Trechos do capítulo 12 - "Continue estudando" (Lingon Duncan) - do livro "Amado Timóteo: uma coletânea de cartas ao pastor", editado por Thomas K. Ascol (versão e-book/kindle):
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
'Falando muito francamente, Timóteo, a maioria dos pastores evangélicos não lê ou estuda muito nestes dias, e a maior parte das igrejas não os encoraja a fazê-lo. Os membros da igreja e até mesmo pastores têm muita dificuldade em compreender quanto tempo é necessário para se preparar uma boa mensagem da Palavra de Deus, e, além disso, eles não conseguem enxergar a importância do pastor estudar outros assuntos além das pregações e devocionais. Há uma forte dose de anti-intelectualismo em nossos círculos de convivência e isto acaba por desencorajar qualquer homem disposto a fazer o trabalho árduo de desenvolver sua mente e expandir seus conhecimentos.'
'Mas exatamente porque o nosso povo está mergulhado num mar de informações triviais em nossos dias, eles precisam de um pastor com o verdadeiro conhecimento, muito discernimento e uma aptidão para ver a verdade. Este conhecimento precisa ser adquirido e estas qualidades cultivadas, porém ambos requerem que você se torne um estudante permanente. Este chamado para o estudo é, sem dúvida, completamente bíblico. A Bíblia enfatiza a importância de perseguir o verdadeiro conhecimento de modo geral aos sábios e de modo específico aos pastores. Provérbios 15.14 diz que "o coração sábio procura o conhecimento, mas a boca dos insensatos se apascenta de estultícia". Provérbios 18.15 reitera este princípio quando diz que "o coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o saber". Provérbios 24.5 diz "Mais poder tem o sábio do que o forte, e o homem de conhecimento, mais do que o robusto"...[ver também Esdras 7.10; Oséias 4.6; Malaquias 2.7]... Mas é nas epístolas pastorais que encontramos algumas das palavras de instrução e exortação mais diretas sobre o estudo ministerial. Paulo pôde dizer para Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Timóteo 2.15). Aqui nós temos uma diretriz apostólica a um jovem ministro para estudar com um empenho e esforço equivalentes ao de um incansável trabalhador braçal. O verdadeiro ministro é um trabalhador (Paulo realmente gosta desta metáfora!). Ele trabalha muito em sua tarefa O verdadeiro ministro deve trabalhar duramente, dedicando-se aos estudos, a fim de conhecer e pregar a verdade corretamente.'
'Além disso, Paulo dá a Timóteo um excelente exemplo de diligência nos estudos, através de suas próprias práticas e prioridades. Pense em seu extraordinário pedido, em 2Timóteo 4.13: "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos". Pense neste pedido. Paulo está a apenas alguns meses da morte. Ele já havia escrito quase todas as cartas do Novo Testamento. Tem em seu passado toda uma vida de ministério. Apesar de tudo isso, o que ele quer fazer? Estudar! O inverno está se aproximando e Paulo pede sua capa, mas, ainda mais importante que isso, ele pede que lhe tragam seus livros e pergaminhos. Embora estivesse quase no fim de sua vida, Paulo almejava continuar aprendendo e crescendo através de leituras espiritual. Ninguém jamais proferiu uma meditação pastoral mais pungente a respeito deste pequeno versículo [2Timóteo 4.13] do que C.H. Spurgeon: "Como eles foram repreendidos pelo apóstolo! Ele foi inspirado, mas, ainda assim, quer livros! Ele esteve pregando por pelo menos trinta anos, mas, ainda assim, quer livros! Ele viu o Senhor, mas, ainda assim, quer livros! Ele teve uma experiência mais ampla que a maioria dos homens, mas, ainda assim, quer livros! Ele foi arrebatado ao terceiro céu, e ouviu coisas que eram proibidas ao homem pronunciar, mas, ainda assim, quer livros! Ele escreveu a maior parte do Novo Testamento, e, ainda assim, quer livros! O apóstolo disse a Timóteo e da mesma forma ele diz a todos os pregadores: ´APLICA-TE À LEITURA´. O homem que nunca lê, jamais será lido; aquele que nunca cita, jamais será citado. Aquele que nunca usa os pensamentos do cérebro de outros homens, prova que ele próprio não tem cérebro. Irmãos, aquilo que é verdade aos ministros também é aplicável a todo o nosso povo. Você precisa ler. Renuncie o máximo possível todo o tipo de literatura superficial, mas estude o máximo possível as sólidas obras teológicas, especialmente os escritores puritanos, e comentários da Bíblia. Estou completamente persuadido de que a melhor forma de você gastar o seu tempo de lazer é lendo ou orando. Assim você será capaz de extrair muitas informações dos livros, as quais depois poderão ser usadas como verdadeiras armas a serviço de seu Senhor e Mestre. Paulo clama: ´Traga os livros´ - junte-se a este clamor. O Paulo aqui retratado é um exemplo de diligência. Ele está na prisão; ele não pode pregar. O que ele irá fazer? Como não pode pregar, ele resolve ler. Igualmente temos outro exemplo, quando lemos sobre os pescadores de antigamente e seus barcos. Quando estavam fora de seus barcos, o que eles faziam? Remendavam suas redes. Então, se a providência o deitou sobre um leito, doente, e você não pode mais ensinar sua classe - se você não pode mais trabalhar para Deus em público, remende suas redes através da leitura. Se você está impedido de realizar determinada ocupação, tente outra, e deixe que os livros do apóstolo ensinem-lhe uma lição de diligência." [C.H. Spurgeon, Sermon #542: "Paul - His Cloak and His Books"]'
'Leia os clássicos e leia as fontes primárias. Você pode muito bem já ter encontrado com o famoso comentário de C.S. Lewis sobre isso, no livro "On the Reading of Old Books" (Sobre a Leitura de Livros Antigos), originalmente escrito como uma introdução do livro de Atanásio, "On the Incarnation" (Na Encarnação). Seu conselho é muito sábio. Lewis disse: "Uma ideia muito estranha tem circulado de que, em qualquer assunto, os livros antigos deveriam ser lidos apenas por profissionais, e de que os amadores deveriam se contentar apenas com os livros modernos. Assim sendo, eu tenho percebido, como professor de literatura inglesa, que se o aluno comum quer saber alguma coisa sobre o platonismo, a última coisa que ele pensaria em fazer é pegar uma tradução de Platão da estante da biblioteca e ler o Simpósio. Ele, ao invés disso, leria algum monótono livro moderno, com dez vezes mais páginas, todo sobre os ´ismos´ e influências, e que apenas a cada doze páginas faria alguma citação do que Platão realmente disse. O erro é certamente interessante, visto que surge da humildade. O aluno está um tanto amedrontado de se encontrar face a face com um dos grandes filósofos. Ele se sente inadequado e pensa que será incapaz de entendê-lo. Mas, se apenas conhecesse o grande homem por causa de seus grandes feitos, seria muito mais compreensível que seu comentador moderno. Mesmo o mais simples dos alunos seria capaz de entender, se não tudo, boa parte daquilo que Platão disse; dificilmente alguém entende alguns dos livros modernos sobre o platonismo. Portanto, um dos meus maiores esforços como professor sempre tem sido persuadir os mais jovens de que o conhecimento de primeira mão, não só é algo mais valioso de ser adquirido que o conhecimento de segunda mão, como também, é geralmente muito mais fácil e prazeroso. A preferência equivocada pelos livros modernos e esta desconfiança pelos livros antigos não se mostra mais presente em qualquer lugar do que na teologia. Onde quer que você encontre um pequeno grupo de estudo de cristãos leigos, você pode estar quase certo de que eles não estão estudando [...] Lucas, [...] Paulo, [...] Agostinho, Tomás de Aquino, Hooker, ou até mesmo Butler, mas sim Berdyaev, Maritain, Niebuhr, Sayers, ou, ainda, a mim mesmo [C.S. Lewis]. Isto me parece uma grande confusão. Naturalmente, uma vez que eu mesmo sou escritor, não desejo que o leitor comum cesse de ler todo e qualquer livro moderno. Mas se ele tivesse de ler apenas os livros modernos ou somente os livros antigos, eu lhe aconselharia a ler os antigos. E lhe daria este conselho exatamente porque ele é um amador e, como tal, muito mais desprotegido do que os especialistas, contra os perigos de uma dieta exclusivamente contemporânea. Um novo livro ainda está em seu período de experimentação, e o amador não está em posição de julgá-lo. Ele deve ser testado pelo maravilhoso corpo do pensamento cristão através dos tempos, e todas as suas implicações secretas (muitas vezes insuspeitadas pelo próprio autor) devem ser trazidas à luz. Com frequência, [o livro moderno] não pode ser completamente compreendido sem o conhecimento prévio de muitos outros bons livros modernos. Se às onze horas você entrar no meio de uma conversa que teve início às oito [horas], provavelmente não compreenderá a real posição do que está sendo dito. Observações que para você pareçam comuns, podem acabar produzindo risos ou irritação nos outros participantes, e você não conseguirá saber o porquê disto - a razão, obviamente, é que os estágios anteriores da conversa acabaram dando a eles uma outra perspectiva. Da mesma forma, as frases de um livro moderno que pareçam sem significado para você, podem estar relacionadas a algum outro livro; desta forma, você pode acabar aceitando aquilo que teria rejeitado fortemente, caso soubesse o seu verdadeiro significado. A única segurança é ter um padrão de cristianismo claro, focado no núcleo do cristianismo (´mero cristianismo´ como Baxter dizia), que coloque as controvérsias do momento em sua perspectiva adequada. Tal padrão pode ser adquirido somente nos livros antigos. É uma boa regra, após ler um livro moderno, nunca ler outro, sem antes ter lido um livro antigo entre eles. Se isto for muito difícil para você, tente ao menos ler um livro antigo a cada três livros modernos. [...] O único paliativo é manter a limpa brisa marinha dos séculos passados soprando em nossas mentes, e isso só pode ser feito através da leitura de livros antigos. Não que haja alguma mágica sobre o passado. As pessoas não eram mais inteligentes do que são hoje; elas cometiam tantos erros quanto nós. Porém, não os mesmos erros. Elas não irão nos engabelar nos erros que nós já estamos cometendo; e os seus próprios erros, estando agora já claros e tangíveis a todos, não irão nos causar perigo. Duas cabeças pensam melhor do que uma, não porque uma delas seja infalível, mas porque dificilmente elas irão errar na mesma direção. Esteja certo de que os livros do futuro seriam um corretivo tão bom quanto os livros do passado, mas infelizmente nós não podemos ter acesso a eles." [C.S. Lewis, God in the Dock, William B. Eerdmans Publishing]'
'Então, uma forma de você evitar ser pego nas banalidades, trivialidades e modas passageiras do "aprendizado" atual é interagindo com os melhores pensadores do passado. Por trás do meu chamado para ler muito, lembro o sábio conselho de Thomas Brooks: "Cristo, as Escrituras, o seu próprio coração, e os artifícios de Satanás, são as quatro coisas principais que deveriam ser mais estudadas e pesquisadas. Se alguém descarta o estudo, não poderá estar seguro aqui, ou na vida futura. É meu dever como cristão, e muito mais, visto que sou também um sentinela, fazer o meu melhor para descobrir a plenitude de Cristo, o vazio da criatura, e os ardis do grande enganador".'
'Algo que desejo enfatizar, exatamente por ser de modo geral tão negligenciado entre aqueles que são devotados ao estudo, é a relevância de viver e aprender. Com isto eu quero dizer, por um lado, que você deve estar constantemente se perguntando como o aprendizado está agindo em sua vida. Por causa do meu aprendizado, estou amando mais a Deus, amando mais as Escrituras, estou mais devoto a Cristo, mais comprometido com o ministério do reino, mais piedoso, sou um pai e um marido cristão melhor, sou mais amável com meus vizinhos, mais justo, misericordioso e humilde e estou crescendo em graça? Jesus enfatizava regularmente em seus ensinos que as nossas obras mostram o que nós realmente amamos e acreditamos. Consequentemente, nossas atitudes, ações e prioridades na vida revelam os segredos do coração. Se o seu aprendizado não está lhe ajudando em sua vida e em seu pastorado, de acordo com a ênfase e o padrão bíblicos, então o seu aprendizado está indo muito mal.'
'[...] Especialmente as providências sombrias de Deus - sofrimento, provações, testes, frustrações, "perdas e cruzes", como diziam os puritanos - revelam a extensão de nosso aprendizado. Benjamim Disraeli, certa vez, disse: "Ver muito, sofrer muito e estudar muito, são os três pilares do aprendizado". Ele estava apenas ecoando palavras de Lutero, também encontradas na Bíblia, que dizem: "Oração, meditação e tentação (significando provações e testes) fazem o cristão". Na verdade, [Martinho] Lutero se expressou de maneira mais provocativa que esta, quando disse que um pregador não é feito pela leitura de livros, e sim "vivendo e morrendo e sendo amaldiçoado". Em outras palavras, Deus forja os pregadores em seu cadinho. Nunca se esqueça disto. Deus faz um ministro do evangelho quebrando o coração daquela pessoa. Não foi isto uma das coisas que Jesus quis dizer, quando nos chamou para tomar nossa cruz e segui-Lo?'
'[...] Nós queremos aprender a fim de sermos úteis à igreja [...] Esteja motivado a aprender para que seu aprendizado possa abençoar a igreja como um todo.'
QUAL O SEU ALVO AO ESTUDAR
'Entre os seus objetivos ao estudar, obviamente haverá a glória de Deus, seu crescimento pessoal na graça, a edificação de outros e o desenvolvimento de suas próprias capacidades como professor e pregador. Relacionando-se a este assunto, seria bom lembrarmos das três máximas de Herman Witsius (o famoso pastor e teólogo holandês do século dezessete) que diziam: "Ninguém ensina bem, sem que antes tenha aprendido bem"... "Ninguém aprende bem, sem que antes aprenda a fim de ensinar"... "Tanto aprendizado quanto ensino são vãos e inúteis, sem que sejam acompanhados da prática". Estas palavras são dignas de apreciação, assim como o pequeno clássico de Witsius, On the Character of a True Theologian (Sobre o Caráter do Verdadeiro Teólogo).'
O QUE VOCÊ FAZ COM OS SEUS ESTUDOS
'O verdadeiro estudo do evangelho deve sempre nos levar à oração. Quando estudamos algo que nos leva a compreender a grandeza de Deus e de sua obra salvífica, isso deveria nos induzir a adoração, ação de graças e louvor. Não devemos resistir ao impulso de orar durante nossos estudos. Quando lemos alguma coisa que nos convence de culpa, devemos ser impelidos a confessar o pecado em oração. Quando lemos algo que nos lembra da terrível condição dos outros, devemos ser movidos a interceder por eles. Quando lemos algo destruidor ou potencialmente danoso ao bem-estar espiritual dos outros, devemos implorar a Deus que arranque todo o veneno, que poupe as ovelhas descuidadas, que repreenda os falsos pastores, que proteja os pastores fiéis e que poupe nossas próprias almas do contágio da falsidade.'