"Em terceiro lugar, 'Deus é amor' (1 Jo 4:8). Não é simplesmente que
Deus 'ama', mas que Ele é o próprio Amor. O amor não é meramente um de
Seus atributos, mas Sua própria natureza. Há muitos hoje que falam sobre
o amor de Deus, que são totalmente estranhos ao Deus de amor. O amor
divino é comumente considerado como uma espécie de fraqueza amável, uma
espécie de indulgência de boa índole; é reduzido a um mero sentimento
doentio, modelado segundo a emoção humana. Agora, a verdade é que sobre
isso, como em tudo mais, nossos pensamentos precisam ser formados e
regulados pelo que é revelado nas Sagradas Escrituras. A necessidade
urgente disso é aparente não apenas pela ignorância que geralmente
prevalece, mas também pelo baixo estado de espiritualidade que agora é
tão tristemente evidente em todos os lugares entre os cristãos
professos. Quão pouco amor verdadeiro existe por Deus. Uma das
principais razões para isso é porque nossos corações estão pouco
ocupados com Seu maravilhoso amor por Seu povo. Quanto melhor estivermos
familiarizados com Seu amor, seu caráter, plenitude, bem-aventurança,
mais nossos corações serão atraídos pelo amor a Ele."
O caráter e a bem-aventurança do amor de Deus:
"O amor de Deus não é
influenciado. Com isso queremos dizer que não havia nada nos objetos de
Seu amor para chamá-lo ao exercício, nada na criatura para atraí-lo ou
induzi-lo. O amor que uma criatura tem por outra é devido a algo no
objeto; mas o amor de Deus é gratuito, espontâneo, sem causa. A única
razão pela qual Deus ama alguém é encontrada em Sua própria vontade
soberana: 'Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque
fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos
os povos, mas porque o SENHOR vos amava' (Dt 7:7,8). Deus amou Seu povo
desde a eternidade e, portanto, nada sobre a criatura pode ser a causa
do que é encontrado em Deus desde a eternidade. Ele ama de Si mesmo: 'conforme a sua própria determinação' (2 Tm 1:9). 'Nós o amamos porque
ele nos amou primeiro' (1 Jo 4:19). Deus não nos amou porque nós O
amamos, mas Ele nos amou antes que tivéssemos uma partícula de amor por
Ele. Se Deus nos amasse em troca do nosso, então não seria espontâneo de
Sua parte; mas porque Ele nos amou quando não tínhamos amor, fica claro
que Seu amor não foi influenciado. É altamente importante, se Deus deve
ser honrado, que sejamos bastante claros sobre esta preciosa verdade. O
amor de Deus por mim e por cada um dos 'Seus' era totalmente
indiferente a qualquer coisa em nós. O que havia em mim para atrair o
coração de Deus? Absolutamente nada. Mas, ao contrário, havia tudo para
repeli-lo, tudo calculado para fazê-lo me odiar, pois eu era um pecador,
depravado, uma massa de corrupção, com 'nada de bom' em mim. 'O que
havia em mim que pudesse merecer estima, ou dar prazer ao Criador? Foi
somente porque pareceu bom aos Teus olhos, Pai, eu sempre devo cantar,
porque pareceu bom aos Teus olhos'."
" 'Em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de
Jesus Cristo, segundo' - o quê? Alguma excelência que Ele previu neles?
Não! O que então? 'Segundo o beneplácito de sua vontade' (Ef 1:4,5).
Esse amor é infinito. Tudo sobre Deus é infinito. Sua essência preenche o
céu e a terra. Sua sabedoria é ilimitada, pois Ele conhece tudo do
passado, presente e futuro. Seu poder é ilimitado, pois não há nada
difícil demais para Ele. Portanto, Seu amor é ilimitado. Há uma
profundidade nisso que ninguém pode sondar; há uma altura que ninguém
pode escalar; há um comprimento e uma largura que desafia a medição, por
qualquer padrão da criatura. Isso é belamente sugerido em Efésios 2:4: 'Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que
nos amou'; a palavra 'grande' nesse texto é paralela à palavra 'tal' em
João 3:16: 'Deus amou ao mundo de tal maneira'. Ela nos diz que o amor
de Deus é tão transcendente que não pode ser estimado. 'Nenhuma língua
pode expressar completamente a infinitude do amor de Deus, ou qualquer
mente pode compreendê-lo. Tal amor 'excede todo entendimento' (Ef 3:19).
As ideias mais extensas que uma mente finita pode formar sobre o amor
divino estão infinitamente abaixo de sua verdadeira natureza. O céu não
está tão acima da terra quanto a bondade de Deus está além das
concepções mais elevadas que somos capazes de formar sobre ela. É um
oceano que se eleva mais alto do que todas as montanhas. É uma fonte da
qual flui todo o bem necessário a todos os que nela se interessam' (John
Brine, 1743)."
"Esse amor é gracioso. O amor e o favor de Deus são inseparáveis. Isso é
claramente destacado em Romanos 8:32-39. O que é esse amor, do qual não
pode haver 'separação', é facilmente percebido pelo desígnio e escopo
do contexto imediato. Esse amor é aquela boa vontade e graça de Deus que
O determinou a dar Seu Filho pelos pecadores. Esse amor foi o poder
impulsivo da encarnação de Cristo: 'Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito' (Jo 3:16). Cristo morreu não para fazer
Deus nos amar, mas porque Ele amou Seu povo. O Calvário é a demonstração
suprema do amor divino. Sempre que você for tentado a duvidar do amor
de Deus, leitor cristão, olhe novamente para o Calvário. Aqui, então, há
motivo abundante para confiança e paciência sob a aflição divina.
Cristo era amado pelo Pai, mas não estava isento da pobreza, desgraça e
perseguição. Ele tinha fome e sede. Não era incompatível com o amor de
Deus por Cristo quando Ele permitia que os homens cuspissem e O
ferissem. Então, que nenhum cristão questione o amor de Deus quando for
submetido a dolorosas aflições e provações. Deus não enriqueceu Cristo
na terra com prosperidade temporal, pois Ele não tinha onde reclinar a
cabeça. Mas Ele lhe deu o Espírito sem medida (Jo 3:34). Aprenda então
que as bênçãos espirituais são os principais dons do amor divino. Quão
abençoado é saber que quando o mundo nos odeia, Deus nos ama!"
(Trechos do livro "Os Atributos de Deus", de A.W. Pink, cap. 16: "O Amor de Deus")