"Não vos comove isto, a todos vós que passais pelo caminho? Considerai e vede se há dor igual à minha" (Lm 1:12a)
Ser indiferente, segundo os dicionários, é definido como: "uma atitude neutra em relação a Deus, que é tão perigosa quanto a hostilidade. É condenada como uma rejeição do amor de Deus, e das necessidades dos outros".
Por outro lado, ter empatia, segundo os mesmos dicionários, significa: "ser capaz de se colocar na posição de outra pessoa, e entender suas emoções ou sentimentos".
O apóstolo Pedro, quando ensina sobre "a vida exemplar cristã" e o "amor fraternal", nos exorta para demonstrarmos empatia e compaixão uns pelos outros: “Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3:8-9).
Neste texto acima, a palavra que aparece traduzida por "compadecidos" é sumpathes, no original, e significa: "experimentar um sofrimento ou sentimento semelhante a outrem". A palavra provém de sumpascho [sun + pascho], enquanto pascho é a palavra grega traduzida por "sofrimento" no diálogo que o Senhor Jesus tem com seus discípulos no cenáculo, pouco antes da Sua crucificação, quando estabelece a Ceia do Senhor: "Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa [pascha], antes do meu sofrimento [pascho]" (Lc 22:15). É importante salientar o quanto esta palavra pascho (sofrimento) é parecida com a palavra pascha (páscoa).
Contudo, caros leitores, nosso propósito central neste texto é relembrar o quão incapacitante pode ser a experiência cotidiana de quem é incapaz de ser indiferente diante dos fatos da vida cristã, ou seja, o quão frequentemente debilitante costuma ser a opção de quem não consegue ficar sem se importar com as coisas de Deus, e com o bem do próximo.
O fato do cristão se importar, ou seja, de tentar ser biblicamente empático e compassivo, frequentemente envolve algum custo, seja financeiro, seja alguma chateação ou algum desgaste, ou até mesmo algum sacrifício ainda maior, como pagar com a própria vida. Este último tipo extremo de custo acontece tipicamente em alguns lugares e circunstâncias onde o Evangelho da Cruz de Cristo é odiado e perseguido de forma ainda mais hostil e escarnecedora.
Ser incapaz de ser indiferente diante de alguma injustiça cometida contra o próximo, ou simplesmente tentar compartilhar algo com alguém que está carecendo de ajuda e auxílio, pode se tornar, certas vezes, uma tarefa muito incapacitante e debilitante.
Contudo, a oportunidade de ser empático - evitando a indiferença - também tem o potencial de ser uma maravilhosa experiência, transformadora e edificante, quando procuramos, no Senhor, nos importar com o próximo, que pode ser qualquer pessoa, como um irmão ou irmã na fé, um familiar ou ente querido, um desconhecido, ou no caso mais extremo, pode ser até mesmo um inimigo.
Na maioria das vezes, estas oportunidades de ajudar o próximo não são registradas em selfies, nem recebem curtidas nas "redes sociais", mas normalmente ocorrem nos "bastidores da vida", e portanto sem que os "holofotes da ribalta" estejam por perto (ver Mt 6:1-4).
A grande pergunta aqui, que cada crente deve fazer para si mesmo, em Cristo, é saber se estas ocasiões ou oportunidades de ser incapaz de ser indiferente valem a pena, pois normalmente envolvem um "custo" ou aparente "perda", de algum tipo, como já foi dito. Alguém poderia eventualmente também se perguntar: "haveria também algum lucro ou vantagem nisso?". A resposta bíblica para esta questão deve apontar em uma única direção, magnificamente resumida pelo apóstolo Paulo - inspirado pelo Espírito Santo - nas seguintes palavras: "Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Fp 1:21).
No terceiro capítulo da mesma carta aos Filipenses, apesar de ser um contexto onde o apóstolo não está ensinando sobre "ajudar ao próximo", mas sim alertando contra os "falsos mestres", parece ser razoável aplicar o seu ensino sobre questões de perda e lucro no decorrer da vida cristã. O apóstolo Paulo certamente fala com muita propriedade, no exemplo do seu testemunho, sobre o que é perder e ganhar, em Cristo:
"Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos." (Fp 3:7-11).
Ao Senhor somente seja toda a glória e o louvor, por tudo, sempre!