“Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa. Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.” (Lc 9:61-62).
O Brasil é uma magnífica nação, sendo impossível negar sua grande vocação agrícola, e onde a “agricultura de precisão” [i] – conjunto de técnicas que permitem o gerenciamento localizado dos cultivos – tem se mostrado como uma forte tendência atual. Neste tipo de agricultura, há uma importante característica baseada na precisão da localização em cada ponto das propriedades agrícolas, normalmente utilizando tecnologias como GPS e GIS, além de outros recursos como drones, por exemplo. É possível visualizar as fotografias de satélite – por exemplo no Google Maps – de belíssimas lavouras espalhadas por todo o território brasileiro, percebendo-se o caráter tipicamente retilíneo das linhas paralelas nos campos arados.
Voltando ao texto bíblico, no contexto do Evangelho segundo Lucas, onde estão reveladas as palavras do próprio Senhor Jesus (Lc 9:62), R.C. Sproul comenta [ii], sobre discipulado e serviço cristão: “Quando você coloca a mão no arado, sua visão só pode ser para frente, para o futuro, não importa o passado. Muitas oportunidades de ouro para a obra de Cristo neste mundo foram sufocadas e mortas, porque as pessoas não conseguiram tirar os olhos do passado... Jesus disse-lhes para esquecerem o ontem. O futuro é onde nossos olhos deveriam estar. A missão que ele nos deu é seguir em frente. Olhe para Jerusalém [celestial]... O que acontece quando um agricultor, que está arando um campo, fica se virando para ver o que acabou de arar? Você pode imaginar como seriam os sulcos [arados na terra]? Eles ziguezagueiam pelo campo... Jesus quis dizer algo do tipo: ‘Se você quiser arar, se quiser fazer uma colheita, você tem que arar em linha reta’. O mesmo acontece com o reino de Deus. Todos aqueles que desejam pertencer a Deus, que desejam avançar em direção a esse reino, devem ter os olhos fixos em Cristo, no seu reino e no seu futuro.”
Comentando também sobre este mesmo texto (Lc 9:62), Matthew Henry nos ensina [iii] que a repreensão de Cristo – pelo pedido feito a ele no verso anterior (61) – pode ser interpretada da seguinte forma: “... ‘então tu, se tens o propósito de me seguir e colher as vantagens daqueles que o fazem, ainda assim se olhares para trás para uma vida mundana novamente, e ansiares por isso, se olhares para trás como a esposa de Ló fez para Sodoma [iv]... você não está apto para o reino de Deus’... ‘Tu não és um semeador adequado para espalhar a boa semente do reino se não conseguires segurar melhor o arado’. O arado é para a semeadura... Observe que aqueles que começam com a obra de Deus devem decidir continuar com ela, ou não farão nada com ela. Quem olha para trás tende a recuar, e recuar é perdição. Não são adequados para o céu aqueles que, tendo voltado o rosto para o céu, agora olham para trás. Mas aquele - e somente aquele - que perseverar até o fim, será salvo [v].”
Já que estamos falando do “Caminho estreito e reto”, um fato curioso é que no relato da conversão do apóstolo Paulo – encontrado no capítulo 9 do livro de Atos – há uma menção à “rua que se chama Direita” (At 9:11), onde “Saulo, apelidado de Tarso” estava hospedado na casa de Judas. Os dicionários bíblicos [vi] nos ensinam que essa “rua Direita” existe até os dias de hoje em Damasco, e data aproximadamente do primeiro século (A.D.), tendo sido construída como o “Decumanus Maximus” [vii] – uma das principais vias segundo a arquitetura urbana romana. Talvez, neste contexto de Atos 9, o fato que é mais extraordinário sobre este tipo de rua – Decúmano Máximo – orientada no sentido leste-oeste nas cidades e acampamentos romanos, é que ela comumente ligava a “Porta Pretória” (mais próxima de um potencial inimigo) à “Porta Decumana”, que era a porta mais afastada de um potencial inimigo. Talvez isto seja uma das maravilhosas e extraordinárias referências bíblicas ao fato de que Saulo de Tarso, um dos maiores inimigos da fé cristã – perseguidor daqueles que “eram do Caminho” (At 9:2) – tenha sido convertido pela graça do Senhor em um dos seus maiores amigos (Jo 15:13-15)... “um instrumento escolhido para levar o meu nome [do Senhor] perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu [o Senhor] lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9:15-16).
Se me permitem, agora me dirijo diretamente a você, caro(a) leitor(a), que está enfrentando os desafios típicos de ambientes hostis à fé cristã, como são notoriamente conhecidos os ambientes acadêmicos/universitários, por exemplo. Fiquem cientes de que o “Senhor do Caminho” vai continuar nos conduzindo – por meio do seu Santo Espírito – pelo caminho que é estreito e “apertado”, mas que “conduz para a vida” (Mt 7:13-14). Lembremos que em uma de suas 7 grandiosas declarações “Eu Sou” – encontradas no Evangelho segundo João [viii] – ele mesmo se declarou como “o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14:6).
Que o Senhor continue nos concedendo graça, força, coragem, ousadia, equilíbrio, humildade e amor, junto com a sua “entranhável misericórdia” (Lc 1:78), para ficarmos firmes “no caminho e na verdade”, vivendo uma vida para a Sua Glória, e aprendendo – como o apóstolo Paulo – o “quanto importa sofrer” pelo nome de Cristo! Neste instante, esta é a nossa oração, em nome de Jesus. Amém.
Glória somente a Deus
*Notas:
[i] “O Sistema de Posicionamento Global (GPS), Sistema de Informações Geográficas (GIS) e máquinas de aplicação localizada de insumos a taxas variáveis são algumas das ferramentas que tratam, especificamente, cada ponto da propriedade agrícola. Para essa tarefa, cada particularidade do solo é considerada. O resultado é a otimização dos gastos da produção agrícola.” (fonte: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/cana/producao/avanco-tecnologico/agricultura-de-precisao)
[ii] R. C. Sproul, A Walk with God: An Exposition of Luke (Great Britain: Christian Focus Publications, 1999).
[iii] Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible: Complete and Unabridged in One Volume (Peabody: Hendrickson, 1994).
[iv] “E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal” (Gn 19:26). Segundo os dicionários de hebraico, o termo “olhou para trás” foi traduzido a partir da palavra “nabat”, que tem o sentido de “olhar atentamente, considerar com prazer, contemplar com desejo”.
[v] Ver textos bíblicos como, por exemplo: Fp 3:13-14; 2Pe 2:20-22; Mt 10:22; 24:13; Mc 13:13.
[vi] Jan H. Nylund, “Straight Street,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).
[vii] Para mais detalhes sobre “Decumanus maximus”, ver por exemplo: https://vitoroliveira.fe.up.pt/pdf/aula-3-romana.pdf