“Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca.” (Sl 119:103)
Synsepalum dulcificum é o nome científico de uma curiosa planta originária da África tropical, de onde pode ser colhida uma fruta avermelhada – quando madura – popularmente conhecida como fruta-do-milagre. O nome desta fruta é proveniente de sua peculiar capacidade de alterar a percepção gustativa (paladar), transformando sabores amargos ou ácidos (azedos), em doces [i]. Por causa desta extraordinária capacidade, uma glicoproteína [ii] encontrada nesta fruta – e identificada como responsável por este fenômeno gustativo – foi denominada de miraculina [iii].
Devido ao potencial uso desta planta – ou da substância química miraculina – na indústria alimentícia [iv], por exemplo como adoçante [v], existem pesquisadores ao redor do mundo tentando obter a miraculina sinteticamente, ou através de modificações genéticas em outras plantas [vi]. É importante alertar que, embora a fruta-do-milagre apresente várias propriedades terapêuticas, ela precisa ser consumida com cautela, por causa de efeitos adversos (colaterais) que ela pode apresentar.
Apesar destes maravilhosos aspectos químicos da miraculina, gostaríamos de chamar a atenção para outro aspecto desta extraordinária realidade, principalmente por causa do curioso e compreensível nome que esta molécula recebeu.
Imagine como seria conveniente ter uma fruta-milagrosa, que pudesse ser consumida toda vez que alguma experiência gustativa, tátil, olfativa, visual ou sonora (os 5 sentidos humanos) fosse para nós potencialmente desagradável, transformando-a “miraculosamente” em uma aventura bem-sucedida e extremamente prazerosa [vii]. E porque não estender essa hipotética perspectiva de “alteração da percepção” também para experiências emocionais? Não seria interessante ter uma fruta-milagrosa que pudesse nos livrar de qualquer fato ou acontecimento desagradável ou indesejável? Normalmente, a espera por uma “solução milagrosa” – como descrita neste contexto – que possa nos livrar de qualquer
mazela existencial, é tipicamente frustrante.
Vamos lembrar que foi pela desobediência de nossos “primeiros pais” – Adão e Eva – que o pecado original entrou no mundo recentemente criado, e que antes era “muito bom” segundo o seu próprio Criador (Gn 1:31). O paralelo curioso com o tema deste texto é que esta primeira desobediência – descrita no relato histórico e literal do capítulo 3 de Gênesis – aconteceu por meio do consumo proibido do fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (ver Gn 2:15-17).
Onde está a verdadeira “doçura”?
A verdadeira “doçura” está revelada nas Escrituras, com diversos trechos repletos de referências à termos como “doce”, “favos de mel” e outros correlacionados:
“Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo.” (Pv 16:24)
“A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce.” (Pv 27:7)
“O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos.” (Sl 19:9-10)
Na revelação concedida pelo Senhor ao apóstolo João, particularmente no capítulo 10 do livro de Apocalipse, há um trecho que se assemelha muito à experiência de transformação gustativa (amargo em doce) que a miraculina pode proporcionar:
“Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me desse o livrinho. Ele, então, me falou: Toma-o e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu estômago, mas, na tua boca, doce como mel. Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo.” (Ap 10:9-10) [viii]
Se estamos procurando pela “solução milagrosa” definitiva em nossas vidas, poderíamos dizer que – sem sobra de dúvida – é a salvação manifesta e garantida pela obra sobrenatural de um Deus Criador, que também é Redentor... Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo! O mesmo Cristo que, na Gólgota (Calvário), recusou-se a beber o “vinho com mirra” (Mc 15:22-24) que lhe foi oferecido como uma bebida amarga (mirra) e narcótica (analgésica) – não por misericórdia dos soldados romanos, mas apenas para que o condenado à vergonha e à humilhação da crucificação pudesse suportar por mais tempo aquele espetáculo público horrendo e degradante [ix]. O único cálice que Cristo tomou plenamente foi o da ira de Deus (Mt 26:42; Mc 14:36; Lc 22:42; Jo 18:11)... e ele fez isto em nosso lugar!
Caro irmão ou irmã em Cristo, continue “saboreando” a jornada cristã, em cada circunstância ou oportunidade que nos aguarda diariamente, sejam “sabores” azedos, amargos ou doces... O Deus da nossa salvação – ao qual servimos e adoramos – conhece bem as nossas dificuldades e tribulações, e está presente para nos ajudar a atravessar momentos difíceis (ex.: Êx 3:7; Js 1:9; Sl 56:8; Sl 119:50; Sl 126:5-6; Jr 29:11-14; Jo 16:33; Rm 8:28; 2Co 12:9-10; Fp 4:13).
A verdadeira fruta-milagrosa da vida cristã é a fé (Hb 12:1-2), amparada pelo poder do Espírito Santo de Deus, que altera a nossa percepção como “novas criaturas” (2Co 5:17), transformando experiências realmente ou potencialmente desagradáveis (“amargas” ou “azedas”), em momentos de aprendizado e crescimento espiritual, produzindo o “doce sabor” que somente a Palavra de Deus pode trazer à nossa alma (Sl 119:103).
Louvado seja o Glorioso Gênio da química, criador da miraculina!
*Notas:
[i] Frequentemente se encontra relatos de pessoas que, após consumirem a fruta-do-milagre, tomaram suco de limão e perceberem apenas sabores doces.
[ii] O artigo original “Taste-Modifying Protein from Miracle Fruit” (Science, 1968) pode ser encontrado em: https://doi.org/10.1126/science.161.3847.1241
[iii] A estrutura molecular predita para a miraculina pode ser observada em: https://www.rcsb.org/structure/AF_AFP13087F1
[iv] “Miraculin-based sweeteners in the protein-engineering era: an alternative for developing more efficient and safer products” (2023): https://doi.org/10.1080/07391102.2023.2262589
[v] “Synsepalum” significa “com uma cobertura doce”, e “dulcificum” significa “adoçante”.
[vi] “Production of Recombinant Miraculin Using Transgenic Tomatoes in a Closed Cultivation System” (2010): https://doi.org/10.1021/jf100414v
[vii] Hedonismo é a “dedicação ao prazer como estilo de vida”, ou as “doutrinas que concordam na determinação do prazer como o bem supremo”.
[viii] O comentário de R.C. Sproul (“The Reformation Study Bible - ESV”) em Ap 10:9 é o seguinte: “O conteúdo do livro [Apocalipse] contém notícias de julgamento e sofrimento [“será amargo ao teu estômago”], segundo o padrão de Ez 2:8 – 3:3”.
[ix] Para mais detalhes sobre o sofrimento infringido ao nosso Senhor: https://astse.blogspot.com/2022/05/palestra-sobre-morte-fisica-do-senhor.html
[x] Link para o livro “O Glorioso Gênio da química”: https://www.amazon.com.br/dp/B09T3HR628