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08 setembro 2013

Ouse crer

Apesar de não ser um especialista em etimologia, o estudo e a busca pela origem de algumas palavras tem se mostrado uma maneira interessante e, às vezes, até curiosa de compreender alguns conceitos importantes.
Ao refletir sobre o conceito de coragem, sendo esta uma característica cristã imprescindível, podemos conhecer alguns fatos curiosos sobre as palavras relacionadas a este tema, segundo a análise dos especialistas na origem das palavras.
A palavra “coragem” parece vir do latim “cor”, que significa “coração”, fazendo referência à metáfora típica para a força interior.
Na tentativa de definir também o oposto, ou seja, a “falta de coragem”, pode-se notar que a origem da palavra “pusilanimidade”, por exemplo, na forma do adjetivo “pusilânime”, vem do latim “pusillanimis”, que parece ser uma contração de “pusillis”+”animus”. A palavra “pusillis” significa “muito fraco ou pequeno”, e é um diminutivo de “pullus” (“animal jovem”), enquanto “animus” pode significar “espírito, coragem, alma racional ou mente”.
Um possível sinônimo para “coragem” poderia ser a palavra “intrepidez”. Na forma de adjetivo “intrépido”, é proveniente do latim “intrepidus”, que parece ser uma combinação de “in” (prefixo de negação) + “trepidus” (que significa “alarmado”). Em latim, a palavra para “trepidação” é “trepidationem”, que significa “agitação, alarme ou tremulação”. Portanto, a interpretação para o termo “intrepidus” poderia ser aquele que não tremula, ou que não fica alarmado. Outros sinônimos possíveis para “coragem” seriam as palavras “ousadia” e “audácia”, que por sua vez, parece ser proveniente do latim “audacia”. Na forma infinitiva do verbo (“audere”, em latim), parece ter o significado do verbo “ousar”, que na língua inglesa poderia ser traduzido como “to dare”.
No texto neotestamentário, segundo o léxico grego, a palavra “parrhesia” (número Strong: 3954) é usada no sentido de “ousadia”, “confiança livre e destemida”, “coragem entusiástica”, “liberdade e franqueza ao falar”, ou, “segurança (no sentido de certeza)”.
A palavra “parrhesia” foi usada, por exemplo, ao descrever a intrepidez de Pedro e João perante o Sinédrio (Atos 4:13), e na oração da igreja pedindo por intrepidez para anunciar a Palavra de Deus (Atos 4:29-31). No final do livro de Atos dos Apóstolos, a palavra “parrhesia” é usada para descrever a forma intrépida como o apóstolo Paulo pregava as coisas referentes ao Reino de Deus e ao Senhor Jesus Cristo (Atos 28:31).
O próprio apóstolo Paulo usa esta palavra, deixando clara a sua ousadia e franqueza ao escrever para os coríntios (2 Coríntios 3:12; 7:4). Novamente, falando agora aos efésios, o apóstolo usa a mesma palavra para dizer que a sua ousadia e confiança é proveniente da fé em Cristo Jesus (Efésios 3:8-12; 6:19-20). Quando escreve aos filipenses, Paulo também fala da sua ousadia por causa de Cristo (Filipenses 1:20).
O autor da carta aos hebreus, também usando a palavra “parrhesia”, torna lúcido e transparente o privilégio de acesso dos crentes à presença de Deus, ao escrever: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus” (Hebreus 10:19-21). Mais adiante, no mesmo capítulo, o autor aos hebreus usa a mesma palavra “parrhesia”, porém agora com o significado de “confiança” (Hebreus, 10:35-36). 
No capítulo quarto da carta aos hebreus, o autor usa a palavra “parrhesia” para descrever a confiança destemida que os cristãos devem ter para se aproximar de Jesus Cristo, o sumo sacerdote: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente (“parrhesia”), junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:14-16).
Ouse crer no Evangelho da Graça...
Ouse crer na promessa da misericórdia e do socorro oportuno...
Ouse crer em Jesus Cristo, o Redentor.
Graças Te damos, Deus Vivo e Eterno, pela ousadia que nos concede através do teu Santo Espírito transformador, que é capaz de promover a mudança da condição de pusilanimidade para o esplendor da ousadia embasada nas promessas de um Salvador justo, poderoso e soberano, o Sumo Sacerdote que derramou o seu sangue por nós naquela cruz do Calvário, levando sobre Si os nossos pecados e a nossa culpa.
Em nome dEle, agradecemos com o júbilo acanhado de um coração submisso e com a certeza ousada (“parrhesia”) da compreensão clara de uma mente humilde diante da Tua excelsa e alvissareira Sabedoria. Amém.