"Propomos envolver o leitor com outra de suas excelências, das quais
todo cristão recebe inúmeras provas. Voltamo-nos para a consideração da
benignidade de Deus porque nosso objetivo é manter a devida proporção no
tratamento das perfeições divinas, pois todos nós estamos aptos a ter
opiniões unilaterais sobre elas. Um equilíbrio deve ser preservado aqui
(como em todos os lugares), como aparece nessas duas declarações dos
atributos divinos: 'Deus é luz' (1 Jo 1:5), 'Deus é amor' (1 Jo 4:8). Os
aspectos mais severos e inspiradores do caráter divino são compensados
pelos mais gentis e cativantes. É para nossa perda irreparável se
insistirmos exclusivamente na soberania e majestade de Deus, ou em Sua
santidade e justiça; precisamos meditar com frequência, embora não
exclusivamente, em Sua bondade e misericórdia. Nada menos que uma visão
completa das perfeições divinas, conforme reveladas nas Sagradas
Escrituras, deve nos satisfazer."
"A primeira vez que esta perfeição divina é mencionada na Palavra é
naquela maravilhosa manifestação da Divindade a Moisés, quando Jeová
proclamou Seu 'Nome', isto é, Ele mesmo se deu a conhecer. 'SENHOR,
SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e
fidelidade' (Ex 34:6), embora com muito mais frequência a palavra
hebraica, chesed, seja traduzida como 'bondade'. Em nossas Bíblias, a
referência inicial, relacionada a Deus, é o Salmo 17:7, onde Davi orou: 'Mostra as maravilhas da tua bondade, ó Salvador dos que à tua destra
buscam refúgio dos que se levantam contra eles'. É maravilhoso que
Alguém tão infinitamente acima de nós, tão inconcebivelmente glorioso,
tão inefavelmente santo, não apenas perceba tais vermes da terra, mas
também coloque Seu coração neles, dê Seu Filho por eles, envie Seu
Espírito para habitar neles e então suporte todas as suas imperfeições e
desobediências para nunca remover Sua benignidade deles."
"Essa benignidade do Senhor nunca é removida de Seus filhos. Em nosso
próprio pensamento, pode até parecer que ela foi removida, mas nunca é.
Visto que o crente está em Cristo, nada pode separá-lo do amor de Deus
(Rm 8:39). Deus se comprometeu solenemente por aliança, e nossos pecados
não podem anulá-lo. Deus jurou que se Seus filhos não guardarem Seus
mandamentos, Ele os punirá 'com vara as suas transgressões e com
açoites, a sua iniquidade'. No entanto, Ele acrescenta: 'Mas jamais
retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade' (Sl
89:31-34). Observe a mudança de número de 'deles' e 'eles' para 'Ele'. A
benignidade de Deus para com Seu povo está centrada em Cristo. Porque
Seu exercício de benignidade é um compromisso de aliança, ele é
repetidamente ligado à Sua 'verdade' (Sl 40:11; 138:2), mostrando que
procede a nós por promessa. Portanto, nunca devemos nos desesperar."
A resposta dos santos:
"Qual deve ser a nossa resposta? Primeiro: 'Sede,
pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor' (Ef
5:1,2). 'Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de
ternos afetos de misericórdia, de bondade' (Cl 3:12). Assim foi com
Davi: 'Pois a tua benignidade, tenho-a perante os olhos e tenho andado
na tua verdade' (Sl 26:3). Ele se deliciava em ponderar sobre isso.
Refrescou sua alma fazê-lo e moldou sua conduta. Quanto mais estivermos
ocupados com a bondade de Deus, mais cuidadosos seremos com nossa
obediência. As restrições do amor e da graça de Deus são mais poderosas
para o regenerado do que os terrores de Sua Lei. 'Como é preciosa, ó
Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à
sombra das tuas asas' (Sl 36:7). Em segundo lugar, o senso dessa
perfeição divina fortalece nossa fé e promove a confiança em Deus.
Terceiro, deve estimular o espírito de adoração. 'Porque a tua graça é
melhor do que a vida; os meus lábios te louvam' (Sl 63:3; 138:2).
Quarto, deve ser nosso abraço celestial quando deprimido. 'Venha, pois, a
tua bondade consolar-me' (Sl 119:76). Foi assim com Cristo em Sua
angústia (Sl 69:17). Quinto, deve ser nosso pedido em oração: 'Vivifica-me, ó SENHOR, segundo a tua bondade' (Sl 119:159). Davi se
debruçou nesse atributo divino para uma nova força e maior vigor. Sexto,
devemos apelar para tal atributo quando caímos no caminho. 'Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade' (Sl 51:1).
Trate-me de acordo com o mais gentil de Teus atributos, faça de meu caso
uma exemplificação de Tua ternura. Sétimo, deve ser uma petição em
nossas devoções noturnas. 'Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça
[benignidade]' (Sl 143:8). Desperte-me com minha alma em sintonia com
isso, deixe meus pensamentos de vigília serem de Tua bondade."
(Trechos do livro "Os Atributos de Deus", de A.W. Pink, cap. 15: "A Bondade de Deus")