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22 maio 2023

EB5: "Ouve, ó Israel" (ensino e comunicação)

“Ouve, ó Israel” (Shema): a importância do ensino e da comunicação na família

* Introdução sobre DEUTERONÔMIO:

[Deuteronomion (na Septuaginta): “Repetição da lei”]
Deuteronômio, que significa “segunda lei”, é uma recontagem {repetição didática no ensino persistente}, feita por Moisés, dos ensinamentos e eventos de Êxodo, Levítico e Números. Ele inclui uma extensa revisão dos Dez Mandamentos (4:44–5:33), e o discurso de despedida de Moisés para uma nova geração de israelitas, enquanto eles estão prontos para tomar posse da Terra Prometida. Moisés os relembra da fidelidade e do amor de Deus, mas também da ira de Deus sobre a geração anterior de israelitas, por causa de sua rebelião. Repetidamente, ele cobra de Israel que guarde a Lei. Deuteronômio é um chamado solene para amar e obedecer ao único Deus verdadeiro. Há bênçãos para a fidelidade, e maldições para a infidelidade. O livro termina com a escolha de Josué como o novo líder de Israel e a morte de Moisés. [ESV - English Standard Version]

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“[1] Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir; [2] para que temas ao Senhor, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. [3] Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o Senhor, Deus de teus pais. [4] Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. [5] Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. [6] Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; [7] tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. [8] Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. [9] E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.” (Deuteronômio 6:1-9)

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* Introdução com perguntas retóricas:

- Como está a comunicação em sua casa? Como está a comunicação com sua esposa e com seus filhos?
- Como está o ensino em sua casa? Como você está ensinando sua esposa e seus filhos?
- Pai de filhos homens, você está treinando seus filhos homens para serem homens melhores do que você? Para serem mais parecidos com Cristo, do que cada um de nós? Ou está treinando apenas para o futebol, academia ou vaquejada?
- Como está sua comunicação com Deus? Você tem ouvido a voz dele diariamente? Você tem ensinado sua família a fazer isto? Você tem falado “Ouve, ó família”? Com que “tom”?
- Quantas “vozes ativas” existem hoje no seu coração? A quem você está ouvindo ultimamente? Seria algum “influenciador digital” famoso? Ou alguma “autoridade midiática”?


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* O que dizem os comentaristas bíblicos:

- “Ouve, ó Israel”. Muitas vezes chamado de Shema (hebraico), que significa “ouvir”. Essa forma solene de se dirigir a Israel é encontrada apenas em Deuteronômio (5:1; 6:3-4; 9:1-3). É relembrada a importante aliança no Monte Sinai (Horebe).

- O Senhor Jesus Cristo, quando questionado sobre qual era o maior mandamento, citou esta passagem:
Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é:
  Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!
   Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força.
” (Marcos 12:28-30)


## O Shema é o princípio fundamental dos Dez Mandamentos, e está dividido entre 2 declarações:

##1) declaração que afirma a natureza de Deus (“nosso Deus, é o único SENHOR”, v.4). É uma grande confissão da fé monoteísta de Israel.

##2) declaração que demanda uma resposta a esse entendimento (“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus”, v.5). Este imperativo (ordem) não é uma exigência para fabricar emoções falsas, mas para cultivar uma honesta e verdadeira disposição interna.

- #6:5 - de todo o teu coração, de toda a tua alma. Os termos hebraicos levav (muitas vezes traduzido como “coração”) e nephesh (muitas vezes traduzido como “alma”) não se referem a componentes separados. Em vez disso, eles se sobrepõem em significado, transmitindo o conceito de disposições (vontades), emoções e intelecto - “o homem interior” (vida).

- #6:5 - de toda a tua força. O hebraico expressa “totalidade”. O NT às vezes traduz como “de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:30). Esta é a linguagem da devoção! Deus exige não mera obediência externa aos Seus mandamentos, mas o amor sincero e o compromisso da pessoa/indivíduo, como um todo. Exemplo: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Provérbios 23:26a).

- #6:6 - Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração. São os Dez Mandamentos, literalmente conhecidos (no hebraico) como as “dez palavras” (ver Êxodo 34:28). O Shema é mais do que uma mera abstração. Primeiramente, deve estar profundamente arraigado no coração (isto é, na “mente”; v.5), e depois, colocado em ação.

- #6:7 - tu as inculcarás [shanan: afiar, aguçar, ensinar incisivamente] a teus filhos. O velho ditado, “a repetição é a alma do aprendizado”, atesta este versículo. Os pais devem repetir as palavras do Shema, e o restante da instrução de Deus para seus filhos. Deve haver uma forte intencionalidade, que resulta em instrução constante, por palavra e ação, sobre a devoção a Deus. A ordem de ensinar/inculcar/aguçar pressupõe que quem está ensinando conhece o conteúdo, o que, por sua vez, pressupõe esforço concentrado e estudo! Por uma figura de linguagem (merisma), Moisés descreveu o incessante processo de educação, falando em termos de opostos. Sentar e andar sugere estar em repouso e ser ativo, ou seja, em qualquer situação. Deitar e levantar naturalmente lembram a noite e o dia, ou seja, o tempo todo. O tipo de amor (devoção) que Deus requer é aquele que é em tempo integral, e sob todas as circunstâncias. As crianças devem, portanto, ser ensinadas a amá-lo da mesma maneira!

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* Aplicações:

[#I] Onde encontramos um “eco” desta verdade (Deuteronômio 6:7) no NT?

E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6:4).

1*pais (pater): progenitor ou responsável masculino (pai).

2*provoqueis (parorgizo): incitar à ira, provocar, zangar.

3*criai (ektrepho): educar, nutrir, alimentar até tornar-se maduro.

4*disciplina (paideia): treinar, educar (cultivar a mente), corrigir.

5*admoestação (nouthesia): exortação, advertência (racional).

[2*provocar]: Na sociedade greco-romana do 1° séc., o pai tinha total autoridade dentro da família para administrar a disciplina. O apóstolo Paulo os aconselha a evitar exercer essa autoridade de tal maneira a fazer com que seus filhos guardem ressentimento. Ele está defendendo que os pais tratem seus filhos com gentileza (como Cristo faria), o que foi muito inesperado para a sociedade greco-romana.

[3*criar]: Aos pais, são confiadas as mentes, sentimentos e corpos dos ternos portadores (tenros/crianças/jovens) da imagem divina. Consequentemente, os filhos não existem por causa dos pais, mas são os pais é que existem por causa dos filhos, ou seja, para ajudar os filhos a assumirem sua própria personalidade diante de Deus.

[#II] Embora a ordem “atarás” (Deuteronômio 6:8) seja provavelmente uma linguagem figurativa, algumas práticas foram adotadas literalmente e permanecem, até os dias de hoje, como parte do costume judeu conservador/ortodoxo (filactérios, solidéu/quipá/chapéu de couro).

Já pensou em se arrepender de estar tão desatento e desinteressado pela Palavra de Deus? No lugar disto, devemos ouvir mais a voz do nosso “Bom Pastor”!
“Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (João 10:14,27).

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CHAPÉU DE COURO

Inspirado no quipá, é um utensílio de uso exclusivo no nordeste brasileiro. É conhecido como o “capacete do vaqueiro”, que enfrenta a caatinga, protegido dos espinhos (“[a terra] produzirá também cardos e abrolhos, Gênesis 3:18). É adornado com estrelas de seis pontas [estrela de Davi – bandeira de Israel], e também com tiras de couro nas laterais, que representam o peiot (“costeleta”, em hebraico) – os cachos longos de cabelos do judeu ortodoxo – baseado em: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem danificareis as extremidades da barba” (Levítico 19:27).

 Solidéu: do latim soli Deo tollitur, “só por Deus é tirado [da cabeça]”

“[13] Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. [14] Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça [guarda-peito/peitoral]. [15] Calçai os pés [alpargata/alpercata] com a preparação do evangelho da paz; [16] embraçando sempre o escudo da fé [gibão de couro], com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.[17] Tomai também o capacete da salvação [chapéu de couro] e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; [18] com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.” (Efésios 6:13-18)


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TRAJE DO VAQUEIRO

 “O seu aspecto recorda vagamente, à primeira vista, o de guerreiro antigo exausto da refrega. Às vezes são uma armadura. Envolto no gibão de couro curtido, de bode ou de vaqueta; apertado no colete também de couro; calçando as perneiras, de couro curtido ainda, muito justas, cosidas às pernas e subindo até as virilhas, articuladas em joelheiras de solas; e resguardados os pés e as mãos pelas luvas e guarda-pés de pele de veado – é como a forma grosseira de um campeador medieval desgarrado em nosso tempo. Esta armadura, porém, de um vermelho pardo [cor de sangue], como se fosse de bronze flexível, não em cintilações, não rebrilha ferida pelo sol. É tosca e poenta. Envolve ao combatente de uma batalha sem vitórias… A sela da montaria, feita por ele mesmo, imita o lombilho rio-grandense, mas é mais curta e cavada, sem os apetrechos luxuosos daquele. São acessórios uma manta de pele de bode, um couro resistente, cobrindo as ancas do animal, peitorais que lhe resguardam o peito, e as joelheiras apresilhadas às juntas. Este equipamento do homem e do cavalo talha-se à feição do meio. Vestidos doutro modo não romperiam, incólumes, as caatingas e os pedregais cortantes…” (“Os Sertões”, Euclides da Cunha, 1902)