De acordo com os dicionários de etimologia, a orígem da palavra "superficial" data do final do século XIV, sendo proveniente do latim tardio superficialis, que significa "pertencente a uma superfície". O termo superfície, por sua vez, é uma contração de super ("acima, sobre") + facies ("forma, face"). O significado "sem compreensão completa, compreendendo apenas o que é aparente ou óbvio" (de percepções/pensamentos), para o termo "superficial", implica a noção de "não se preocupar com, ou não penetrar abaixo da superfície". Por outro lado, estes mesmos dicionários de etimologia também descrevem a orígem da palavra "profundo", ocorrendo no mesmo século XIV, como sendo proveniente do latim profundus, que significa "sem fundo, vasto", e sendo uma combinação de pro ("para a frente") + fundus ("fundo").
Em nossa era atual, é fato que vivemos dias de profunda superficialidade, onde muitas pessoas – infelizmente incluindo também alguns crentes – buscam relacionamentos superficiais, comprimissos supérfulos, amizades irrelevantes, acanhado amor ao próximo, e também, frequentemente, apenas um contato e interesse superficiais pela Palavra de Deus. O apóstolo Paulo deixa registrada uma lista de características que as pessoas teriam nos "últimos dias", para alertar o seu jovem discípulo e amigo, Timóteo:
"Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes." (2Timóteo 3.1–5)
O mesmo apóstolo Paulo, na sua carta aos romanos, também usa uma lista muito parecida de características reprováveis que os descrentes manifestam em seus relacionamentos, como fruto de terem "desprezado o conhecimento de Deus":
"E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem." (Romanos 1.28–32)
Será que estas características que o apóstolo Paulo – inspirado pelo Espírito Santo – elencou são perceptíveis na sociedade civil em que vivemos? Será que também estão presentes na igreja visível, aqui na terra?
Caro irmão ou irmã, em Cristo, você acha mesmo que existe espaço para a superficialidade na vida cristã? Aqui, as palavras do próprio Senhor Jesus são muito úteis e didáticas:
"Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mateus 22.37–39)
Quem procura amar o Senhor de todo o coração, de toda a alma, e de todo o entendimento, está amando o Senhor com profundidade, o que, consequentemente, também o leva a amar mais o próximo, como a si mesmo.
Em 7 de janeiro de 1855, na Igreja da rua New Park, C.H. Spurgeon – com apenas 20 anos de idade nesta época – iniciou seu sermão matutino falando de profundidade, da seguinte forma:
"[...] o estudo apropriado de um cristão é a Divindade. A mais elevada ciência, a mais sublime especulação, a mais poderosa filosofia, que jamais poderá ocupar a atenção de um filho de Deus, é o nome, a natureza, a pessoa, a obra, os feitos, e a existência do grande Deus a quem ele chama de seu Pai. Há algo de extraordinário desenvolvimento para a mente na contemplação da Divindade. É um assunto tão vasto que todos os nossos pensamentos ficam perdidos em sua imensidão; tão profundo que nosso orgulho fica submerso em seu infinito... Entretanto, quando chegamos a esta ciência sublime, ao constatar que nosso fio de prumo não pode sondar sua profundidade e que nosso olho de águia não pode enxergar sua altura, abandonamos o pensamento de que o homem, em sua vaidade, seja sábio... Nenhum assunto de contemplação tenderá mais a humilhar a mente do que os pensamentos acerca de Deus... Contudo, ao mesmo tempo em que o assunto humilha a mente, ele também a desenvolve... O mais excelente estudo para desenvolver a alma é a ciência de Cristo, e ele crucificado, e o conhecimento da Divindade na gloriosa Trindade. Nada aumentará mais o intelecto, nada enaltecerá mais toda a alma do homem, quanto uma investigação devota, diligente e continuada do grande assunto da Divindade. E, ao mesmo tempo em que humilha e expande, este assunto é eminentemente consolador. Oh!, existe, ao contemplar Cristo, um bálsamo para cada ferida; ao refletir sobre o Pai, há o fim de toda tristeza; e, na influência do Espírito Santo, há um bálsamo para cada chaga! Deseja cessar o seu pesar? Deseja suprimir suas preocupações? Então vá e mergulhe no mais profundo mar da Divindade; perca-se em sua imensidão e você sairá como de um sofá de descanso, revigorado e fortalecido. Eu não conheço algo que possa confortar tanto a alma, acalmar as ondas de tristeza e dor, trazer paz para os ventos da provação, como uma meditação piedosa sobre a Divindade. É para refletir sobre este assunto que eu o convido nesta manhã..."
Portanto, caro(a) leitor(a), ouse amar com mais produndidade! Primeiro o Senhor Deus, e depois o próximo, que foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26–27), como você e eu também fomos!
Que Deus tenha misericórdia de todos nós, e nos ajude a nos arrependermos da superficialidade na vida cristã, e a buscarmos a profundidade no Senhor, pois Ele é digno de nossa devoção, arrependimento e sinceridade de coração, em todas as nossas atitudes a ações coditianas.
No capítulo 31 de Jeremias, somos ensinados, por meio do "lamento transformado em júbilo", que o Senhor não apenas nos ama com profundidade, mas também nos ama com benignidade eterna:
"Naquele tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo. Assim diz o Senhor: O povo que se livrou da espada logrou graça no deserto. Eu irei e darei descanso a Israel. De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí. Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus adufes e sairás com o coro dos que dançam. Ainda plantarás vinhas nos montes de Samaria; plantarão os plantadores e gozarão dos frutos. Porque haverá um dia em que gritarão os atalaias na região montanhosa de Efraim: Levantai-vos, e subamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus!" (Jeremias 31.1–6)
Ao Senhor, somente, seja todo o louvor, toda a honra e toda a glória, por toda a eternidade! Amém.