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22 julho 2014

"Oraação"

Uma das questões mais desafiadoras que tem perdurado ao longo dos séculos, desde a antiguidade, ocupando a mente de teólogos e pensadores, diz respeito à coexistência simultânea da soberania de Deus e da responsabilidade humana, sobre a vida e as ações de cada ser humano. A questão da responsabilidade humana, diante de suas próprias decisões e ações, muitas vezes é também conhecida como "livre arbítrio", ou em alguns casos, como "livre agência". Este equilíbrio simultâneo entre soberania (Deus) e responsabilidade/escolha (homem) só pode ser completamente compreendido pela absoluta sabedoria do Deus vivo e eterno, que não está restrito às amarras do espaço-tempo, como a natureza e as criaturas criadas por Ele, estão.
Que fique claro que o propósito deste texto não é esgotar ou concluir este assunto tão difícil e desafiador, mas apenas dar uma contribuição honesta, estimulando a meditação neste tema tão importante.
Segue abaixo a visão de João Calvino, por exemplo, em sua obra mais conhecida, as "Institutas da Religião Cristã", onde citou Agostinho de Hipona, que dissertou sobre este tema, falando da operosidade da graça de Deus através do Espírito Santo:
"...com efeito, quem tem tamanha falta de juízo para pensar que o movimento do homem em nada difere do lançamento da pedra? [Cf. Cochlaeus, De libero arbitiro, I, B1a; C8bs] ...Razão pela qual Agostinho diz: 'Tu me dizes, então, que somos agitados, não agimos. Pelo contrário: tu ages e serás agitado; donde ages bem se agires desde o bem. O Espírito de Deus que age em ti é adjutor para os agentes. Prescreve o nome de adjutor para que, também tu, ajas de algum modo' [Agostinho, Sermões, 156, C.11, PL 38, 855s]".
"E assim parece que a graça de Deus (como esse nome é tomado quando se fala da regeneração) seja a regra do Espírito para dirigir e moderar a vontade do homem. Não pode moderar sem que corrija, reforme, renove (pelo que dizemos que o princípio de regeneração seja abolir o que há de nosso) e sem, ao mesmo tempo, mover, agir, impelir, levar, manter. Donde podemos inferir que, com certeza, sejam d'Ele todas as ações que daí emanam. Paralelamente, não negamos que seja muito verdadeiro o que ensina Agostinho: que a vontade não seja destruída pela graça, mas, antes, por ela reparada [Agostinho, Sobre a graça e o livre-arbítrio, C.20, 41, PL 44, 905]." (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã, Livro 2, Capítulo V, parágrafos 14 e 15).
 
É preciso orar? Sim! Mas, entrar em ação, também!
Ora e ação... "Oraação"... Oração...
John Bunyan, o conhecido autor do clássico da literatura cristã, "O Peregrino", uma vez definiu a oração da seguinte forma: "A oração é um sincero e afetuoso derramamento do coração ou da alma para Deus, através de Cristo, na força e na assistência do Espírito Santo, para as coisas que Deus tem prometido, ou de acordo com a Sua Palavra, para o bem da Igreja, com submissão em fé na vontade de Deus". Em uma citação, Bunyan também falou: "Você pode fazer mais do que orar, depois que você já tiver orado, mas você não pode fazer mais do que orar, até que você já tenha orado". É conhecida a frase de Martinho Lutero que corrobora este pensamento: "Ore, como se tudo dependesse de Deus, então trabalhe, como se tudo dependesse de você".
O poder da oração foi reconhecido pelo ganhador do prêmio Nobel em física de 1909, Guglielmo Marconi, que foi premiado "em reconhecimento às suas contribuições no desenvolvimento da telegrafia sem fio". É conhecida a seguinte citação de Marconi: "Tenho orgulho de ser um cristão. Eu acredito não só como um cristão, mas também como um cientista. Um dispositivo sem fio pode transmitir uma mensagem através do deserto. Na oração, o espírito humano pode enviar ondas invisíveis para a eternidade; ondas que alcançam seu objetivo diante de Deus”.
O conhecido reverendo Martyn Lloyd-Jones fez a seguinte declaração sobre a oração:"Há ideias em nossos corações, há desejos, há aspirações, há gemidos, há suspiros sobre os quais o mundo não sabe nada; mas Deus os conhece. Desta forma, as palavras nem sempre são necessárias. Quando não podemos expressar nossos sentimentos, exceto em gemidos sem palavras, Deus sabe exatamente o que está acontecendo".
O importante apologeta e escritor cristão, C. S. Lewis, encontrou um poema (uma tradução livre para o português é mostrada abaixo) em um velho caderno de notas, cujo autor é desconhecido. Ele trabalhou em cima deste texto várias vezes e o citou em cartas, como uma maneira de descrever suas crescentes convicções sobre o significado da oração em sua vida:
"Eles me dizem, Senhor, que quando eu pareço
estar falando contigo,
Como apenas uma voz é ouvida, é tudo um sonho
Um orador imitando dois.
   Algumas vezes é isto mesmo, embora não como eles
   imaginam; Em vez disso, eu
   Busco em mim as coisas que eu esperaria dizer
   E eis que! Minhas fontes estão secas.
Então, vendo-me vazio, Tu abandonas
O papel de ouvinte e através
Dos meus lábios mudos sopra e acorda-os proferindo
Os pensamentos que eu jamais conheci.
   E, desta forma, Tu nem precisas responder
   Tampouco é possível; Assim, enquanto nós parecemos
   dois falantes, Tu és Um sempre, e eu sou
   não um sonhador, mas o Teu sonho."

Uma oração de autoria desconhecida:
"Eu pedi força - para que eu possa conquistar.
Ele me fez fraco - para que eu possa obedecer.
Eu pedi por saúde - para que eu possa fazer grandes coisas.
Ele me deu a graça - para que eu possa fazer coisas melhores.
Eu pedi riquezas - para que eu possa ser feliz.
Ele me deu a pobreza - para que eu possa ser sábio.
Eu pedi poder - para que eu possa ter o louvor dos homens.
Ele me deu fraqueza - para que eu possa sentir a dependência Dele.
Eu pedi todas as coisas - para que eu possa aproveitar a vida.
Ele me deu a vida - para que eu possa desfrutar de todas as coisas.
Eu não recebi nada do que pedi;
Mas tudo o que eu esperava.
Minhas preces foram atendidas."

A oração dominical:
(ensinada pelo próprio Senhor Jesus Cristo)
"Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome;
venha o teu reino;
faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu;
o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;
e perdoa-nos as nossas dívidas,
assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;
e não nos deixes cair em tentação;
mas livra-nos do mal
[pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]!"

(Evangelho segundo Mateus, capítulo 6, versículos 9 a 13)