Contraprova gideônica
A contraprova pode ser considerada como uma segunda prova, exame ou
experiência, que serve para verificar a exatidão da primeira prova. Desta
forma, um fato observado pode ser tanto confirmado através da coincidência, como
também pode ser refutado através da discordância.
Observando o texto bíblico no livro de Juízes, percebemos o relato da
incredulidade de Gideão frente à promessa de Deus, particularmente a de
conceder vitória ao povo de Israel, por intermédio dele, na batalha contra os
inimigos opressores midianitas.
“E Gideão disse a Deus: ‘Quero saber se vais libertar Israel por meu
intermédio, como prometeste. Vê, colocarei uma porção de lã na eira. Se o
orvalho molhar apenas a lã e todo o chão estiver seco, saberei que tu libertarás
Israel por meu intermédio, como prometeste’. E assim aconteceu. Gideão
levantou-se logo cedo no dia seguinte, torceu a lã e encheu uma tigela de água
do orvalho. Disse ainda Gideão a Deus: ‘Não se acenda a tua ira contra mim.
Deixa-me fazer só mais um pedido. Permite-me fazer mais um teste com a lã.
Desta vez faze ficar seca a lã e o chão coberto de orvalho’. E Deus assim fez
naquela noite. Somente a lã estava seca; o chão estava todo coberto de orvalho”
(Jz 6:36-40).
Ao colocar uma porção de lã na eira (terreno plano), Gideão recebeu a
prova que pediu, no amanhecer do dia seguinte, ao perceber que só a lã estava molhada,
mas o chão estava seco. Não satisfeito com a prova, ele pleiteou uma
contraprova, duvidando seriamente da palavra do Senhor, e tendo consciência
disto, ao dizer a Deus: ‘Não se acenda a tua ira contra mim’. Para confirmar
que o primeiro sinal não havia ocorrido por obra do mero acaso, a lã molhada de
orvalho no chão seco, o desconfiado Gideão pediu agora a contraprova invertida,
ou seja, que a lã agora ficasse seca enquanto o chão ao seu redor recebesse a umidade
do orvalho. “E Deus assim fez naquela noite”.
Se pararmos para pensar neste contexto, a segunda prova aguardada por
Gideão, na forma da lã seca no chão molhado, foi uma anti-prova em relação à
primeira, através da lã molhada no chão seco. Uma anti-prova, no sentido de ser
uma antítese da primeira prova, uma espécie de experimento às avessas, ou seja,
em ordem inversa. De maneira aparentemente paradoxal, a anti-prova da lã seca
no chão úmido também teve um caráter de pró-prova, pois se revelou a favor da
primeira prova observada através da lã umedecida de orvalho no chão seco.
E a promessa do Senhor foi cumprida de tal maneira para que ficasse bem óbvia
para os homens a presença da mão forte do Senhor dos exércitos nesta vitória de
apenas trezentos (300) homens liderados por Gideão, como está relatado no
capítulo sétimo do livro de Juízes. Neste relato, disse o Senhor a Gideão que o
povo inicialmente ajuntado para a batalha contra os midianitas era muito
numeroso e que, desta forma, os homens poderiam se orgulhar de terem vencido a
batalha por conta própria. Assim, Deus o fez dispensar os “tímidos e medrosos”
em número de vinte e dois mil (22.000), ficando somente dez mil (10.000) ainda
para a batalha (Jz 7:2-3). Novamente, disse o Senhor a Gideão que selecionasse
os homens que, ao passar pelas águas, não se ajoelhassem para beber da água e,
desta forma, foram selecionados apenas 300 homens, que foram conduzidos para a
batalha contra uma “multidão de gafanhotos” midianitas e seus inúmeros camelos
dispostos como a “areia que há na praia do mar” (Jz 7:12).
O servo Gideão agora se tornara um crente transformado, disposto a
batalhar pelo povo de Deus, com fé transbordante na vitória, mesmo com uma
tropa tão pouco numerosa (300 homens), mas tão grandemente abençoada pela
Glória do Senhor. Ao som das trombetas gideônicas, da quebra dos cântaros (vaso
para água) e do grito de guerra “Espada pelo Senhor e por Gideão !”, os
midianitas foram colocados para correr e fugiram (Jz 7:20-22). A promessa de
Deus é cumprida em Gideão, livrando o povo de Israel da ameaça dos midianitas,
e ele se recusa a governar dentre os seus, dizendo: “Não dominarei sobre vós,
nem tampouco meu filho dominará sobre vós; o Senhor vos dominará” (Jz 8:23). A
terra ficou em paz durante quarenta anos (Jz 8:28).
E o heróico Gideão, de homem desconfiado, necessitado de provas e
contraprovas para ter fé no Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó, foi
transformado em um crente fiel aos desígnios e mandamentos do Senhor, tendo
terminado seus dias em sua casa, “em boa velhice” (Jz 8:32).
Rogo ao nosso Senhor Grandioso, Absoluto e Misericordioso como É, para que
levante, ainda em nossa era, heróis gideônicos, mesmo sem a necessidade de
nenhuma prova, contraprova, anti-prova ou pró-prova. E, que estes “erguidos” de
Deus sejam capazes de trombetear em alto e bom som, levantando a “espada pelo
Senhor”, ou seja, a palavra de Deus, que é “viva e eficaz, e mais cortante do
que qualquer espada de dois gumes” (Hb 4:12). Desta forma, os cântaros serão
quebrados para que flua a “água viva” eterna (Jr 17:13; João 4:10-14). Amém.