Alguns trechos do livro "Cristo é Tudo", de C.H. Spurgeon:
“no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” (Cl 3:11)
1. Por Quem Essa Verdade é Reconhecida?
'[...] sonhar que Ele é uma parte do Salvador e dividirá o mundo e a honra da salvação com o pecador. Aqueles que unem o pecador e o Salvador, cada um fazendo sua parte, roubam de Cristo toda a sua glória; e isso é realmente roubar do sangrento Cordeiro de Deus a devida recompensa de suas agonias. “O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo” (Is 63:3). Na obra da salvação, Jesus está sozinho; a salvação é do Senhor; se Cristo não é tudo para você, Ele não é nada para você; Ele nunca entrará em parceria como um Salvador parcial dos homens. Se Ele é alguma coisa, Ele deve ser tudo, e se Ele não é tudo, Ele não é nada para você.'
'[...] Talvez seja um dos trabalhos mais difíceis do mundo, tão difícil que é impossível, exceto para o próprio Espírito Santo, afastar um homem da ideia de que ele deve fazer algo, ou ser algo. Pecador, você é o vazio e Cristo a plenitude! Você é a imundície e Ele a purificação! Você não é nada, e Ele é tudo, e quanto antes você consentir com isso, melhor! Pare de dizer: “Eu viria ao Salvador se isso ou se aquilo”, pois essa sutileza irá iludir, atrasar e destruir você! Venha como você está agora, pois Cristo não é quase tudo; Ele é TUDO EM TODOS!'
'[...] “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1:30). Cristo é TUDO, não apenas na minha justificação, mas também na minha santificação. Ele é TUDO, não apenas nos primeiros passos da minha fé, mas nos últimos. Ele é o “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap 22:13). Não há um ponto entre os portões do inferno e os portões do céu onde um crente tenha que dizer: “Cristo não me ajuda aqui, e por isso devo confiar em meus próprios esforços”. Da podridão de nossa corrupção até o trono de nossa perfeição, não há ponto deixado ao acaso ou reservado para nós suprirmos; nossa salvação tem Cristo para começar, Cristo para continuar e Cristo para terminar, e isso em todos os pontos, em todos os momentos, para todo homem que será salvo. Não há um ponto em que a criatura venha reivindicar mérito, ou trazer força, ou compensar o que faltou. “Cristo é tudo e em todos”. Os santos são “perfeitos em Cristo Jesus”. Ele disse: “Está consumado”, e está consumado! Ele não é apenas o autor de nossa fé, mas também o consumador dela; Ele é tudo em tudo e em todos, e o homem não é nada!'
2. O Que Essa Verdade Inclui?
'[...] Foi o conselho de um tutor idoso a um jovem aluno para não pregar sobre uma passagem que seja magnífica demais. Eu soei esse aviso em meus próprios ouvidos esta manhã. Este pequeno texto que escolhi ["Cristo é tudo em todos" (Cl 3:11b)], é um dos maiores de toda a Bíblia, e me sinto perdido em sua extensão ilimitada; é como uma daquelas joias raras que são pequenas de se ver, mas quem as carrega, carrega o preço de impérios em suas mãos! Não estaria dentro do alcance da aritmética estabelecer o valor desse teste de safira. Não posso navegar em um mar tão grande, pois meu barquinho é muito pequeno, só posso navegar ao longo da costa. Quem pode resumir “tudo em todos” em um sermão? Garanto a você que esse livreto será mais notável por suas omissões do que pelo que contém, pois é impossível abordar tal assunto em tão poucas páginas. Se eu tentasse lhe contar todo o significado deste texto sem limites, precisaria de todo o tempo e eternidade, e mesmo assim todas as línguas, humanas e angelicais, não poderiam me ajudar a abranger o todo! Nadaremos neste mar, embora não possamos entendê-lo, e nos banquetearemos nesta mesa, embora não possamos calcular seu preço!'
'[...] Cristo está em seu coração, amado? Então, tudo o que existe para causar-lhe tristeza pode também ser para ti um tema de alegria! O santo fica triste ao pensar que tem pecado para confessar, mas fica feliz em pensar que é capaz de confessar o pecado; o santo fica aborrecido por ter tanta enfermidade, mas ele se gloria na enfermidade porque o poder de Cristo repousa sobre ele! Ele se entristece dia a dia ao observar suas andanças, mas também se alegra ao ver como o Bom Pastor o segue e restaura sua alma! Todos os males e deficiências em mim que me fazem chorar, também me alegram quando Jesus é visto, pois tudo que vejo em mim que seja faltoso ou pecaminoso, vejo um remédio suficiente em Cristo que é tudo em todos.'
'[...] Por acaso, você tem mais alguma coisa em que possa confiar? Você tem um bom trabalho em que possa confiar? Existe uma oração que você já ofereceu, uma emoção que você já sentiu que ousaria usar como um apoio ou, em algum grau, um suporte para sua esperança de salvação? Sei que você responderá: “Não tenho nada, nada, nada, nada! Cristo, meu Salvador, é toda a minha salvação e todo o meu desejo, e abomino a própria ideia de colocar qualquer coisa lado a lado com Ele como fundamento de minha dependência diante de Deus”. Oh, então, certamente você tem a marca das ovelhas de Cristo, pois para todas elas Cristo é tudo.'
'[...] Cristo é tudo de que precisamos, tudo o que desejamos e tudo de bom que podemos conceber. Ele é tudo que eu preciso. Jesus é a Água Viva para saciar minha sede, o pão celestial para saciar minha fome, o manto branco como a neve para me cobrir, o refúgio seguro, o lar feliz de minha alma, minha comida e meu remédio, meu consolo e minha canção, minha luz e meu deleite. Ele é tudo que eu desejo, e eu apenas cobiço mais de sua presença; minha ambição é ser como Ele; meu desejo é apenas estar com Ele onde Ele está. Ele é tudo que posso conceber de bom. Quando minha imaginação estende todas as suas asas para voar para reinos além de onde a asa da águia [Is 40:31] esteve, ainda assim ela não alcança a altura da glória que Cristo Jesus lhe prometeu; ela [minha imaginação] não pode conceber, com seus poderes mais expandidos, nada mais rico e precioso do que Cristo, seu Cristo, ela mesma de Cristo e Cristo, tudo dela! Ah, se você quer saber o que é o céu, saiba o que é Cristo, pois a forma de se soletrar o céu é com essas cinco letras que formam a palavra JESUS. Quando você o obtiver, Ele será tudo para você de que seu corpo glorificado precisará, e todo o seu espírito glorificado pode conceber. Ó precioso Cristo, Tu és tudo em todos!'
3. O Que Envolve Essa Verdade?
'[...] Temos um velho provérbio sobre a loucura de levar carvão para Newcastle***, mas que loucura deve ser essa que faz um homem pensar que pode levar algo para Cristo, quando Cristo é tudo? Venha, venha, venha, venha a Ele, pobre pecador, e deixe que Ele seja tudo para você! Simplesmente confie n’Ele e fique em paz. Tal verdade, novamente repreende a frieza dos santos. Se Cristo é tudo em todos, então como o amamos tão pouco? Se Ele é tão precioso, como o valorizamos tão pouco? Oh, meu coração estúpido, morto e frio, o que você está fazendo? Você é mais duro do que inflexível e mais vil do que bruto, por não ser movido por ardor e afeição fervorosa por um Senhor como esse! Cristo é tudo, meu amado, mas veja quão pouco oferecemos a Ele de nossa substância; quão escassa é a porção de nosso tempo; quão pouco é a que dedicamos de nossos talentos! Deus nos desperte para o santo fervor, para que, se Cristo é tudo por nós, possamos ser todos por Cristo! Que possamos nos estender sem reservas ao máximo de nossa capacidade, pedindo a Ele novas forças para que possamos fazer tudo o que pode ser feito!'
***Nota: "levar carvão para Newcastle é uma expressão idiomática de origem inglesa que descreve uma ação sem sentido. Refere-se ao fato de que, historicamente, a economia de Newcastle, no nordeste da Inglaterra, era um grande centro de embarques de carvão de minas próximas e, portanto, qualquer tentativa de vender carvão para Newcastle seria imprudente, pois a oferta seria maior lá do que em qualquer outro lugar da Grã-Bretanha."
4. O Que Essa Verdade Requer de Nós?
'[...] Cristo é tudo em todos! Portanto, “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3:12). A exibição da vida de Cristo nos santos é a inferência legítima do fato de que Cristo é tudo para eles. Se Cristo é tudo, e ainda assim eu, sendo um cristão, não sou como Cristo, meu cristianismo é uma farsa transparente; não passo de um pretendente vil, e minha religiosidade externa é uma pomposa ostentação para que minha alma seja levada para o inferno; nada mais! É um caixão dourado para um espírito sem vida. Pereceria com uma dupla destruição se profanasse o nome de Cristo, tomando-o sobre mim se eu não tivesse a essência da religião cristã dentro de mim! A ortodoxia, embora seja do tipo mais seguro, é a vaidade das vaidades, a menos que haja com ela a ortodoxia da vida. E a experiência, o que quer que o homem diga sobre isso, é apenas um sonho, uma ficção de sua própria imaginação, se não se manifestar sacudindo os pecados da carne e vestindo os adornos da santidade.'
'[...] Eu exorto você, se você tem algum respeito por Cristo, firme-se n’Ele! Se você não se esforçar para honrá-lo, você estará perdido! Seus gananciosos, seus avarentos que vivem apenas para este mundo, vocês estarão perdidos! Você não precisa duvidar disso, com certeza estará perdido, mas por que precisa garantir sua condenação duplamente com a impostura básica de se chamarem cristãos? Enquanto isso, se o leopardo quiser declarar que não tem manchas, pouco importa; mas as mentiras de um homem que vive sem Cristo, enquanto se diz cristão, traz uma desonra muito grande para Aquele que foi pregado no madeiro, e cuja religião é a da santidade. Eu imploro a você, pelo Deus vivo, desista de sua profissão de fé se você não se esforça para torná-la realidade! Se você não está vivendo como deveria, não finja ser o que não é! Busque Deus, para que a vida de Cristo esteja em você. Sem Cristo vocês não são nada, embora sejam batizados, embora sejam membros de igrejas, embora sejam altamente estimados como diáconos, presbíteros, pastores. Oh, então, tenha Cristo em todos os lugares em todas as coisas. Que os homens digam sobre você: “Para aquele homem, Cristo é tudo em todos; ele está com Jesus, aprende d’Ele, pois ele age como Jesus agiu!”. Que Deus conceda uma bênção sobre estas palavras, pelo amor de Cristo.'
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*Quem foi C.H. Spurgeon? [trechos da biografia resumida no final do livro]
'Charles Haddon Spurgeon nasceu em 19 de junho de 1834, em Kelvedon, Essex, Inglaterra. Ele tinha dezesseis irmãos (nove dos quais morreram na infância). Seu pai e seu avô eram Ministros inconformistas na Inglaterra. Por dificuldades econômicas, Charles, quando criança, foi enviado para morar com o avô, que ensinou Charles a andar nos caminhos do Senhor. Charles não teve muita educação formal e nunca foi para a faculdade. Ele leu muito ao longo de sua vida [...] Ele foi convertido quando tinha quinze anos. Ele estava a caminho de sua igreja habitual, mas quando uma nevasca o impediu de chegar lá, ele entrou em uma capela metodista. Embora houvesse apenas cerca de quinze pessoas presentes, o pregador estava citando Isaías 45:22: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra”. Os olhos de Charles Spurgeon foram abertos e o Senhor converteu sua alma. Posterior a isso, ele começou a frequentar uma igreja batista e a ensinar na escola dominical. Ele logo pregou seu primeiro sermão, e então quando ele tinha dezesseis anos, tornou-se pastor de uma pequena igreja batista em Cambridge. A igreja logo cresceu para mais de quatrocentas pessoas, e Charles Spurgeon, com a idade de dezenove anos, mudou-se para se tornar o pastor da New Park Street Church em Londres. A igreja cresceu de algumas centenas de frequentadores para alguns milhares [...] O Metropolitan Tabernacle foi construído em Londres em 1861, com capacidade de acomodação para mais de 5.000 pessoas. Spurgeon pregou a mensagem simples da cruz, e assim atraiu muitas pessoas que queriam ouvir a voz de Deus por meio da Sua Palavra pregada no poder do Espírito Santo. Em 9 de janeiro de 1856, Charles se casou com Susannah Thompson. Eles tiveram gêmeos, Charles e Thomas. Charles e Susannah se amavam profundamente, mesmo em meio as dificuldades que enfrentaram na vida, incluindo problemas de saúde. Ajudavam-se espiritualmente e muitas vezes juntos liam os escritos de Jonathan Edwards, Richard Baxter, e outros [...] Charles Spurgeon era amigo de todos os cristãos, mas manteve-se firme nas Escrituras, e não agradou a todos os que o ouviram. Spurgeon creu e pregou sobre a soberania de Deus, céu e inferno, arrependimento, reavivamento, santidade, salvação, somente por meio de Jesus Cristo, e sobre infalibilidade e a necessidade da Palavra de Deus. Ele falou contra mundanismo e hipocrisia entre os cristãos, e contra o Catolicismo, ritualismo e modernismo [...] Apesar de algumas dificuldades, Spurgeon ficou conhecido como “o Príncipe dos Pregadores”. Ele se opôs à escravidão, fundou um colégio de pastores, abriu um orfanato, focado em ajudar a alimentar e vestir os pobres, tinha um fundo de livros para pastores pobres e muito mais. Charles Spurgeon continua sendo um dos pregadores mais publicados na história. Seus sermões eram impressos toda semana (até nos jornais), e então os sermões para o ano foram reeditados como um livro no final de cada ano. Os primeiros seis volumes, de 1855-1860, são conhecidos como “The Park Street Pulpit”, enquanto os próximos cinquenta e sete volumes, de 1861-1917 (seus sermões continuaram a ser publicados muito depois de sua morte), são conhecidos como “The Metropolitan Tabernacle Pulpit”. Ele também supervisionou uma revista mensal chamada “The Sword and the Trowel”, e escreveu muitos livros, incluindo “Lições aos meus alunos”, “Tudo pela graça”, “Conselhos para obreiros”, “O ganhador de almas”, “Manhã e Noite”, sua autobiografia e muito mais, incluindo alguns comentários, como seu estudo de vinte anos sobre os Salmos – “O Tesouro de Davi”. Charles Spurgeon frequentemente pregava dez vezes por semana, pregando para um estimado dez milhões de pessoas durante sua vida. Ele geralmente pregava com apenas uma página de anotação, e muitas vezes apenas com um esboço. Ele lia cerca de seis livros por semana. Durante sua vida, ele havia lido “O Peregrino” [de John Bunyan] mais de cem vezes. Quando ele morreu, sua biblioteca pessoal consistia em mais de 12.000 livros. No entanto, a Bíblia sempre foi o livro mais importante para ele. Spurgeon foi capaz de fazer o que fez, no poder do Espírito Santo de Deus. Ele se encontrava com Deus a cada manhã antes de se encontrar com os outros, e ele continuava em comunhão com Deus durante todo o dia. Charles Spurgeon sofria de gota, reumatismo e alguma depressão, entre outros problemas de saúde. Frequentemente ia a Menton, França, para se recuperar e descansar. Ele pregou seu sermão final no Metropolitan Tabernacle em 7 de junho de 1891, e morreu na França em 31 de janeiro de 1892, aos cinquenta e sete anos. Ele foi enterrado no Cemitério Norwood, em Londres. Charles Haddon Spurgeon viveu uma vida dedicada a Deus. Seus sermões e os escritos continuam a influenciar os cristãos em todo o mundo.'