chamada de cristã. Nós estamos muito tímidos atualmente de sequer mencionar o céu. Temos medo da zombaria sobre “pie in the sky”... contudo ou há “pie in the sky”, ou não há. Se não há, então o cristianismo é falso, pois esta doutrina é tecida em toda a sua tela. Mas se há, então esta verdade, como qualquer outra, precisa ser encarada’ [C.S. Lewis, ‘The Problem of Pain’, London, Geoffrey Bles, 1940, p.133].”
“Não há resposta simples para a difícil questão exposta pelo sofrimento humano. A resposta dada pelo cristianismo não é um conjunto de proposições ou uma análise filosófica das possibilidades – ao invés disso, é uma Pessoa que sofreu. Mas não é apenas o sofrimento de uma Pessoa para mostrar-nos solidariedade em nossos sofrimentos. A afirmação exclusiva do cristianismo é que, na cruz, Jesus sofreu algo extremamente pior do que a crucificação – ele sofreu para a expiação de pecados. Como o velho hino canta, ‘Ele morreu para que pudéssemos ser perdoados’. O Novo Ateísmo, contudo, acha este conceito repreensível...”
Capítulo 6: “A expiação é moralmente repugnante?”
“Em uma obra de arte de expressão sucinta, G.K. Chesterton acertou quando, ao responder à questão sobre o que estava errado com o mundo, postada pelo London Times, ele escreveu a seguinte famosa carta de justificativa:
‘Caro Senhor,
Sou eu.
Atenciosamente,
G.K. Chesterton’.”
“Wiesenthal... termina seu livro dizendo: ‘O xis do problema é, com certeza, a questão do perdão. Esquecer é algo de que apenas o tempo se encarrega, mas perdoar é um ato de volição, e apenas o sofredor está qualificado para fazer a decisão’ [Simon Wiesenthal, ‘The Sunflower’].”
Capítulo 8: “Jesus ressuscitou dos mortos?”
“Agora alguns leitores poderão querer levantar a questão: nesta era de avanço científico, como alguém pode acreditar que um corpo físico passou através de vestimentas fúnebres, e atravessou por portas trancadas para dentro de um aposento? Mas talvez esta era de avanço científico tenha tornado estes acontecimentos ainda mais possíveis, ao invés de menos possíveis. Nós sabemos que os discípulos não sabiam: a matéria é constituída, em grande parte, de espaço vazio; partículas elementares podem penetrar a matéria; algumas – como os neutrinos- até a grandes profundidades. Adicionalmente, há a questão da dimensionalidade. Nós estamos familiarizados com as quatro dimensões do espaço-tempo; mas Deus não está limitado a estas quatro dimensões. Talvez a própria natureza, por si própria, já envolva mais dimensões do que nós imaginamos – a teoria das cordas sugere que pode haver mais. Uma analogia pode nos ajudar aqui. Em 1880, um agradável livro chamado ‘Flatland’ foi escrito por um matemático, Edwin Abbott, como uma sátira para a estrutura de classes. Abbott nos convida a imaginar um mundo bidimensional chamado ‘Flatland’, cujos habitantes são figuras bidimensionais, linhas, triângulos, quadrados, pentágonos, etc., e assim sucessivamente até os círculos. Nós somos apresentados a uma esfera proveniente de ‘Spaceland’ (tridimensional), que tenta explicar para uma das criaturas de ‘Flatland’ o que significa ser uma esfera. A esfera passa pelo plano de ‘Flatland’, aparecendo primeiro como um ponto, então como um círculo que fica cada vez maior, até ficar menor e desaparecer. Isto, é claro, parece impossível para os habitantes de ‘Flatland’, simplesmente porque eles não conseguem conceber nenhuma dimensão mais alta do que dois. A esfera os deixa ainda mais intrigados por dizer que, movendo-se acima do plano de ‘Flatland’, ela pode ver suas casas e pode aparecer nelas de acordo com a sua vontade, sem a necessidade de abrir as portas. A esfera ainda leva um dos incrédulos habitantes de ‘Flatland’ para o espaço, com a finalidade de lhe conceder uma visão do seu mundo, a partir de um ponto de vista externo. Contudo, no retorno, ele não consegue fazer este novo conhecimento ser aceito pelos habitantes de ‘Flatland’, que não conhecem nada além de um mundo bidimensional. Será possível que o nosso mundo seja algo como ‘Flatland’ – mas com quatro dimensões ao invés de duas? Se isto for possível, a realidade de uma dimensionalidade mais elevada pode interagir com nosso mundo, como a esfera faz no mundo ‘Flatland’. A física da matéria, e estas analogias como a de ‘Flatland’ podem nos ajudar, pelo menos, a enxergar que pode ser muito míope e prematuro dispensar o relato do Novo Testamento a respeito das propriedades do corpo ressurreto de Cristo. Se há um Deus que transcende o espaço e o tempo, não é surpreendente que a ressurreição do seu Filho revele aspectos da realidade que também possam transcender o espaço e o tempo.”
“... É um fato histórico simples, portanto, que a vasta maioria dos cristãos através da história se tornaram cristãos sem ver Jesus literalmente. Cristo falou algo muito importante sobre isto a Tomé e os outros: ‘Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram’ [João 20:29]. Eles viram e creram – mas a maioria não viu. Isto, como vimos no capítulo 1, não significa que Cristo está pedindo para nós crermos sem nenhuma evidência. Em primeiro lugar, a evidência que é oferecida para nós é o depoimento de testemunhas oculares que viram. Mas Cristo também está nos alertando ao fato de que há diferentes tipos de evidências. Uma delas é o modo como a comunicação da mensagem de Deus penetra o coração e a consciência dos ouvintes.”
Capítulo 9: “Reflexões finais”
“O distinto filósofo alemão Robert Spaemann, da Universidade de Munique, declara: ‘A ciência não tenta descobrir, como Aristóteles, porque a pedra cai para baixo. Ao invés disto, ela tenta descobrir as leis de acordo com as quais ela cai. E isto constitui uma explicação científica. Mas Wittgenstein escreveu: “A grande ilusão da modernidade é pensar que as leis da natureza explicam o universo para nós. As leis da natureza descrevem o universo, elas descrevem as regularidades. Mas elas não explicam nada”.’”
“Immanuel Kant, embora argumentasse que a existência de Deus não poderia ser provada por pura razão, confessou, no entanto, sua crença em Deus com base na sua razão prática. Como evidências ele listou as duas fontes que já discutimos: ‘Duas coisas preenchem a mente com admiração e reverência sempre novas e crescentes, à medida que cada um reflete mais firme e frequentemente sobre elas: os céus estrelados acima de mim e a lei moral dentro de mim’ [Kant, ‘Critique of Pratical Reason’, Conclusion, p.113]. Estas palavras estão gravadas em uma lápide, perto do seu túmulo em Kaliningrad.”
“O ateísmo não tem resposta para a morte, nenhuma esperança final para fornecer. É uma cosmovisão vazia e estéril, que nos deixa em um universo fechado que irá, em última instância, incinerar qualquer último traço do fato de que sequer tenhamos existido. Ele é, literalmente, uma filosofia sem esperança. Sua história termina no túmulo. Mas a ressurreição de Jesus abre a porta para uma história maior. Cabe a cada um de nós decidir qual é a verdadeira.”