“... Em seguida, demonstraremos que o Senhor, voluntária e liberalmente, mostra-se a nós em Cristo, no qual nos oferece a felicidade, em vez da miséria, e todo tipo de riqueza, em vez de pobreza, no qual nos abre os tesouros do céu, a fim de que nossa fé olhe seu amado filho, para estarmos sempre pendentes dele e toda nossa esperança apoiar-se e descansar nele...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 1)
“... Portanto, embora Deus vele e esteja atento para conservar-nos, mesmo quando estamos distraídos e não sentimos nossas misérias, e se bem que às vezes nos socorre sem que lhe roguemos, não obstante nos importa muito invocá-lo de contínuo... Por todas essas razões, nosso Pai clementíssimo, embora jamais durma nem esteja ocioso, contudo muitas vezes dá mostras de que é assim e de que não se preocupa com nada, para exercitar-nos desse modo em rogar-lhe, pedir-lhe e importuná-lo, porque vê que isso é muito conveniente para pôr remédio à nossa negligência e ao nosso descuido...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 3)
“... é preciso que nosso fervor para orar se inflame e acenda em nós com as angústias e os pesares, como os vemos nos santos servos de Deus, os quais asseguram que se encontravam entre grandíssimos tormentos – quanto mais entre inquietudes! –, quando dizem que, desde o profundo do abismo, clamam ao Senhor (Salmos 130:1). Mas sim, creio ser necessário arrancar de nós todas as preocupações alheias, que podem desviar nossa atenção para outro lado e fazer descê-la do céu para arrastar-se pela terra. Assim, entendo que é preciso que a alma se eleve acima de si mesma; que não deve levar à presença de Deus nenhuma das coisas que nossa cega e louca razão costuma forjar; e que não deve mantê-la restrita nos limites de sua vaidade, mas que há de elevar-se a uma pureza digna de Deus.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 4)
“Duas coisas são dignas de nota: que todo aquele que se prepara para orar deve aplicar a tal propósito todos os seus sentidos e o seu entendimento, e que não se distraia (como costuma acontecer) com pensamentos erráticos. Porque não há coisa mais contrária à reverência que devemos a Deus que a leviandade que procede da liberdade que tomamos para andar divagando... Porque não há ninguém tão concentrado na oração que não sinta como penetram em seu espírito numerosas fantasias, que interrompem o fio da oração ou a detêm com uma espécie de rodeio...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 5)
“A outra lei deve ser que, ao orar, sempre sintamos verdadeiramente nossa pobreza e, pensando com seriedade que temos necessidade de tudo o que pedimos, acompanhemos nossas petições de um ardente afeto... E mais ainda: até aquelas coisas que pedimos somente para a glória de Deus e que não nos parecem, à primeira vista, dizer relação com nossas necessidades, não obstante é necessário que as peçamos com não menor fervor e veemência. Como quando pedimos que seu nome seja santificado, devemos, por assim dizer, ter fome e sede dessa santificação...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 6)
“... Se alguém tem grande abundância de vinho e trigo, não poderá desfrutar de um só pedaço de pão se a bênção de Deus não continua sobre ele; nem seus grãos o dispensarão de pedir o pão de cada dia. Além disso, se considerarmos quantos são os perigos que nos ameaçam a cada momento, o próprio medo nos ensinará que não há instante em que não tenhamos grande necessidade de orar. Podemos conhecer isso muito melhor nas necessidades espirituais. Quando tantos pecados, de que nossa própria consciência nos acusa, permitirão estarmos ociosos, sem pedir perdão humildemente? Quando as tentações farão as pazes conosco, de sorte que não tenhamos necessidade de acolher-nos em Deus, buscando socorro? Ademais, o desejo de ver o reino de Deus prosperando e seu nome glorificado deve apoderar-se de nós de maneira tão intensa e contínua, não a intervalos, que tenhamos sempre presente a oportunidade e ocasião de orar. Por isso, não sem motivo, recomenda-nos a assiduidade na oração... Assim, a legítima oração requer penitência. Daí aquilo tão recorrente na Escritura: que Deus não ouve os malvados; que suas orações lhe são abomináveis, como também seus sacrifícios. Porque é justo que encontrem fechados os ouvidos de Deus aqueles que lhe fecham seu coração; e que aqueles que, com sua dureza e obstinação, provam o rigor de Deus, sintam-no inexorável... Por conseguinte, todo aquele que se dispuser a orar, que sinta desgosto por seus pecados e se revista da aparência e do sentimento de um mendicante; o que não pode acontecer sem penitência.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 7)
“Acrescente-se ainda uma terceira regra: todo aquele que se apresenta diante de Deus para orar abdique de todo pensamento acerca de sua própria glória, abandone toda opinião da própria dignidade e, em consequência, arranque de si a autoconfiança, dando, em sua abjeção, toda a glória a Deus; para que não nos arroguemos alguma coisa, por pequena que seja, nem nos apresentemos diante da majestade divina com nossa soberba...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 8)
“A quarta regra é que, assim prostrados e abatidos com verdadeira humildade, tenhamos contudo bom ânimo para orar, com a firme esperança de que seremos escutados. À primeira vista, parecem coisas bem contrárias unir com o sentimento da justa cólera de Deus, a confiança em seu favor; no entanto, ambas as coisas estão muito de acordo entre si se, oprimidos por nossos próprios vícios, somos levantados apenas pela bondade de Deus... Essa harmonia e conveniência entre o temor e a confiança, expõe-na Davi em poucas palavras: ‘Eu, pela abundância de tua bondade, entrarei em tua casa, adorarei em teu santo templo, em teu temor’ (Salmos 5:7)...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 11)
“... Porque que tipo de oração seria esta: ó Senhor, eu certamente duvido se me quererás ouvir ou não; mas, como estou muito aflito, recorro a ti, para que, se for digno, me socorras? Nenhum dos santos, cujas orações lemos na Escritura, tinha esse hábito. Nem o Espírito Santo nos instruiu assim por intermédio do apóstolo, que ordena que nos aproximemos do trono celestial com confiança, para alcançarmos a graça (Hebreus 4:16)... E mais: o grande acúmulo de nossos pecados deve estar cheio de estímulos que nos incitem e nos obriguem a orar, como com seu próprio exemplo no-lo ensina o profeta, dizendo: ‘Cura minha alma, porque pequei contra ti’ (Salmos 41:4). Confesso que certamente as pontadas de tais aguilhões seriam mortais se Deus não nos socorresse. Mas nosso bom Pai, por sua incomparável indulgência, aplica a tempo o remédio com que, aquietando nossa perturbação, suavizando nossas opressões e tirando de nós o temor, com toda afabilidade nos atrai até Ele; eliminando ainda todos os escrúpulos e os obstáculos, para tornar-nos o caminho mais fácil.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 12)
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 1)
“... Portanto, embora Deus vele e esteja atento para conservar-nos, mesmo quando estamos distraídos e não sentimos nossas misérias, e se bem que às vezes nos socorre sem que lhe roguemos, não obstante nos importa muito invocá-lo de contínuo... Por todas essas razões, nosso Pai clementíssimo, embora jamais durma nem esteja ocioso, contudo muitas vezes dá mostras de que é assim e de que não se preocupa com nada, para exercitar-nos desse modo em rogar-lhe, pedir-lhe e importuná-lo, porque vê que isso é muito conveniente para pôr remédio à nossa negligência e ao nosso descuido...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 3)
“... é preciso que nosso fervor para orar se inflame e acenda em nós com as angústias e os pesares, como os vemos nos santos servos de Deus, os quais asseguram que se encontravam entre grandíssimos tormentos – quanto mais entre inquietudes! –, quando dizem que, desde o profundo do abismo, clamam ao Senhor (Salmos 130:1). Mas sim, creio ser necessário arrancar de nós todas as preocupações alheias, que podem desviar nossa atenção para outro lado e fazer descê-la do céu para arrastar-se pela terra. Assim, entendo que é preciso que a alma se eleve acima de si mesma; que não deve levar à presença de Deus nenhuma das coisas que nossa cega e louca razão costuma forjar; e que não deve mantê-la restrita nos limites de sua vaidade, mas que há de elevar-se a uma pureza digna de Deus.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 4)
“Duas coisas são dignas de nota: que todo aquele que se prepara para orar deve aplicar a tal propósito todos os seus sentidos e o seu entendimento, e que não se distraia (como costuma acontecer) com pensamentos erráticos. Porque não há coisa mais contrária à reverência que devemos a Deus que a leviandade que procede da liberdade que tomamos para andar divagando... Porque não há ninguém tão concentrado na oração que não sinta como penetram em seu espírito numerosas fantasias, que interrompem o fio da oração ou a detêm com uma espécie de rodeio...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 5)
“A outra lei deve ser que, ao orar, sempre sintamos verdadeiramente nossa pobreza e, pensando com seriedade que temos necessidade de tudo o que pedimos, acompanhemos nossas petições de um ardente afeto... E mais ainda: até aquelas coisas que pedimos somente para a glória de Deus e que não nos parecem, à primeira vista, dizer relação com nossas necessidades, não obstante é necessário que as peçamos com não menor fervor e veemência. Como quando pedimos que seu nome seja santificado, devemos, por assim dizer, ter fome e sede dessa santificação...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 6)
“... Se alguém tem grande abundância de vinho e trigo, não poderá desfrutar de um só pedaço de pão se a bênção de Deus não continua sobre ele; nem seus grãos o dispensarão de pedir o pão de cada dia. Além disso, se considerarmos quantos são os perigos que nos ameaçam a cada momento, o próprio medo nos ensinará que não há instante em que não tenhamos grande necessidade de orar. Podemos conhecer isso muito melhor nas necessidades espirituais. Quando tantos pecados, de que nossa própria consciência nos acusa, permitirão estarmos ociosos, sem pedir perdão humildemente? Quando as tentações farão as pazes conosco, de sorte que não tenhamos necessidade de acolher-nos em Deus, buscando socorro? Ademais, o desejo de ver o reino de Deus prosperando e seu nome glorificado deve apoderar-se de nós de maneira tão intensa e contínua, não a intervalos, que tenhamos sempre presente a oportunidade e ocasião de orar. Por isso, não sem motivo, recomenda-nos a assiduidade na oração... Assim, a legítima oração requer penitência. Daí aquilo tão recorrente na Escritura: que Deus não ouve os malvados; que suas orações lhe são abomináveis, como também seus sacrifícios. Porque é justo que encontrem fechados os ouvidos de Deus aqueles que lhe fecham seu coração; e que aqueles que, com sua dureza e obstinação, provam o rigor de Deus, sintam-no inexorável... Por conseguinte, todo aquele que se dispuser a orar, que sinta desgosto por seus pecados e se revista da aparência e do sentimento de um mendicante; o que não pode acontecer sem penitência.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 7)
“Acrescente-se ainda uma terceira regra: todo aquele que se apresenta diante de Deus para orar abdique de todo pensamento acerca de sua própria glória, abandone toda opinião da própria dignidade e, em consequência, arranque de si a autoconfiança, dando, em sua abjeção, toda a glória a Deus; para que não nos arroguemos alguma coisa, por pequena que seja, nem nos apresentemos diante da majestade divina com nossa soberba...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 8)
“A quarta regra é que, assim prostrados e abatidos com verdadeira humildade, tenhamos contudo bom ânimo para orar, com a firme esperança de que seremos escutados. À primeira vista, parecem coisas bem contrárias unir com o sentimento da justa cólera de Deus, a confiança em seu favor; no entanto, ambas as coisas estão muito de acordo entre si se, oprimidos por nossos próprios vícios, somos levantados apenas pela bondade de Deus... Essa harmonia e conveniência entre o temor e a confiança, expõe-na Davi em poucas palavras: ‘Eu, pela abundância de tua bondade, entrarei em tua casa, adorarei em teu santo templo, em teu temor’ (Salmos 5:7)...”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 11)
“... Porque que tipo de oração seria esta: ó Senhor, eu certamente duvido se me quererás ouvir ou não; mas, como estou muito aflito, recorro a ti, para que, se for digno, me socorras? Nenhum dos santos, cujas orações lemos na Escritura, tinha esse hábito. Nem o Espírito Santo nos instruiu assim por intermédio do apóstolo, que ordena que nos aproximemos do trono celestial com confiança, para alcançarmos a graça (Hebreus 4:16)... E mais: o grande acúmulo de nossos pecados deve estar cheio de estímulos que nos incitem e nos obriguem a orar, como com seu próprio exemplo no-lo ensina o profeta, dizendo: ‘Cura minha alma, porque pequei contra ti’ (Salmos 41:4). Confesso que certamente as pontadas de tais aguilhões seriam mortais se Deus não nos socorresse. Mas nosso bom Pai, por sua incomparável indulgência, aplica a tempo o remédio com que, aquietando nossa perturbação, suavizando nossas opressões e tirando de nós o temor, com toda afabilidade nos atrai até Ele; eliminando ainda todos os escrúpulos e os obstáculos, para tornar-nos o caminho mais fácil.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XX, parágrafo 12)