Alguns poucos trechos e citações traduzidos do livro "Gunning for God: why the new atheists are missing the target", de John C. Lennox. Recomendo a leitura completa do livro.
Introdução:
“… Eu decidi participar da arena pública para adicionar a minha voz àqueles que estão convencidos de que o Novo Ateísmo não é a posição padrão automática para todos os pensadores que têm alta consideração pela ciência. Como eu, há muitos cientistas e outros que pensam que o Novo Ateísmo é um sistema de crenças que, ironicamente, provê um exemplo clássico de fé cega que ele despreza nos outros. Eu gostaria de fazer minhas próprias pequenas contribuições na direção de aumentar a percepção ou o conhecimento público deste fato.”
Capítulo 1: “Deus e a fé são inimigos da razão e da ciência?”
“Na verdade, como Alfred North Whitehead e outros apontaram, há fortes evidências de que a cosmovisão bíblica esteve intimamente envolvida com o desenvolvimento meteórico da ciência nos séculos 16 e 17... Mais recentemente, O professor de Ciência e Religião de Oxford, Peter Harrison, tem defendido um aprofundamento da tese de Whitehead. Ele mostra que não foi somente o teísmo em geral, mas também os princípios particulares da interpretação bíblica usados pelos Reformadores que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da ciência [Peter Harrison, ‘The Bible, Protestantism and the Rise of Science, Cambridge University Press, 1998’].”
“... Como Aristóteles acreditava que tudo que existia além da Lua era perfeito, isto significava que os planetas deveriam se mover em círculos. Foi somente quando Kepler, um cristão, decidiu romper com esta restrição metafísica aristotélica, e permitir que os dados astronômicos do movimento de Marte (já coletados por Tycho Brahe) falassem por si mesmos, que ocorreu a descoberta de que os planetas, na verdade, se moviam em elipses igualmente perfeitas. Nós admiramos Kepler por sua prontidão em seguir as evidências para aonde quer que elas o levassem, ao invés de permitir que restrições metafísicas o restringissem, mesmo que essas restrições representassem o conhecimento estabelecido por séculos.”
“Novamente, foi um teísta, não um ateísta, quem teve a ideia que conduziu ao modelo Big Bang atual sobre a origem do universo, amplamente aceito. Georges Lemaitre (1894-1966), um sacerdote e astrônomo belga, desafiou a teoria de um universo eterno que já existia a séculos, e na qual até mesmo Einstein acreditava em seu tempo (por influência de Aristóteles, mais uma vez). Lemaitre fez uma aplicação brilhante da teoria da relatividade de Einstein para a cosmologia, e em 1927 ele propôs uma precursora da lei de Hubble relacionado ao fato do universo estar se expandindo. Em 1931, ele propôs sua hipótese do ‘átomo primevo’, através da qual era proposto que o universo tinha começado em ‘um dia que não teve ontem’. Como Alexander Friedman, Lemaitre descobriu que o universo precisa estar se expandindo; mas Lemaitre foi além de Friedman, argumentando que um evento do tipo ‘criação’ deve ter ocorrido. De maneira interessante, Einstein suspeitou disto, porque ele achava que era muito proveniente da doutrina cristã da criação. No entanto, foi o Sir Arthur Eddington (1882-1944), que tinha ensinado Lemaitre em Cambridge, que considerou seu trabalho de 1927 como uma 'solução brilhante' para um notável problema em cosmologia. Todavia, a ideia de uma criação era demais para Eddington: 'Filosoficamente, a noção de um começo para a presente ordem da Natureza é repugnante... Eu deveria encontrar uma genuína brecha' [Sir Arthur Eddington, 'The End of the World: From the Standpoint of Mathematical Physics', Nature, 127, 1931, p.450]. Muito tempo depois - na década de 1960 - outro cientista bastante conhecido, Sir John Maddox, então editor da Nature, respondeu igualmente de maneira negativa à descoberta de evidências adicionais que suportavam a teoria Big Bang. Para ele, a ideia de um começo era 'completamente inaceitável', uma vez que implicava em uma 'origem definitiva para o nosso mundo', e fornecia aos que acreditavam na doutrina bíblica da criação uma 'ampla justificativa' para as suas crenças. É irônico que no século 16 algumas pessoas resistiram ao avanço da ciência porque parecia ameaçar a crença em Deus; enquanto no século 20, os modelos científicos para um começo sofreram resistência porque eles poderiam aumentar a plausibilidade da fé em Deus.”
"... Maddox foi hostil à noção de um começo precisamente por causa de modelo criacionista de Gênesis, que claramente implicava em tal começo, e ele não deu as boas-vindas científicas a este modelo. No entanto, seus protestos tiveram que dar passagem quando confrontados com a evidência. A descoberta do deslocamento para o vermelho ('red-shift') galáctico e o eco cósmico da criação, a radiação cósmica de fundo no microondas, confirmaram a previsão óbvia implícita do relato bíblico - que houve um começo para o espaço-tempo."
“... A ironia é que exatamente o mesmo modelo Big Bang do universo, que confirma o ensinamento bíblico de que houve um começo, está sendo usado agora para banir a Deus, por um dos mais brilhantes físicos teóricos envolvidos no desenvolvimento da teoria – Stephen Hawking.”
"Por causa do inadequado conceito de Hawking sobre Deus e sobre filosofia, ele tropeça em uma série de erros ao nos fazer escolher entre Deus e as leis da física. Aqui ele confunde duas coisas muito diferentes: lei física e agência pessoal. A escolha que ele nos convida a fazer é entre alternativas falsas. Este é um exemplo clássico de um erro de categoria. Ele, querendo nos fazer escolher entre a física e Deus, é tão absurdo quanto fazer alguém escolher entre as leis da física ou o engenheiro aeronáutico Sir Frank Whittle, no intuito de explicar um motor a jato. Este erro não foi cometido pelo antecessor da cadeira de Hawking em Cambridge, Sir Isaac Newton, quando ele descobriu a lei da gravitação. Ele não disse: 'Agora que eu tenho a lei da gravidade, eu não preciso de Deus'. Na verdade, o que ele fez foi escrever 'Principia Mathematica', o mais famoso livro na história da ciência, expressando a esperança de que ele iria 'persuadir o homem pensante' a crer em Deus."
"Se Hawking não tivesse desconsiderado tanto a filosofia, ele poderia ter se deparado com a declaração de Wittgenstein que a 'decepção do modernismo' é a ideia de que as leis da natureza explicam o mundo para nós, quando tudo o que elas fazem é descrever regularidades estruturais. Richard Feynman, premiado com o prêmio Nobel em física, levou o assunto adiante: 'O fato de que há regras em tudo que deve ser verificado é um tipo de milagre; que é possível encontrar uma regra, como a lei do inverso quadrado na gravitação, é uma espécie de milagre. Isto não é completamente compreendido, mas conduz à possibilidade da predição - isto significa que lhe diz o que você deveria esperar que acontecesse em um experimento que você ainda não realizou' [Richard Feynman, 'The Meaning of it all', London, Penguin, 2007, p.23]."
"Allan Sandage, mundialmente conhecido como o pai da astronomia moderna (descobridor dos quasares e ganhador do prêmio Crafoord, o equivalente em astronomia ao Nobel), não tem dúvida na sua resposta: 'Eu considero bastante improvável que tal ordem seja proveniente do caos. Tem que haver algum princípio organizador. Deus é um mistério para mim, mas é a explicação para o milagre da existência - porque existe alguma coisa ao invés do nada' [Allan Sandage, New Your Times, 12 March 1991, p. B9]."
"Para os Novos Ateus, então, Deus é a realização de um desejo, a figura de um pai fictício projetada no céu da nossa imaginação e criada pelo nosso desejo de conforto e segurança. Nesta visão, o céu é uma invenção para lidar com o medo humano da extinção pela morte, e a religião é simplesmente um mecanismo de fuga psicológica para que não tenhamos que enfrentar a vida como ela é. Em seu livro best-seller 'God: A Brief History of the Greatest One', o psiquiatra alemão Manfred Lütz aponta que a explicação Freudiana para a crença em Deus funciona muito bem - apenas se Deus não existir. No entanto, ele continua, pela mesma prova, se Deus existe, então exatamente o mesmo argumento Freudiano irá mostrar-lhe que é o ateísmo que é uma ilusão reconfortante, a fuga do enfrentamento da realidade, a projeção de um desejo de não ter que encontrar a Deus um dia e prestar-lhe contas da sua vida. Por exemplo, o polonês ganhador de prêmio Nobel Czeslaw Milosz, que tinha razões para saber, escreveu: 'Um verdadeiro ópio do povo é uma crença na nulidade depois da morte - o enorme conforto do pensamento que por nossas traições, ganância, covardia, assasinatos, nós não vamos ser julgados'. Portanto, se Deus existe, o ateísmo pode ser visto como um mecanismo de fuga psicológica para evitar assumir a responsabilidade definitiva por sua própria vida."
"Fé, portanto, é essencial para a ciência. Na verdade, mesmo após todos os seus sucessos, se a pesquisa científica ainda vale a pena, cientistas têm que crer na inteligibilidade racional do universo como seu artigo fundamental de fé ou pressuposto básico. Todos os cientistas são pessoas de fé, no sentido de que eles acreditam que o universo é acessível à mente humana. E, como meu professor de mecânica quântica em Cambridge, Sir John Polkinghorne, aponta: 'a física é incapaz de explicar sua fé na inteligibilidade matemática do universo' pela simples razão que você não pode começar a fazer física sem acreditar nesta inteligibilidade."
"A ironia da posição dos ateístas fica logo aparente, a medida que alguém pergunta sobre a origem da faculdade humana da razão. Ateístas afirmam que a força motriz da evolução, que eventualmente produziu nossas faculdades cognitivas humanas - incluindo a razão - não foi primariamente embasada na verdade, mas na sobrevivência. E nós todos sabemos o que geralmente acontece com a verdade, quando empreendimentos individuais ou comerciais, ou nações, motivadas pelo que Dawkins chama de 'gene egoísta', se sentem ameaçadas e lutam por sobrevivência... Depois de tudo, como o químico J.B.S. Haldane destacou, a muito tempo atrás, que se os pensamento em minha mente são apenas o movimento de átomos em meu cérebro - um mecanismo que surgiu por processos não guiados e não inteligentes, porque eu deveria acreditar em qualquer coisa que eles me dizem - incluindo o fato de que eles são feitos de átomos?"
"O ateu John Gray enuncia as implicações desta visão: 'O humanismo moderno é a fé de que, pela ciência, a humanidade pode conhecer a verdade e então, ser livre. Mas se a teoria de Darwin da seleção natural é verdade, isto é impossível. A mente humana serve ao sucesso evolutivo, não serve à verdade' [John Gray, 'Straw Dogs', London, Granta Books, 2002, p.26]."
"O filósofo americano Alvin Plantinga resume sua posição desta forma: 'Se Dawkins está certo em que nós somos o produto de processos naturais não guiados e não inteligentes, então ele nos deu um forte motivo para duvidar da confiabilidade das faculdades cognitivas humanas e, portanto, para inevitavelmente duvidar da validade de qualquer crença que elas produzem - incluindo a ciência de Dawkins e o seu ateísmo. Sua biologia e sua fé no naturalismo parecerão estar em guerra entre si, num conflito que não tem nada sequer a ver com Deus'."
"... O eminente filósofo alemão Robert Spaemann declarou que nós nos deparamos, não com a escolha entre Deus e ciência, como os Novos Ateus querem nos fazer pensar, mas com a escolha entre colocar a fé em Deus ou desistir da compreensão do universo. Isto é, se Deus não existe, não pode haver ciência. Spaemann não está sugerindo que os ateus não podem fazer ciência: isto seria uma completa inverdade. Ele está dizendo que, se Deus for eliminado, não há base racional para a ciência. Na verdade, não há base racional para a verdade. A ciência e a verdade seriam deixadas sem garantias."
Introdução:
“… Eu decidi participar da arena pública para adicionar a minha voz àqueles que estão convencidos de que o Novo Ateísmo não é a posição padrão automática para todos os pensadores que têm alta consideração pela ciência. Como eu, há muitos cientistas e outros que pensam que o Novo Ateísmo é um sistema de crenças que, ironicamente, provê um exemplo clássico de fé cega que ele despreza nos outros. Eu gostaria de fazer minhas próprias pequenas contribuições na direção de aumentar a percepção ou o conhecimento público deste fato.”
Capítulo 1: “Deus e a fé são inimigos da razão e da ciência?”
“Na verdade, como Alfred North Whitehead e outros apontaram, há fortes evidências de que a cosmovisão bíblica esteve intimamente envolvida com o desenvolvimento meteórico da ciência nos séculos 16 e 17... Mais recentemente, O professor de Ciência e Religião de Oxford, Peter Harrison, tem defendido um aprofundamento da tese de Whitehead. Ele mostra que não foi somente o teísmo em geral, mas também os princípios particulares da interpretação bíblica usados pelos Reformadores que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da ciência [Peter Harrison, ‘The Bible, Protestantism and the Rise of Science, Cambridge University Press, 1998’].”
“... Como Aristóteles acreditava que tudo que existia além da Lua era perfeito, isto significava que os planetas deveriam se mover em círculos. Foi somente quando Kepler, um cristão, decidiu romper com esta restrição metafísica aristotélica, e permitir que os dados astronômicos do movimento de Marte (já coletados por Tycho Brahe) falassem por si mesmos, que ocorreu a descoberta de que os planetas, na verdade, se moviam em elipses igualmente perfeitas. Nós admiramos Kepler por sua prontidão em seguir as evidências para aonde quer que elas o levassem, ao invés de permitir que restrições metafísicas o restringissem, mesmo que essas restrições representassem o conhecimento estabelecido por séculos.”
“Novamente, foi um teísta, não um ateísta, quem teve a ideia que conduziu ao modelo Big Bang atual sobre a origem do universo, amplamente aceito. Georges Lemaitre (1894-1966), um sacerdote e astrônomo belga, desafiou a teoria de um universo eterno que já existia a séculos, e na qual até mesmo Einstein acreditava em seu tempo (por influência de Aristóteles, mais uma vez). Lemaitre fez uma aplicação brilhante da teoria da relatividade de Einstein para a cosmologia, e em 1927 ele propôs uma precursora da lei de Hubble relacionado ao fato do universo estar se expandindo. Em 1931, ele propôs sua hipótese do ‘átomo primevo’, através da qual era proposto que o universo tinha começado em ‘um dia que não teve ontem’. Como Alexander Friedman, Lemaitre descobriu que o universo precisa estar se expandindo; mas Lemaitre foi além de Friedman, argumentando que um evento do tipo ‘criação’ deve ter ocorrido. De maneira interessante, Einstein suspeitou disto, porque ele achava que era muito proveniente da doutrina cristã da criação. No entanto, foi o Sir Arthur Eddington (1882-1944), que tinha ensinado Lemaitre em Cambridge, que considerou seu trabalho de 1927 como uma 'solução brilhante' para um notável problema em cosmologia. Todavia, a ideia de uma criação era demais para Eddington: 'Filosoficamente, a noção de um começo para a presente ordem da Natureza é repugnante... Eu deveria encontrar uma genuína brecha' [Sir Arthur Eddington, 'The End of the World: From the Standpoint of Mathematical Physics', Nature, 127, 1931, p.450]. Muito tempo depois - na década de 1960 - outro cientista bastante conhecido, Sir John Maddox, então editor da Nature, respondeu igualmente de maneira negativa à descoberta de evidências adicionais que suportavam a teoria Big Bang. Para ele, a ideia de um começo era 'completamente inaceitável', uma vez que implicava em uma 'origem definitiva para o nosso mundo', e fornecia aos que acreditavam na doutrina bíblica da criação uma 'ampla justificativa' para as suas crenças. É irônico que no século 16 algumas pessoas resistiram ao avanço da ciência porque parecia ameaçar a crença em Deus; enquanto no século 20, os modelos científicos para um começo sofreram resistência porque eles poderiam aumentar a plausibilidade da fé em Deus.”
"... Maddox foi hostil à noção de um começo precisamente por causa de modelo criacionista de Gênesis, que claramente implicava em tal começo, e ele não deu as boas-vindas científicas a este modelo. No entanto, seus protestos tiveram que dar passagem quando confrontados com a evidência. A descoberta do deslocamento para o vermelho ('red-shift') galáctico e o eco cósmico da criação, a radiação cósmica de fundo no microondas, confirmaram a previsão óbvia implícita do relato bíblico - que houve um começo para o espaço-tempo."
“... A ironia é que exatamente o mesmo modelo Big Bang do universo, que confirma o ensinamento bíblico de que houve um começo, está sendo usado agora para banir a Deus, por um dos mais brilhantes físicos teóricos envolvidos no desenvolvimento da teoria – Stephen Hawking.”
"Por causa do inadequado conceito de Hawking sobre Deus e sobre filosofia, ele tropeça em uma série de erros ao nos fazer escolher entre Deus e as leis da física. Aqui ele confunde duas coisas muito diferentes: lei física e agência pessoal. A escolha que ele nos convida a fazer é entre alternativas falsas. Este é um exemplo clássico de um erro de categoria. Ele, querendo nos fazer escolher entre a física e Deus, é tão absurdo quanto fazer alguém escolher entre as leis da física ou o engenheiro aeronáutico Sir Frank Whittle, no intuito de explicar um motor a jato. Este erro não foi cometido pelo antecessor da cadeira de Hawking em Cambridge, Sir Isaac Newton, quando ele descobriu a lei da gravitação. Ele não disse: 'Agora que eu tenho a lei da gravidade, eu não preciso de Deus'. Na verdade, o que ele fez foi escrever 'Principia Mathematica', o mais famoso livro na história da ciência, expressando a esperança de que ele iria 'persuadir o homem pensante' a crer em Deus."
"Se Hawking não tivesse desconsiderado tanto a filosofia, ele poderia ter se deparado com a declaração de Wittgenstein que a 'decepção do modernismo' é a ideia de que as leis da natureza explicam o mundo para nós, quando tudo o que elas fazem é descrever regularidades estruturais. Richard Feynman, premiado com o prêmio Nobel em física, levou o assunto adiante: 'O fato de que há regras em tudo que deve ser verificado é um tipo de milagre; que é possível encontrar uma regra, como a lei do inverso quadrado na gravitação, é uma espécie de milagre. Isto não é completamente compreendido, mas conduz à possibilidade da predição - isto significa que lhe diz o que você deveria esperar que acontecesse em um experimento que você ainda não realizou' [Richard Feynman, 'The Meaning of it all', London, Penguin, 2007, p.23]."
"Allan Sandage, mundialmente conhecido como o pai da astronomia moderna (descobridor dos quasares e ganhador do prêmio Crafoord, o equivalente em astronomia ao Nobel), não tem dúvida na sua resposta: 'Eu considero bastante improvável que tal ordem seja proveniente do caos. Tem que haver algum princípio organizador. Deus é um mistério para mim, mas é a explicação para o milagre da existência - porque existe alguma coisa ao invés do nada' [Allan Sandage, New Your Times, 12 March 1991, p. B9]."
"Para os Novos Ateus, então, Deus é a realização de um desejo, a figura de um pai fictício projetada no céu da nossa imaginação e criada pelo nosso desejo de conforto e segurança. Nesta visão, o céu é uma invenção para lidar com o medo humano da extinção pela morte, e a religião é simplesmente um mecanismo de fuga psicológica para que não tenhamos que enfrentar a vida como ela é. Em seu livro best-seller 'God: A Brief History of the Greatest One', o psiquiatra alemão Manfred Lütz aponta que a explicação Freudiana para a crença em Deus funciona muito bem - apenas se Deus não existir. No entanto, ele continua, pela mesma prova, se Deus existe, então exatamente o mesmo argumento Freudiano irá mostrar-lhe que é o ateísmo que é uma ilusão reconfortante, a fuga do enfrentamento da realidade, a projeção de um desejo de não ter que encontrar a Deus um dia e prestar-lhe contas da sua vida. Por exemplo, o polonês ganhador de prêmio Nobel Czeslaw Milosz, que tinha razões para saber, escreveu: 'Um verdadeiro ópio do povo é uma crença na nulidade depois da morte - o enorme conforto do pensamento que por nossas traições, ganância, covardia, assasinatos, nós não vamos ser julgados'. Portanto, se Deus existe, o ateísmo pode ser visto como um mecanismo de fuga psicológica para evitar assumir a responsabilidade definitiva por sua própria vida."
"Fé, portanto, é essencial para a ciência. Na verdade, mesmo após todos os seus sucessos, se a pesquisa científica ainda vale a pena, cientistas têm que crer na inteligibilidade racional do universo como seu artigo fundamental de fé ou pressuposto básico. Todos os cientistas são pessoas de fé, no sentido de que eles acreditam que o universo é acessível à mente humana. E, como meu professor de mecânica quântica em Cambridge, Sir John Polkinghorne, aponta: 'a física é incapaz de explicar sua fé na inteligibilidade matemática do universo' pela simples razão que você não pode começar a fazer física sem acreditar nesta inteligibilidade."
"A ironia da posição dos ateístas fica logo aparente, a medida que alguém pergunta sobre a origem da faculdade humana da razão. Ateístas afirmam que a força motriz da evolução, que eventualmente produziu nossas faculdades cognitivas humanas - incluindo a razão - não foi primariamente embasada na verdade, mas na sobrevivência. E nós todos sabemos o que geralmente acontece com a verdade, quando empreendimentos individuais ou comerciais, ou nações, motivadas pelo que Dawkins chama de 'gene egoísta', se sentem ameaçadas e lutam por sobrevivência... Depois de tudo, como o químico J.B.S. Haldane destacou, a muito tempo atrás, que se os pensamento em minha mente são apenas o movimento de átomos em meu cérebro - um mecanismo que surgiu por processos não guiados e não inteligentes, porque eu deveria acreditar em qualquer coisa que eles me dizem - incluindo o fato de que eles são feitos de átomos?"
"O ateu John Gray enuncia as implicações desta visão: 'O humanismo moderno é a fé de que, pela ciência, a humanidade pode conhecer a verdade e então, ser livre. Mas se a teoria de Darwin da seleção natural é verdade, isto é impossível. A mente humana serve ao sucesso evolutivo, não serve à verdade' [John Gray, 'Straw Dogs', London, Granta Books, 2002, p.26]."
"O filósofo americano Alvin Plantinga resume sua posição desta forma: 'Se Dawkins está certo em que nós somos o produto de processos naturais não guiados e não inteligentes, então ele nos deu um forte motivo para duvidar da confiabilidade das faculdades cognitivas humanas e, portanto, para inevitavelmente duvidar da validade de qualquer crença que elas produzem - incluindo a ciência de Dawkins e o seu ateísmo. Sua biologia e sua fé no naturalismo parecerão estar em guerra entre si, num conflito que não tem nada sequer a ver com Deus'."
"... O eminente filósofo alemão Robert Spaemann declarou que nós nos deparamos, não com a escolha entre Deus e ciência, como os Novos Ateus querem nos fazer pensar, mas com a escolha entre colocar a fé em Deus ou desistir da compreensão do universo. Isto é, se Deus não existe, não pode haver ciência. Spaemann não está sugerindo que os ateus não podem fazer ciência: isto seria uma completa inverdade. Ele está dizendo que, se Deus for eliminado, não há base racional para a ciência. Na verdade, não há base racional para a verdade. A ciência e a verdade seriam deixadas sem garantias."