Esconderijo transparente
A tentativa de esconder algo de Deus ou de esconder-se Dele é, na melhor
das hipóteses, tola e infantil. É como brincar de “esconde-esconde”, aquela brincadeira
de criança bastante difundida, e tentar esconder-se atrás de uma janela de
vidro transparente. Até mesmo os pequeninos sabem que este tipo de esconderijo
não tem futuro, pois podem ser facilmente encontrados por quem os procura.
Analisando o livro de Gênesis, podemos encontrar três relatos
interessantes.
No primeiro exemplo, Adão e Eva esconderam-se de Deus logo depois de
terem provado do fruto da árvore proibida e de seus olhos terem sido abertos
para o conhecimento do bem e do mal (Gn 3:22). No relato do livro: “E, ouvindo
a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem
e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gn 3:8).
Imagine o inimaginável privilégio do varão Adão e da varoa Eva (Gn 2:23,
na versão Almeida Revisada), por desfrutarem da presença do Senhor Deus, representado
pelo “vento” ou “espírito” (Gn 1.2) que “passeava no jardim à tardinha”, dando
a impressão no texto de que aquele era um hábito cotidiano, que não causava
espanto no casal. Ao serem expulsos (Gn 3:23) do jardim do Éden, depois da
queda pelo pecado, parece que eles perderam este grande privilégio de desfrutar
de um contato tão presente e direto com o seu Criador.
Voltando ao contexto (Gn 3:8), o autor indica que eles esconderam-se de
medo (Gn 3:10), mas Deus os fez perceber a seriedade dos seus atos, ao
desobedecerem a Sua ordenança de não comer o fruto apenas daquela árvore (Gn
2:16-17).
Outro exemplo de tentativa de esconderijo relatado no livro de Gênesis
foi o de Caim, logo após ter matado Abel (Gn 4:8). Este relato, inclusive,
parece carregar um toque adicional de rebeldia e sarcasmo: “Perguntou, pois, o
Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Respondeu ele: Não sei; sou eu o
guarda do meu irmão?” (Gn 4:9). O texto dá a impressão de que a resposta de
Caim para o Senhor Deus foi carregada de mentira e hipocrisia ao dizer “sou eu
o guarda do meu irmão?”, repetindo a tentativa do seu pai Adão de se esconder
em uma inocência falsificada. Então, o castigo de Caim pode ser observado nos
versículos que se seguem no texto (Gn 4:10-16), tendo este sido amaldiçoado e retirado
da presença do Senhor, que condenou-o a ser um ser errante na terra de Node.
Um terceiro exemplo de tentativa de esconder-se de Deus foi vivenciado
por Sara, esposa de Abraão, segundo o texto: “Ora, Abraão e Sara eram já
velhos, e avançados em idade; e a Sara havia cessado o incômodo das mulheres. Sara
então riu-se consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido,
sendo também o meu senhor já velho? Perguntou o Senhor a Abraão: Por que se riu
Sara, dizendo: É verdade que eu, que sou velha, darei à luz um filho? Há,
porventura, alguma coisa difícil ao Senhor? Ao tempo determinado, no ano
vindouro, tornarei a ti, e Sara terá um filho. Então Sara negou, dizendo: Não
me ri; porquanto ela teve medo. Ao que ele respondeu: Não é assim; porque te
riste” (Gn 18:11-15).
Neste episódio, Sara “riu” de incredulidade, pois ela sabia ser
humanamente impossível dar a luz a Isaque, por causa da sua idade avançada e
também de Abraão. E então, é feita a pergunta retórica: “Há, porventura, alguma
coisa difícil ao Senhor ?” Sara teve medo de assumir que “riu” de descrença e
foi repreendida: “Não é assim; porque te riste”.
Apesar disto, Abraão e Sara obedeceram a vontade do Senhor e o pacto de
Deus foi cumprido através do nascimento de Isaque, e o “riso de descrença” de
Sara se transformou em um “riso de alegria”, como pode ser observado no
seguinte trecho: “Ora, Abraão tinha cem anos, quando lhe nasceu Isaque, seu
filho. Pelo que disse Sara: Deus preparou riso para mim; todo aquele que o ouvir,
se rirá comigo” (Gn 21:5-6).
Portanto, de acordo com os relatos e exemplos das sagradas escrituras,
parece inútil e ilógico esconder fatos e acontecimentos da ciência de Deus.
Segundo as palavras de Jesus, no evangelho de João: “...Se vós
permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8:31-32).
Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo, que através do escândalo da
cruz (Gl 5:11) nos permitiu restabelecer a comunhão com o nosso Pai Criador,
não precisando mais nos escondermos atrás de esconderijos transparentes, mas
apenas confessando os nossos pecados e transgressões com o coração dilatado de
verdade, amor e fé.
Toda a honra e toda a glória sejam direcionadas para Ele. Amém.