R.I.P. é uma sigla, em inglês, para "Rest In Peace", que significa "Descanse Em Paz", e por isso é muito usada em sepulturas ou jazigos, como uma homenagem póstuma da família ao ente querido que faleceu e foi enterrado.
Algumas amizades, aqui neste mundo, infelizmente também podem, por assim dizer, findar ou morrer. Não estamos falando da morte de um amigo, mas da morte da própria amizade, e a causa mortis mais comum para uma amizade pode ser a inanição ou anemia severa, ou seja, uma amizade que não foi nutrida ao longo do tempo, e acabou sucumbindo.
Que fique claro que não estamos nos referindo à morte de uma amizade superficial, que não era verdadeira, ou ao término de uma amizade por algum conflito causado por traição, ou competição, ou qualquer outro motivo mesquinho ou escuso. O que estamos descrevendo aqui é o findar de uma amizade mais antiga ou mais recente, porém sincera, verdadeira, profícua e profunda, que se transformou, num piscar de olhos, em um "cadáver", sem vida, e por isso há sempre um elemento de surpresa, pelo menos por parte de um dos amigos, que é normalmente surpreendido por esta mudança abrupta, sem um justo motivo, pelo menos aparente. É importante lembrar aqui que, devido ao nosso coração corrupto e enganoso (Jr 17:9), há sempre o potencial deste amigo que foi surpreendido também ter contribuido para a morte desta amizade.
Esta analogia do "cadáver" com o findar de uma amizade pode parecer incomum, e talvez até repugnante, mas só poderá compreender melhor, quem que já passou pela amarga experiência de perder, de forma abrupta, a amizade com um amigo por quem tinha um significativo apreço e consideração, não porque ele "findou seus dias" na terra, mas simplesmente porque a amizade com este amigo "findou seus dias" e morreu, de forma inesperada e incompreensível.
No livro "Os quatro amores", C.S. Lewis faz uma declaração extraordinária sobre como "amar é ser vulnerável": “Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer, e talvez se
partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, você não deve
entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal {de estimação}. Envolva-o cuidadosamente em
seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde-o na
segurança do esquife {caixão} de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sem
movimento, sem ar – ele {seu coração} vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar-se
indestrutível, impenetrável, irredimível. [...] O único lugar, além do
céu, onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e
perturbações do amor, é o inferno.”
Sobre a necessidade por amizades, como uma característica verdadeiramente humana, John Stott declarou (no livro "The Message of 2 Timothy"): “Às vezes encontramos pessoas superespirituais que afirmam nunca se sentir sozinhas e não precisar de amigos, pois a companhia de Cristo satisfaz todas as suas necessidades. Mas a amizade humana é a provisão amorosa de Deus para a humanidade [...] Por mais maravilhosa que seja a presença do Senhor Jesus todos os dias, e a perspectiva de sua vinda no último dia, ela {a presença de Jesus} não tem a intenção de substituir as amizades humanas [...] Quando nosso espírito está solitário, precisamos de amigos [...] Admitir isso não é antiespiritual; é humano.”
No caso da perda da amizade com um amigo cristão, nestas circunstâncias descritas acima, a questão é ainda mais importante, pois é impossível não pensar que você vai reencontrar com este amigo na glória dos céus, e logo em seguida, imaginar que a primeira pergunta que você faria para ele seria: "Meu amigo, o que aconteceu?"
É claro que esta é uma perspectiva terrena sobre este assunto, pois o mais provável é que, na presença celestial do "Bondoso Amigo" (Hinário Novo Cântico, 159), esta amizade perdida na terra tenha sido redimida nos céus, e a pergunta que você faria para este amigo nem sequer faça mais sentido, pois ambos estarão na presença do Fiel, Justo, Eterno, Imutável, Gracioso e Bondoso Amigo, Jesus Cristo!
Ah, como ansiamos por isso! Maranata! Vem Senhor Jesus!
