“... Logo, a menos que quisermos que a fé trema e vacile, é preciso que a apoiemos na promessa de salvação que o Senhor nos oferece de antemão e por sua liberalidade, e mais em consideração à nossa miséria que à nossa dignidade.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 29)
“... Por conseguinte, devemos por nossos olhos em Cristo sempre que alguma promessa nos é oferecida, e não é absurdo o que Paulo ensina: que, quaisquer que sejam as promessas de Deus, em Cristo se confirmam e se cumprem (Rm 15:8).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 32)
“... A Palavra de Deus é semelhante ao sol: ilumina a todos a quem é pregada, mas não produz fruto entre os cegos. E, nessa parte, todos nós somos, por natureza, cegos; por isso não pode penetrar em nossa mente, a não ser pelo acesso que lhe dá o Espírito, esse mestre interior, com sua iluminação.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 34)
“... Agostinho, fiel intérprete, exclama: ‘... para que o Salvador nos ensinasse que o próprio ato de crer é um dom, e não mérito, diz “Ninguém vem a mim se o Pai não o atrai, e se não lhe for concedido por meu Pai” (João 6:44). É algo surpreendente que dois ouçam uma coisa, e um se rebaixe, e o outro se eleve. Aquele que se rebaixa, que o impute a si mesmo; aquele que se eleva, que não o impute a si mesmo’ [Agostinho, Sermo 131, 2s. MSL 38, 730]. E, em outro lugar: ‘Por que razão se dá a um e não a outro? Não me envergonho de dizê-lo: é um profundo mistério da cruz. Tudo o que podemos procede de um segredo desconhecido dos julgamentos de Deus, a que nem podemos perscrutar. O que posso, vejo-o; de onde posso, não o vejo, salvo que vejo que é de Deus. Mas por que este e não aquele? Isto é demasiado para mim, é um abismo, um mistério da cruz. Posso gritar de admiração, mas não o posso demonstrar com argumentos num debate’ [Agostinho, Sermo 165, 5 MSL 38, 905].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 35)
“Resta que aquilo que o entendimento recebeu seja então transferido para o coração. Pois a Palavra de Deus não é admitida pela fé se girar no mais alto do cérebro, mas apenas quando finca raízes no fundo do coração, a fim de ser uma fortaleza inexpugnável, para conter e repelir todos os avanços das tentações. E se é verdade que a verdadeira inteligência da mente é a iluminação do Espírito, seu poder se mostra de forma muito mais evidente em tal confirmação do coração, na medida em que, com efeito, a desconfiança do coração é maior do que a cegueira da mente, e é muito mais difícil que o coração seja instruído pela segurança do que a mente imbuída pela reflexão. Por isso o Espírito exerce a função de selo, para selar em nosso coração aquelas mesmas promessas cuja certeza imprimiu antes em nossa mente, e ocupa o lugar do penhor, para confirmá-las e ratificá-las.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 36)
“No entanto, não me esqueci do que disse antes, e cuja recordação a experiência renova continuamente, a saber: que a fé é impelida por várias dúvidas, de tal maneira que a mente dos homens pios raramente repousa, ou pelo menos não desfruta sempre de um estado de tranquilidade... Só mesmo essa segurança alimenta e guarda a fé quando nos persuadimos do que diz o salmo: ‘Deus é nossas proteção, nosso auxílio nas tribulações. Não temeremos, portanto, ainda que a terra trema e os montes se transfiram para o coração do mar’ (Salmos 46:2). E, em outro lugar, celebra também este suavíssimo repouso: ‘Eu me deitei e dormi, e despertei, porque o Senhor me sustentava’ (Salmos 3:5). Não porque Davi tenha sido sempre inclinado, com igual disposição, à alegre hilaridade; mas, como experimentava a graça de Deus conforma a medida da fé, vangloria-se de desprezar intrepidamente qualquer coisa que pudesse inquietar a paz de seu espírito. Por isso a Escritura, quando quer nos exortar à fé, ordena que nos aquietemos. Assim em Isaías: ‘Em esperança e em silêncio será vossas fortaleza’ (Isaías 30:15). E no salmo: ‘Guarda silêncio perante o Senhor, e espera-o’ (Salmos 37:7). A esses passos corresponde aquele do apóstolo aos hebreus: ‘É-vos necessária a paciência’ (Hebreus 10:36).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 37)
“... Porque os mistérios de Deus, como são os pertinentes à nossa salvação, não podem ser contemplados em si, nem em sua natureza (como se diz), mas os vemos apenas na Palavra de Deus, de cuja verdade devemos estar tão persuadidos que temos de considerar realizado e cumprido tudo quanto Ele nos diz. Como, pois, elevar-se-á nosso espírito para provar o gosto da bondade de Deus, sem que, ao mesmo tempo, todo ele se acenda do desejo de amar a Deus? Pois essa abundância de suavidade que Deus traz escondida para os que o temem não pode ser conhecida verdadeiramente sem que cause profunda emoção; e por completo arrebata e traz a si aquele a quem uma vez afetou.”
“... Como Bernardo está mais certo do que eles! ‘O testemunho da consciência’, diz, ‘ao qual Paulo chama a glória dos fiéis (2 Coríntios 1:12), consiste, creio, em três pontos. Antes de mais nada, é necessário que creias que tu não podes obter a remissão dos pecados a não ser pela indulgência de Deus; depois, que não podes em absoluto ter nada de boa obra, a não ser que Ele te haja concedido isso; e, por último, que tu não podes merecer a vida eterna com nenhuma boa obra, a não ser que ela também te seja dada gratuitamente’ [Bernardo de Claraval, In festo annuntiationis beatae Virginis sermo 1, 1 MSL 183, 383 AB].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 41)
“... De maneira que, em suma, a esperança não é outra coisa que não a expectativa daquelas coisas que a fé acreditou verdadeiramente prometidas por Deus... A fé é o fundamento sobre o qual a esperança repousa; a esperança alimenta e sustenta a fé.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 42)
“... Nós, pelo contrário, quando vemos que os oráculos de Deus ordenam que os pecadores recebam a esperança da salvação, presumimos de bom grado sua verdade, tanto que, confiados só em sua misericórdia, e descartada a confiança nas obras, atrevemo-nos a bem esperar. Não nos enganará aquele que disse: ‘Faça-se conforme a vossa fé’ (Mateus 9:29).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 43)
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 29)
“... Por conseguinte, devemos por nossos olhos em Cristo sempre que alguma promessa nos é oferecida, e não é absurdo o que Paulo ensina: que, quaisquer que sejam as promessas de Deus, em Cristo se confirmam e se cumprem (Rm 15:8).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 32)
“... A Palavra de Deus é semelhante ao sol: ilumina a todos a quem é pregada, mas não produz fruto entre os cegos. E, nessa parte, todos nós somos, por natureza, cegos; por isso não pode penetrar em nossa mente, a não ser pelo acesso que lhe dá o Espírito, esse mestre interior, com sua iluminação.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 34)
“... Agostinho, fiel intérprete, exclama: ‘... para que o Salvador nos ensinasse que o próprio ato de crer é um dom, e não mérito, diz “Ninguém vem a mim se o Pai não o atrai, e se não lhe for concedido por meu Pai” (João 6:44). É algo surpreendente que dois ouçam uma coisa, e um se rebaixe, e o outro se eleve. Aquele que se rebaixa, que o impute a si mesmo; aquele que se eleva, que não o impute a si mesmo’ [Agostinho, Sermo 131, 2s. MSL 38, 730]. E, em outro lugar: ‘Por que razão se dá a um e não a outro? Não me envergonho de dizê-lo: é um profundo mistério da cruz. Tudo o que podemos procede de um segredo desconhecido dos julgamentos de Deus, a que nem podemos perscrutar. O que posso, vejo-o; de onde posso, não o vejo, salvo que vejo que é de Deus. Mas por que este e não aquele? Isto é demasiado para mim, é um abismo, um mistério da cruz. Posso gritar de admiração, mas não o posso demonstrar com argumentos num debate’ [Agostinho, Sermo 165, 5 MSL 38, 905].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 35)
“Resta que aquilo que o entendimento recebeu seja então transferido para o coração. Pois a Palavra de Deus não é admitida pela fé se girar no mais alto do cérebro, mas apenas quando finca raízes no fundo do coração, a fim de ser uma fortaleza inexpugnável, para conter e repelir todos os avanços das tentações. E se é verdade que a verdadeira inteligência da mente é a iluminação do Espírito, seu poder se mostra de forma muito mais evidente em tal confirmação do coração, na medida em que, com efeito, a desconfiança do coração é maior do que a cegueira da mente, e é muito mais difícil que o coração seja instruído pela segurança do que a mente imbuída pela reflexão. Por isso o Espírito exerce a função de selo, para selar em nosso coração aquelas mesmas promessas cuja certeza imprimiu antes em nossa mente, e ocupa o lugar do penhor, para confirmá-las e ratificá-las.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 36)
“No entanto, não me esqueci do que disse antes, e cuja recordação a experiência renova continuamente, a saber: que a fé é impelida por várias dúvidas, de tal maneira que a mente dos homens pios raramente repousa, ou pelo menos não desfruta sempre de um estado de tranquilidade... Só mesmo essa segurança alimenta e guarda a fé quando nos persuadimos do que diz o salmo: ‘Deus é nossas proteção, nosso auxílio nas tribulações. Não temeremos, portanto, ainda que a terra trema e os montes se transfiram para o coração do mar’ (Salmos 46:2). E, em outro lugar, celebra também este suavíssimo repouso: ‘Eu me deitei e dormi, e despertei, porque o Senhor me sustentava’ (Salmos 3:5). Não porque Davi tenha sido sempre inclinado, com igual disposição, à alegre hilaridade; mas, como experimentava a graça de Deus conforma a medida da fé, vangloria-se de desprezar intrepidamente qualquer coisa que pudesse inquietar a paz de seu espírito. Por isso a Escritura, quando quer nos exortar à fé, ordena que nos aquietemos. Assim em Isaías: ‘Em esperança e em silêncio será vossas fortaleza’ (Isaías 30:15). E no salmo: ‘Guarda silêncio perante o Senhor, e espera-o’ (Salmos 37:7). A esses passos corresponde aquele do apóstolo aos hebreus: ‘É-vos necessária a paciência’ (Hebreus 10:36).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 37)
“... Porque os mistérios de Deus, como são os pertinentes à nossa salvação, não podem ser contemplados em si, nem em sua natureza (como se diz), mas os vemos apenas na Palavra de Deus, de cuja verdade devemos estar tão persuadidos que temos de considerar realizado e cumprido tudo quanto Ele nos diz. Como, pois, elevar-se-á nosso espírito para provar o gosto da bondade de Deus, sem que, ao mesmo tempo, todo ele se acenda do desejo de amar a Deus? Pois essa abundância de suavidade que Deus traz escondida para os que o temem não pode ser conhecida verdadeiramente sem que cause profunda emoção; e por completo arrebata e traz a si aquele a quem uma vez afetou.”
“... Como Bernardo está mais certo do que eles! ‘O testemunho da consciência’, diz, ‘ao qual Paulo chama a glória dos fiéis (2 Coríntios 1:12), consiste, creio, em três pontos. Antes de mais nada, é necessário que creias que tu não podes obter a remissão dos pecados a não ser pela indulgência de Deus; depois, que não podes em absoluto ter nada de boa obra, a não ser que Ele te haja concedido isso; e, por último, que tu não podes merecer a vida eterna com nenhuma boa obra, a não ser que ela também te seja dada gratuitamente’ [Bernardo de Claraval, In festo annuntiationis beatae Virginis sermo 1, 1 MSL 183, 383 AB].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 41)
“... De maneira que, em suma, a esperança não é outra coisa que não a expectativa daquelas coisas que a fé acreditou verdadeiramente prometidas por Deus... A fé é o fundamento sobre o qual a esperança repousa; a esperança alimenta e sustenta a fé.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 42)
“... Nós, pelo contrário, quando vemos que os oráculos de Deus ordenam que os pecadores recebam a esperança da salvação, presumimos de bom grado sua verdade, tanto que, confiados só em sua misericórdia, e descartada a confiança nas obras, atrevemo-nos a bem esperar. Não nos enganará aquele que disse: ‘Faça-se conforme a vossa fé’ (Mateus 9:29).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo II, parágrafo 43)